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Brasil : EM ROTA
Enviado por alexandre em 09/06/2021 00:26:45

Fim do sigilo revela troca de acusações entre PGR e PF
  • Mariana Schreiber - @marischreiber
  • Da BBC News Brasil em Brasília
Manifestantes seguram cartazes pedindo fechamento do STF e do Congresso durante ato pró-Bolsonaro

Crédito, Sergio Lima/AFP E GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Durante atos em 2020, manifestantes exibiram diversos cartazes contra a democracia

A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal (PF) entraram em rota de colisão sobre a continuidade ou não da investigação sobre possível envolvimento de autoridades na convocação de atos antidemocráticos nos primeiros meses de 2020.

Naquele período, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro realizaram manifestações que reivindicavam o uso das Forças Armadas para fechar o Congresso Nacional e o Supremo.

Ao longo do ano passado, o inquérito investigou ativistas bolsonaristas, servidores públicos e legisladores, incluindo Eduardo Bolsonaro (deputado federal do PSL/RJ) e Carlos Bolsonaro (vereador do Republicanos/RJ), filhos do presidente.

Em meio ao embate sobre a continuidade ou não da apuração, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso, determinou o fim do sigilo do inquérito nesta segunda-feira (07/06). Cabe a ele decidir se a investigação será ou não arquivada.

O fim do sigilo do inquérito revela trocas de acusações entre as duas instituições atuantes no inquérito.

De um lado, a PF diz em seu relatório final, de janeiro deste ano, que não conseguiu aprofundar alguns aspectos da investigação porque diligências solicitadas em junho de 2020 não foram autorizadas após discordância da PGR.

De outro, a PGR acusa a Polícia Federal de não ter conduzido uma investigação eficiente ao longo de meses de apuração e diz que a PF deixou de realizar uma série de análises dos materiais apreendidos nas ações de busca e apreensão.

Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro, desfocado, está à frente do filho

Crédito, JOEDSON ALVES/EPA

Legenda da foto,

Entre investigados no inquérito, está o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/RJ), filho do presidente

Para o vice-procurador-geral Humberto Jacques, que assina o pedido de arquivamento apresentado em 4 de junho, a falta de resultados obtidos pela PF justificam o encerramento do inquérito contra autoridades com foro no STF.

Ele, porém, concordou com o pedido de abertura de outros seis inquéritos pela PF para apurações mais específicas de possíveis crimes cometidos por pessoas que não têm prerrogativa de função. Nesse caso, o vice-PGR recomendou que as investigações sejam remetidas à primeira instância.

O que a PF apurou e o que mais quer investigar?

O inquérito dos atos antidemocráticos foi aberto em abril de 2020, e em janeiro deste ano a PF apresentou seu último relatório à PGR com as conclusões das investigações e pedidos de novas apurações.

No período de investigação, seguindo determinação de Alexandre de Moraes, foram colhidos 56 depoimentos de acusados e testemunhas, assim como foram cumpridos mandados de busca e apreensão e de quebra de sigilo bancário e fiscal contra ativistas e parlamentares bolsonaristas. Foram também requisitadas informações a empresas de redes sociais.

No relatório final, a Polícia Federal diz "a investigação permitiu identificar a existência de um grupo de pessoas que se influenciam mutuamente, tanto pessoalmente (em manifestações públicas, por exemplo), como por meio de redes sociais digitais (…), com o objetivo de auferir apoio político-partidárias por meio da difusão de ideologia dita conservadora, polarizada à direita do espectro político."

Como indício da existência de pessoas dentro dessa articulação que estariam atuando contra as instituições democráticas, o relatório cita um manuscrito encontrado na residência do blogueiro Allan dos Santos, um dos investigados, que coloca como "fim último" das manifestações de rua "derrubar os governadores/prefeitos".

O relatório detalha ainda uma análise da PF sobre contas banidas no ano passado pelo Facebook por comportamento inautêntico (contas que atuam em conjunto para enganar as pessoas sobre quem são e fazem, por exemplo ao se passar falsamente por páginas jornalísticas). A PF diz que identificou que esses perfis foram acessados de dentro do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

A PF, porém, diz que necessita de mais prazo para investigar se a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) direcionou recursos a "canais incumbidos da produção e da difusão de propaganda, em meios de comunicação (Twitter, YouTube,Facebook), de processos ilegais para alteração da para alteração da ordem política ou social, bem como para incitar parcelo da população à subversão da ordem política ou social e à animosidade das Forças Armadas contra o Supremo Tribunal/ Federal e o Congresso Nacional".

Além disso, a PF argumenta que outra possível forma de uso de recursos públicos na organização de atos antidemocráticos é o fato de alguns dos envolvidos nas manifestações terem obtido cargos no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, pasta comandada por Damares Alves.

Por isso, a Polícia Federal defende a necessidade de aprofundar também essa investigação, citando como exemplo a ativista Sara Giromini, que foi coordenadora do ministério e é uma das principais lideranças de manifestações pelo fechamento do STF. Conhecida como Sara Winter, ela chegou no ano passado a ser presa por dez dias por determinação do ministro Alexandre de Moraes.

O relatório cita ainda outras pessoas investigadas por envolvimento nos atos antidemocráticos que atuaram no ministério de Damares, como Sandra Eustáquio, ex-secretária da pasta e mulher de Oswaldo Eustáquio (jornalista que também chegou a ser preso dentro do inquérito).

Ministro Alexandre Moraes

Crédito, ROSINEI COUTINHO/SCO/STF

Legenda da foto,

O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou nesta segunda-feira (07/06) o fim do sigilo do inquérito sobre manifestações antidemocráticas de 2020

A PF alega que não conseguiu aprofundar a investigação desses dois pontos, a atuação da Secom e de servidores da pasta de Damares, porque não foram autorizadas diligências solicitadas em junho de 2020.

Segundo o relatório final da PF, o objetivo era "permitir a obtenção direta dos dados sob domínio de órgão público e entidades privadas, sem que houvesse risco de manipulação/preparação das informações".

Ainda segundo o órgão, "não foi possível obter informações aptas a verificar se a SECOM adotou medidas que impedissem o direcionamento de recursos federais aos canais, ou se não teria impedido a utilização de backlists (hiperlinks que redirecionam o usuário paro outro site) em sítios governamentais, aumentando a autoridade de domínio e permitindo a promoção de alguns dos canais".

"Não houve aprofundamento no entendimento de quais seriam os mecanismos de filtragem eventualmente disponíveis e/ou empregados pela SECOM, bem como quem seriam os servidores do governo federal diretamente responsáveis pelas ações/omissões que, de alguma forma, beneficiariam os canais indicados", diz também o documento.

Os argumentos da PGR

A PGR, por sua vez, faz duras críticas ao trabalho da PF em sua manifestação pelo arquivamento do inquérito, apresentada cinco meses após o relatório final.

O vice-procurador-geral Humberto Jacques, inclusive, diz que a demora em apresentar a manifestação decorreu das falhas no relatório.

"Acreditava-se que seis meses serviriam para uma extensa e percuciente exploração do conjunto arrecadado", disse, em referência ao material levantado na investigação.

"O que se viu, no entanto, foi o envio de um emaranhado de atos dispersos e repetidos em dezenas de apensos e anexos, sem um mínimo de sistematização, prejudicando, assim, a atuação célere deste órgão do Ministério Público Federal, que se viu forçado a dedicar pessoal e significativa parte do tempo que deveriam ser utilizados na apreciação de outros inquéritos ao saneamento deste", criticou.

Humberto Jacques diz que parte do material apreendido não foi analisada pela PF, mesmo tendo sido classificado como de alta relevância, como "os bens apreendidos com Emerson Rui Barros dos Santos, Érica Viana de Souza e Arthur Castro, do grupo "Os 300 do Brasil", Alberto Junio da Silva, do canal "Giro de Notícias", Adilson Nelson Dini, do canal "Ravox Brasil", Emerson Teixeira de Andrade e Anderson Azevedo Rossi, do canal "Foco do Brasil".

O vice-PGR também que não é possível saber se foram analisados "os bens recolhidos nos endereços de Otavio Oscar Fakhoury, Allan Lopes dos Santos e Sara Fernanda Giromini (…) dado que os informes de exploração dos objetos correspondentes a cada um destes três alvos não contêm discrímens (não foram discriminados) com essa observação".

Em outra crítica à PF, a manifestação da PGR diz que "não foi encontrado nos diversos volumes que passaram a compor o inquérito, o auto de apreensão dos dois discos rígidos e dos dois aparelhos de telefonia celular encontrados com Fernando Lisboa da Conceição. Idêntico problema foi verificado em relação aos discos rígidos e aparelhos de telefonia celular de Otavio Oscar Fakhoury".

Bolsonaro em meio a manifestantes e ao lado de bandeira do Brasil, com dedo em riste

Crédito, EVARISTO SA/AFP e Getty Images

Legenda da foto,

Presidente participou em abril de 2020 de manifestação que pedia 'intervenção militar'

Para Humberto Jacques, "essas falhas dificultam a compreensão das próprias informações, diminuem a percepção de sua relevância, impedem que elas sejam relacionadas entre si e, consequentemente, obstam a visão integral do fenômeno".

Em outro trecho, o vice-PGR diz ainda que a PF deixou de apurar informações financeiras dos acusados, "na medida em que os dados encaminhados pelo Banco Central do Brasil, devidamente compartilhados pelo Ministério Público Federal com a Polícia Federal, não foram examinados pelo órgão".

Após essas críticas, a manifestação pelo arquivamento sustenta que a investigação criminal não pode se alongar "sobretudo quando lança suspeição difusa sobre a política sem demonstração cabal de elementos por investigadores profissionais".

"Não parece crível que, após o decurso de mais de um ano dos fatos investigados, a Polícia Federal será capaz de esgotar, em um prazo que possa ser considerado 'razoável', as muitas diligências que deveriam ter sido realizadas pelo órgão no tempo próprio", argumenta ainda o vice-PGR.

Por outro lado, a manifestação apoia a abertura de seis inquéritos na primeira instância judicial para investigar pessoas sem foro privilegiado. Entre os focos dessas propostas de investigação estão possíveis ilegalidades no financiamento do site Terça Livre, do blogueiro Allan do Santos, devido a doações volumosas feitas por alguns servidores públicos. Outro foco são supostas tentativas de obstruir os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News.

Brasil : GLOBO/MULTAS
Enviado por alexandre em 09/06/2021 00:21:06

Receita aplica multas de até R$ 10 milhões a artistas da Globo

A Receita Federal voltou a aplicar multas a artistas da Globo que mantiveram contratos como pessoa jurídica (PJ) com a emissora nos últimos anos. Entre as punições aplicadas pelo Fisco está uma multa de R$ 10 milhões a uma das atrizes investigadas. Além dos artistas, a Receita ampliou sua investigações para vínculos da empresa com autores e diretores.

O advogado tributarista Leonardo Pietro Antonelli, que representa a maioria das celebridades nessa ação, acusa a Receita de fazer um confisco tributário com a aplicação das multas e diz que tem atuado na tentativa de cancelar essas cobranças.

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– Com todo o respeito à Receita Federal, entendemos que todos os tributos devidos já foram pagos na pessoa jurídica (leia-se, empresa). Cobrar tudo de novo na [pessoa] física é estar cobrando duas vezes pelo mesmo serviço – aponta o advogado.

Em abril, o colunista Ricardo Feltrin, do UOL, divulgou que o âncora William Bonner e outros 20 profissionais que prestam serviços à rede Globo haviam sido atuados sob a mesma premissa. A líder de audiência é o principal alvo da operação contra a “pejotização”, que também já atingiu jornalistas da Record, do SBT e da CNN Brasil.

A defesa mantém sob sigilo os nomes de quem já recebeu as notificações de pagamento. Mas, na lista de investigados, estão celebridades como Deborah Secco, Reynaldo Gianecchini, Malvino Salvador e Maria Fernanda Cândido.

Brasil : TÁ LIBERADO!
Enviado por alexandre em 09/06/2021 00:07:58

Câmara aprova texto que autoriza o uso da maconha para fim medicinal

Por apenas um voto de diferença, foi aprovado nesta terça-feira, 8, na Comissão Especial da Câmara o texto base do projeto que autoriza o cultivo de maconha no Brasil para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais. Com a bancada bolsonarista se opondo à proposta, a votação terminou empatada em 17 a 17. O desempate acabou sendo feito pelo relator do texto, o deputado Luciano Ducci (PSB-PR).

 

Ainda estão sendo discutidos os destaques dentro da Comissão. Quando esse processo for concluído, o texto seguirá para apreciação do plenário da Câmara. A bancada governista planeja pressionar politicamente o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para que a proposta demore a ser colocada em pauta.

 

Durante a sessão, deputados alinhados com o presidente Jair Bolsonaro, como Osmar Terra (MDB-RS), afirmaram que a votação do texto representa mais um passo para a liberação do uso da maconha no Brasil e chamaram a proposta de “marco legal da maconha”.

 

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Os defensores da projeto rebateram as críticas e lembraram que o projeto vai facilitar a produção de remédios de difícil acesso e de alto custo. “Esses negacionistas que defendem a cloroquina vão continuar com seu discurso falacioso, enquanto nós vamos continuar defendendo a ciência”, afirmou o deputado Rafael Motta (PSB-RN).

 

 

Fonte: Revista IstoÉ

Brasil : A CONTINUIDADE
Enviado por alexandre em 07/06/2021 09:22:32

Como otimismo exagerado pode prejudicar decisões e futuro

A vida de Gina Vangeli não tem sido fácil. Quando criança, ela sofreu bullying; na vida adulta, enfrentou abusos, o término de dois casamentos e problemas de saúde recorrentes — incluindo ser atropelada por um caminhão em 2016.

No ano passado, a covid-19 acabou com o ganha-pão da chef de confeitaria de 52 anos.

Para sobreviver, a mãe solteira de quatro filhos em Melbourne, na Austrália, trabalha como voluntária em um banco de alimentos em troca de cestas básicas e também vende móveis de segunda mão.

Ela se manteve produtiva durante os longos meses de lockdown, escrevendo um livro, fazendo cursos e reformulando seu negócio de confeitaria para incluir um serviço online.

"Eu vi a pandemia como um novo capítulo na minha vida", diz ela.

"Não foi um capítulo ruim. E terminará em breve. No momento, estou sinceramente muito animada em relação ao futuro e para onde meu negócio está indo. As crianças estão mais velhas e sinto que vou ter mais tempo livre."

Vangeli vê o lado bom da vida.

Ela tende a superestimar a probabilidade de eventos positivos acontecerem com ela e, consequentemente, subestimar os potencialmente negativos.

Isso é conhecido como 'viés do otimismo', algo que 80% da população global possui em algum grau.

Pensar positivo é uma marca evolutiva, uma vez que facilita vislumbrar o que é possível, nos permitindo ser corajosos e inovadores.

Os níveis de viés do otimismo variam de acordo com nosso estado mental e as circunstâncias presentes, e há maneiras de moderá-lo ou aumentá-lo.

Isso é bom, porque o excesso de otimismo pode levar a subestimar o risco.

Entender onde você se encontra no espectro do otimismo pode te ajudar a ajustar seu viés — e talvez até mesmo fazer escolhas melhores.

'Resistente perante a realidade'

Na raiz do viés do otimismo estão dois pressupostos: primeiro, que possuímos mais características positivas do que as pessoas em geral; segundo, que temos algum tipo de controle sobre o mundo ao nosso redor.

"Sem [o viés do otimismo], a espécie humana não teria progredido", diz Shelley Laslett, CEO da Vitae.Coach, com sede em Sydney, que usa neurociência e tecnologia como ferramenta de coaching de negócios.

Laslett considera o viés do otimismo como o traço que nos permite tentar coisas novas e potencialmente difíceis, porque nos dá uma certa confiança de que vai dar certo.

Também nos impede de nos preocupar com incertezas, como o futuro.

Gina Vangeli

Crédito, Gina Vangeli

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Gina Vangeli acredita que seu otimismo é um ativo, sobretudo em tempos difíceis

O que é mais surpreendente sobre esse viés, diz Tali Sharot, professora de neurociência cognitiva na University College London (UCL), no Reino Unido, é que ele é "resistente perante a realidade".

Apesar dos eventos negativos inesperados que acontecem conosco — ou de vê-los no noticiário — são os eventos positivos que tendem a deixar a maior marca em nossos sistemas de crenças.

Simplesmente "aprendemos melhor" com as coisas boas que acontecem ao nosso redor, o que perpetua o viés. Tendemos a dar menos crédito a acontecimentos ruins — e algumas pessoas os ignoram completamente.

O excesso de otimismo, no entanto, pode levar a uma avaliação inadequada de riscos potenciais. Um exemplo comum são organizadores de eventos subestimando orçamentos e prazos.

Também pode significar deixar de fazer um seguro, ou não usar capacete ao andar de bicicleta — ou talvez até pegar covid-19 por complacência.

"Pessoas com viés de otimismo pensam: 'Farei a coisa certa tomando precauções e, portanto, tenho menos probabilidade de pegar covid-19 do que outros''', explica Sharot, que escreveu vários livros sobre otimismo.

"Elas também podem acreditar que são mais saudáveis ​​do que as pessoas em geral ou têm genes que as tornam mais resistentes."

O viés do otimismo ocorre com prevalência igual em toda a população global, mas a cultura desempenha um papel ao influenciar o quão otimistas ou pessimistas as pessoas se consideram.

Em culturas nas quais o otimismo é considerado uma coisa boa, como nos Estados Unidos e na Austrália, as pessoas têm mais probabilidade de se identificarem como otimistas, explica Sharot.

"Em culturas como da França e, até certo ponto, do Reino Unido, é mais provável que elas se digam realistas ou até mesmo pessimistas. Mas os testes provam que elas têm, na verdade, viés de otimismo."

Apenas 10% dos indivíduos são considerados livres de viés — mas uma em cada duas pessoas com viés de otimismo acredita ser livre de viés.

Outros 10% têm viés de pessimismo — advogados são encontrados com frequência neste grupo.

Cerimônia de abertura Jogos Olímpicos

Crédito, Alamy

Legenda da foto,

Jogos Olímpicos, na maioria das vezes, extrapolam orçamento previsto inicialmente devido a excesso de otimismo

"Não está claro se é porque pessoas mais pessimistas decidem se tornar advogadas ou se o fato de ser treinado para procurar o pior cenário reduz o otimismo", diz Sharot.

A idade talvez seja a influência mais marcante.

"O viés do otimismo chega ao fundo do poço na meia-idade", observa a neurocientista.

"Um dos motivos pode ser o estresse, porque sabemos, por meio de experimentos, que o estresse reduz o viés do otimismo. O estresse é maior durante a meia-idade, potencialmente porque há muita coisa acontecendo, quando se cuida de crianças, pais idosos e se leva uma vida profissional agitada."

Os pesquisadores descobriram que o viés do otimismo é um produto tanto da natureza quanto da educação. Estudos com gêmeos, por exemplo, mostram que a genética desempenha um papel de 30% a 40%, enquanto a criação responde pelo resto.

Isso é útil porque compreender o papel que o viés do otimismo desempenha em sua vida — e aprender como influenciar seus próprios níveis de otimismo — pode ajudar a aproveitar seus benefícios e evitar armadilhas.

Em nossas carreiras, por exemplo, o otimismo pode se tornar uma profecia autorrealizável, de acordo com Sharot.

"Se você acredita que coisas positivas vão acontecer, isso aumenta sua motivação para se esforçar mais e isso pode mudar o resultado real. E quando esperamos coisas positivas, ficamos mais felizes e isso tem um efeito positivo em nossa saúde, reduzindo coisas como a ansiedade."

O otimismo também está ligado ao sucesso em várias áreas, seja nos negócios, na política ou nos esportes.

Os CEOs tendem a ser mais otimistas do que as pessoas em geral, assim como os empreendedores, cujo otimismo aumenta ainda mais quando dão o salto para abrir seus negócios.

"Acho que é o otimismo que causa o sucesso, e não o sucesso que gera otimismo, embora tenha certeza de que é um pouco nas duas direções", avalia Sharot.

O psicólogo americano Martin Seligman ensina as pessoas a cultivar um ponto de vista mais otimista atribuindo causas permanentes a coisas positivas e causas temporárias a coisas negativas.

Uma pessoa pode dizer: 'Esse projeto deu certo porque sou um bom engenheiro'. Ou: 'O projeto fracassou porque não dediquei tempo suficiente a ele'.

A mensagem é que coisas boas acontecem por motivos inerentes ao indivíduo, enquanto coisas ruins são atribuídas a causas que podem ser remediadas, como preparações de última hora.

Isso cultiva uma visão positiva de nós mesmos que nos torna otimistas sobre perspectivas futuras.

Também é possível se proteger contra o lado negativo do viés do otimismo; a incapacidade de prever riscos com precisão. Os Jogos Olímpicos são notórios pelos orçamentos exorbitantes; uma pesquisa mostra que o custo médio estimado na candidatura para sede dos Jogos foi ultrapassado em mais de 200% desde 1976.

Isso acontece porque os organizadores tendem a ser excessivamente otimistas sobre quanto podem realizar e subestimar os prazos e custos associados.

Se os futuros candidatos à sede dos Jogos quiserem se proteger contra esse viés, podem ter essa pesquisa em mente e corrigir a previsão de gastos de acordo com ela, aumentando suas estimativas em 200% para evitar extrapolar tanto o orçamento.

Hoje em dia, instituições e empresas tentam se antecipar a esse viés; o guia do Tesouro britânico inclui uma seção abrangente sobre como corrigi-lo, por exemplo.

No ambiente de trabalho, Laslett sugere manter um diário de projeções e resultados para avaliar seu próprio nível de viés e ajustá-lo, se necessário.

Isso pode resultar, por exemplo, em reservar três semanas para concluir um projeto, em vez de duas.

"Durante uma reunião, banque o advogado do diabo. Pergunte: 'E se esses cenários acontecerem? Como vamos responder'? O plano de contingência pode ajudar a tornar um plano mais provável de refletir a realidade do que apenas o otimismo que alguém pode sentir em relação a uma iniciativa."

Ver a situação de todos os ângulos é sempre preferível, acrescenta Laslett.

"Qualquer força exagerada se torna uma fraqueza: isto é, o otimismo cego nunca é bom."

Mas um pouco de otimismo ajuda bastante.

Vangeli tem certeza de que o otimismo foi muito útil ao longo de sua vida, a incentivando até mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

E esse mesmo otimismo pode muito bem alavancá-la para o sucesso quando a pandemia estiver sob controle e a vida normal — incluindo seu negócio de doces — puder recomeçar.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Work Life.

Brasil : DESMOTIVAÇÃO
Enviado por alexandre em 07/06/2021 09:19:39

Pandemia criará tsunami de desmotivação e falta ao trabalho, alerta psicóloga

"Há muitas reclamações de esgotamento porque achávamos que a pandemia seria uma corrida de velocidade, não uma maratona."

É assim que Elke Van Hoof, professora de Psicologia da Saúde na Universidade de Vrije, em Bruxelas, e especialista em estresse e trauma, define a pandemia do coronavírus.

Van Hoof conversou inicialmente com a BBC News Mundo quase um ano atrás, quando disse que o mundo viveria "o maior experimento psicológico da história", devido ao confinamento causado pela pandemia da covid-19. O resultado, porém, é que demonstramos "mais resiliência do que imaginávamos", agrega ela agora.

Mas a pesquisadora alerta que essa resiliência está em declínio e que o absenteísmo (falta de funcionários no trabalho) é esperado no longo prazo, embora ainda haja esperança de contê-lo.

Agora, a especialista, que também assessora o governo belga em questões psicológicas causadas pelo confinamento, analisa os efeitos do isolamento social na saúde mental das pessoas.

Abaixo, um resumo da entrevista com Elke Van Hoof.

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BBC News Mundo - Quase um ano atrás, você disse que o confinamento seria o maior experimento psicológico da história e que pagaríamos o preço. Nós pagamos? Ainda estamos pagando?

Elke Van Hoof - Acho que uma das principais descobertas é que nós, como humanos, temos muito mais capacidade de resiliência do que imaginávamos.

Portanto, o que vemos na população em geral é que permanecemos firmes.

Claro, há muitas reclamações por cansaço porque todos pensávamos que a pandemia global seria uma corrida de velocidade e agora parece uma maratona sem fim.

Ilustração de mulher com máscara olhando pela janela

Crédito, Cecilia Tombesi/Getty

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Estamos todos nos exaurindo lentamente, e isso se mostra em pesquisas com queixas relacionadas ao estresse, diz pesquisadora

Estamos todos nos exaurindo lentamente e isso se mostra em pesquisas com queixas relacionadas ao estresse, incluindo sentimentos de depressão e ansiedade por causa do medo de possíveis problemas de longo prazo relacionados à covid-19 que as pessoas sentem.

Existem altos níveis de languidez (diminuição do ânimo). Mas quem está pagando um preço ainda maior são aqueles que tinham algum tipo de vulnerabilidade antes da pandemia. Seja porque tiveram um diagnóstico psiquiátrico ou outro problema, eles estão realmente sofrendo.

BBC - Como as pessoas responderam psicologicamente a um ano de pandemia?

Hoof - A população em geral continua firme.

Antes da pandemia, em 2019, vimos que 1 em cada 3 pessoas estava indo bem, e agora, em março de 2021, vemos que apenas 1 em cada 5 pessoas ainda pode ir bem. Isso significa que há uma redução na resiliência.

Mas também nos mantemos firmes porque as faltas ao trabalho ainda não estão aumentando, o que é surpreendente.

Em nossa pesquisa, vemos que existem mais fatores de risco que uma pessoa pode enfrentar quando sofre de algum tipo de transtorno relacionado ao estresse e doença de longa duração.

Os profissionais de saúde estão realmente pagando o preço de estar na linha de frente há mais de um ano. Mas não só porque estão lá, mas também porque não se sentem mais amparados pela população em geral, que tem dificuldade em manter as medidas, que podem ser bastante restritivas.

É de se esperar que todo mundo esteja começando a se cansar dessa pandemia global, mas os profissionais de saúde precisam continuar trabalhando duro, e não se sentem tão apoiados. Essa é uma carga emocional que aumenta a exaustão.

Existem outros fatores de risco: as pessoas temem a covid-19. Falamos, por exemplo, de pais solteiros e de pessoas que possuem sistemas familiares complexos, além daqueles que já tiveram algum tipo de diagnóstico psicológico ou psiquiátrico prévio.

Também tendemos a ver que, quanto mais fatores de risco uma pessoa tem, maior a chance de ela sofrer de transtornos relacionados ao estresse e ter experiências traumáticas, mesmo a longo prazo.

Nosso conselho é que devemos abordar os fatores de risco porque eles são o que chamamos de cumulativos e multiplicativos. Por isso, é importante detectá-los e gerenciá-los.

Então, se você me perguntar, estamos pagando um preço? Sim, estamos e há mais por vir, porque ainda estamos na pandemia.

O que expliquei há um ano é que haverá alguns problemas de resposta tardia que ainda não são visíveis, mas eles virão.

Embora haja alguns sinais de alerta, eles ainda são bastante controláveis ​​no momento, mas sabemos disso por experiências anteriores.

Por exemplo, uma grande crise econômica no início dos anos 2000 nos mostrou que a resposta tardia é inevitável e que ainda não aconteceu.

BBC - Quais seriam essas respostas tardias que ainda podemos enfrentar?

Hoof - Acredito que um dos principais problemas que esperamos é a falta ao trabalho a longo prazo.

Elke Van Hoof

Crédito, Koen Bauters

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"Esta pandemia é tratada de uma perspectiva médica muito mais do que de uma perspectiva de saúde mental e isso vai gerar um custo", disse Elke Van Hoof

As pessoas cairão devido ao esgotamento e transtornos relacionados ao estresse, que chamamos de languidez ou esgotamento do coronavírus (coronavirus burnout), em alguns países.

As empresas também estão sofrendo com isso. Estão ficando sem maneiras criativas de inspirar as pessoas novamente e recarregar sua resiliência para enfrentar aquele enorme aumento do absenteísmo que vimos no passado e que sabemos que vai acontecer novamente.

Mas já que sabemos que isso acontecerá, há esperança. Podemos antecipar esse tsunami de faltas ao trabalho.

Meu conselho para as empresas é que se preparem para quando as pessoas começarem a se ausentar por longos prazos.

Certifique-se de ter um plano de respaldo para manter a continuidade do trabalho, mas também que você já criou um bom plano de retorno ao trabalho. Porque vemos na pesquisa que, a nível social, se existem políticas que incluem um retorno sólido ao trabalho, há menos absenteísmo no trabalho após uma crise.

Agora é a hora de investir em uma política de retorno ao trabalho muito boa, a fim de estar preparado para aquela ausência prolongada que aparecerá em todos os lugares.

BBC - O que aprendemos sobre nossa saúde mental neste momento especial e crítico de nossas vidas?

Hoof- Acredito que a saúde mental ainda seja considerada um luxo, uma mercadoria para poucos.

Se eu analisar a gestão global desta pandemia, ainda sinto que não estamos tratando da saúde mental como deveríamos.

As pessoas estão sofrendo para manter as medidas rígidas que todos devemos seguir para vencer e enfrentar esta pandemia. Claro, isso reduz a motivação delas.

Mas isso também se deve ao fato de que não estamos lidando com saúde mental. Não estamos investindo em inspirar as pessoas a tentarem dar-lhes ferramentas para manter sua saúde mental.

Para mim, a ideia mais importante de um ano neste enorme experimento psicológico, é que pensei que já estávamos entrando em um modelo biopsicossocial de abordagem de problemas. Mas acho que não.

Esta pandemia é tratada de uma perspectiva médica muito mais do que de uma perspectiva de saúde mental e isso vai nos custar caro.

BBC - Que oportunidades a pandemia nos oferece?

Hoof - A maior oportunidade é dar importância à saúde mental e também enfatizar a efetiva qualidade de vida.

O lado positivo está no fato de que sempre podemos mudar a maneira como lidamos com essa pandemia.

Acho que também podemos refletir sobre como queremos que seja o futuro.

Já estamos fartos, mas se conseguirmos manter essa flexibilidade do home office, temos uma grande oportunidade de termos uma sociedade muito mais inclusiva.

Ilustração de uma mãe e um filho durante o ensino doméstico

Crédito, Cecilia Tombesi/Getty

Legenda da foto,

Pesquisadora aponta que alguns países ainda estão vendo a saúde mental como um luxo, como um bem para quando têm tempo de sobra

Existe a oportunidade de uma maior participação das pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo essas pessoas que estão em casa há muito tempo.

Vejo muitas oportunidades para definir esse grande "Novo Mundo", em que todos queremos viver. Mas também vejo sinais de que alguns países não estão levando isso muito a sério.

Eles ainda estão vendo a saúde mental como um luxo, como um bem para quando têm tempo de sobra, e não acho que seja um bom caminho a seguir.

BBC - Há algo positivo com que você, como psicóloga, tenha se surpreendido neste ano?

Hoof - Acho que o ponto positivo foi durante a primeira fase do confinamento em vários países.

Muitos trabalhadores romantizaram o trabalho remoto e conseguiram respirar um pouco de ar fresco porque o mundo ficou mais lento.

Pessoas que de repente disseram: "Uau, tenho mais tempo com meus filhos, posso começar um novo hobby."

Achei que as pessoas ficariam muito mais estressadas e, nas primeiras fases do confinamento, estavam mais relaxadas do que nunca.

Claro, devido à grande persistência desta pandemia, perdemos essa vantagem.

Acredito que os governos perderam essa oportunidade. Perdemos a motivação, mas também o empenho das pessoas porque não as incluímos, não as ouvimos.

Também algo que realmente me surpreendeu, e que é negativo, é o medo da morte.

Perdemos tantas vidas para a covid-19 que muitos não conseguiram dizer adeus. Na maior parte das vezes, isso só foi possível por meio de smartphones, devido aos riscos de contágio.

Muitas pessoas morreram sozinhas. Muitas famílias que perderam alguém não conseguiram viver o luto como deveriam.

Meu conselho a todos os países é que instalem monumentos para lembrar todos aqueles que morreram, onde as pessoas possam refletir e que as famílias saibam que seus entes queridos não são esquecidos.

Não sabia que tínhamos medo da morte assim e que, na verdade, estamos relatando as perdas, mas não estamos reconhecendo a dor que as acompanha.

BBC - Parece que ainda temos um longo caminho a percorrer nesta pandemia. Algum conselho para nossa futura saúde mental?

Hoof - Acho que um bom conselho para nossa saúde mental é cuidar de nós mesmos e ter um bom estilo de vida, incluindo níveis suficientes de exercício.

Elke Van Hoof

Crédito, Koen Bauters

Legenda da foto,

"Agora é a hora de investir em uma política de retorno ao trabalho muito boa, a fim de estarmos preparados para aquela ausência de longo prazo que aparecerá em todos os lugares"

Mas uma das principais dicas que quero compartilhar é ajudarmos uns aos outros.

Se você encontrar alguém e disser "olá", reserve um tempo para perguntar: "Como vai você?" Higienize as mãos e pegue nas mãos das pessoas. Seja gentil e atencioso. Envie cartões para alguém. Faça algum trabalho voluntário em sua comunidade.

Se você tiver um momento de sobra, ligue para os centros de idosos e pergunte se você pode falar com alguém que não recebe visitas. É para eles que realmente precisamos mostrar que estamos cuidando uns dos outros.

Não cuide apenas de si mesmo, mas invista no cuidado das outras pessoas porque isso também nos ajuda.

Isso dará nossos níveis de bem-estar de uma forma muito mais sustentável.

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