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Brasil : MALÁRIA VACINA
Enviado por alexandre em 06/10/2021 23:23:21

Vacina contra malária é conquista histórica mas provavelmente não será usada no Brasil

Com 229 milhões de casos e 409 mil mortes apenas em 2019, a malária é uma das doenças infecciosas que mais afetou a humanidade ao longo da história. E, após décadas de pesquisa, finalmente temos uma vacina disponível contra ela.

Numa coletiva de imprensa realizada nesta quarta (06/10) em Genebra, na Suíça, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou oficialmente o uso do imunizante RTS,S nas regiões do planeta com alta taxa de transmissão do Plasmodium falciparum, um dos protozoários por trás da enfermidade.

O local que mais deve se beneficiar da medida é a África Subsaariana, que concentra a vasta maioria dos casos e das mortes pela moléstia: todos os anos, mais de 260 mil crianças com menos de cinco anos que moram ali morrem de malária.

"Essa é uma conquista histórica. A tão esperada vacina contra malária é um avanço para a ciência, para a saúde infantil e para o controle desta doença", comemorou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Porém, apesar de representar uma ótima notícia para todo o mundo, a vacina provavelmente não será utilizada no Brasil, que registrou cerca de 130 mil casos e menos de 30 óbitos pela enfermidade em 2020.

Isso porque o agente causador da maioria das infecções por aqui é o Plasmodium vivax, protozoário sobre o qual o novo produto aprovado não tem efeito.

O que é a malária?

Essa doença infecciosa é transmitida a partir da picada de mosquitos da família Anopheles, que são muito comuns em regiões tropicais e úmidas. Em algumas partes do Brasil, eles são conhecidos como mosquito prego.

Como explicamos acima, o agente causador é protozoário Plasmodium e há cinco tipos diferentes dele. Os mais comuns são o falciparum, o vivax e o malariae.

"O parasita causador da malária é diverso e tem uma capacidade de mutação muito grande. E isso faz com que seja quase impossível desenvolver imunidade após a infecção", explica o infectologista André Siqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), no Rio de Janeiro.

Mosquito Anopheles

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Os mosquitos Anopheles são os transmissores do protozoário causador da malária

Em lugares com muita circulação do micro-organismo, não é raro encontrar pessoas que tiveram a doença dezenas de vezes.

Após entrar no organismo humano, esse parasita viaja pela corrente sanguínea e se instala nas células do fígado. Após um tempo de maturação, ele volta ao sangue e invade as células vermelhas (também conhecidas como hemácias).

Ao longo desse processo, as células hepáticas e sanguíneas são destruídas, o que provoca sintomas como febre alta, dor de cabeça, calafrios, dor no corpo e perda de apetite.

"E vale destacar que o parasita assume diferentes formas em cada uma dessas fases, o que acarreta uma dificuldade para desenvolver vacinas com boa eficácia em todas as etapas", observa o médico.

Na sequência, o mosquito Anopheles pica a pessoa com malária e suga o sangue infectado, criando novas cadeias de transmissão na comunidade.

A boa notícia é que a doença tem diagnóstico rápido e o tratamento é curativo, quando dado no momento correto. Ela costuma ser mais perigosa para indivíduos com o sistema imune comprometido, idosos e, principalmente, crianças, que são as principais vítimas fatais da infecção.

Ilustração malária

Crédito, Getty Images

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O parasita costuma invadir e destruir as células vermelhas do sangue. Na ilustração, é possível ver uma unidade infectada ao centro

Como a nova vacina funciona?

A RTS,S é desenvolvida desde 1987 pela farmacêutica britânica GSK. Após os testes preliminares, o imunizante foi avaliado em ensaios clínicos envolvendo seres humanos a partir do ano 2000, com o apoio da ONG Path e da Fundação Bill e Melinda Gates.

Feito a partir de uma proteína do Plasmodium falciparum e algumas outras substâncias, a vacina atua no chamado "esporozoíto" do protozoário, que é uma forma que ele assume entre a picada do mosquito e a "viagem" até o fígado.

A título de curiosidade, esse trajeto do parasita da nossa pele até o tecido hepático costuma levar ao redor de 30 minutos.

A última etapa de estudos foi concluída em 2015. O trabalho final, publicado no periódico científico The Lancet, envolveu quase 15 mil crianças da África Subsaariana e comprovou que o produto era seguro e eficaz.

Mesmo com os resultados favoráveis, a OMS ainda tinha algumas reservas sobre a efetividade da RTS,S em larga escala. O primeiro problema tinha a ver com o esquema vacinal: para surtir efeito, é preciso aplicar quatro doses em cada indivíduo. As primeiras três são dadas no quinto, no sexto e no sétimo mês de vida. A quarta (e última) é ofertada quando o bebê completa 18 meses.

A entidade temia que esse número de aplicações poderia prejudicar o uso de outros imunizantes, dados de rotina contra outras doenças, e até traria uma falsa sensação de segurança às famílias que, sentindo-se mais protegidas, abandonariam outros métodos de prevenção da malária, como a instalação de mosquiteiros nas camas e nos berços ou a aplicação de repelentes.

Para acabar com essas dúvidas, a OMS criou em 2019 um projeto piloto em que as quatro doses da nova vacina foram aplicadas em cerca de 800 mil crianças que moram em Gana, Quênia e Malauí.

Profissional da saúde aplica vacina contra a malária em recém-nascido

Crédito, Getty Images

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Experiência de 2019 feita em Gana, Quênia e Malauí comprovou a efetividade da vacina contra a malária

Os resultados da experiência foram considerados positivos: além de ter um bom perfil de segurança, a nova vacina preveniu 40% dos casos de malária e, ainda mais importante, reduziu em 30% as infecções mais severas, que estão relacionadas à hospitalização e morte.

"Se considerarmos que são 260 mil mortes anuais de crianças menores de cinco anos, uma redução de 30% é algo considerável", calcula Siqueira.

É claro que essa taxa de 30 ou 40% ainda não é a ideal, mas ela significa um avanço importante e abre a possibilidade para que novos produtos, ainda mais eficazes, sejam desenvolvidos a partir de agora.

"Essa aprovação pode servir de impulso para novos financiamentos e esforços de pesquisa para soluções ainda melhores", concorda o infectologista.

A OMS destaca outras duas observações importantes a partir da experiência de vida real nas três nações africanas: não houve um relaxamento das outras medidas preventivas (como o uso de telas na cama) e a aplicação das doses mostrou-se custo-efetiva.

"Por séculos, a malária afeta a África Subsaariana e causa um enorme sofrimento pessoal. Nós esperávamos por uma vacina efetiva e, pela primeira vez, podemos recomendar o uso de um imunizante em larga escala", discursou a médica Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para a África.

"Isso representa um vislumbre de esperança para o continente que carrega o fardo mais pesado da doença e esperamos que muitas crianças que serão protegidas a partir de agora se tornem adultos saudáveis", completou a representante.

E no Brasil?

A recomendação da OMS é que a nova vacina seja usada em regiões em que há transmissão "moderada ou alta" do Plasmodium falciparum.

No Brasil, esse não é o causador de malária mais frequente: de acordo com o Ministério da Saúde, o Plasmodium vivax representa 89% dos casos notificados no país, que se concentram especialmente na região amazônica.

"A RTS,S, portanto, não é uma vacina com aplicação no Brasil", concorda Siqueira.

A boa notícia é que os novos casos dessa enfermidade estão em queda em nosso país.

"Dados do PNCM (Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária) mostram que no ano de 2019, o Brasil notificou 157.454 casos de malária, uma redução de 19,1% em relação a 2018, quando foram registrados 194.572 casos da doença no país", informa um boletim publicado pelo ministério no final de 2020.

Gráfico de casos de malária no Brasil

Crédito, Ministério da Saúde

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Série histórica mostra como casos de malária caíram no Brasil ao longo dos anos

Para o infectologista da FioCruz, os casos de malária no Brasil são influenciados diretamente por dois fatores: a organização dos sistemas de saúde e as mudanças ambientais.

"Muitas vezes, uma cidade faz uma mobilização para diagnosticar e tratar a malária. Quando os casos caem, esses programas deixam de existir, o que provoca um novo aumento algum tempo depois", observa.

"E também vemos o crescimento ocorrer em áreas de desmatamento e garimpo na Amazônia", informa.

O Brasil possui, inclusive, um plano para acabar com a malária em território nacional. A meta é registrar menos de 14 mil casos e nenhum óbito até 2030 e eliminar completamente a transmissão do Plasmodium falciparum nos próximos nove anos.

Para alcançar isso, é preciso fortalecer os sistemas de vigilância da doença, adquirir testes rápidos de diagnóstico, ofertar tratamentos na rede pública e investir na pesquisa e no desenvolvimento de novas soluções para esse problema.

Mapa da malária no Brasil

Crédito, Ministério da Saúde

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No Brasil, a malária concentra-se principalmente na Amazônia

Uma saída interessante pode ser a utilização de um novo remédio chamado tafenoquina. Atualmente, a medicação precisa ser tomada por alguns dias, o que pode ser difícil para uma parcela de pacientes.

"Essa droga está sendo estudada em Manaus e em Porto Velho e, caso os resultados sejam positivos, ela pode se tornar mais ferramenta valiosa para mudar a história da malária", avalia Siqueira.

Embora existam estudos para a criação de uma vacina contra o Plasmodium vivax, o desafio é ainda mais complexo. Um artigo de 2013 assinado por especialistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Universidade de Zurique, na Suíça, destacam a resiliência desse parasita mais frequente em terras brasileiras.

"O Plasmodium vivax possui mecanismos sofisticados que permitem que ele fique dormente por meses ou até anos em pequenas estruturas do fígado, o que significa um enorme desafio para a erradicação da malária", escrevem os autores.

Siqueira também entende que há menos interesse no desenvolvimento de um imunizante para o Plasmodium vivax. "Até temos alguns grupos que trabalham nessa área, mas o financiamento é muito menor".

De acordo com o site ClinicalTrials.Gov, existem 10 testes clínicos concluídos ou em andamento com candidatos a imunizantes contra este parasita mais comum no Brasil. No caso do falciparum, mais frequente na África, são 130 registros de estudos do tipo.


Molnupiravir: antiviral contra Covid-19 será testado no Brasil

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Foto: Reprodução

Molnupiravir

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou, nesta quarta-feira (6/10), que participará dos testes clínicos de fase 3 do medicamento molnupiravir, fabricado pela farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD). O antiviral é destinado ao tratamento imediato da Covid-19 em pessoas expostas ao vírus e com risco de complicação da doença.

 

O estudo com duração de seis meses terá início na próxima semana, em sete centros de pesquisa brasileiros. Os pesquisadores da Fiocruz Julio Croda e Margareth Dalcolmo coordenarão os testes no Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, respectivamente.

 

Os testes também serão feitos no Amazonas, Rio Grande do Sul e São Paulo. Os voluntários receberão a pílula duas vezes ao dia, durante cinco dias consecutivos.

 

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O objetivo é avaliar a eficiência do medicamento como uma alternativa de profilaxia pós-exposição (PEP), ou seja, se ele é capaz de evitar que pessoas que moram na mesma casa de pacientes com diagnóstico positivo para a Covid-19 desenvolvam quadros graves da doença.

 

 

O molnupiravir atua diretamente em uma enzima necessária para que o vírus faça cópias de si mesmo, inserindo erros no código genético do novo coronavírus, evitando assim que a doença evolua. 

 

Fonte: Metrópoles

Brasil : JOGOS LGBTs
Enviado por alexandre em 06/10/2021 15:13:03

Prefeitura do Recife exige jovens LGBTs em competição esportiva

Premiação dos Jogos do Orgulho incluiu entrada em boates

Prefeitura do Recife promove os Jogos do Orgulho
Evento foi realizado no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães Foto: Daniel Tavares/PCR

A Prefeitura do Recife realizou no último sábado (2) a primeira edição da competição esportiva Jogos do Orgulho. Para participar do evento, foi exigido que todos os inscritos tivessem entre 15 e 29 anos e que pelo menos metade dos atletas de cada equipe se declarasse LGBT.

O objetivo do evento, segundo a prefeitura, foi incentivar a “inclusão ativa dos jovens LGBTQAI+ nas práticas esportivas comunitárias”, além de “reforçar o compromisso do município com a garantia do acesso democrático dos jovens ao esporte e ao lazer.

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Mais de 300 jovens participaram do torneio que contou com as modalidades futsal (masculino e feminino), vôlei (masculino) e queimado (categoria mista). Os prêmios concedidos às equipes vencedoras incluíram entradas gratuitas em boates, vouchers para restaurantes, medalhas e flores.

A competição foi realizada no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, conhecido como Geraldão, na Imbiribeira, por meio da Secretaria Executiva de Juventude (Sejuv), em parceria com o governo do estado e com as secretarias municipais de Direitos Humanos, Assistência Social, Saúde, Mulher e Esportes.

Brasil : GLOBO/PREJUÍZO
Enviado por alexandre em 06/10/2021 15:09:22

Globo amarga prejuízo milionário em 2021

Empresa informou que teve uma "diminuição de R$ 281 milhões em pessoal como resultado das iniciativas contínuas de corte de custos"

Globo registra prejuízo de R$ 114 milhões no primeiro semestre deste ano Foto: Reprodução

Nos últimos meses, a Globo tem se esforçado para “cortar custo”, seja promovendo redução de salários, seja terminando contratos com algumas de suas “estrelas”. Apesar disso, o esforço não foi suficiente para evitar que a empresa tivesse prejuízo no primeiro semestre deste ano.

De acordo com o colunista Guilherme Ravache,do portal Uol, a Globo registrou um prejuízo de R$ 144 milhões nos primeiros seis meses deste ano, um resultado pior que o mesmo período de 2020, quando a ‘perda’ foi de R$ 51 milhões.

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Relatório divulgado pela empresa no início de setembro apontou que a Globo registrou, na primeira metade de 2921, uma “diminuição de R$ 281 milhões em pessoal como resultado das iniciativas contínuas de corte de custos, explicadas principalmente pela diminuição no número de funcionários devido à reestruturação corporativa desde 2019 e o menor custo de elenco”.

No mesmo documento, a Globo afirmou que registrou um “aumento de 48 milhões nas despesas pessoais explicado principalmente por indenizações e também por reajustes salariais anuais do sindicato trabalhista em acordos coletivos de trabalho”.

Além disso, apontou a empresa, “custos e despesas foram 36% superiores ao primeiro semestre de 2020, impactados pelo retorno de eventos esportivos ao vivo e pela amortização de direitos esportivos de R$ 503 milhões, devido ao grande reescalonamento de jogos que afetou todas as competições do futebol brasileiro no ano de 2021”.

Outro ponto que pesou nas finanças da empresa foi o gasto com gravações de programas e novelas, que passaram a adotar protocolos de segurança contra a Covid-19.

Brasil : TÊM QUE APRENDER!
Enviado por alexandre em 06/10/2021 00:05:48

Ativistas europeus têm muito a aprender com indígenas, diz jovem brasileiro que protestou com Greta

Erick Marky (à esquerda) se encontrou com Greta Thunberg (à direita) durante evento sobre mudanças climáticas realizado em Milão, na Itália

Um dos quatro indígenas a participar na Itália de um encontro preparatório para a próxima conferência da ONU sobre o clima, o comunicador brasileiro Eric Marky diz que os ativistas europeus têm muito a aprender com povos nativos brasileiros sobre o tema.

"Eles entendem o assunto de forma muito científica. Nós temos a contribuição da vivência, da ancestralidade no cuidado com a terra, que é o que a Europa precisa entender", afirma Marky, indígena do povo Terena, do Mato Grosso do Sul.

Marky foi um dos três brasileiros selecionados para compor a delegação do país no Youth4Climate, encontro que reuniu 400 jovens de 190 países a convite da Itália, anfitriã da pré-COP-26.

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, também conhecida como COP-26, será realizada entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro na cidade de Glasgow, na Escócia.

O evento preparatório Youth4Climate ocorreu entre os dias 31 de setembro e 1º de outubro e produziu um documento com medidas consideradas prioritárias pelos jovens para o combate às mudanças climáticas. A ativista sueca Greta Thunberg também esteve presente.

No caminho de volta ao Brasil, Marky conversou brevemente com a BBC News Brasil e relatou um pouco de sua experiência no evento.

Greta Thunberg

Crédito, Getty Images

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Greta Thunberg foi uma das participantes do Youth4Climate, uma pré-conferência da COP-26

'Não estamos sós'

Um dos primeiros pontos que chamou a atenção do comunicador foi como os mesmos problemas se repetem em vários cantos do mundo.

"Eu e os demais indígenas que estávamos lá vínhamos de vários lugares, como América do Norte, América Central, América do Sul e da Índia, e todos relatamos cenários parecidos: desmatamento e exploração ilegal de áreas de preservação que impactam os povos tradicionais", diz.

"E esse processo de exploração acaba interferindo não apenas nos povos tradicionais que vivem nessas regiões, mas em todo o mundo", completa.

Para o representante brasileiro, ouvir os relatos e os pontos de vista dá mais força à necessidade de mudança, além de trazer uma sensação de coletividade. "Sentimos que não estamos sós", aponta.

Durante a Youth4Climate, jovens organizaram protestos nas ruas de Milão

Crédito, AFP

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Durante a Youth4Climate, jovens organizaram protestos nas ruas de Milão

Marky também critica o que ele considera uma visão "romantizada" da preservação do meio ambiente — para ele, ideias como "a Amazônia é o pulmão do mundo" ou outros chavões utilizados comumente não transmitem a urgência do problema que vivemos.

"Temos que pensar objetivamente que explorar essas terras traz um impacto direto no aquecimento global e a única saída para nosso futuro é garantir uma produção mais sustentável", afirma.

"Se passarmos a boiada e pensarmos apenas em explorar riquezas agora, possivelmente não teremos um futuro e não vamos mais existir", alerta.

A força dos jovens e dos indígenas

Marky também destacou a importância da participação de uma nova geração nos debates sobre o meio ambiente.

"Me parece que a juventude de hoje está muito mais empenhada em cuidar do planeta, em reverter essa visão do capital como a única forma de sobrevivência e pensar numa maneira mais sustentável de existir", raciocina.

Para ele, também é simbólico o Youth4Climate ter contado com a participação de indígenas.

"Os povos indígenas nunca foram muito convidados a falar sobre mudanças climáticas", diz.

"E talvez a humanidade precise ter uma nova visão e entender que os indígenas podem ser um espelho do que fazer e de como melhorar essa relação com a natureza", sugere.

Os três representantes brasileiros na Youth4Climate (da esqueda para a direita: Eric Marky Terena, Eduarda Zoghbi e Paloma Costa) tiram selfie com Patrizio Bianchi, ministro da Educação da Itália

Crédito, Eric Marky Terena/Arquivo pessoal

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Os três representantes brasileiros na Youth4Climate (da esqueda para a direita: Eric Marky Terena, Eduarda Zoghbi e Paloma Costa) tiram selfie com Patrizio Bianchi, ministro da Educação da Itália

E o Brasil?

Por fim, Marky lamenta o que ele classifica como "falta de ligação com a realidade" e "ausência de soluções palpáveis" das políticas ambientais brasileiras.

"Os próprios órgãos governamentais, como a Embrapa, admitem que, se a gente continuar desrespeitando o meio ambiente, o impacto será grande e nem o agronegócio continuará a produzir", aponta.

"O que será então da agricultura familiar, que é a base da alimentação em muitas cidades e de muitos povos tradicionais?", questiona.

O comunicador vê com preocupação as discussões sobre o marco temporal das demarcações de terras indígenas no Supremo Tribunal Federal (STF) e uma série de projetos de leis que, de acordo com seu ponto de vista, representam "ameaças institucionalizadas".

"E essas movimentações são ameaçadoras não apenas para a preservação do meio ambiente, mas para a humanidade", diz.

Plenário da Youth4Climate

Crédito, AFP

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A Youth4Climate reuniu 400 jovens de 190 países a convite da Itália

Marky usa a própria pandemia de covid-19 como exemplo das repercussões globais de fatos que acontecem num lugar específico do planeta.

"Os primeiros casos dessa doença começaram lá do outro lado do mundo, na China. E vimos o que aconteceu depois", compara.

Para que o meio ambiente seja preservado, o representante brasileiro vê um caminho possível: aliar os saberes ancestrais com o conhecimento científico.

"É fundamental ter esse intercâmbio, algo que de certa maneira já está ocorrendo aos poucos", observa Marky.

Ele conta que alguns participantes do Youth4Climate em Milão mostraram interesse em vir ao Brasil e conhecer mais sobre a realidade local.

"Hoje temos graduados, mestres e doutores que voltaram às terras indígenas e estão assumindo esse papel importante de representação", conta.

"E acho que estamos mais do que preparados para falar sobre preservação ambiental e, quem sabe, até reflorestar as mentes das pessoas", completa.

Brasil : RETRATO DA FOME
Enviado por alexandre em 06/10/2021 00:00:21

Consumo de pé de galinha em alta e outros 5 dados que revelam retrato da fome no Brasil

Primeiro, foi a fila quilométrica em um açougue de Cuiabá, no Mato Grosso — maior Estado produtor e exportador de carne bovina do país —, para receber ossos. Depois, cariocas garimpando restos em um caminhão de ossos e pelancas descartadas por supermercados.

E assim, dia após dia, as imagens da fome vão voltando ao noticiário nacional.

Eram 19,1 milhões de brasileiros com fome em 2020, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).

Em relação a 2018 (10,3 milhões), são quase 9 milhões de pessoas a mais nessa condição.

O auxílio emergencial que, no ano passado, em seu valor máximo (R$ 1.200), chegou a comprar duas cestas básicas e sobrar, agora, mesmo em seu maior valor (R$ 375) não compra nem 60% da cesta da região metropolitana de São Paulo.

Em meio a essa realidade, as crianças são as mais afetadas, já que são os lares com pequenos os mais propensos a estarem na pobreza e na extrema pobreza.

Mesmo antes da pandemia, uma em cada três crianças brasileiras sofria de anemia por falta de ferro, segundo estudo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Confira esses e outros dados que mostram como a fome voltou a ser um drama cotidiano no Brasil.

1) Aumento de 85% no número de brasileiros com fome em dois anos

A pandemia do coronavírus teve um efeito devastador sobre a segurança alimentar no Brasil, revelaram estudos da Rede Penssan e da Universidade Livre de Berlin publicados este ano.

No país, a fome atingiu 19,1 milhões de pessoas em 2020, parte de um contingente de 116,8 milhões de brasileiros que convivam com algum grau de insegurança alimentar — número que corresponde a 55,2% dos domicílios, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan.

Pessoas em situação de rua recebem marmitas nas ruas de São Paulo. Março de 2021

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Pessoas em situação de rua recebem marmitas nas ruas de São Paulo. Março de 2021

A insegurança alimentar abrange desde a alimentação de má qualidade, passando pela instabilidade no acesso a alimentos, até a fome propriamente dita.

O aumento no número de brasileiros passando fome, de 10,3 milhões em 2018, para 19,1 milhões em 2020, representa um crescimento de 85% em dois anos.

O resultado fez a Oxfam — organização internacional que atua no combate à pobreza, desigualdade e injustiça social — classificar o Brasil como um dos focos emergentes de fome no mundo, ao lado da Índia e da África do Sul.

De acordo com estudo do grupo de pesquisas Food for Justice: Power, Politics, and Food Inequalities in a Bioeconomy (Comida por Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares em uma Bioeconomia, em tradução livre), da Universidade Livre de Berlim, a insegurança alimentar é marcadamente desigual.

Os mais altos percentuais de insegurança alimentar são registrados em famílias com apenas um responsável pela geração de renda (66,3%).

Isso se acentua ainda mais quando essa responsável é uma mulher (73,8%) ou uma pessoa parda (67,8%) ou preta (66,8%).

Também é maior nas residências com crianças de até 4 anos (70,6%), nas regiões Nordeste (73,1%) e Norte (67,7%) e nas áreas rurais (75,2%).

2) Uma em cada três crianças com anemia

De cada três crianças brasileiras, uma apresenta um quadro chamado anemia ferropriva, revelou um estudo da UFSCar publicado em julho deste ano.

A anemia ferropriva é marcada pela falta de ferro no organismo. Esse nutriente é encontrado no leite materno, na carne vermelha e em alguns vegetais, como as folhas verde-escuras, o feijão e a soja.

Bebê é pesada por voluntárias da Pastoral da Criança

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Prevalência de anemia por falta de ferro atingia 33% das crianças brasileiras mesmo antes da pandemia. Na foto, bebê é pesada por voluntárias da Pastoral da Criança

As crianças com deficiência de ferro sofrem alterações no desenvolvimento do cérebro que, mais para frente, se manifestam na forma de dificuldade de aprendizado, sonolência e desânimo. Muitos desses problemas repercutem pela vida toda e são irreversíveis.

Para chegar ao resultado, os especialistas da UFSCar compilaram dados de outros 134 estudos feitos entre 2007 e 2020, que reuniram informações sobre a saúde de 46 mil indivíduos com menos de 7 anos de idade de todas as regiões do Brasil.

Os dados, no entanto, só vão até o início de 2020, o que traz um alerta: a situação pode ter se agravado ao longo da pandemia, diante da acentuada queda no consumo de carne vermelha no país, em meio à forte alta de preços.

3) Menor consumo de carne bovina em 26 anos

Em 2021, o consumo de carne bovina no Brasil deverá ser de 26,4 quilos por pessoa, uma queda de quase 14% em relação a 2019, ano anterior à pandemia, e de 4% ante 2020.

Esse é o menor nível registrado para consumo de carne bovina no país em 26 anos, segundo a série histórica da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), com início em 1996.

Homem compra carne em açougue em Santo André, São Paulo

Crédito, REUTERS/Amanda Perobelli

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Consumo de carne bovina no Brasil deve cair em 2021 ao menor patamar em pelo menos 26 anos

Até agosto, as carnes acumulavam aumento de preço de 30,8% em 12 meses, bem acima da alta de 9,68% da inflação geral, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta de preços da carne começou antes da pandemia, puxada pela demanda da China, cujo rebanho suíno foi fortemente afetado pela peste suína africana.

A tendência foi acentuada no ano passado pela alta do dólar, que estimula as exportações, reduzindo a oferta do produto no mercado interno.

Pesaram ainda a seca, que piora a qualidade do pasto e aumenta a necessidade de uso de ração, elevando o custo de produção; e o menor abate de fêmeas, que são retidas pelos pecuaristas para produzir novos animais, aproveitando a alta de preços.

Então foi assim que a carne vermelha sumiu do prato dos brasileiros mais pobres.

4) Auxílio emergencial não compra mais uma cesta básica

Um dos fatores que explica a crescente dificuldade dos brasileiros em se alimentarem adequadamente é a perda do poder de compra do auxílio emergencial, em meio à redução do valor do benefício e à alta da inflação.

Em abril de 2020, quando o auxílio começou a ser pago, ele tinha valores que variavam de R$ 600 a R$ 1.200. Naquele mês, a cesta básica custava R$ 556,36 em São Paulo, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Ou seja: mesmo com o valor mais baixo, era possível comprar todos os produtos da cesta e ainda sobrava algum dinheiro.

Protesto pela manutenção do auxílio emergencial em R$ 600. Brasília, maio de 2021

Crédito, Divulgação MST/Fotos Públicas

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Protesto pela manutenção do auxílio emergencial em R$ 600. Brasília, maio de 2021

De abril de 2020 a agosto deste ano, o valor da cesta básica paulistana subiu 16,9%, segundo o Dieese, para R$ 650,50.

Já o auxílio emergencial foi na direção oposta, tendo seus valores reduzidos em 2021 para R$ 150, R$ 250 ou R$ 375.

Assim, quem recebe o valor mais baixo só consegue comprar atualmente 23% da cesta básica. Quem recebe o valor médio, 38%. E mesmo quem recebe o valor mais alto — pago às mães solteiras chefes de família — só consegue comprar 58% da cesta.

Considerando que as pessoas também têm aluguel e contas básicas para pagar, a perda do poder de compra do auxílio emergencial dá uma dimensão da precariedade em que têm vivido os brasileiros mais pobres.

5) Consumo de pés de galinha e miojo

Outros indicadores da piora das condições de alimentação do brasileiro estão nos próprios alimentos consumidos.

Segundo dados da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados), o consumo de macarrão instantâneo movimentou R$ 3,2 bilhões em 2020, ante R$ 2,7 bilhões em 2019.

Em toneladas, o consumo cresceu de 167 mil para 189 mil entre os dois anos, refletindo o aumento da prática de cozinhar em casa durante a pandemia, mas também a perda de renda da população, que recorre ao miojo como um alimento barato.

Nos açougues, em meio aos preços proibitivos da carne, consumidores recorrem a cortes antes desprezados pela maioria, como pés e miúdos de galinha.

"Antes da pandemia se vendia cerca de 100 quilos de pé de frango no mês, agora estamos vendendo em torno de 250 quilos", disse José Carlos Viale, dono de um açougue em São José do Rio Preto, ao Diário da Região.

"Sempre teve saída, mas as pessoas compravam em menor quantidade e para tratar animal. Agora, temos famílias que chegam a comprar dois quilos de pé e pescoço por semana", relatou o empresário ao jornal.

Geisa Stefanini seu filho

Crédito, Reprodução/Redes Sociais

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Geisa Stefanini, de 32 anos, morreu após ter parte do corpo queimado ao tentar cozinhar com álcool

6) Aumento das queimaduras provocadas por cozinhar com álcool

Diante da alta do preço dos alimentos e do botijão de gás, muitas famílias têm tido que escolher entre a compra de comida ou do combustível.

Em agosto, o preço médio do botijão de gás de 13 kg estava em R$ 93, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), mas já superava os R$ 100 em diversos Estados brasileiros, como Mato Grosso (R$ 114), Rondônia (R$ 111), Amapá (R$ 109), Roraima (R$ 109) e Pará (R$ 102).

Em meio aos preços proibitivos, as notícias de queimados por cozinhar com álcool se multiplicam. Isso num momento em que o acesso ao álcool etílico mais inflamável, com concentração de 70%, foi popularizado pela pandemia.

Em Goiás, segundo o portal Metrópoles, em menos de dois meses, pessoas de três famílias diferentes sofreram queimaduras e foram internadas depois de usarem álcool para cozinhar.

Na mesma situação, um homem morreu, em julho, em Goiânia, com 50% do corpo queimado.

Em 27 de setembro, morreu Geisa Stefanini, de 32 anos, que teve parte do corpo queimado após usar álcool combustível para cozinhar em sua casa em Osasco, na Grande São Paulo, segundo o G1. O bebê dela de 8 meses teve 18% do corpo queimado, mas sobreviveu.

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