A culpa é dos outros
Postado por Magno Martins
Hélio Schwartsman - Folha de S.Paulo
"Para analistas, crise política pode alcançar 2018"; "Crise leva famílias de classe média de volta às camadas de menor renda"; "Crise afeta folia e cidades da região cancelam Carnaval"; "Crise desfaz planos de vida e de carreira". Essas são manchetes recentes de jornais que recolhi meio a esmo no Google.
O quadro não é animador, mas será que já devemos desfazer nossos planos de vida? Seres humanos não somos os melhores analistas de risco. Nossos vieses cognitivos fazem com que sejamos incorrigivelmente otimistas em relação a nós mesmos –93% dos americanos se julgam motoristas mais hábeis que a mediana– e verdadeiras aves de mau agouro no que concerne a situações sobre as quais não temos controle, como se depreende das manchetes acima.
O arranjo é estranho, mas faz sentido evolutivo. A autoconfiança, mesmo desmedida, pode ajudar nas atividades em que o desempenho individual afeta diretamente o resultado. Já o pessimismo com o que não depende de nós faz com que nos preparemos para o pior, o que também pode ser útil para a sobrevivência.
Se a análise é correta e esses vieses estão em plena operação, é grande a chance de os governantes estarem diminuindo o tamanho da crise e nós, cidadãos comuns, o magnificando.
No que diz respeito aos dirigentes, acredito que seja este o caso, como se conclui da leitura do artigo de Dilma Rousseff publicado na Folha e da entrevista que o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, deu ao jornal. Ambos ainda parecem viver num mundo à parte, no qual os principais responsáveis pela crise são a queda das commodities, a desaceleração da China e, é claro, a oposição, que teima em não aceitar o resultado das urnas.
Quanto aos cidadãos comuns, é bem possível que estejamos exagerando nas expectativas negativas, mas, ao fazê-lo, apenas distorcemos um pouco o mundo real, sem nos transportar para a dimensão paralela para a qual o governo foi abduzido.
Madame não liga, nós não ligamos
Postado por Magno Martins
Carlos Chagas
Exceção dos que se encontram na Europa e nos Estados Unidos, que não são poucos, deputados e senadores dedicam o mês de recesso parlamentar nos Estados, para sondar suas bases. Pretendem retornar a Brasília em fevereiro afinados com o pensamento de seus eleitores a respeito de questões fundamentais.
Primeiro, sobre o impeachment da presidente Dilma. Em dezembro, no Congresso, arrefeceu a tendência favorável ao seu afastamento. Fosse realizada hoje entre os deputados e dificilmente a votação alcançaria número suficiente para a posse de Michel Temer. Não que a popularidade de Madame se tenha recuperado, mas aquele sentimento de rejeição não progrediu. As ruas permaneceram insossas, amorfas e inodoras, na medida em que a presidente também colaborou, mantendo-se reclusa. Nem o tradicional pronunciamento de fim de ano pelo rádio e a televisão ela arriscou, limitando-se a um recado eletrônico que ninguém leu. Sendo assim, caso não se registre algum inusitado ou uma escorregadela de sua parte, chegamos à situação em que Dilma não liga para o povo e o povo não quer saber dela. Assim, e por enquanto, o impeachment saiu de pauta. Mais atraente está o Carnaval.
Escafedeu-se até o personagem mais criticado nos últimos tempos, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Dia desses ousou comparecer a um restaurante de luxo, no Rio, e sequer foi reconhecido, quanto mais vaiado. Renan Calheiros, candidato à vaga, parece haver-se refugiado na praia, em Maceió. Os Meretíssimos, no Supremo Tribunal Federal, deram-se folga por todo o mês de janeiro, quando não cuidarão da vida de Cunha, Renan ou da própria Dilma.
Em suma, o ano se inicia sem surpresas, à espera de que as instituições comecem a funcionar, mas sem muito empenho por parte delas. Melhor assim.
Ciro: se Dilma cair, ninguém conseguirá governar
Postado por Magno Martins
O ex-ministro Ciro Gomes voltou a criticar quem defende o impeachment, defendendo a permanência da presidente Dilma Rousseff, que foi eleita democraticamente em 2014. Para ele, se Dilma for derrubada, quem entrar no seu lugar não vai conseguir governar "como ocorreu no México e na Venezuela", países com o povo dividido. Em outras ocasiões, Ciro já assegurou que se o vice-presidente, Michel Temer, assumir o lugar de Dilma, pedirá o impedimento do peemedebista, uma vez que ele também assinou decretos de pedalada fiscal como interino da Presidência da República.
Em entrevista ao jornalista Paulo Markung, do programa "São Paulo, Brasil", da TV Câmara da capital paulista, Ciro Gomes diz que ser de direita no Brasil não é crime, "crime é ser golpista".
O ex-governador do Ceará também opina que "a violência política é algo odiento", ao criticar casos de agressão motivados por política no País. Ele citou uma senhora que foi para a rua, convocada pelos que querem tirar Dilma do governo, com um cartaz lamentando o fato de a presidente não ter sido morta sob tortura no DOI-CODI. "Senhorinha, não é por aí, a violência política e algo odiento!", ressaltou Ciro.
Em defesa do parlamentarismo, Ciro Gomes diz que o presidencialismo "é um desastre". O problema, segundo ele, é que a responsabilidade pelo Estado, pela saúde do Estado, é do presidente da República, "mas a vontade institucional está no Congresso". E isto se complica quando "você bota um picareta como Eduardo Cunha" à frente da Câmara dos Deputados. "Só o poder controla o poder e o poder total, corrompe totalmente", afirma.
Confira aqui a íntegra da entrevista.
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