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Brasil : LGBTQIA+
Enviado por alexandre em 28/06/2021 14:34:07

Os países onde é ilegal ser homossexual

Existem 69 países no mundo que têm leis que criminalizam a homossexualidade — e quase metade deles está na África. No entanto, em algumas dessas nações, houve movimentos para descriminalizar as uniões do mesmo sexo.

Em fevereiro deste ano, o presidente de Angola, João Lourenço, sancionou uma revisão do Código Penal para permitir relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e proibir a discriminação com base na orientação sexual.

Em junho do ano passado, o Gabão reverteu uma lei que criminalizava a homossexualidade e tornava o sexo gay punível com seis meses de prisão e multa.

O Tribunal Superior de Botswana também decidiu a favor da descriminalização da homossexualidade em 2019.

Moçambique e Seychelles também aboliram leis anti-homossexualidade nos últimos anos.

Em Trinidad e Tobago, um tribunal em 2018 decidiu que as leis que proíbem o sexo gay eram inconstitucionais.

Mas há países onde as leis vigentes que proíbem a homossexualidade foram endurecidas, incluindo Nigéria e Uganda.

E em outros, esforços para remover leis assim fracassaram.

No início do ano passado, um tribunal em Cingapura rejeitou uma tentativa de derrubar uma lei que proíbe o sexo gay.

Em maio de 2019, o tribunal superior do Quênia decidiu pela manutenção das leis que criminalizam atos homossexuais.

Legado colonial

Muitas das leis que criminalizam as relações homossexuais têm origem na época colonial.

E em muitos lugares, a infração dessas leis pode gerar longas penas de prisão.

Dos 53 países da Commonwealth — uma associação livre de países, a maioria deles ex-colônias britânicas — 36 têm leis que criminalizam a homossexualidade.

Os países que criminalizam a homossexualidade também têm penas criminais contra mulheres que fazem sexo com mulheres, embora as leis britânicas originais se aplicassem apenas a homens.

A Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (Ilga) monitora o progresso das leis relacionadas à homossexualidade em todo o mundo.

Segundo a entidade, a pena de morte é a punição prevista para atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo em Brunei, Irã, Mauritânia, Arábia Saudita, Iêmen e em Estados do norte da Nigéria.

Ativista na Índia

Crédito, AFP

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Ativista protesta na Índia contra legislação anti-gay

O Sudão revogou a pena de morte para atos sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo no ano passado.

Alguns analistas dizem que o risco real de processo em alguns lugares é mínimo.

Por exemplo, um relatório de 2017 do governo britânico sobre a Jamaica mostrou que o país era considerado uma sociedade homofóbica, mas que as "autoridades não buscam ativamente processar pessoas LGBT".

Grupos de ativistas dizem que a capacidade de organizações lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT) de realizar trabalho de defesa de direitos está sendo restringida.

Mudança de tendência

Há uma tendência global de descriminalização de atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Até agora, 28 países no mundo reconhecem os casamentos entre pessoas do mesmo sexo e 34 outros oferecem algum reconhecimento de parceria para casais do mesmo sexo, diz a Ilga.

O Brasil reconhece a união estável de casais homoafetivos desde maio de 2011.

Em dezembro de 2020, 81 países tinham leis contra discriminação no local de trabalho com base na orientação sexual. Vinte anos atrás, eram apenas 15.

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Lista completa de países onde a homossexualidade é proibida:

Afeganistão

Arábia Saudita

Argélia

Antigua e Barbuda

Bangladesh

Barbados

Butão

Brunei

Burundi

Camarões

Catar

Chade

Cingapura

Comores

Dominica

Egito

Eritreia

Etiópia

Gâmbia

Gana

Granada

Guiné

Guiana

Iêmen

Ilhas Cook

Ilhas Salomão

Irã

Jamaica

Kiribati

Kuwait

Líbano

Libéria

Líbia

Maláui

Malásia

Maldivas

Mauritânia

Ilhas Maurício

Marrocos

Mianmar

Namibia

Nigéria

Território Palestino Ocupado (Faixa de Gaza)

Omã

Paquistão

Papua Nova Guiné

Quênia

São Cristóvão e Neves

Santa Lúcia

São Vicente e Granadinas

Samoa

Senegal

Serra Leoa

Síria

Somália

Sri Lanka

Suazilândia

Sudão

Sudão do Sul

Tanzânia

Togo

Tonga

Tunísia

Turcomenistão

Tuvalu

Uganda

Uzbequistão

Zâmbia

Zimbábue


Dia do orgulho LGBTQIA+: o que foi a revolta de Stonewall que deu origem à comemoração

DRAG QUEEN observa multidao na parada LGBT de São Paulo

Crédito, Rovena Rosa/Agência Brasil

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A Parada do orgulho LGBT de São Paulo homenageou em 2019 os 50 anos da revolta de Stonewall

Os frequentadores do famoso bar Stonewall Inn, no bairro de East Village, em Nova York, se surpreenderam na virada de 2018 para 2019 ano quando uma mãe e seu filho adolescente subiram ao palco do local após a meia-noite para apresentar um número musical.

Antes de entoar os versos de Material Girl com David Banda, seu filho de 13 anos ao violão, Madonna fez um discurso explicando por que estava ali naquela noite de Réveillon.

"Estou aqui orgulhosamente no lugar onde o Orgulho começou, o lendário Stonewall Inn, no nascimento de um novo ano. Unimo-nos esta noite para celebrar os 50 anos da revolução!", falou, gravada por muitos celulares. "Nunca vamos nos esquecer dos motins de Stonewall e daqueles que se levantaram e disseram 'Basta!'"

E prosseguiu: "Nossos irmãos e irmãs antes de nós não eram livres para celebrar como estamos fazendo hoje à noite, e nunca devemos esquecer isso. Stonewall foi um momento decisivo na história, catapultando os direitos LGBT em conversas públicas e despertando o ativismo gay".

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O orgulho o qual a cantora se referia era o gay e a revolução, a revolta de Stonewall.

Esse evento ocorrido no bar Stonewall Inn em Nova York, nos EUA, em 28 de junho de 1969, é considerado o marco do movimento de liberação gay e o momento em que o ativismo pelos direitos LGBT ganha o debate público e as ruas.

É por causa da revolta de Stonewall que o orgulho LGBT (Lésbico, Gay, Bissexual, Transexual, Travesti) é celebrado em junho - o Dia do Orgulho é na mesma data em que aconteceu o levante em Nova York, no 28.

Entre junho e julho, as principais cidades do mundo apresentam suas paradas gay, com multidões nas ruas levantando a bandeira do arco-íris (símbolo do orgulho LGBT).

No primeiro ano da revolta de Stonewall, houve manifestações LGBT em Nova York, Los Angeles, San Francisco e Chicago, para relembrar a data. Em Nova York, os manifestantes caminharam 51 quarteirões, do East Village até o Central Park. No ano seguinte, a marcha para relembrar Stonewall chegaria à Europa, acontecendo também em Londres, em Paris, na parte ocidental de Berlim e em Estocolmo.

Neste ano, as principais paradas gay do mundo - como a de São Paulo, que aconteceu no dia 23 de junho - decidiram homenagear os 50 anos do acontecimento dessa revolta.

Bar Stonewall Inn

Crédito, AFP

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Em 2015, o bar Stonewall Inn foi declarado monumento histórico de Nova York; em 2016, tornou-se o primeiro monumento nacional aos direitos dos LGBT nos EUA

"Stonewall funda um novo tipo de movimento LGBT. Criou essa ideia do orgulho, das pessoas LGBT ocupando o espaço público, assumindo suas identidades e se orgulhando dessas identidades e de práticas de sexualidade e de gênero", afirma à BBC News Brasil Renan Quinalha, professor de direito da USP (Universidade Federal de São Paulo), ativista de direitos humanos e um dos autores do livro A História do Movimento LGBT no Brasil.

Mas o que foi a revolta ou rebelião de Stonewall, citada inclusive pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama em seu discurso de posse?

O bar Stonewall Inn

Na Nova York daquele ano de 1969, o bar Stonewall Inn, no East Village, era ponto de encontro dos marginalizados da sociedade - em sua maioria, gays.

Até 1962, relações entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas crime em todos os Estados americanos. Naquele ano, pela primeira vez, um Estado, o de Illinois, alterou seu Código Penal e a homossexualidade deixou de ser crime. Apenas em 1972 outros Estados começaram a fazer a mesma coisa. Em Nova York, isso aconteceria nos anos 1980. Somente em 2003 essa lei seria abolida de vez.

Nos anos 1960, o Stonewall Inn era um dos mais conhecidos bares gay de Nova York.

Diferentemente de outros lugares que também recebiam o público LGBT na cidade, ali a maioria dos frequentadores eram jovens da periferia, sem-teto (muitos que haviam deixado suas famílias por causa de preconceito, segundo relatos em livros) e drag queens.

A polícia fazia vista grossa ao estabelecimento porque seus donos, que tinham relação com a máfia, pagavam propina para que ele funcionasse. Estes donos também aproveitavam para chantagear os frequentadores famosos ou com mais dinheiro.

O local não tinha licença para a venda de bebida alcoólica e não respondia a uma série de outras regulamentações como ter saída de emergência. E várias batidas policiais estavam sendo feitas em bares naquela época, principalmente para controlar quem podia vender álcool.

Pessoas participando da parada gay de São Francisco

Crédito, AFP

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As paradas do orgulho LGBT que acontecem todos os anos nas principais cidades do mundo começaram por causa da revolta de Stonewall

Revolta ou Rebelião de Stonewall

Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, a polícia resolveu fazer mais uma batida no bar. Era a terceira vez em um espaço curto de tempo que policiais faziam essa ação em bares gays daquela área.

Nove policiais entraram no local e, sob a alegação de que a venda de bebida alcoólica era proibida ali, prenderam funcionários e começaram a agredir e a levar sob custódia alguns frequentadores travestis e ou drag queens que não estavam usando ao menos três peças de roupa "adequadas" a seu gênero, como mandava a lei.

Treze pessoas foram detidas. Algumas, ao serem levadas para a viatura, decidiram provocar os policiais fazendo caras e bocas para a multidão. A polícia então começou a usar de mais violência para fazê-las entrar nos carros.

A partir daquele momento, a multidão fora do Stonewall Inn começou a jogar moedas nos policiais e, em seguida, garrafas e pedras. Também tentaram virar de cabeça para baixo uma viatura.

Os policiais fizeram uma espécie de barricada para se defender dos manifestantes e acabaram sendo encurralados dentro do bar.

Alguém atirou um pedaço de jornal com fogo dentro do Stonewall Inn, e começou um incêndio. Os policiais, que usavam uma mangueira para conter as chamas, decidiram também usar aquela água contra a multidão.

A partir deste momento, parte da comunidade gay de Nova York, que até então se escondia, foi às ruas protestar nos arredores do Stonewall Inn durante seis dias.

Pela manhã, quando o último policial deixou o Stonewall Inn, a gerência do bar colocou um aviso de que o local voltaria a funcionar normalmente, e assim o fez. Mas os manifestantes foram para as ruas novamente protestar por seus direitos naquela e nas noites seguintes.

Os manifestantes demonstravam orgulho de ser quem eram e provocavam a ordem e a polícia, como relata o jornalista Lucian Truscott IV, na reportagem sobre a revolta publicada no jornal Village Voice. "Mãos dadas, beijos e poses acentuavam cada um dos aplausos com uma libertação homossexual que havia aparecido apenas fugazmente na rua antes", escreveu ele.

Em 2015, a Prefeitura de Nova York tornou o bar monumento histórico da cidade. Um ano depois, o ex-presidente Barack Obama decretou que o bar seria o primeiro monumento nacional aos direitos dos LGBTQ.

O coral de homens gay de São Francisco se apresenta em frente ao Stonewall Inn em Nova York

Crédito, Reuters

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Coral de homens gay de São Francisco se apresenta em frente ao Stonewall Inn em Nova York

Importância para o movimento LGBT

A revolta ou rebelião de Stonewall foi um momento decisivo para o movimento de liberação gay. Seis meses após ela ocorrer, surgiriam as primeiras organizações nos EUA, como a Frente de Liberação Gay.

"Essa revolta acabou assumindo a imagem de um mito fundador pro movimento LGBT", diz Renan Quinalha, da USP.

"Não foi a primeira vez que houve assédio e violência policial contra a população LGBT. Esse é um problema crônico. É constitutivo da identidade LGBT essa relação com a violência de Estado, a violência LGBTfóbica diluída na sociedade."

Segundo Quinalha, o contexto histórico daquele momento nos Estados Unidos contribuiu para o levante em Stonewall.

"Stonewall reúne singularidades importantes. Acontece em 1969 após o movimento de libertação sexual, com uma série de condições específicas de Nova York, uma sociedade extremamemnte desenvolvida com uma série de contradições naquele momento. E acontece numa região do East Village que de fato era um bolsão, onde havia uma diversidade grande de pessoas, de migrantes, de latinos. Havia também (à época) um caldeirão em relação à desigualdade. Teve também a questão da mobilização contra a Guerra do Vietnã", explica.

"Uma série de condições faz com que Stonewall vire um episódio signficativo e bastante singular em relação ao que havia antes (no movimento LGBT). Havia lutas e resistência anteriores, havia o Mattachine Society, em São Francisco."

Stonewall repercutiu no Brasil?

Quando a revolta de Stonewall aconteceu, o Brasil passava por um dos piores momentos da ditadura militar. Menos de um ano antes, em dezembro de 1968, havia sido outorgado o Ato Institucional nº 5, que retirava uma série de liberdades civis e de direitos individuais e que fez aumentar a censura.

Naquele momento, Stonewall não fazia sentindo nenhum para o Brasil, segundo Quinalha. "A ditadura acabou atrasando em dez anos a emergência do movimento LGBT no Brasil", fala.

"Era um período de emergência de movimentos LGBT em países latinos e o Brasil também poderia (fazer parte), porque tinha condições pra que emergissem esses grupos, mas isso acaba não acontecendo por conta da repressão"

O autor e ativista diz que apenas em 1978 começa uma organização mais efetiva do movimento LGBT no país, no período de liberalização da ditadura.

Quinalha também conta que não havia um local no Brasil como o Stonewall Inn, que reunisse a comunidade daquela maneira. "Havia lugares de sociabilidade LGBT, de pegação, de interação, mas não havia um lugar que centralizasse tudo isso."

Do ponto de vista simbólico, no entanto, ele acredita que alguns episódios ocorridos no país possam ter uma espécie de vínculo com Stonewall. Por exemplo: quando no Dia do Trabalho de 1980 um grupo LGBT se une à classe trabalhadora num ato do movimento sindical, que estava sob intervenção da ditadura, na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP).

O outro aconteceria em 13 de junho de 1980, quando várias pessoas protestaram contra a violência policial e o delegado José Wilson Richetti, que comandava ações de repressão. "Foi uma aparição pública forte do movimento LGBT."

'Pequeno Stonewall Inn' brasileiro

Quatorze anos depois da revolta de Stonewall haveria uma relação mais direta daquele evento com o movimento LGBT brasileiro. Em 19 de agosto de 1983, um protesto que ocorreria em um bar frequentado por mulheres gay em São Paulo, o Ferros's Bar, ganharia o nome de "O pequeno Stonewall Inn" brasileiro.

Na véspera, o dono do bar no centro de São Paulo (anos depois o local abrigaria outro famoso ponto da noite paulistana, o Xingu), que era referência para a comunidade lésbica, havia chamado a polícia e impedido algumas mulheres de vender no local uma publicação chamada "ChanacomChana", porque esta "atentava contra os bons costumes".

No dia seguinte, várias frequentadoras e ativistas invadiram o Ferro's para ler ali um manifesto em defesa dos direitos das lésbicas.

Em 2003, a data deste protesto, 19 de agosto, se tornaria o Dia do Orgulho Lésbico no Brasil.

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Brasil : RELEMBRE
Enviado por alexandre em 24/06/2021 09:06:03

Irmãos necrófilos fugiram pela mata durante 4 anos

16 dias de Lázaro não são nada: irmãos necrófilos fugiram durante 4 anos na década de 90 e viraram tema de filme. Na época, 70% das famílias que moravam na região abandonaram suas casas com medo de se tornarem vítimas. Irmãos tiveram infância perturbadora, com pai violento e alcoólatra


A caçada por Lázaro Barbosa Sousa, 32 anos, acusado de assassinar quatro pessoas de uma mesma família, já leva 13 dias. Se deslocando pela mata na região do município de Cocalzinho, ele tem se escondido da polícia e sua busca já mobiliza mais de 240 agentes de segurança pública.

O caso trouxe à tona histórias de outros “serial killers” brasileiros. Entre eles, estão os irmãos necrófilos, Ibraim e Henrique de Oliveira, que aterrorizaram a região de Nova Friburgo, município do Rio de Janeiro, entre 1991 e 1995. Eles mataram oito pessoas de forma violenta e praticaram necrofilia com os corpos.

Durante os quatro anos em que atuaram, eles viveram se deslocando por uma área de 300 mil metros quadrados de Mata Atlântica entre os municípios de Sumidouro, Riograndina e Nova Friburgo. O conhecimento da dupla sobre a região e sua habilidade para se deslocar no ambiente e desaparecer lembra muito a fuga de Lázaro, que também se utiliza da mata para se esconder.

Os irmãos necrófilos geraram tamanho terror na região que, de acordo com o jornal A Voz da Serra, cerca de 70% das famílias que moravam na zona rural deixaram suas casas com medo de se tornarem vítimas.

OS CRIMES

De acordo com relatos de moradores antigos da região, recolhidos pelo portal Vice, os irmãos nasceram em uma família muito pobre, comandada pelo pai alcóolatra, Brás de Oliveira, que batia na mulher, Maria Luiza, e nos filhos. Não era raro também que o pai obrigasse os irmãos a passarem dias na mata sem mantimentos.

Ibraim era o primogênito, seguido de Henrique e mais dois irmãos caçulas, Jailton e Márcia de Oliveira. A família jamais conheceu outra região que não a área rural em que viviam. Além disso, as crianças eram analfabetas.

Assim como ocorre com Lázaro, os relatos das ações de Ibraim e Henrique beiram o sobrenatural, o que aumentava o medo da população, que os via como selvagens e brutais. O primogênito, no entanto, já dava sinais de violência desde a infância, e há relatos que ele matava animais e fazia sexo com as carcaças.

O primeiro assassinato ocorreu em 1991 em Riograndina. A vítima foi Eliana Macedo Xavier, de 21 anos, que ficou desaparecida por uma semana até que seu corpo fosse encontrado no meio da mata no dia 15 de fevereiro. A jovem foi estrangulada com um fio de arame e seu corpo foi violado após a morte. Ao seu lado foi deixada uma certidão de nascimento desgastada, um crucifixo de madeira preta, uma carteira de veludo preta e sua calcinha rasgada.

Sete meses depois, o corpo de uma criança de 11 anos, Norma Claudia de Araújo, foi encontrado nas mesmas condições que Eliana. A menina também havia sido estrangulada com um arame. Esse crime levou à prisão de Ibraim, que confessou o assassinato, mas disse haver agido sem o irmão. Como tinha 16 anos, foi julgado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e ficou internado no Instituto Padre Rafael na Ilha do Governador até completar 18 anos.

As mortes recomeçaram nem cinco meses após a volta de Ibraim. Os ataques dos irmãos seguia um padrão: mulheres negras, quase sempre na parte da tarde, em regiões afastadas e próximas à mata. Usavam arame e foices e tinham o cuidado de não ferir o corpo das vítimas, que eram violados após o assassinato. Além disso, eles tinham o costume de levar “troféus” das vítimas, como calcinhas.

Em 27 de fevereiro de 1995, eles atacaram um casal, Elizete Ferreira Lima e seu marido João Carlos Maria da Rocha, que tomavam banho em uma das cachoeiras de Janela das Andorinhas. Ambos foram assassinados e os corpos foram estuprados após a morte.

Entre os ataques, os irmãos desapareciam na mata, onde se alimentavam de frutas e dormiam em grutas na Janela das Andorinhas. Entre suas vítimas, está uma tia dos jovens, Vera Lúcia Damasceno. Ela morreu em 1º de abril de 1995, quando supostamente levava mantimentos para os sobrinhos.

A dupla era buscada pelo 11º Batalhão da Polícia Militar de Nova Friburgo. Os moradores da região, no entanto, estavam insatisfeito com o andamento da perseguição e começaram a tomar medidas individuais, como se armar.

Dentre as dificuldades enfrentadas pelos agentes, estava a falta de preparo e equipamento adequado para a busca nas matas, questão que já não ocorre na caçada a Lázaro hoje, que conta com drones, cachorros e policiais treinados. Mesmo com quase todo Batalhão mobilizado, os irmãos conseguiam desaparecer entre a vegetação e só eram avistados quando invadiam chácaras para pegar suprimentos – prática que Lázaro também adota.

Em 1995, os irmãos deixaram mais duas vítimas: em 17 de maio, assassinaram a lavradora Odete de Carvalho, de 56 anos, em sua casa. Em julho, mataram Iria Moraes Ornellas, de 67 anos, na cozinha de sua casa.

Em vista da tragédia que se espalhava, um efetivo do Batalhão de Operações Especiais foi enviado para auxiliar na caça aos irmãos. Por conta da repercussão nacional dos crimes, mais 200 policiais do BOPE foram enviados a Nova Friburgo com cães farejadores.

As últimas vítimas foram Maria Dorcileia Faltz, de 39 anos, que estava grávida, e seu filho, Adriano Faltz Gomes, de 9 anos. No momento em que atacavam a mulher, foram surpreendidos pela criança, que foi coberta de pauladas. Ele resistiu apenas para falecer no hospital no dia seguinte.

Ibraim foi morto, aos 19 anos, por um subcomandante do Bope após invadir um sítio em Riograndina no dia 16 de dezembro de 1995. Henrique ficou desaparecido até se entregar no dia 17 de junho de 1996, por medo de ser morto pelos moradores.

Henrique foi julgado em 1º de setembro de 2000 pela morte do vigia João Carlos e atentado violento ao pudor de Elizete. Ele se declarou inocente de todas as acusações, afirmando que apenas acompanhava o irmão. Mesmo sem poder ser julgado por outros crimes, por falta de provas, ele foi condenado a 34 anos de prisão.

FILME

A história dos irmãos necrófilos virou filme em 2020. O longa ‘Macabro’, de Marcos Prado, amplia a trama policial com um enredo que envolve também aspectos da injustiça social e do racismo estrutural presentes na história do Brasil.

A ideia de um longa-metragem inspirado no caso dos irmãos necrófilos surgiu em 2009, quando Prado, sócio do diretor José Padilha na produtora Zazen Filmes, conversou com o ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel sobre o caso.

Pimentel é autor do livro A elite da tropa e foi sua experiência no Bope que originou o filme Tropa de elite, dirigido por Padilha e produzido por Prado. A ideia original de Macabro tomou novo rumo quando o advogado de Henrique de Oliveira, um dos irmãos, entrou em contato com o diretor, assim que soube da produção.

“Henrique pegou quase 50 anos de prisão sem prova nenhuma. Havia factuais, havia testemunhas, o outro irmão (Ibraim de Oliveira) foi morto por um oficial do Bope, mas ninguém viu o Henrique nas cenas dos crimes”, diz Prado.

O diretor conta que o advogado de Henrique, que está cumprindo sua pena na prisão, argumenta que o cliente foi condenado injustamente. “Então pesquisamos os autos do processo e, dos nove assassinatos, três estão na conta dele. Mas dois sem nenhuma prova, e o terceiro baseado na mudança de depoimento de uma vítima que sobreviveu a um ataque.”

Segundo Prado, a hipótese de que tenha havido uma condenação injusta é um de vários elementos que se juntam em torno de uma história por si só já bastante complexa.

“Há o feminicídio, a questão da violência policial e essa história paralela na cidade, retratada no filme como uma cidade de brancos. Claro que há uma dramaturgia, mas, se pegarmos um paralelo da nossa sociedade e o colocarmos nesse microcosmos, está tudo acontecendo ali: crimes bárbaros, racismo, Justiça e suas contradições”, diz Prado.

O diretor salienta que a trama do filme é apenas inspirada no caso, e não totalmente baseada nele. Nesse processo de construção dramatúrgica, o protagonista foi inspirado em vários oficiais do Bope, inclusive em um que foi, de fato, designado para a missão, por ser de Nova Friburgo.

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No filme, ele se chama Theo, um sargento que seria julgado pelo assassinato de um morador de favela em um erro de operação e por isso é enviado para a missão. Não só por conhecer a região, onde nasceu, mas para “limpar a própria barra”.

Esse tipo de contradição na atividade policial é outra pincelada que o longa dá sobre nosso caos social. Theo é interpretado por Renato Góes, que assume um personagem atordoado pelos reencontros ocasionados pelas circunstâncias da investigação e por seus erros no passado, mas dedicado a compreender a complexidade do caso. Tanto é assim que ele passa boa parte do filme fazendo perguntas aos moradores locais.

PRECONCEITO

Acompanhado pelo cabo Everson (Guilherme Ferraz), que observa ser o único negro no povoado onde os crimes se passam, além dos dois irmãos procurados, ele encontra uma população apavorada, mas extremamente preconceituosa.

À medida em que tenta encontrar os assassinos, que continuam fazendo suas vítimas de maneira cruel, Theo passa a entender como os jovens, de origem pobre, eram tratados pelos habitantes, antes de começarem a cometer os crimes.

Com inspiração direta em relatos jornalísticos reais da época, os jovens eram apontados como “mancomunados com o diabo”, e a família deles tratada como “macumbeiros” e outros adjetivos tipicamente racistas.

Marcos Prado afirma que, embora os fatos que inspiraram o filme tenham ocorrido há quase 30 anos, eles se conectam com o contexto atual. “Lá atrás, não estávamos tão atentos ao racismo estrutural. Mas somos estruturalmente racistas desde sempre. Por isso resolvemos pontuar que eram dois jovens negros, descendentes de escravos, numa região que recebeu muitos imigrantes e onde havia o maior traficante de escravos do Brasil. Por lá havia um dos maiores quilombos do país, que, segundo uma pesquisa que consultamos, desapareceu em sete anos. Claro que o racismo está no Brasil inteiro, mas é uma região que tinha esses ingredientes.”


Brasil : BELO EXEMPLO
Enviado por alexandre em 22/06/2021 09:32:49

Craque do Liverpool constrói hospital de R$ 3 milhões em sua cidade natal

O atacante do Liverpool, Sadio Mané, mostrou mais uma vez que não está preocupado apenas com as questões dentro das quatro linhas e mostrou todo o seu lado humano.

 

O senegalês não esqueceu as suas origens e mostrou solidariedade com o seu país ao doar 500 mil euros (cerca de R$ 3 milhões) para a construção de um hospital em sua cidade natal, Bambaly.

 

Graças à doação, seus compatriotas poderão desfrutar deste novo hospital que atenderá as 34 aldeias que estão nos arredores. Essa não é a primeira vez que o jogador faz algo do tipo. Ele também já abriu uma escola de ensino médio na localidade.

 

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“Este hospital foi obtido graças a vós, e é por vós, população de Sédhiou”, escreveu o jogador em suas redes sociais.

 

 

 

E essa não será a última grande construção que o atacante planeja. Sadio Mané e os seus sócios pretendem construir outras infra-estruturas, incluindo uma estação de correios e um posto de abastecimento, de forma a fornecerem estes serviços para o sul do seu país.

 

 

Os custos desta última doação ascendem a mais 500 mil euros (R$ 3 milhões).

 

Fonte: IG

Brasil : IGREJA/CARISMA
Enviado por alexandre em 21/06/2021 23:28:23

Os 40 anos do livro brasileiro condenado pelo Vaticano que hoje inspira o papa Francisco
  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
Leonardo Boff

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto,

Atuação do então frade franciscano Leonardo Boff repercutiu no começo dos anos 1980

Aquele padre já estava incomodando bastante os círculos mais conservadores da Igreja Católica. No comecinho dos anos 1980, a atuação do então frade franciscano Leonardo Boff repercutia social e politicamente, justamente pela atuação à frente da Teologia da Libertação, corrente cristã que enfatiza como necessária a opção preferencial pelos pobres.

Quarenta anos atrás, Boff lançou um livro até hoje considerado sua obra máxima, constante de bibliografias de cursos de teologia e presente nas cabeceiras de muitos pensadores influentes — e, há quem diga, até mesmo do papa Francisco. Trata-se de Igreja: Carisma e Poder (Vozes), um compilado de 13 densos ensaios cuja primeira edição foi publicada em 1981.

Ao longo de mais de 200 páginas, o teólogo afirma existirem violações aos direitos humanos no interior da Igreja Católica, questiona a engessada hierarquia eclesiástica e entende a teologia como resultado das experiências de fé vividas pelo povo — e não o contrário.

Se o jeito de ser religioso de Boff, militando junto aos pobres, causava desconforto em setores católicos, o livro serviu como prova concreta para os que viam nele um dissidente, alguém fora do padrão instituído.

O caso foi analisado primeiro pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em seguida, encaminhado para a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão do Vaticano herdeiro histórico do temido Tribunal da Inquisição, conhecido por perseguir aqueles considerados hereges até o século 19.

No comando da CDF estava o então cardeal alemão Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento 16, sucessor de João Paulo 2º (1920-2005).

Sua decisão sobre o caso Boff foi publicada em 11 de março de 1985. No julgamento, a congregação entendeu que o livro era uma afronta a pelo menos quatro pontos da doutrina católica.

"Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico […] certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis", pontua o documento final.

"Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo."

Entendendo que as reflexões de Boff "são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé", a congregação condenou o religioso brasileiro. Coube a ele um ano do chamado "silêncio obsequioso", uma espécie de "cala-boca" oficial que o proibiu de emitir opiniões ou mesmo exercer publicamente suas atividades religiosas.

Por e-mail, Boff afirmou à BBC News Brasil que "a intenção originária do livro era aplicar as intuições da teologia da libertação às relações internas na Igreja, em setores da Igreja".

"Uma igreja que prega a libertação na sociedade não pode ser um fator de opressão nas suas relações internas", argumenta ele.

"A razão reside neste fato: todo o poder sagrado está nas mãos de um pequeno grupo clerical; os leigos, que são as grandes maiores, não participam dele e as mulheres são completamente excluídas. Uma Igreja que assim se organiza e exige libertação na sociedade se desmoraliza porque, internamente, não dá mostra de ser libertadora."

Recordando seu próprio livro, o teólogo sustenta que "na medida em que a Igreja hierárquica se assenta sobre o poder em sua forma absolutista e até tirânica na figura do papa, não há a possibilidade de se converter".

"Este tipo de poder centralizado necessariamente é excludente e, por isso, sua natureza viola direitos dos fiéis", diz.

Boff vê os leigos reduzidos a uma cidadania inferior, e as mulheres encaradas como "força auxiliar do clero", a despeito de serem numericamente a maioria.

"O ponto crítico e extremamente sensível para as autoridades eclesiásticas foi a crítica que fiz ao poder sagrado, sobre o qual se constrói toda a compreensão da Igreja", acrescenta.

"Jesus fez uma arrasadora crítica ao poder como centralização e busca de privilégio. O poder só se legitima evangelicamente como serviço e não como privilégio e elemento de criação de diferenças na comunidade. A Igreja dos primórdios se construía sobre a categoria da comunhão de todos com todos, no sentido de uma comunidade fraternal de iguais, embora com funções diferentes."

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Boff diz que no catolicismo contemporâneo, a comunhão foi "esvaziada" e "no lugar do Espírito Santo entrou o direito canônico, que tudo estabelece"

Boff diz que no catolicismo contemporâneo, a comunhão foi "esvaziada" e, "no lugar do Espírito Santo, entrou o direito canônico, que tudo estabelece".

"Não me restringi a fazer crítica à Igreja hierárquica do poder sagrado. Tentei mostrar […] uma alternativa possível e fundada biblicamente, de uma Igreja assentada sobre o Espírito Santo e os carismas como forma diferente de organização comunitária", explica. "Estes seriam os pontos nevrálgicos que provocaram minha convocação pela Congregação para a Doutrina da Fé."

O teólogo reconhece, contudo, que os problemas não eram apenas os teológicos. "Havia dois outros, muito importantes, de caráter político", ressalta ele, frisando que o primeiro dizia respeito à teologia da libertação.

"Uma semana antes de minha convocação [para prestar esclarecimentos], a congregação [CDF] havia publicado um documento crítico a este tipo de teologia, acusando-a de politização da fé e do uso de categorias marxistas. Submeter-me, logo após, a um juízo doutrinário significava também colocar sob suspeição a Teologia da Libertação e, com isso, desautorizá-la."

O segundo motivo político dizia respeito às chamadas comunidades eclesiais de base — grupos ecumênicos em que pessoas com necessidades comuns são incentivadas a se reunir para leituras bíblicas e debates sociopolíticos. Como diz Boff, lugares "onde se praticava e ainda se pratica a Teologia da Libertação".

"A intenção já antiga do Vaticano era declarar que essas comunidades não são eclesiais, mas políticas", afirma ele. "Desta forma, ficariam também desclassificadas e, junto delas, a Teologia da Libertação."

A reportagem perguntou a Leonardo Boff se, com passar do tempo, ele se arrepende ou chegou a se arrepender de alguma coisa do conteúdo desse livro — considerando, inclusive, a repercussão do mesmo no interior da Igreja. Ele negou categoricamente.

"Continuo sustentando as teses do meu livro, que são secundadas pela melhor reflexão teológica católica e ecumênica", esclarece.

Ele afirma que "a estruturação institucional da Igreja hierárquica é mais e mais criticada por não ser suficientemente fundada nos evangelhos e na prática de Jesus e dos apóstolos".

"Sobre isso se fizeram inúmeras teses nas muitas faculdades de teologia. Mais ainda, esta teologia oficial é posta de lado pela prática do atual papa Francisco, que explicitamente vive o modelo de Igreja de comunhão, favorece as comunidades eclesiais de base e tem dado apoio explícito à teologia da libertação, de onde ele mesmo mesmo veio."

Boff comentou que se corresponde com o papa Francisco "em sucessivas e amistosas trocas de cartas".

"O livro ['Igreja: Carisma e Poder'] resultou de uma série de textos de conferências e de artigos publicados. O título vai direto ao ponto", define o teólogo Luiz Carlos Susin, professor na Pontifícia Universidade Católica no Rio Grande do Sul (PUC-RS) e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana e membro do Comitê Internacional do Fórum Mundial de Teologia e Libertação.

"Na América Latina em geral, mais especificamente no Brasil, a década de 1970 tinha sido tensa politicamente pois nos extremos estavam as ditaduras e as guerrilhas, e no campo intelectual a situação social era analisada com categorias marxistas. A Teologia da Libertação dialogava com este pensamento crítico, embora nem Boff e nem os demais teólogos dominassem bem as categorias marxistas. Mas havia 'afinidades eletivas'."

Contexto

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Genézio Darci Boff e assumiu o nome de Leonardo quando se tornou membro da Ordem dos Frades Menores

Em 1981, Boff já era bastante respeitado. Catarinense de Concórdia, nascido em 14 de dezembro de 1938, ele civilmente se chama Genézio Darci Boff e assumiu o nome de Leonardo quando se tornou membro da Ordem dos Frades Menores, ao fim da década de 1950.

Ordenou-se sacerdote em 1964 e, depois, viveu um período na Alemanha, onde doutorou-se pela Universidade de Munique.

Ao longo dos anos 1970, seu pensamento passou a ser materializado em artigos e livros. Ele integrou o conselho editorial da Vozes, onde coordenou a coleção Teologia e Libertação e atuou como redator da Revista Eclesiástica Brasileira, entre outras publicações periódicas.

Nesse contexto, o teólogo fundou em 1979, com a ajuda de um grupo de militantes e religiosos, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), em Petrópolis, onde vive. Os antigos parceiros nesse projeto são os que guardam as melhores memórias da perseguição sofrida por Boff no processo junto ao Vaticano.

"Trabalhava no CDDH nos anos 1980 e convivia diariamente com Boff, principalmente no ano do famoso silêncio obsequioso [1985], afirma o teólogo e filósofo Adair Rocha, professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

"Silêncio obsequioso é uma expressão de uma sabedoria histórica incrível, bem mais respeitosa do que 'faz favor de calar a boca'."

"Igreja: Carisma e Poder se relaciona com Jesus Cristo libertador. Isso acabou incomodando os setores hierárquicos da Igreja", diz ele.

"[Boff] trabalha os pressupostos teóricos de natureza teológica com as questões de natureza prática, numa perspectiva estruturante do modelo da circularidade da Igreja, enquanto o modelo tradicional existente é hierarco-piramidal."

"Quando isso vai para as comunidades eclesiais de base, implica em questões que vão interferir diretamente na vida das pessoas, e isso assume uma conotação de natureza política que vai identificar Boff e toda sua produção com autores preocupados com essa questão estruturante do capitalismo e como os meios de produção interferem na força de trabalho", completa.

Para Rocha, a teologia trazida pelas reflexões de Boff estava empenhada em possibilitar que a população mais pobre adquirisse "todos os direitos". "A palavra de Deus vai deixando isso cada vez clara. A conotação política acaba sendo clara", acrescenta.

Professor e desenvolvedor de aplicativos em Goiânia, o filósofo José Américo de Lacerda Júnior recorda que foi arrebatador quando, nos anos 1980, "mergulhou" na leitura de Igreja: Carisma e Poder.

Em 1987, viveu em Petrópolis e "a proximidade com a pessoa do Leonardo trouxe ainda mais força àqueles seus escritos que tinham me marcado tanto".

"Eu vi nele a coerência entre sua prática e sua escrita, entre sua ação e sua teologia", afirma. "Práxis. Compreendi na pele e na alma a mensagem do livro: o desafio de manter o equilíbrio entre a força fundante do amor e a razão opressora da institucionalização."

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Boff afirma que seu livro teve o mérito de provocar uma grande discussão teológica no cerne do catolicismo

O músico e filósofo Sérgio Messias Guimarães orgulha-se de ter integrado o grupo que criou o CDDH em 1979. "[Vi] as consequências: tudo o que Leonardo sofreu a partir de Igreja: Carisma e Poder. A obra veio questionar práticas equivocadas internamente, liturgicamente, teologicamente e pastoralmente. Práticas de centenas de anos. O livro questiona de maneira contundente, daí ganhou uma importância tamanha", relata ele.

"Ratzinger, com seu conservadorismo, traduziu essa linha [conservadora] de João Paulo 2º. Aí chegou a bater forte em Leonardo, por conta dos questionamentos importantes feitos por esse livro", comenta.

"A relevância da obra continua forte porque ela evoca mudanças na Igreja. Jesus colocou muito claramente no evangelho o amor para o outro, o cuidado para o outro, principalmente para aquele que precisa mais, sofre mais as consequências da sociedade que não permite que todos tenham seus direitos básicos respeitados. Boff continua presente, atual. No papado de Francisco, o livro se torna um grande ponto de referência."

Guimarães acredita que a condenação de Boff tenha sido pelo conjunto de sua atuação. "O livro foi a gota d'água por certos questionamentos que ele vinha fazendo e pela própria teologia da libertação", defende.

Para a educadora e militante Márcia Monteiro da Silva Miranda, com quem Boff vive oficialmente desde que largou a batina, em 1992, a repercussão do livro é resultante do fato de que, no período da ditadura, "setores da Igreja lutaram pelos direitos das pessoas e setores conservadores da Igreja achavam que a Igreja não podia se misturar com política".

"Como se o fato de eles não falarem nada [sobre o regime ditatorial] também não fosse um posicionamento político", diz ela.

"Leonardo foi muito profético, mas ele é um homem transparente, que acredita no que fala. O que ele fala é a partir do que reflete, estuda. Mas ele não é um acadêmico que fica só estudando. Ele é um homem de fé e andou sempre em contato com a situação do povo. Isso tornou forte o pensamento dele", afirma.

Por outro lado, Miranda acredita que a punição sofrida por seu companheiro tornou sua obra ainda mais reconhecida.

"Acredito que Deus escreve certo por linhas tortas", sentencia. "O fato de ele ser punido, calado, serviu para disseminar ainda mais a teologia da libertação. Tornou-se uma coisa que se espalhou, se esparramou e vai até hoje adubando a fé, inclusive para irmãos cristãos evangélicos e outras religiões que não são cristãs."

Legado

Boff ressalta que seu livro teve o mérito de provocar uma grande discussão teológica no cerne do catolicismo. "[Contudo] foi um grave equívoco cometido pelas autoridades doutrinais do Vaticano terem entendido de forma errônea o título do meu livro", acredita ele.

"Entenderam Igreja: Carisma ou Poder. Tenho afirmado a legitimidade do carisma e do poder na Igreja, poder para organizar internamente a comunidade no espírito dos evangelhos e carisma para abrir-se ao novo e às iniciativas exigidas pelos tempos cambiantes. Mas tenho insistido na tese: na relação entre poder e carisma deve-se partir sempre do carisma e não do poder", explica ele.

"Assim, o carisma impede o poder de se autonomizar e o confirma sempre como serviço. Se partirmos do poder, este enquadrará o carisma, tirar-lhe-á a forma de inovação e de abertura de novos caminhos", acrescenta.

"Essa foi a tragédia do carisma na Igreja: figuras carismáticas — aqui no sentido de inovadores e não do movimento carismático — e os profetas foram, geralmente, vigiados, cerceados, perseguidos, punidos e até condenados."

Para o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, um ponto-chave para compreender Igreja: Carisma e Poder é entender que, na Teologia da Libertação, "a teologia aparece sempre como um segundo ato".

"O primeiro ato, o mais importante, é a experiência de fé dentro das comunidades. E foi dentro dessas comunidades que a experiência cristã foi mostrando para Boff que a Igreja que se conhece era uma Igreja hierárquica, europeia, medieval, uma Igreja que estrutura e combina o poder temporal com o poder espiritual. Essa Igreja estava em uma direção completamente contrária. Então [sua obra] aponta para uma luta contra o clericalismo, contra essa ordem hierarquizada", explica.

"É como se ele dissesse que o poder nasce dentro da Igreja, mas da Igreja que são essas pessoas pobres, humilhadas sofridas, oprimidas."

Por tudo isso, a obra pode ser definida como profética, segundo explica o professor. Boff cobra uma Igreja que abandone o estilo monárquico, os títulos, os cargos — e brote justamente dos mais pobres.

Conforme diz Moraes, os teólogos da libertação estavam preocupados com a ortopraxia em vez da ortodoxia. "Para eles, melhor do que a opinião correta, é a prática correta. É nessa direção que Boff vai", comenta.

Igreja: Carisma e Poder tornou-se fundamental nas bibliografias da área. "A obra de Boff vai perdurar por muito tempo ainda, porque é consistente. É de uma teologia desafiadora, que faz as pessoas sonharem com um verdadeiro poder: o poder do cristianismo autêntico e não a estrutura fechada, engessada, do clericalismo que se torna protecionista de coisas erradas", avalia Moraes.

"Sua obra vai continuar existindo e resistindo ao tempo porque é uma fonte de utopia, uma fonte teológica de sonhos, de possibilidades de concretização no mundo real das expectativas da caminhada de fé."

Ele ressalta que o teólogo ainda tem a habilidade de tratar de coisas profundas de um jeito simples, dirigindo-se ao homem comum, sendo de fácil compreensão.

Doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e pesquisadora do Instituto de Ensino e Assistência Social (IEAS), a religiosa Dulcelene Ceccato, da Congregação das Irmãs do Divino Salvador ressalta a relevância mundial de Boff.

"Ele não é apenas um autor, ele é uma escola de pensamento, tanto teológico como também filosófico. Como poucos, ou melhor, como os melhores e o maiores autores contemporâneos, possui uma obra ampla, sistematizada em muitos livros e artigos."

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"A obra de Boff vai perdurar por muito tempo ainda, porque é consistente", avalia historiador

Ao condenar Boff, a Igreja tinha como "meta atingir a mente mais lúcida da América Latina e Caribe para calar o pensamento em favor do mundo dos pobres", defende o o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Junior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "A estratégia persistiu até a eleição do papa Francisco, quando voltamos a ter oxigênio para fazer teologia. Superou-se o verdadeiro inverno eclesial e eclesiástico que durou 40 anos. Um verdadeiro deserto para os intelectuais católicos", diz o professor.

"A cristologia latino-americana que se fez a partir da dor humana, especialmente da humanidade padecente em sua carne e corpo, nas ditadores militares foi calada e perseguida dentro da própria Igreja", comenta Altemeyer. "A cristologia européia se fez a partir do conhecimento humano e da angústia existencial em sua alma e mente. A cristologia latino-americana vem de baixo para cima. Do histórico de Jesus ao ser de Jesus. Do ser de Jesus ao ser de Deus. É alinhada à escola teológica de Antioquia, ao pensamento dos primeiros evangelistas e a São João Crisóstomo. Fazer teologia muda a vida dos teólogos."

Para Susin, a riqueza intelectual de Boff acabou se tornando mais visível com a "mudança de foco" depois de desligar-se do sacerdócio, em 1992. "Ele vinha prestando atenção, pesquisando e começando a escrever a respeito de ecologia em diálogo com as ciências. Sua decisão foi privilegiar a interlocução com a sociedade e não mais com a Igreja, ao menos no foco central de seu trabalho", analisa.

"Continua tendo lealdade de pertença à Igreja e fala dela com propriedade, mas cresceu em sua liderança em termos de ética e espiritualidade ecológicas. Inovou em sua insistência numa ecologia integral, assumida agora pelo papa Francisco", comenta ele. "Mas seus livros de teologia da primeira fase têm ainda consistência e conservam atração por uma das características de seu estilo, uma linguagem quase jornalística, de crônica e algo de poesia. Este outro lado místico e entusiasta, e não apenas crítico, ou profético, em termos mais bíblicos, está presente ao longo de sua produção, o que o torna um escritor rico e complexo."

Pontificado de Francisco

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Boff não esconde que há um alinhamento entre seu pensamento e o atual pontificado

"A teologia de Boff e tantos pensadores do hemisfério sul participa da esperança libertadora dos povos crucificados. É uma cristologia ascendente, inspirada em textos clássicos dos aristotélicos e tomistas", explica Altemeyer. "[Por outro lado,] a teologia europeia trabalha a encarnação do Verbo como manifestação salvífica de Deus. É uma teologia descendente, inspirada em textos clássicos dos platônicos e agostinianos."

A influência do pensamento de Boff sobre o papado de Francisco transparece em algumas de suas manifestações e em documentos oficiais, como na encíclica dedicada ao meio ambiente, a Laudato Si', de 2015.

Para o frei Marcelo Toyansk Guimarães, da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Frades Capuchinhos e assessor da Comissão Justiça e Paz da CNBB-SP, é visível como esse modo de pensar ecoa no atual pontificado. "Podemos ver nas homilias do papa, que ele chama fortemente a cúria romana à conversão", pontua. "Isto está escancarado, estamos à beira de uma reforma mais consistente da própria cúria."

"[No livro,] Boff discorre sobre violações de direitos humanos no interior da Igreja. A Igreja precisa estar aberta a críticas para ajudar na revisão de posicionamentos", prossegue. "Vemos em Francisco como isso acontece de forma mais fluida, quando ele diz tolerância zero com relação a abusos e quando ele se posiciona de forma muito firme em relação aos clericalismos, dizendo que é um grande mal da Igreja."

"O debate trazido por Boff é repetido pelo papa, que nos provoca hoje a fazer uma Igreja a partir dos pobres, que tenha o leigo como protagonista, que seja sinodal", resume o religioso.

Susin atenta que a Igreja, pelo "peso do dinossauro", enfrenta a "dificuldade da reforma". "A tradição, que é sua riqueza e sua glória, é também sua miséria quando se trata da estrutura de poder, e na submissão da doutrina e até do evangelho ao direito canônico, comenta. "A cúria romana tem a estrutura de uma corte do século 17I na França, cheia de títulos, vênias e medalhas. É nas áreas missionárias, de fronteiras, exatamente onde ela parece mais precária, que ela apresenta mais criatividade carismática e mais vitalidade genuinamente evangélica."

"Com a enorme extensão dos pontificados de João Paulo 2º somando-lhe a continuidade em Bento 16 acabou se fortificando na Igreja o que o papa Francisco tem chamado de clericalismo, um interesse ligado ao poder que se afirma sobre a postura de que o clero é a única mediação da salvação", explica ele. "As atuais tensões dentro da cúria romana e as contraposições nem sempre tão veladas de um clero mais conservador em diversos países, como os Estados Unidos, e o papa Francisco mostram que a análise do poder ainda precisa ser feita, é tarefa incompleta."

Ceccato lembra que o teólogo brasileiro foi pioneiro nas reflexões sobre "a grave problemática ecológica", propondo "os parâmetros para uma ecologia integral, que o papa Francisco retoma na encíclica Laudato Si'". "Pode ser dizer que essa é a obra de Leonardo Boff que continua sendo escrita com criatividade, inteligência e, cada vez mais, marcada por uma profunda mística franciscana que aponta para o amor misericordioso de Deus e a fraternidade universal."

"Não cabe dúvidas que a teologia sul-americana, nos últimos 50 anos, deu muitos passos na reflexão teológica", afirma a religiosa. "Basta ver a importância da problemática ecológica."

Boff não esconde que há um alinhamento entre seu pensamento e o atual pontificado. "A prática e a mensagem do atual papa se situam perfeitamente dentro da perspectiva carismática defendida por meu livro 'Igreja: Carisma e Poder'. Ele disse sucessivas vezes que não vai dirigir a Igreja com o uso do poder, que não condenará ninguém e que fará o possível para viver uma Igreja sinodal que é outro nome para uma Igreja de comunhão", ressalta ele.

"Pelo fato de se negar viver num palácio mas preferir a casa da hóspedes, mostra na prática a distância do símbolo do poder, um palácio, e sua proximidade do lugar comum a todos, uma casa. Ele está mais perto da gruta de Belém do que dos palácios dos príncipes renascentistas, muitos deles eleitos papas."

Brasil : ASSOMBRADO/POÇO
Enviado por alexandre em 21/06/2021 22:46:56

"Poço do Inferno", no Iêmen, abriga "demônios e gênios, teme a população

Cercado por mistérios e contos sobre demônios, o Poço de Barhout, no leste do Iêmen - conhecido como o "Poço do Inferno" - é uma maravilha natural pouco conhecida. Mais perto da fronteira com Omã do que da capital iemenita, Sanaa, de opnde está a 1.300 quilômetros de distância, o buraco gigantesco no deserto da província de Al-Mahra tem 30 metros de largura e acredita-se que tenha entre 100 e 250 metros de profundidade.

O folclore local diz que foi criado como uma prisão para os demônios - uma reputação reforçada pelos odores desagradáveis ??que emanam de suas profundezas. Autoridades iemenitas dizem que não sabem o que está abaixo.

 

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"É muito profundo. Nunca chegamos ao fundo deste poço, pois há pouco oxigênio e nenhuma ventilação", disse Salah Babhair, diretor-geral da autoridade de pesquisa geológica e recursos minerais de Mahra, à agência France Presse. "Fomos visitar a área e entramos no poço, chegando a mais de 50-60 metros de profundidade. Percebemos coisas estranhas lá dentro. Também sentimos algo estranho. É uma situação misteriosa", acrescentou ele. 

 

'Poço do Inferno', no Iêmen

Foto: Reprodução

 

A superstição local diz que objetos próximos ao buraco podem ser sugados em sua direção. Ao longo dos séculos, circularam histórias de figuras malignas sobrenaturais conhecidas como gênios vivendo no poço.  Muitos residentes locais ficam preocupados em visitar o vasto buraco, ou mesmo falar sobre ele, por medo de azar de um abismo que, diz a lenda, ameaça a própria vida na Terra.

VEJA VÍDEO:https://portaldozacarias.com.br/site/noticia/-poao-do-inferno---no-iamen--abriga--demanios-e-ganios---teme-a-populaaao.-veja/

 

Fonte: Extra.online

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