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Coluna Meio Ambiente : Denis Minev faz reflexão sobre diversidade e conectividade no 1º Fórum de ESG da Amazônia
Enviado por alexandre em 25/03/2024 15:44:49


Com o objetivo de discutir o desenvolvimento sustentável da indústria na região amazônica, o 1º Fórum de ESG na Amazônia teve, em sua mesa de abertura, representantes do setor, como o Superintendente da Zona Franca de Manaus (Suframa), Bosco Saraiva; o presidente do Conselho Superior do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Luiz Augusto Rocha; e o diretor de relações institucionais do Grupo Rede Amazônica, Phelippe Daou Neto. O evento é realizado pelo Cieam em parceria com a Suframa.

Mesa de abertura. Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

A primeira palestra foi realizada pelo CEO da Bemol, Denis Minev, que lidera investimentos em energias renováveis, internet e serviços financeiros na Amazônia.

Minev abordou na palestra a importância da construção da matriz de materialidade para a adoção das práticas ESG (ambiental, social e governança). A Bemol tem como prioridade, segundo Minev, a adoção das práticas sociais e de governança. 

Dentre os tópicos abordados, o empresário falou sobre a relevância da conectividade na região, visto que o Amazonas é interligado por rios, e não estradas. 

Além disso, pontuou sobre como as empresas na região devem se atentar à diversidade de gênero e diversidade de recrutamento dos povos indígenas.

"Aqui, certamente, tem muitas lideranças econômicas do Estado e eu faço, volto aqui essa pergunta para vocês, quantos indígenas vocês têm no quadro de vocês? A gente começou com o recrutamento, eu ainda tenho o desafio de ter lideranças dentro da organização, a gente ainda não chegou lá, mas eu espero chegar em breve e encorajo cada um a refletir sobre isso",

disse Minev.
Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

Por fim, o palestrante comentou sobre algumas das iniciativas ambientais/sociais, desde a implementação de fibras ópticas no interior, como por exemplo no município de Autazes (AM), até a criação de um inventário de carbono, que, além de ser ambientalmente correto, fomenta a economia de dezenas de famílias.

"Estamos implementando sistemas agroflorestais. A gente desenvolveu um modelo em que nós fazemos cerca de quatro hectares por família. Essa família consegue atingir um nível de renda depois de um, dois anos de trabalho, com as árvores crescendo, conseguem atingir um nível de renda de aproximadamente quatro a cinco mil reais por mês, que a gente considera bastante bom e que não é alcançado só com a pecuária extensiva, no modelo que eles utilizavam anteriormente. E tem o benefício de armazenar carbono também. Nós, isso aqui, talvez alguém chame de um projeto ambiental, e certamente tenha o seu aspecto ambiental, mas no nosso caso o foco é social, de encontrar soluções da Amazônia que nos tragam mais produtividade",

finalizou.

Coluna Meio Ambiente : Peixe-elétrico misterioso segue sem ser encontrado por pesquisadores na Amazônia
Enviado por alexandre em 23/03/2024 01:57:34


Um dos quatro exemplares de Iracema caiana depositados no Museu de Zoologia da USP em 1968. Desde então, nenhum outro exemplar foi coletado. Foto: Thiago Loboda/MZ-USP

O mistério continua. Os pontos onde o pesquisador Tyson Roberts teria coletado os únicos quatro exemplares conhecidos de Iracema caiana passaram por uma intensa varredura pela equipe da Expedição DEGy Rio Negro, que percorreu tanto este local como parte do rio Jauaperi para a coleta de peixes-elétricos, mais conhecidos como poraquês e sarapós.

Depois de três dias e mais de 60 espécies coletadas, 15 delas de sarapós, a equipe encerrou as buscas no rio Jauaperi. A embarcação Comandante Gomes ficou atracada uma noite na comunidade de Tanauaú e duas na de Itaquera, no município de Rorainópolis, em Roraima. Além da mudança provisória de rio, a equipe também mudou temporariamente de Estado.

"Visitamos os mesmos pontos indicados por Tyson Roberts em que ele teria coletado Iracema caiana. Coletamos dezenas de espécies de diferentes famílias, inclusive sarapós, mas encerramos essa parte da viagem sem encontrar essa espécie enigmática de peixe-elétrico", explica Osvaldo Oyakawa, técnico de apoio à pesquisa do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), que coordenou os trabalhos da expedição.

A Expedição DEGy Rio Negro fez buscas na área da coleta de Iracema caiana, segundo registrou Tyson Roberts no final da década de 1960, mas não encontrou o peixe-elétrico. Foto: Thiago Loboda/MZ-USP

A Expedição DEGy Rio Negro ocorreu no âmbito do projeto 'Diversidade e Evolução de Gymnotiformes' (DEGy), apoiado pela FAPESP. Os relatos compõem a nova edição da série Diário de Campo.

"A raridade de exemplares de Iracema disponíveis em coleções científicas para estudos dificulta estabelecer com mais precisão as relações de parentesco com outras espécies da ordem dos peixes-elétricos. Daí o esforço realizado para obter mais espécimes em seu ambiente natural, ainda desconhecido",

esclarece Naércio Menezes, professor do MZ-USP e coordenador do projeto.

A Agência FAPESP buscou por informações na comunidade de Itaquera sobre a possível visita de Roberts em 1968, mas não obteve sucesso. Por e-mail, o pesquisador, ainda na ativa aos 84 anos, afirma que não se lembra dos detalhes da coleta, ocorrida nos seus primeiros anos de carreira.

"Muitas pessoas me ajudaram a coletar espécimes de peixes, normalmente pescadores locais cujos nomes eu não obtive. Se tive ajudantes regulares que me acompanharam em longas viagens, eles não deviam ser de lá [Itaquera], e não se lembrariam de coletas que me ajudaram a fazer em vários lugares. Sinto muito não conseguir fornecer nenhuma informação útil", disse Roberts, de Bangkok, na Tailândia, onde vive atualmente.

Pesquisadora Angela Zanata procura por peixes durante coleta em igarapé no rio Jauaperi. Foto: André Julião/Agência FAPESP

Seca

"Nessa coleta, de modo geral, encontramos uma quantidade muito menor de peixes, em termos de diversidade de espécies e biomassa. Uma hipótese é que a grande seca ocorrida no final do ano passado pode ter levado os peixes que não morreram a migrar para as cabeceiras dos rios", avalia Carlos David de Santana, pesquisador associado ao Museu Nacional de História Natural, da Smithsonian Institution, nos Estados Unidos, parceira do projeto.

"Por exemplo, dois gêneros comuns nos ambientes aquáticos que prospectamos (Gymnorhamphichthys e Rhamphichthys) não foram capturados [até aquele momento da expedição], o que pode ser um indicativo do impacto da seca nas comunidades de peixes que vivem na região. Da mesma forma, sinais elétricos não foram detectados com os equipamentos próprios para isso", completa.

No que se refere à Iracema caiana, elucida Santana, outra possibilidade é que os espécimes coletados em 1968 tenham sido levados até Roberts de outro local, talvez mais próximo às cabeceiras.

O inverno amazônico, que é a estação das chuvas, vai de setembro a fevereiro. Em outubro de 2023, porém, o rio Negro chegou ao menor nível dos últimos 121 anos em que os registros são realizados. Foram 12,70 metros em Manaus, sendo que o recorde anterior, de 2010, era de 13,63 metros.

Ainda que tenha voltado a chover e o volume do rio aumentado, a quantidade de chuvas é bastante inferior à dos outros anos. Em janeiro, o volume de chuvas de 110 milímetros era considerado "muito seco", dada a média das duas últimas décadas. Enquanto a expedição percorria a bacia do Negro, em fevereiro, as chuvas foram ainda mais escassas, 104 milímetros.

Equipe da Expedição DEGy Rio Negro faz arrasto para coleta de peixes em igarapé no rio Jauaperi. Foto: André Julião/Agência FAPESP

"As áreas onde foram realizadas as coletas apresentam um alto grau de preservação, não sendo encontrados sinais de alterações ou impactos provocados por humanos. Precisamos investigar agora se a espécie, na verdade, ocorre em outra área ou se simplesmente não foi encontrada, o que é bastante comum nesse tipo de estudo",

esclarece Lucia Rapp Py-Daniel, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), que também fez parte da expedição.

Saindo de Itaquera, a equipe rumou para Barcelos (AM), onde foram obtidos mais combustível e alimentos. O próximo destino seria o rio Preto, no município de Santa Isabel do Rio Negro (AM).

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por André Julião para o especial Diário de Bordo

Coluna Meio Ambiente : Focos de queimadas na Amazônia têm alta de 49% em março de 2024
Enviado por alexandre em 22/03/2024 00:39:29

Foram registrados 1.521 focos de queimadas nos primeiros 19 dias de março deste ano, segundo informações do Inpe

A Amazônia registrou alta de 49,26% nos focos de queimadas em março de 2024, em relação ao mesmo mês do ano passado. Os dados são do Monitoramento dos Focos Ativos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foram atualizados até essa terça-feira (19/3).


Durante os primeiros 19 dias de março, foram detectados 1.521 focos de calor no bioma. Esse número já supera todos os registros de março do ano passado, quando foram observados 1.019 focos de queimadas na Amazônia.


Mato Grosso, que faz parte da Amazônia Legal, é a unidade da federação com o maior número de focos de calor registrados em março. Foram 1.233 focos até o momento.

 

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O número apontado até essa terça já supera a média de focos de calor para o mês, de 1.034. No entanto, o índice ainda está bem abaixo do recorde histórico para março, de 3.383.

 

A Amazônia é responsável por 52,3% dos focos de queimadas detectados ao longo do mês, seguido pelo Cerrado (26,1%), Mata Atlântica (9,9%), Caatinga (7,4%), Pantanal (3,9%) e Pampa (0,5%).

 

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De 1º de janeiro até 19 de março, o Brasil registrou 12.853 focos de queimadas, um aumento de 117% em comparação com o mesmo período do ano passado. 

 

Fonte: Metrópoles

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Coluna Meio Ambiente : O javali está disseminado mundialmente e em quase todos os estados brasileiros
Enviado por alexandre em 15/03/2024 14:53:35

Dispersão irrefreada da espécie exótica amplia prejuízos econômicos e ambientais, mas cientistas avaliam que ainda é possível erradicá-la

Natural da África, Ásia e Europa, o javali (Sus scrofa) botou os pés no Brasil há mais de 500 anos e se dispersa fortemente há cerca de seis décadas. O descontrole de suas populações catapulta prejuízos ambientais e econômicos. Cientistas avaliam que, com maior e melhor controle, seria possível erradicar a espécie exótica invasora do país.

 

Seus números nacionais são uma incógnita, mas órgãos federais, cientistas, ongs e caçadores fazem coro ao mostrar a tomada do Brasil pelo javali. A situação mundial não é diferente: a espécie está em todos os países. “Ela se adaptou dos desertos às baixas temperaturas da Rússia”, descreve Carla Zanin Hegel, cujo doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB) mergulhou na invasão histórica do Brasil pelo animal.

 

Ancestral do porco criado em pátios, sítios e fazendas, o Sus scrofa domesticus, o javali estreou no país vindo de carona como alimento nos navios de colonizadores europeus. Depois, foi deixado nesta terra brasilis para garantir uma carne conhecida a outros viajantes transatlânticos.Séculos depois, o javali ganha mais e mais território desde os anos 1960, quando passou a ser multiplicado na Região Sul para produzir carne. Uma grande seca do Rio Uruguai no fim dos anos 1980 e fazendeiros com terras em ambos os lados das fronteiras com Argentina e Uruguai engrossaram seus números no Brasil.

 

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Já uma lei federal de incentivo à suinocultura, de meados dos anos 1990, estimulou o cruzamento de porcos domésticos com javalis, gerando o “javaporco”. A ideia era produzir animais com menos gordura e mais carne, mas isso potencializou o uso e dispersão da espécie exótica.

 

“A gente é péssimo para lidar com espécies exóticas invasoras. Várias invasões que temos hoje a gente assistiu. Documentamos desde o começo até a situação que tem hoje”, reconheceu Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, no lançamento de um relatório sobre impactos nacionais desses animais e plantas pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.

 

Novos criadouros de javalis e híbridos são hoje proibidos e os ativos devem ser vigiados pelos órgãos ambientais, mas há troca e cruza de animais e até fazendas de caça clandestinas reproduzindo javalis, diz a cientista Carla Hegel. “Criadores irregulares os soltam para evitar multas antes da fiscalização. Tudo contribui para a dispersão desses animais”, agrega.

 

 

Mas há outros motores para o espalhamento dos javalis, registrados em 698 municípios, em 2017, e 2.010, em 2022, de todas as regiões. Um estudo publicado na revista OneHealth indica que adeptos das caçadas igualmente criam e liberam esses animais na natureza. Os crimes acompanham a malha rodoviária, mostra o trabalho.

 

( Foto: Reprodução)

 

Fundador e presidente da Associação Nacional de Caça e Conservação (ANCC), entidade com 4 mil controladores de javalis afiliados que defende a legalização da atividade, Daniel Terra questiona a pesquisa. “Se isso fosse verdade, as populações de outros animais que interessam à caça estariam aumentando”, pondera. “Nunca prenderam ou flagraram alguém soltando javalis”, diz.Ao mesmo tempo, a falta de predadores naturais e uma grande capacidade de adaptação ambiental engrossam o avanço global do javali.

 

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Onças-pintadas e pardas e outros carnívoros brasileiros até encaram filhotes, jovens e fêmeas menores da espécie, mas evitam embates com machos que podem chegar a 350 quilos. Em suas regiões naturais do outro lado do Atlântico, encolhem os números de seus predadores, como leões, ursos, crocodilos e lobos.

 

Fonte: O Eco

 

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Coluna Meio Ambiente : Pesquisa de longo prazo em Mato Grosso aponta impacto ambiental da agricultura
Enviado por alexandre em 12/03/2024 00:28:15


Foto: Fabiola Sinimbu/Agência Brasil
Como conciliar a expansão das fronteiras agrícolas com a manutenção da paisagem das bacias e a integridade do ciclo hidrológico tão necessários à vida humana? E de que forma tudo isso tem a ver com a segurança alimentar? A busca por essas respostas moveu a pesquisadora Márcia Macedo a desenvolver, junto com outros pesquisadores, um estudo de longo prazo em dez microbacias do Rio Xingu, em Mato Grosso.

Foi a partir do Projeto Tanguro, uma iniciativa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) na cidade de Querência, que a pesquisadora encontrou o ambiente perfeito para desenvolver seu primeiro experimento em busca dessas respostas. 

Em um laboratório a céu aberto, que reúne pesquisadores de vários países, Márcia também teve à disposição cursos de água inseridos em terras com usos diferentes.

"É um lugar onde a gente pode comparar bacias florestadas, ou seja, integrais e bacias com agricultura intensiva. Então nós pesquisamos quatro bacias em floresta e seis bacias em agricultura", 

explica.
A pesquisadora é Márcia Macedo, fala sobre o impacto da agricultura no ciclo hídrico, na Fazenda Tanguro em MT. Foto: Fabiola Sinimbu/Agência Brasil

De acordo com o Código Florestal, esses cursos de água com menos de 10 metros de largura são considerados, em 30 metros de margem para cada lado, Áreas de Proteção Permanentes (APPs). Após esses limites, a terra recebe a destinação escolhida pelo proprietário.

Por ser uma fazenda de uso inicialmente de pecuária e que passou por uma transição para uso da terra pelas lavouras de soja, milho e algodão, a Tanguro, destinada também à ciência, possibilita a busca pelo entendimento do impacto dessas escolhas.

Pesquisadora da Organização Não Governamental norte-americana Woodwell Climate Research Center, Márcia passou a trabalhar com a equipe do Ipam, por meio de uma parceria entre as duas instituições. "Com isso, a gente conseguiu medir vários parâmetros que mostram como que essa grande mudança de uso da vegetação afeta o balanço da água e de energia". 

Foram instalados vários equipamentos de medição para diferentes parâmetros e os pesquisadores passaram a monitorar os cursos de água em relação à vasão dos córregos, existência de nutrientes, temperatura e outros fatores de avaliação do ambiente aquático que permitem entender o habitat de toda a cadeia alimentar existente.

Segundo Márcia, um dos achados mais significativos representa uma grave interferência no ciclo hídrico, já que as vegetações de raízes consideravelmente menores da agricultura não conseguem cumprir o mesmo papel que a vegetação presente originalmente na região estudada, situada em uma área de transição entre a Amazônia e o Cerrado.

Mato Grosso - A pesquisadora Márcia Macedo e o pesquisador é Leonardo Santos. O impacto da agricultura no ciclo hídrico, na Fazenda Tanguro, em MT. Foto: Fabiola Sinimbu/Agência Brasil

"As florestas usam muita água, ao longo do ano todo, e elas bombeiam essa água do solo para a atmosfera, em um processo que se chama evapotranspiração, e as áreas de lavoura usam muito menos água e por menos tempo",

explica.

Na prática, no lugar de ir para a atmosfera a água acumula no solo e é drenada pelos córregos em quantidades maiores deixando menos água disponível na região, o que, além de aumentar a temperatura também diminui os períodos de chuvas. Em regiões de relevo maior, o alto volume drenado pode esvaziar o curso de água durante a seca.

"Quando a vegetação joga água para a atmosfera tem o efeito de resfriar a terra, então você muda isso e você esquenta bastante. Pudemos observar que as bacias nas áreas não florestadas são entre 4 e 5 graus Célcius mais quentes, então isso também afeta a temperatura da água, afeta todo o microclima a traz várias sequelas para vida existente naquele córrego", explica.

De acordo com a pesquisadora, se for levado para uma escala maior pode representar, inclusive, uma ameaça à própria produção de alimentos, em longo prazo.  

"Na escala macro, se você começa a mudar a quantidade de água que está sendo reciclada da chuva, que está sendo reciclada da atmosfera, os impactos acontecem nos rios voadores que abastecem as grandes áreas de agricultura",

afirmou.

Flora  

Enquanto Márcia se dedicou aos cursos de água, o pesquisador do Ipam, Leonardo Maracahipes Santos estudou a própria vegetação da floresta ripária, ou seja, as margens dos córregos preservadas por lei, e comparou as que permaneceram inseridas na floresta original com as que passaram a integrar área de agricultura. E a conclusão foi de que a agricultura também interferiu na estrutura da vegetação e na composição das espécies dessas APPs. 

Mato Grosso - O pesquisador é Leonardo Santos, fala sobre o impacto da agricultura no ciclo hídrico, na Fazenda Tanguro. Foto: Fabiola Sinimbu/Agência Brasil

De acordo com o pesquisador, na floresta que passou por mudança de paisagem é possível observar um comportamento chamado de efeito de borda, que se aplica às faixas de cerca de 100 metros limítrofes com terras degradadas, onde as espécies menos resistentes não conseguem sobreviver, o ambiente fica mais pobre de espécies, o que diminui a cobertura vegetal e aumenta a entrada da luz do sol. 

"Com isso prevalecem árvores menores, portanto com menos biomassa, que estocam menos carbono, têm copas menores e deixam a luz entrar, tornando o ambiente mais quente e seco, e isso afeta os serviços ecossistêmicos, já que o ambiente passa a ter maior número de indivíduos da mesma espécie", explica. 

Fauna 

Como em uma floresta em equilíbrio tudo se conecta, a mudança na vegetação e nos rios também afeta os animais e insetos que habitam a região. O pesquisador do Ipam, Filipe Arruda, se dedicou a entender como as abelhas, formigas e aves são afetadas por todas essas mudanças provocadas pelo uso do solo para a agricultura.

Segundo o pesquisador, os grupos taxinômicos de insetos são afetados de formas diferentes, e durante a pesquisa foi observada tanto a perda total de uma espécie naquela floresta inserida em uma área de agriculta, quanto a troca de espécies, ou seja, desapareceram as que costumam viver em ambientes de mata fechada e passaram a viver naquela área, espécies acostumadas com menos vegetação.

"A perda pôde ser observada em algumas espécies de formiga, e a troca, nós observamos entre as espécies de abelha. Lembrando que as formigas e as abelhas desempenham importantes serviços ecossistêmicos, como a dispersão secundária de sementes pelas formigas e a predação de pragas como a lagarta da soja. Já as abelhas exercem um papel fundamental de polinização",

ressalta.
Mato Grosso - A pesquisadora é Márcia Macedo e o pesquisador é Leonardo Santos, falam sobre o impacto da agricultura no ciclo hídrico, na Fazenda Tanguro em MT. Foto: Fabiola Sinimbu/Agência Brasil

Longo prazo 

Como o Projeto Tanguro está inserido no Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (Peld), de fomento às pesquisas contínuas sobre ecossistemas e a biodiversidade, os estudos ganham desdobramentos em novos projetos que aprofundam ainda mais os conhecimentos e oferecem ferramentas às políticas públicas.

Márcia Macedo atualmente trabalha em novo estudo sobre as represas existentes nas microbacias da Tanguro e, para isso, montou uma equipe com jovens cientistas que buscam não apenas entender as mudanças causadas pela ação humana no meio ambiente, mas também auxiliam no desenvolvimento de tecnologias para aprimorar os métodos de coletas de dados e amostras para as pesquisas.

"O fato de ter a presença de pesquisadores por tanto tempo atuando no mesmo lugar permite à gente montar um quebra-cabeça de várias perguntas, de várias perspectivas. O financiamento do governo também nos permite trazer colaboradores da região, ter a experiência fantástica dos técnicos do Ipam, oferecer bolsas para alunos e treinar a próxima geração",

conclui.

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