Por Guilherme Mazui e Nilson Klava, G1 e Globonews — Brasília O presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos, ontem, a lei que estabelece um auxílio de R$ 600 mensais, por três meses, a trabalhadores informais.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, anunciou a sanção em rede social. A medida não tinha sido publicada no "Diário Oficial da União" até a publicação desta reportagem.
O auxílio tem o objetivo de diminuir o impacto da pandemia do coronavírus na renda dessas pessoas – que não têm carteira assinada e, por isso, foram mais afetadas pelas medidas de isolamento social.
Pela manhã, Bolsonaro anunciou em pronunciamento que sancionaria o texto ainda nesta quarta. Segundo ele, o auxílio deverá beneficiar 54 milhões de pessoas, com custo aproximado de R$ 98 bilhões. O governo ainda não anunciou o calendário oficial de pagamento.
No início da noite, o presidente da República afirmou que já tinha assinado a sanção da lei, mas só enviaria o texto à publicação junto com uma medida provisória (MP) para indicar a fonte dos R$ 98 bilhões. A MP deve criar um crédito extraordinário nesse valor.
"Para publicar, eu preciso de uma outra medida provisória com crédito. Se não, fica um cheque sem fundo na praça. Está certo? Daí, sim, deve terminar, deve terminar. Aí talvez traz em casa e eu assino, publico. No caso, agora não adianta publicar em Diário [Oficial da União] extra. Eu público no Diário ordinário de amanhã", declarou.
Enviado ao Congresso Nacional pelo governo, o projeto foi aprovado pela Câmara na semana passada e pelo Senado na última (30). A proposta original previa um auxílio de R$ 200 mas os parlamentares, com o aval do Executivo, aumentaram o valor para R$ 600.
Segundo o projeto, o auxílio será limitado a duas pessoas da mesma família. O texto aprovado ainda definiu que a trabalhadora informal que for mãe e chefe de família terá direito a duas cotas, ou seja, receberá R$ 1,2 mil mensais por três meses.
Vetos ao texto
O presidente Jair Bolsonaro vetou três itens do texto aprovado pelo Congresso Nacional. Segundo o Planalto, esses vetos foram orientados pelos ministérios da Economia e da Cidadania.
Com o veto, essas condições ficam excluídas do texto que entrará em vigor. Os vetos serão analisados pelo Congresso, que pode derrubar os trechos em definitivo ou restaurar a validade dessas regras.
Ampliação do BPC
O principal trecho vetado é o que garantia, na nova lei, a ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) definida pelo Congresso no início de março. Essa ampliação, segundo o governo federal, tem impacto de R$ 20 bilhões ao ano nas contas públicas.
A extensão do BPC foi definida quando o Congresso derrubou um veto de Bolsonaro ao tema. O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), chegou a adiar a mudança nas regras até a definição de medidas "compensatórias" para esse custo extra.
Dias depois, Dantas mudou de ideia e suspendeu todas as decisões por 15 dias. Segundo o ministro, a flexibilização das regras fiscais e de austeridade no contexto da pandemia do coronavírus poderia ser aproveitada, também, para garantir a inclusão de novos beneficiários no BPC.
Enquanto não há resposta definitiva, os parlamentares voltaram a incluir o tema na lei do auxílio emergencial. E, na análise final, Bolsonaro voltou a vetar o dispositivo. Segundo o governo, a medida fere a Constituição e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Reavaliação dos critérios
O governo também vetou um dispositivo, aprovado pelo Congresso, que cancelava o auxílio emergencial do beneficiário que, ao longo dos três meses, deixasse de atender aos pré-requisitos.
Segundo o governo, esse ponto "contraria o interesse público" e gera um esforço desnecessário de conferência, mês a mês, de todos os benefícios que estarão sendo pagos. O Ministério da Cidadania defende que é preferível "concentrar esforços e custos operacionais" na construção de outras medidas de enfrentamento à Covid-19.
Restrição à conta bancária
O Palácio do Planalto também decidiu vetar uma regra que restringia o tipo de conta bancária onde o auxílio poderia ser depositado. Pelo texto aprovado, o benefício só poderia ser pago em "conta do tipo poupança social digital, de abertura automática em nome dos beneficiários", criada para receber recursos exclusivos de programas sociais, do PIS/Pasep e do FGTS.
Fila de prioridades
Em entrevista na segunda-feira (30), o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, informou que trabalhadores informais que recebem o Bolsa Família, e aqueles que estão no Cadastro Único, devem ser os primeiros a receber o auxílio.
No caso do Bolsa Família, o benefício não será acumulado. Se o pagamento de R$ 600 for mais vantajoso, haverá uma substituição automática e o trabalhador informal receberá apenas esse auxílio temporário. Ao fim desse período, se continuar atendendo aos critérios, ele volta a receber o Bolsa Família.
Trabalhadores informais que não constam em nenhum cadastro do governo devem ficar por último no cronograma de pagamento, que ainda não tem data para começar a ser feito.
Segundo Onyx, o pagamento deverá ser feito por meio de agências e aplicativos de bancos federais, como Caixa, Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste, além de lotéricas e aplicativos desses bancos.
Requisitos
A lei sancionada estabelece uma série de requisitos para que o autônomo tenha direito ao auxílio, apelidado por alguns parlamentares de "coronavoucher".
Segundo o texto aprovado no Congresso, o trabalhador precisa ter mais de 18 anos, cumprir critérios de renda familiar e não pode receber benefícios previdenciários, seguro desemprego nem participar de programas de transferência de renda do governo federal, com exceção do Bolsa Família.
Dois pesos, duas medidas
O Governo, infelizmente, só é ágil para atender banqueiros falidos. Há dias esperando a mão estendida da União, os trabalhadores informais tomaram conhecimento, ontem, que, apesar da Câmara e do Senado terem aprovado a ajuda de R$ 600 aos que se arruinaram na crise do coronavírus, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mandou dizer ao Congresso que não pode liberar o montante destinado a cobrir a promessa dos R$ 600 de socorro emergencial aos trabalhadores porque a medida implica numa PEC.
PEC é Proposta de Emenda Constitucional, dá mais trabalho para ser votada na Câmara e no Senado, porque o quórum é diferenciado. Ela é discutida e votada em dois turnos, em cada Casa do Congresso, e será aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado, três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49). Com o Congresso esvaziado, funcionando via videoconferência, esse prazo tende a se alargar ainda mais. O povo, esfomeado pela perda do trabalho decorrente da crise da Covid-19, não pode esperar tanto tempo.
No apagar das luzes de 2019, o governo Jair Bolsonaro encaminhou projeto ao Congresso Nacional que prevê o uso de recursos públicos no socorro a bancos, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), desde 2000. O projeto segue os moldes do Proer, programa criado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso para injetar bilhões no sistema para salvar bancos. O uso de dinheiro do Tesouro Nacional, ou seja, dos contribuintes, para socorrer bancos é proibido desde 2000, com a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O governo, entretanto, manobrou esta medida ao estabelecer no projeto que o dinheiro público só seria usado depois de esgotadas as demais fontes para o reequilíbrio das instituições financeiras. Dois pesos, duas medidas, portanto. Agiu como cordeirinho diante das pressões do financeiro, que banca campanhas eleitorais, e como vilão frente ao trabalhador pobre, que mitiga uma ajuda emergencial de R$ 600 para tentar driblar o corredor da morte na crise do coronavírus.
Versão do ministro – Ainda em relação ao assunto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que falta concluir o trâmite “jurídico e político” para viabilizar o pagamento dos R$ 600 aos trabalhadores informais. “Tem um problema técnico de liberação de fontes, e aí está se discutindo a velocidade com que se pode aprovar uma PEC para dar origem a fontes para essas despesas. De qualquer forma, do nosso ponto de vista técnico está tudo pronto, tudo o já provado na economia, e agora é um trâmite jurídico e político”, afirmou. E acrescentou: “Qual o nosso problema hoje? É a LRF, pedalada fiscal, impeachment. Tem que ter cláusula qualquer que, em caso de calamidade, suspende e nos permite agir rapidamente”.
Cobrança urgente – Na avaliação do líder do PSB, Alessandro Molon (RJ), a lentidão na liberação da ajuda dos R$ 600 aos trabalhadores informais é “injustificada”. “Não há a menor dúvida de que há uma demora injustificável do governo para tomar uma série de medidas, entre elas medidas de apoio aos profissionais liberais e a empresas também”, disse. “Toda a sociedade está sofrendo com essa pandemia”, disse Molon. “É nessa hora que o Estado, o poder público tem que entrar para evitar que a pandemia redunde em uma depressão econômica. Por essa razão é, fundamental que o governo tenha agilidade para estender a mão”, afirmou.
Geraldo derrotado – Depois de este blog assumir a campanha contra a antecipação do pagamento do IPTU de 2021, proposta pelo prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), o Tribunal de Contas do Estado acatou representação do Ministério Público de Contas de Pernambuco (MPCO) e expediu medida cautelar suspendendo a execução da Lei Municipal 18.693/2020, que permitia aos contribuintes antecipar voluntariamente o imposto com um desconto de 15%. A procuradora geral do MPCO, Germana Laureano, alegou que a lei tinha vícios de inconstitucionalidade e ilegalidade, que o percentual de desconto era desproporcional e que a antecipação comprometeria financeiramente a nova gestão a se iniciar em 2021.
Canalha e cretino – A decisão do Tribunal de Contas se deu três dias após o jornalista José Nêumanne Pinto, do Estadão, em São Paulo, na sua live no Youtube, carimbar o prefeito do Recife de canalha e cretino pela decisão de tentar se apoderar de um dinheiro destinado ao próximo gestor. “Geraldo, uma flor de estupidez, filiado ao PSB, pratica o socialismo da estupidez”, disse o jornalista paulista, depois de informar que tomou conhecimento do assunto nesta coluna, da qual é leitor assíduo.
CURTAS
ESTADO DITATORIAL – Apesar de ter cancelado a carreata programada para segunda-feira passado no dia anterior, por determinação do MP, o líder do Movimento Liberta Pernambuco, Wilker Cavalcanti, está sendo intimado, de forma arbitrária, a prestar depoimento sobre o evento à Polícia. “Recebi o mandado de intimação na terça, para comparecer hoje, às 10 horas, na sede do GOE – Grupo de Operações Especiais. Estão investigando minha vida de forma truculenta e arbitrária, mas nada vão encontrar que possa me prejudicar juridicamente”, disse Wilker.
EMPREGOS VOANDO – A crise decorrente do Covid-19, o vírus da morte, está gerando uma sucessão de demissões na atividade econômica do Estado e tende a ter efeitos imprevisíveis se medidas urgentes do Governo não forem tomadas. Presidente da Fecomércio em Pernambuco, Bernardo Peixoto tem encontro agendado, amanhã, com o governador Paulo Câmara, para cobrar uma resposta ao conjunto de reivindicações para salvar os pequenos negócios essenciais para a economia, entre elas a suspensão de algumas obrigações, a prorrogação de pagamento de taxas e prazo de recolhimento de impostos, como o ICMS, ISS, COFINS, IPI, IRPJ e o Simples Nacional.
MP PEGA NO PÉ – Com o avanço da Covid-19 no Estado, o Ministério Público recomendou que as prefeituras estruturem, com urgência, a rede pública de saúde. A estimava é que 20% dos pacientes graves precisem de internamento, 5% deles em leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). A Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, por exemplo, informou que as redes de atenção básica, urgência e emergência estão prontas para identificar e receber os pacientes e que vai aumentar o número de leitos.
Perguntar não ofende: Por que o Governo de Pernambuco, ciente da gravidade da crise decorrente do coronavírus, cometeu a irresponsabilidade de mandar estudantes fazerem intercambio no Canadá?