Por Zizo Mamede
 Os petistas são responsáveis por uma rara experiência na política brasileira, a institucionalização de um projeto político construído a milhões de mãos por todo o Brasil. – Isto é um avanço em um país com uma história marcadamente autoritária e de democracia retardatária.
O projeto político do PT sempre se afirmou por pregar justiça social e mais e mais democracia em todos os âmbitos da sociedade. Uma vez nos mandatos, isto é inegável, os petistas procuraram tirar do papel e dos discursos o que sempre pregaram.
O PT e a democracia – As experiências petistas nos parlamentos, desde as câmaras municipais até a Assembleia Constituinte de 1986, passando pelo último colégio eleitoral do Regime Militar e que o PT recusou, sempre foram de radicalização da democracia. Nos governos a inventividade dos petistas legou ao Brasil o Orçamento Participativo. Nestes de tempos de sociedade em rede, no governo de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, está em curso mais uma experiência democrática com o chamado Gabinete Digital, um mecanismo de diálogo permanente com a sociedade.
O apego do PT à democracia vem do seu nascedouro, dos movimentos de contestação e de organização política dos trabalhadores e trabalhadoras durante a década de 1970. Quem viveu sabe dos debates acalorados e apaixonados nos encontros e congressos partidários, desde as células e núcleos de base até as instâncias nacionais.
As deturpações, desvios e vícios em meio ao exercício da democracia entre os petistas, a exemplo do que ocorre atualmente no PED (Processo de Eleições Diretas do PT), ou no exercício dos mandatos eletivos, não desmerecem o esforço do maior partido político do Brasil em fazer da democracia, simultaneamente, meio e fim da luta política.
Um partido em movimento – A ativa participação nas lutas sociais, vivência que deu vitalidade ao PT, deu também a pecha de partido de conflitos. – Para os petistas, uma acusação que é um elogio, porque a tradição indica que nenhuma mudança é tranquila. Onde tinha luta tinha PT, nos sindicatos, nos movimentos comunitários, no movimento estudantil e por educação, de mulheres e feminismo, de sem terra e de sem teto.
Ultimamente os petistas, pelo menos em grande parte, arrefeceram das disputas no meio do povo. Muitos se acostumaram com os mandatos, com os cargos, com os gabinetes. Não escaparam da armadilha das instituições que, ao fim e ao cabo, padecem sob a tentação de perder o foco no mundo para focar a autopreservação.
A condenação do sujeito coletivo – Nesta última década de inegáveis avanços sociais e econômicos da nação, ao passo que o PT tornou-se o partido mais importante do Brasil, rompendo com o elitismo da política brasileira e com a política sem partidos e sem projetos, avançou por outro lado o antipetismo.
Setores da grande imprensa, aliados aos partidos políticos conservadores como o DEM e neoconservadores como PSDB e PPS, com interseções na alta cúpula da Justiça e do Ministério Público, articularam o discurso para estigmatizar o Partido dos Trabalhadores. – As falas de alguns ministros no STF, sempre em busca de holofotes, há algum tempo extrapolaram a de juízes, para assumir, sem pudor, uma opção política.
Os julgamentos em curso na Ação Penal 470 – batizada marqueteiramente de “mensalão” – não se restringem aos cidadãos e ganham a envergadura de um justiçamento do PT.
A seletividade com que tratam do caso do “mensalão”, enquanto escamoteiam os episódios do “mensalão mineiro”, “compra da emenda da reeleição” e “propinoduto tucano” revelam, no mínimo, o mal-estar da imprensa e da Justiça com o PT.
Em tempo: O “abraço-assinado” de muitas personalidades de visibilidade pública em favor de José Genuíno, sem nenhuma alusão a José Dirceu parece revelar que este último está sendo condenado mais por sua arrogância pessoal, por mais que na Justiça levante a tese presunçosa de “domínio do fato”.
No Brasil, pelo crime de “caixa 2” de campanha eleitoral todos deveriam ser condenados. |
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