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Brasil : Belém corre para terminar obras antes da COP: “Está um caos”
Enviado por alexandre em 29/04/2025 00:30:38

"A COP é como organizar uma festa de aniversário de última hora", diz comerciante



Belém

A cidade brasileira de Belém, no Pará, está correndo para concluir dezenas de projetos prometidos para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em novembro, uma situação que os moradores descrevem como “caótica”.

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Pouco mais de meio ano após o início do evento, é difícil caminhar por esta cidade amazônica de 2,5 milhões de habitantes, cercada por rios e selva, sem ouvir o som da broca.

A “zona azul”, local onde serão construídos os pavilhões das negociações climáticas, ainda é um deserto empoeirado, como a EFE pôde constatar durante uma visita ao local a convite do governo do Pará.

O plano é terminar de pavimentar o caminho até o final de maio e depois deixar a ONU cuidar do resto.

Ao lado da futura “zona azul”, dezenas de jardineiros estão plantando palmeiras e samaumeiras no que será conhecido como Parque da Cidade, um amplo espaço de 500 mil metros quadrados com centros culturais e recreativos em construção, construído no local de um antigo aeroporto.

Fotografia aérea onde se vê o canal Timbó durante suas obras de adequação Foto: EFE/ Isaac Fontana

OBRAS LENTAS
O parque está 78% concluído, embora outros projetos ligados à COP estejam bem mais lentos, como a conclusão de 20% da Vila COP, o complexo residencial com 405 suítes para autoridades do mundo todo.

Especificamente, a escolha de Belém como cidade-sede da COP levantou preocupações sobre a capacidade da cidade, que até recentemente tinha apenas 18 mil leitos de hotel, para acomodar as 50 mil pessoas esperadas na conferência.

– Estamos dentro do cronograma de entrega das obras para o evento – disse à EFE o secretário regional de Infraestrutura e Logística, Adler Silveira, embora tenha reconhecido que o período de chuvas causou uma “desaceleração” no ritmo das obras.

Adler Silveira Foto: EFE/ Isaac Fontana

ALTO INVESTIMENTO
O investimento planejado pelo governo do Pará de R$ 4,5 bilhões (aproximadamente 790 milhões de dólares) em infraestrutura inclui projetos que estão pendentes há décadas, como quilômetros de sistemas de esgoto para os 80% da população de Belém que ainda não têm acesso.

Mel Costa, de 32 anos, dona de um salão de beleza localizado no centro da cidade, que não tem rede elétrica e funciona com fossa séptica, convive há meses com o barulho da obra.

– A COP é como organizar uma festa de aniversário de última hora… está um caos, e eu me pergunto se vai dar tempo suficiente – diz ela com um sorriso, ao lado de um manequim de peruca.

Embora tenha perdido 30% de seus clientes devido à construção, Costa está ansiosa para se conectar à rede e se livrar da temida fossa séptica, que ela precisa esvaziar a cada três meses para evitar incidentes.

– É muito constrangedor quando enche, porque tenho clientes que vão ao banheiro e o cano não escoa quando dão descarga – explica.

Mel Costa Foto: EFE/ Isaac Fontana

AUMENTO DO TURISMO
O icônico mercado municipal do século 19, cuja estrutura de ferro foi trazida da Europa durante o ciclo da borracha, também está passando por reformas.

A lojista Isabel Barbosa, de 44 anos, teve que mudar temporariamente sua barraca de ervas para um local próximo, mas ela diz que não se importa.

Desde o anúncio da COP, ela notou um aumento no turismo, então trabalha todos os dias da semana sem pausa.

– Espero trocar de carro… – diz ela, antes de apontar para seu novo “produto estrela”: um perfume verde fluorescente chamado Chama Gringo.

*EFE

Brasil : Biocarvão e plantas nativas podem ajudar a recuperar solos contaminados por metais pesados na Amazônia
Enviado por alexandre em 28/04/2025 09:25:54


Biocarvão e plantas nativas podem ajudar a recuperar solos contaminados por metais pesados na Amazônia

O caroço do açaí é um poluente ambiental que ainda não possui uma destinação adequada na região amazônica. Uma alternativa para a reutilização desse resíduo é o biocarvão.

Cádmio, Cromo, Cobre, Zinco e Arsênio. Esses são alguns dos metais pesados considerados tóxicos à saúde humana e ao meio ambiente, mas que estão presentes em solos que foram degradados pela mineração e por lixões na Amazônia.

Diante dessa problemática, alunos e professores do Grupo de Pesquisa de Estudos da Biodiversidade de Plantas Superiores (EBPS), da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) vem trabalhando na busca por soluções.

“O objetivo principal é restabelecer essas áreas degradadas a partir de uma atuação que envolve duas frentes de trabalho, que são o uso de biocarvão para recuperar o solo e a utilização de plantas fitorremediadoras para reflorestá-lo”, explica o coordenador do grupo, professor Cândido Ferreira Neto.
Biocarvão


O caroço do açaí é um poluente ambiental que ainda não possui uma destinação adequada na região amazônica. Uma alternativa para a reutilização desse resíduo é o biocarvão, também chamado de biochar. A partir de um processo chamado pirólise, em que há a degradação térmica do caroço do açaí em altas temperaturas e na ausência de oxigênio, os pesquisadores conseguiram chegar à temperatura ideal para que o caroço não vire carvão e ainda mantenha suas propriedades físico-químicas, necessárias para a nutrição do solo.

Segundo o coordenador do grupo, quando aplicado no solo, o biochar do caroço do açaí tem a capacidade de reter os metais pesados, absorvendo-os e corrigindo o ph do solo, além de fornecer nutrientes.

“O biochar também retém carbono no solo, evitando que o gás carbônico alcance a atmosfera, o que contribui para evitar mais danos ao efeito estufa”, diz Cândido Ferreira.

Leia também: Biocarvão é alternativa sustentável para fertilidade de solos amazônicos, aponta pesquisa
Plantas fitorremediadoras

Aí é a vez das plantas. Para que ocorra o reflorestamento é preciso que as plantas utilizadas também suportem a quantidade de elementos químicos presentes no solo contaminado. Para isso, a equipe também está testando espécies da Amazônia com potencial fitorremediador, ou seja, plantas com capacidade de tirar esse metal do solo, acumulando-os na raiz, tronco ou folhas, como explica o coordenador.

Três plantas testadas já apresentaram resultados positivos, com crescimento combinado ao biocarvão: Ucuuba, Mogno e Palheteira. As plantas de mogno foram expostas a níveis tóxicos de cobre, enquanto que as de ucuuba foram expostas a doses de cádmio.

“O mogno brasileiro apresentou alto índice de tolerância em todas as concentrações de cobre aplicadas, da mesma forma a ucuúba, que se mostrou tolerante ao cádmio, principalmente nas altas dosagens”, disse o pesquisador. Já a Palheteira apresentou tolerância somente a doses de cádmio e deve passar por testes com outros metais.
Fotos: Reprodução/Grupo de Pesquisa de Estudos da Biodiversidade de Plantas Superiores (EBPS)

Para identificar o potencial fitorremediador da espécie foi feito um levantamento inicial de quais seriam essas plantas, onde foram avaliados: a tolerância do vegetal em ambientes tóxicos, a quantidade de metal que a espécie concentra em seus órgãos e a capacidade da planta em translocar o metal da raiz para parte aérea.

“Existem várias plantas com potencial fitorremediador. Mas o tempo que essa planta fica exposta a esses metais e a concentração desses elementos, podem fazer com que essa planta morra. É justamente o que não queremos”, diz o coordenador.

“O biocarvão retém o metal e depois a planta absorve e retira esse metal do solo. Como o biocarvão retém e adsorve esses metais, sua disponibilidade no solo e para a planta fica reduzida. Isso significa que a planta fitorremediadora vai absorver uma quantidade menor de metal, impactando diretamente no melhor desenvolvimento dessa planta”, diz Cândido Ferreira.
Resultado também é observado na agricultura

Essa combinação tem mostrado resultados promissores, não só para a recuperação de solos degradados, mas também para melhorar a produção agrícola na região.

“Percebemos que, quando se coloca o biocarvão a uma concentração ideal no solo, isso melhora a produção e o desenvolvimento da cultura”, explica.

Segundo o pesquisador, os solos da região amazônica são ácidos e pobres de nutrientes. Por isso é comum o uso da calagem, procedimento feito pelos agricultores para aumentar o ph do solo. “Mas com o biocarvão isso já é corrigido. O biocarvão libera macro e micronutrientes ao solo. Aos poucos ele libera nitrogênio, fósforo, magnésio, potássio, enxofre, essenciais para a planta se desenvolver. Ao longo do tempo é possível que não seja preciso adubar esse solo, o que vai impactar na renda do produtor, que não vai precisar gastar com calagem e produtos”, diz.

A equipe realizou testes com milho e jambú, e os resultados superaram as expectativas. “O biocarvão não só melhorou o ph ácido do solo, mas também forneceu nutrientes a esse solo e melhorou a produção e o desenvolvimento daquela cultura”, explica. “O Biocarvão também é capaz de reter agua no solo, em períodos de estiagem ele consegue reter essa agua e ajudar a manter a umidade do solo para a planta”, diz.
Próximos passos

Os próximos passos da pesquisa incluem a testagem de novas espécies de plantas com potencial fitorremediador, como andira-uxi, pau pretinho e tatapiririca. O objetivo é avaliar o potencial fitorremediador de cada uma dessas espécies para as áreas degradadas. Já a produção de biocarvão está sendo testada também com resíduos de outros materiais, como o ouriço e a casca da castanha, resíduos de poda e a casca do cacau. Nesse caso o foco é na produção vegetal, como a produção de mudas de frutíferas e espécies florestais e na produção de hortaliças. Eles ja estão sendo testados em culturas agrícolas, como o feijão e milho.

O projeto existe desde 2023, e conta com financiamento da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).

*Com informações da Ufra

  
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Brasil : Greenpeace Brasil mostra impacto da crise climática em documentário com imagens da Amazônia
Enviado por alexandre em 28/04/2025 09:22:12


Greenpeace Brasil mostra impacto da crise climática em documentário com imagens da Amazônia

Por meio de imagens aéreas da destruição ambiental provocada pela ação humana no país, produção audiovisual traz um sinal de alerta.

Foto: Reprodução/Greenpeace

O Greenpeace Brasil lançou, no dia 16 de abril, uma nova campanha de conscientização e alerta sobre a crise climática. A campanha ‘Que Planeta É Esse?’, com criação da Beta Collective e dos Irmãos Meirelles, repune imagens reais, sem uso de inteligência artificial, de locais do Brasil que foram impactados pelas mudanças climáticas, a ponto de parecerem cenários de outros planetas.

O filme tem um ritmo acelerado e mostra regiões da Amazônia, com registros feitos pelo Greenpeace, como Tefé (AM) e Porto Velho (RO), além de imagens da seca em Gilbués, no Piauí, registradas pelo diretor Fabio Meirelles e pelo fotógrafo Ícaro N. Silva, mostrando um cenário de destruição.



Com tomadas aéreas de secas, queimadas e desertificação, o material audiovisual retrata o solo desértico e a estiagem. As cenas provocam a reflexão sobre como a intensidade e gravidade dos eventos extremos estão desfigurando paisagens naturais.

‘Que Planeta é Esse?’ tem a premissa de conscientizar e sensibilizar diferentes públicos, com um material que impacta e deixa um recado claro sobre a urgência do agir para contornar os trágicos cenários que já são realidade.

“Já estamos vivendo os impactos da mudança do clima nas nossas vidas, mas ainda é possível fazer diferente para evitar que a situação se agrave. Apoiando nosso trabalho conseguimos mobilizar mais pessoas e atuar na responsabilização de quem precisa ser responsabilizado e impulsionar as soluções que precisam ser priorizadas”, afirma Laura Leal, diretora de Engajamento do Greenpeace Brasil.

“A vida e o planeta Terra da forma que conhecemos estão em risco”, alerta Bernardo Tavares, Fundador e Diretor de Criação da Beta Collective. “Muito se fala sobre encontrar água em outro planeta, mas pesquisando sobre algumas regiões do Brasil, percebemos como é urgente comunicar sobre a necessidade de cuidar do nosso próprio planeta, que cada vez mais se parece com outros, pra que tentar encontrar água não se torne uma missão na Terra”, complementa.

*Com informações do Greenpeace ... - Veja mais em https://portalamazonia.com/meio-ambiente/greenpeace-brasil-crise-climatica/

Brasil : Cuscuz, o prato típico nordestino que se tornou queridinho no Norte
Enviado por alexandre em 28/04/2025 09:18:48


Cuscuz, o prato típico nordestino que se tornou queridinho no Norte

O Ciclo da Borracha é um dos motivos da chegada do popular prato feito à base de milho na região.


Cuscuz com café, ovo, leite ou até uma versão doce, no café da manhã, almoço e até na janta. São vários os jeitos de degustar o prato que é a cara de Rondônia. Mas você sabe onde surgiu e o porquê da massa amarela do milho ser tão popular no estado?

O Grupo Rede Amazônica conversou com o historiador Aleks Paliot, que volta no tempo para explicar como um prato típico do Nordeste se tornou o queridinho do Norte.

Um dos períodos que marcaram a introdução do cuscuz no território futuramente nomeado de Rondônia é o Ciclo da Borracha. Segundo Aleks Paliot, a região recebeu uma grande migração de nordestinos e povos de vários estados.

Os “soldados da borracha” fugiam da seca e chegaram a Rondônia com suas bagagens, cultura e principalmente o cuscuz.
Uma pequena volta no tempo


A história do grãozinho começa antes da combinação entre as culturas do Norte e Nordeste, a origem do prato não é brasileira e sua chegada está ligada a uma época em que pessoas eram separadas de suas famílias e comunidades e obrigadas a viajar em condição cruéis.

Segundo Palitot, o cuscuz veio do continente africano para o Brasil nos navios tumbeiros com os escravizados que eram obrigados a trabalharem com a produção açucareira no Nordeste. De acordo com Paliot foi assim que o alimento foi introduzido na culinária nordestina.

Leia também: Milho chegou ao Brasil pela Amazônia ocidental e foi domesticado ao longo de ondas migratórias

O cuscuz não é somente um alimento: o prato simboliza a identidade desses povos que, por diferentes motivos, tiveram que deixar seu lar.

A mistura e a combinação de diferentes culturas é o motivo para o alimento ser tão popular entre os rondonienses, que hoje após adaptações do prato consomem de diferentes formas e horários.

“Houve um sincretismo gastronômico cultural, entre os nordestinos e os ‘beiradeiros’. Foi assim que o alimento se tornou típico aqui”, conclui o historiador.
Confira abaixo receitas de Cuscuz:
Cuscuz tradicional

O cuscuz tradicional é feito a partir do fubá de milho, que é uma espécie de farinha com flocos finos e que absorvem mais água. Confira abaixo os ingredientes:

    2 xícaras de chá de flocão;
    1 xícara de chá de água;
    Uma colher de chá de sal, ou a gosto.

Modo de fazer

    Em um recipiente misture a farinha de milho com o sal. Coloque água aos poucos e mexa bem. Se possível, deixe hidratar por 5 a 10 minutos.
    A massa é cozida no vapor de água, para isso é utilizada uma panela específica: a cuscuzeira. Para manusear faça assim: encha o fundo da cuscuzeira com água e encaixe o “cesto de vapor” na panela.
    Coloque a farinha de milho hidratada no cesto. Tampe e leve ao fogão. Quando começar a ferver a água deixe cozinhar por mais 10 minutos.
    Depois retire da cuscuzeira e adicione acompanhamentos, são boas pedidas: manteiga, ovo, queijo, frango e carne de sol, por exemplo.

Cuscuz de tapioca com coco e castanha

O Rondônia Rural já ensinou como fazer um cuscuz de tapioca com coco e castanha. Uma versão com ingredientes da amazônica que, segundo a chef Marita Moura, é fácil de fazer (veja no vídeo acima).

Ingredientes

    5 xícaras de leite
    4 xícaras de tapioca
    2 xícaras de coco ralado
    1 xícara de açúcar
    1 pitada de sal
    1 pitada de cumaru

Cobertura:

    Doce de leite
    1 xícara de castanha do Brasil triturada

Modo de fazer

    Em um recipiente, coloque as quatro xícaras de tapioca, as duas xícaras de coco ralado, uma xícara de açúcar, as cinco xícaras de leite e misture bem. Depois acrescente o sal.
    Depois escolha a especiaria de sua preferência para aromatizar, pode ser canela. Mas a escolha da Chef foi cumaru.
    Então deixe essa mistura por 8h na geladeira (confira o ponto correto no vídeo acima).
    Depois, com a consistência correta, cubra o cuscuz de tapioca com doce de leite e a castanha do Pará.

*Com informações da Rede Amazônica RO ... - Veja mais em https://portalamazonia.com/gastronomia/cuscuz-queridinho-no-norte/

Brasil : Desastres hidrológicos são os mais recorrentes na Amazônia Legal nos últimos 28 anos
Enviado por alexandre em 25/04/2025 00:51:10

Os riscos desses acidentes ainda ameaçam comunidades ribeirinhas e costeiras devido ao contato direto com o rio e o mar.

A Amazônia Legal tem se mostrado cada vez mais vulnerável aos desastres naturais influenciados pelas mudanças globais do clima. De 1995 a 2024, houve um aumento de 1.789% nos registros de eventos climáticos na Amazônia: foram 1.425 ocorrências no ano passado, contra 37 no início da série analisada pela InfoAmazonia, com base nos dados do Sistema Integrado de Informações de Desastres da Defesa Civil.

Os eventos hidrológicos, como enxurradas, inundações e alagamentos, são os mais recorrentes na região, representando aproximadamente 64% de todos os desastres naturais. Ainda segundo dados do Sistema Integrado de Informações de Desastres da Defesa Civil, foram contabilizados 3.430 desastres desse tipo entre 1995 e 2024. Esta predominância está diretamente ligada à relação das cidades amazônicas com os rios.

O Pará lidera o ranking de desastres hidrológicos na Amazônia Legal, com 1.147 registros entre 1995 e 2024 (33% do total). Em seguida, temos Amazonas, com 716 ocorrências, Mato Grosso (541), Maranhão (483) e Tocantins (238). Rondônia (97), Acre (89), Roraima (73) e Amapá (46) apresentam menor incidência dos eventos, mas seguem o mesmo perfil, com mais desastres relacionados à água como o principal problema enfrentado nas últimas três décadas.

A Defesa Civil Nacional define desastres como eventos graves naturais ou humanos que causam danos à vida, ao ambiente e à economia. Eles são classificados em naturais (como meteorológicos, climatológicos, geológicos e hidrológicos) e humanos (como acidentes com produtos perigosos ou incêndios). A Defesa Civil é responsável por monitorar e agir para reduzir os impactos desses eventos no Brasil.

Entre os naturais, está o desastre climatológico de chuvas. A Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade), criado pelo Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional, define que esse tipo ocorre quando há grande volume de chuva em pouco tempo. Elas podem provocar inundações (transbordamento de rios), enxurradas (escoamento rápido em terrenos inclinados) e alagamentos (acúmulo de água por falha na drenagem urbana).

De acordo com o Atlas de Desastres Brasileiro, documento que disponibiliza dados sobre desastres no país, com base no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, essa interação de todos os eventos monitorados pela Defesa Civil Nacional leva a extremos com impactos significativos para o ecossistema, populações e atividades econômicas na região. A sistematização dos dados permite ter um panorama de situações de emergência no período de 1995 a 2024.

Municípios líderes em desastres

O levantamento mostrou ainda quais são os municípios com mais registros em cada estado da Amazônia. No Pará, destaca-se Oriximiná, localizado a 881 km de Belém, com um total de 139 casos de desastres naturais. Já em Mato Grosso, o município com maior número de ocorrências foi Sorriso, a 398 km de Cuiabá, com 61 casos — a maioria relacionada a incêndios florestais. 

No Amazonas, Manacapuru, a 93 km de Manaus, registrou 37 casos, todos associados a inundações. Esses eventos não ocorrem de forma isolada, mas são intensificados por fatores críticos, como as mudanças climáticas globais, o fenômeno El Niño — que se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico e afeta o clima em várias partes do mundo, alterando os padrões de chuva e temperatura —, e também pela oscilação de temperatura no Atlântico Norte tropical, que influencia diretamente o regime de chuvas na bacia amazônica.

Tanto Mato Grosso, Rondônia e Roraima apresentaram mais registros de desastres climatológicos, provocados principalmente pela escassez de chuvas. Mato Grosso registrou 333 casos de incêndios florestais, Rondônia e Roraima registraram respectivamente 52 e 38 casos de estiagem

A estiagem é um período de baixo ou nenhum registro de chuva, já a seca é definida como uma estiagem mais prolongada, provocando um grande desequilíbrio hidrológico.
e seca
Período prolongado de tempo seco, com baixa precipitação ou ausência de chuva.


Apesar de Mato Grosso ter registrado a maior quantidade de incêndios florestais, e Roraima e Rondônia apresentarem como principais desastres a estiagem e seca, a maioria dos registros na Amazônia é decorrente de inundações. Esse tipo de tragédia vem impactando milhões de pessoas que vivem próximas aos rios, igarapés e do mar.

A complexidade dos desastres na Amazônia evidencia a necessidade de estratégias integradas de gestão de riscos, que considerem as particularidades de cada estado e seus desafios específicos. Além disso, é essencial reforçar iniciativas de conservação ambiental e políticas públicas que promovam a resiliência das populações afetadas e a proteção dos ecossistemas, assegurando o equilíbrio ecológico e a qualidade de vida na região.

Inundações na zona costeira

A região amazônica, em sua vasta extensão, apresenta uma disposição a desastres naturais, resultado da interação entre fatores climáticos, hidrológicos e meteorológicos. No entanto, dentro deste cenário, destacam-se áreas como a Zona Costeira Amazônica, que é considerada uma zona permanentemente de risco. 

A Zona Costeira Amazônica possui um litoral que se estende por 1.294 km, abrange os estados do Amapá, Pará e parte do Maranhão, cuja característica principal é a presença marcante da Foz do Amazonas

A Foz do Amazonas é a região onde o rio Amazonas se encontra com o oceano Atlântico, na costa da Amazônia brasileira, especificamente nos estados do Amapá e Pará.
. Essa região é agravada tanto pelos processos naturais característicos de zonas costeiras, como erosão, aumento do nível do mar e mudanças na dinâmica sedimentar, quanto pela influência direta do oceano, que intensifica os impactos locais.

Segundo a doutora em geologia e pesquisadora no Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), Valdenira Santos, essa proximidade com o oceano influencia as dinâmicas ambientais e sociais até 800 km rio adentro, moldando o ritmo de vida das comunidades locais por meio do fluxo contínuo das marés.

“Um exemplo relevante é a foz do rio Amazonas, que inclui a parte norte da Ilha do Marajó e o litoral do Amapá. Nessa região, a intrusão de água salgada vinda do oceano pode alcançar grandes extensões devido à topografia plana e baixa. Os principais problemas enfrentados por essas zonas incluem inundações e processos de erosão costeira”, comenta a pesquisadora. 

As constantes alterações na costa são frequentemente relatadas por muitas comunidades da Foz do Amazonas. Fenômenos como invasão salina, inundações, erosão e acreção têm se tornado mais frequentes e severos, especialmente sob o impacto das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar.

Municípios como Macapá, no Amapá, que se encontra no canal norte da Foz do Amazonas, e Chaves, no Pará, que está no canal sul, integram a Zona Costeira de Baixa Elevação. Essa região é caracterizada por áreas com uma elevação de menos de dez metros, aproximando-se ao nível médio do mar. Com a característica do terreno baixo e plano, o risco de inundação na região da foz do rio Amazonas aumenta. 

Valdenira Santos explica, ainda, que essa a dinâmica hidrológica do rio Amazonas está diretamente relacionada à periodicidade da Zona de Convergência Intertropical, um sistema que regula os padrões de chuvas na região. Além disso, também é influenciada pelo “El Niño” e “La Niña”. Quando o rio Amazonas atinge seu pico máximo de volume de água devido às chuvas intensas, ocorrem inundações fluviais que se espalham por diversos rios da região.

“Na Foz do Amazonas temos o encontro com o mar. O mar traz duas vezes por dia, no nosso caso aqui, as marés que elas sobem e descem. Com a alíquota máxima [nível máximo] do rio, e a maré subindo e descendo, temos um nível d’água que é mais exacerbado. Por isso, vemos inundações, principalmente em dias de lua cheia, devido a gravidade lunar que puxa a água em direção à lua e cria grande marés”, comenta Santos. 

No distrito da Vila de Nascimento, que fica a 115 km da sede do município de Chaves, na Ilha do Marajó, no Pará, houve uma inundação em 2019, segundo dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres. Estima-se que o desastre tenha atingido 1.627 pessoas, entre elas alunos da escola municipal Júlia de Paula Moraes e destruído passarelas. A água também foi contaminada devido ao transbordamento dos banheiros (fossa rudimentar), morte de animais de espécies bubalinos e suínos, impossibilitando que 283 alunos tivessem acesso à escola entre os meses de março e abril.

A diretora Renata Melo, da escola Júlia de Paula Moraes, explica que, quando a maré vinda do oceano chega com força, ela avança sobre a terra, causando a queda de pontes. Mesmo durante o período de “maré morta”, em que o rio Amazonas apresenta menor volume, ela avança de forma mais lenta, mas ainda assim provoca danos, como a degradação dos portos e a intensificação da erosão.

“Quando está esse período de marés perigosas, a gente suspende as aulas e suspende também os alunos que moram perto da escola, porque eles precisam fazer esse percurso por ponte. Às vezes, a ponte está tomada de espinhos e de lixo que a maré traz, servindo de alojamento para animais peçonhentos como cobra, escorpião. Já aconteceu muito”, diz Melo.

A erosão é um outro problema que vem afetando as comunidades da região litorânea de Chaves. Segundo os dados Atlas de Desastres Brasileiro, a erosão é o desastre mais comum no município de Chaves.

Renata diz que, apesar de as casas nas comunidades não serem atingidas, é frequente que as famílias sejam transferidas para outros lugares. Dona Lucivalda Monteiro, moradora da comunidade do rio Tartaruga, 124 km da sede do município de Chaves, conta que, quando era criança, o rio era bem estreito, mas, com a intensificação da erosão, há uns dez anos para cá, precisou recuar sua casa para evitar perdê-la. 

“Nós desmanchamos a antiga casa, construímos esta, e já construímos outra aqui para trás porque está aqui já está bem na beira. Tem que ver no inverno mesmo, que é muita maresia das embarcações que andam por dentro, né? Aí que cai”, explica Dona Lucivalda.

Totalizando os danos de todos os desastres ocorridos no município de Chaves e apresentados no Atlas de Desastres Brasileiro, os custos podem ultrapassar R$ 11,2 milhões. Os eventos aumentaram a vulnerabilidade das comunidades, provocando prejuízos materiais, risco à saúde, dificuldades no abastecimento de água potável e nas atividades essenciais de subsistência, como a pesca e a criação de animais.

O bailar das ilhas

Outra região que vem sendo atingida pelas mudanças costeiras associadas a eventos climáticos e hidrológicos extremos é o arquipélago do Bailique, distrito localizado a 180 km de Macapá, no Amapá. Atualmente, vivem cerca de 12 mil pessoas no arquipélago, distribuídas em 52 comunidades, divididas em doze ilhas banhadas pelo rio Amazonas, com acesso apenas por via fluvial.

O nome Bailique deriva do tupi e significa ilhas que bailam, fazendo uma referência ao processo de constante mudança da região. A pesquisadora Valdenira Santos fala que não é só o Bailique que “baila”, mas todas as ilhas da Foz do Amazonas têm esse mesmo comportamento. Esse processo é natural e motivado pela quantidade de partículas de barro vindo na água do rio Amazonas, unindo corrente fluvial e as variações de maré.

“[Isso ocorre] exatamente devido às correntes, do material sempre disponível que é depositado nas beiradas das ilhas ou removido no processo de erosão fluvial e depositado em outros lugares. São envolvidos três principais fenômenos nesse processo muito peculiar da região da foz do rio Amazonas: a erosão, a acreção e o transporte de sedimentos”, completa a pesquisadora. 

O fenômeno da acreção se refere à formação de praias devido ao acúmulo de sedimentos, conhecido como “acamamento de maré”. Trata-se da deposição de camadas de lama e areia que, com o tempo e de forma constante, acabam emergindo. Depois, essas áreas passam a ser ocupadas por manguezais e vegetação de várzea.

Por não se tratar de um solo consolidado, e devido à força da correnteza ou à variação da maré, ocorre o processo de erosão — outro fenômeno característico da foz do rio Amazonas. Com a retirada do material das margens ou do fundo do rio, esses sedimentos erodidos são transportados para outras regiões, reiniciando o ciclo de acreção, erosão e transporte sedimentar.

Apesar dessas constantes alterações serem naturais, pesquisadores e as próprias comunidades começaram a notar que elas estão cada vez mais intensas nos últimos cinco anos. Ainda não se confirmou se ocorrem devido à maré do oceano ou ao aumento da força de corrente do rio Amazonas. A erosão vem atingindo fortemente as comunidades do centro do arquipélago do Bailique e causando danos humanos, materiais e afetivos com as comunidades. 

Geová Alves, morador da comunidade Vila Macedônia e presidente da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique – ACTB, diz que sua comunidade era totalmente diferente, tendo três vezes o tamanho que tem hoje. Conta que o processo de erosão ficou mais forte a partir de 2018-2019, onde ainda existia metade da comunidade e moravam cerca de 1.200 habitantes. Hoje são apenas 600. 

“Nós já perdemos três fileiras de passarela

Estruturas de madeira construídas para permitir a circulação dos moradores entre as casas e áreas comuns da comunidade. Como a região é cercada por rios e sujeita a inundações frequentes, essas passarelas funcionam como “ruas elevadas”.
. Cada passarela tem dois terrenos de 30 metros cada um. Então, foram 180 metros que a gente já perdeu só de comunidade, fora a área que tinha na frente. Tinha uma escola lá na frente, tinha um campo de futebol e tinha uma passarela enorme, com várias casas, que já se perdeu”, lembra Geová.

A pesquisadora Valdenira Santos acompanha a situação da erosão nas comunidades de Chaves, no Pará, e do Bailique, no Amapá, por meio do Observatório Popular do Mar (OMARA). O projeto tem como objetivo monitorar os impactos desse fenômeno, coletando dados diretamente das observações realizadas pelos moradores locais para subsidiar iniciativas voltadas à solução do problema. Santos destaca que, apesar das dificuldades e dos prejuízos já enfrentados, as comunidades da Foz do Amazonas têm uma notável capacidade de adaptação. Contudo, ela ressalta que para que essas adaptações sejam eficazes e alinhadas às necessidades locais, é fundamental compreender em profundidade como os fenômenos ocorrem na região.

“Por exemplo, eu não posso construir uma escola, um posto de saúde, numa zona de erosão. Mas como é que você vai saber disso? Não é só olhando. Você tem que ir lá. Você tem que medir, você tem que fazer análise de satélite, saber quanto é a velocidade de corrente para você saber se a corrente ainda está forte o suficiente ou não para manter aquele processo. Tem que saber como é esse fundo de rio. Então, você pega todas essas informações morfológicas, hidrodinâmicas, e aí consegue dar um diagnóstico e um prognóstico. Dessa forma, eu posso me antecipar aos problemas e não deixá-los chegar para a gente tentar tomar soluções imediatas”, comenta a pesquisadora. 

Os dados do Atlas de Desastres Brasileiro mostram que do total de registros de desastres ocorrido em Macapá, 32% foram na região do Bailique, em sua maioria do tipo erosão. Em 2017 e 2018, o evento afetou 1390 pessoas, além de ter deixado 514 casas destruídas ou danificadas. Consta, ainda, que houve a destruição total de aproximadamente 2.400 metros de passarelas; danos na rede de distribuição elétrica com a queda de postes e danos parciais em unidades de saúde e ensino. 

Mais recentemente, em 2021, houve dois registros de erosão e, em 2023, mais outro. O desastre afetou o abastecimento e a distribuição de água potável e de eletricidade das duas maiores comunidades do arquipélago, Vila Progresso e Macedônia. Estima-se que os desastres já tenham causado em reais R$ 39,4 milhões, mais da metade desse valor, cerca de 72%, foi danos em habitação da população do Bailique. 

A Defesa Civil do Amapá não informou quanto vem destinando para responder desastres do tipo erosão nas comunidades, reforçou que a assistência prestada às famílias está na ajuda humanitária com cesta de alimentos e água potável. No entanto, não informou quanto foi gasto nesse período. 


Esta reportagem foi produzida por jornalistas bolsistas da segunda edição do curso de Jornalismo Investigativo Ambiental e Geojornalismo, oferecido com o apoio da Earth Journalism Network da Internews, e é parte do eixo educacional da InfoAmazonia.

Sobre o autor

Thales Lima

Jornalista, repórter e fotojornalista. Atua como mídia ativista no Amapá e desenvolve ações direcionadas ao direito à cidade, ativismos urbanos, movimentos socioambientais e juventudes na Amazônia....

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