O ex-presidente da
Renault e da
Nissan,
Carlos Ghosn, foi libertado nesta quarta-feira (6) da
prisão de Kosuge, em
Tóquio, depois de mais de 100 dias de detenção, acusado de fraude financeira. O executivo deixou a
prisão cercado por guardas e entrou em um carro diante de dezenas de jornalistas que aguardavam no local.
Sua esposa Carole, uma de suas filhas, o embaixador da França e outras pessoas chegaram algumas horas antes à
prisão, mas não saíram no mesmo momento que
Ghosn. Algumas horas antes, por meio de seu advogado, Carlos Ghosn pagou uma fiança de um bilhão de ienes (9 milhões de dólares).
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tribunal de
Tóquio aceitou em definitivo na terça-feira o pedido de liberdade do empresário, depois de rejeitar um recurso de apelação da
Promotoria. No
Japão é incomum que uma pessoa acusada de abuso de confiança consiga a liberdade antes da definição da data de seu julgamento ou até mesmo antes do início do processo.
Analistas explicaram que o novo advogado de
Ghosn ofereceu garantias que convenceram o juiz de que o empresário franco-libanês-brasileiro não estaria em condições de destruir provas ou sair do país.
- "Julgamento justo" -Para conseguir a libertação de seu cliente, o novo advogado de
Ghosn,
Junichiro Hironaka, sugeriu uma vigilância por câmeras e que o réu tenha meios de comunicação limitados com o exterior. "Apresentamos a proposta de um dispositivo que torna impossível uma fuga ou a supressão de informações", insistiu
Hironaka na terça-feira.
Em um comunicado,
Ghosn se declarou "infinitamente agradecido" aos amigos e parentes pelo apoio. "Sou inocente e estou realmente decidido a defender-me vigorosamente em um julgamento justo contra estas acusações sem fundamento", declarou.
O advogado deu a entender que
Ghosn poderia conceder uma entrevista coletiva assim que possível. Em tese, de acordo com
juristas, a
Promotoria ainda tem a possibilidade de voltar a pedir a detenção do homem que já foi diretor geral das montadoras
Nissan e
Renault com base em outras acusações, mas parece que há poucas probabilidades de que isto aconteça.
Descontente com a rejeição dos pedidos de liberdade sob fiança anteriores,
Carlos Ghosn decidiu mudar em fevereiro sua equipe de defesa, antes de abordar a fase de preparação do julgamento, que deve acontecer dentro de alguns meses.
"Estou impaciente por poder fazer minha defesa, com vigor, e esta escolha representa a primeira etapa de um processo que não apenas busca restabelecer minha inocência, mas também jogar luz sobre as circunstâncias que levaram a minha detenção injusta", afirmou
Ghosn na ocasião.
"Complô" Ghosn, que já foi venerado no
Japão por ter salvado a
Nissan, foi detido em 19 de novembro em
Tóquio e enviado para o centro de
detenção de Kosuge, zona norte da capital. O
empresário é
acusado de apresentar declarações de renda falsas às autoridades da Bolsa de Valores e de abuso de confiança em detrimento da montadora
Nissan, onde teve início a investigação.
O
executivo considera que foi vítima de um "complô" da
Nissan para provocar o fracasso de seu projeto de aproximação com a
Renault. "A
Nissan não desempenha nenhum papel nas decisões tomadas pelos tribunais ou os promotores e não está em posição de fazer comentários", afirmou o grupo em um comunicado.
"As investigações realizadas a nível interno pela Nissan mostraram comportamentos (de
Ghosn) expressamente contrários à ética [...] e outros fatos que seguem aparecendo", completa a nota da montadora, que foi comandada a partir de 1999 por
Ghosn, que salvou a Nissan da falência.
A libertação de
Carlos Ghosn "não tem consequências para os negócios da
Nissan", afirmou o atual diretor geral do grupo,
Hiroto Saikawa.
Em tese,
Carlos Ghosn, que no papel mantém o cargo de administrador da empresa, poderia comparecer a um conselho de administração, uma possibilidade que o grupo poderia recusar.