Política : O CARNICEIRO
Enviado por alexandre em 09/09/2021 08:52:38

Lula quer a sangria do governo Bolsonaro

Se o impeachment do presidente Bolsonaro já estava na ordem do dia da oposição, especialmente na CPI da Covid no Senado, com o argumento de que o chefe da Nação passou dos limites nos ataques ao STF nos discursos das manifestações de 7 de setembro em Brasília e São Paulo, deve partir para o tudo ou nada na tentativa de abrir o processo de afastamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Num eventual impeachment de Bolsonaro, o que não vai ocorrer, sobretudo pela força que demonstrou ter no seio da população com as gigantescas manifestações de terça-feira passada, quem herdaria os votos do bolsonarismo? Supostamente um candidato de centro, indicado pelo próprio Bolsonaro, nunca da esquerda, o que não interessaria ao principal adversário do presidente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Teoricamente, o PT acha que Bolsonaro está morto, politicamente e eleitoralmente. Deixá-lo sangrar seria mais inteligente e estrategicamente correto, daí não interessa a Lula um adversário de cara nova, despontado no vácuo do atual presidente, que julga muito fácil de ser derrotado num pleito polarizado. Impeachment, para o PT, soa como discurso sem consistência, apenas para fazer coro aos demais partidos de oposição.

Estes, por sua vez, ganham com o impedimento de Bolsonaro, diferente do PT, quer faz planos de retomar o poder, com Lula, em cima do sangramento político do presidente. Ganham, supostamente, o PSDB e Ciro Gomes, que tenderiam a se fortalecer. A suposição se sustenta até o momento em que não surja o candidato de Bolsonaro, caso viesse a ser deletado da disputa da sua reeleição.

Pela demonstração de força nos atos de 7 de setembro, Bolsonaro nunca será afastado nem tampouco entrará na reeleição como presa fácil de ser batida. Nuances eleitorais à parte, o fato é que a crise institucional está longe de ser superada. Numa briga de dois, quando um não quer entrar, não existe ringue, mas os dois querem – Bolsonaro e parte do Supremo Tribunal Federal. Assim, só com bola de cristal para saber o que de fato ocorrerá no País enquanto perdurar o conflito institucional.

Tom elevado – No 7 de setembro nas ruas, estimulado pela multidão chamando-o de mito, Bolsonaro voltou a elevar o tom contra o Supremo. Em Brasília, disse que os ministros do STF não têm “mais condições mínimas de continuar dentro daquele Tribunal”. Depois, o presidente foi para São Paulo e desferiu ofensas contra Alexandre de Moraes, relator de inquéritos que miram grupos bolsonaristas. O ministro foi chamado de “canalha” pelo presidente. “Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas, turve a nossa democracia e ameace nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Ou melhor, acabou o tempo dele”, disse o presidente.

Apareceu a Margarida! – Na surdina, até porque seu tempo já passou como fato novo na cena nacional, Marina Silva, que disputou e perdeu a eleição presidencial em duas tentativas, ressurgiu pegando carona na crise. “Bolsonaro sempre demonstrou não ter limites, mas o Brasil o limitará. Não vamos abrir mão da democracia por um delírio ditatorial”, disse, ao comentar os discursos do presidente jogando mais lenha ainda na fogueira da crise institucional.

No muro – Na ação política, quando a opção é o muro cria-se uma comissão. Foi o que fez o PSD, para tentar encontrar um caminho em resposta às manifestações do presidente nos atos do Dia da Independência, após ser pressionado a apoiar um pedido de impeachment. O grupo será composto pelo presidente da legenda, Gilberto Kassab, e os líderes do partido na Câmara, Antonio Brito (BA), e no Senado, Nelsinho Trad (MS). A comissão surge depois de o presidente Jair Bolsonaro declarar que não cumprirá decisões tomadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Reação negativa – A avaliação de economistas tarimbados em mercado é de que o 7 de setembro deu um saldo pior para o cenário político, devido à tensão criada com o acirramento da crise institucional. As manifestações elevaram ainda mais a tensão entre os Três Poderes e afetarão os preços dos ativos financeiros. O mercado depende do STF e do Congresso para destravar as reformas econômicas e achar uma saída para o “meteoro” de precatórios que pressiona o Orçamento de 2022 e inviabiliza a ampliação de programas sociais como o Bolsa Família no ano que vem. Por isso, está na expectativa das reações do Judiciário e do Legislativo às declarações de Bolsonaro.

Coisas da Globo – Além de um editorial contundente contra as manifestações pró-Bolsonaro, as organizações Globo mostraram a cara de oposição ao Governo. Repórteres e apresentadores da Globonews cobriram o 7 de setembro com uma tarja preta. Em Pernambuco, o G1, portal de notícias da poderosa, ignorou a grande manifestação em Boa Viagem. Deu apenas uma postagem discreta, mas quando o governador se manifestou pelas redes abriu um manchetão. Aprendi na faculdade que o fato é sagrado, a versão livre.

CURTAS

EM CAMPANHA – "Infelizmente, ele está em campanha permanente e não governa o país", reagiu o governador Paulo Câmara em publicações no Twitter ao se manifestar sobre as declarações do presidente Bolsonaro nos atos de 7 de setembro em Brasília e São Paulo, quando disse que não ia mais acatar decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

VOZ DA JUSTIÇA – O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, o juiz federal Eduardo André Brandão, declarou que o presidente Jair Bolsonaro “agiu de forma irresponsável e deu um péssimo exemplo ao pregar desobediência às determinações judiciais e, mais uma vez, lançar ataques pessoais” a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Perguntar não ofende: E se fosse a oposição que tivesse feito a maior manifestação de rua dos últimos anos no Brasil, como seria o tratamento da Globo?


PSDB anuncia oposição a Bolsonaro

O PSDB anunciou oposição ao governo Jair Bolsonaro. Por unanimidade, a decisão foi tomada, hoje, em reunião da Executiva Nacional.

De acordo com os tucanos, as declarações dadas pelo presidente Bolsonaro, ontem, ao falar para apoiadores em Brasília e São Paulo, foram o estopim para essa medida. A sigla emitiu uma nota sobre o assunto: 

"O partido repudia as atitudes antidemocráticas, truculentas e irresponsáveis adotadas pelo presidente da República em manifestações pelo Dia da Independência. O PSDB se alinha a todas as forças da sociedade brasileira que têm na democracia, na defesa das instituições e no respeito à liberdade o seu maior compromisso. 

Com a participação da Executiva e das bancadas na Câmara e Senado iniciamos o processo interno de discussão sobre crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da República. O primeiro passo foi o debate aberto ocorrido hoje e agora será aprofundado pelas bancadas do Congresso Nacional.   

Conclamamos todas as forças do centro democrático a formar uma frente de oposição ao governo de Jair Bolsonaro. É da união dessas forças que virá a derrota definitiva do projeto autoritário de poder que o atual ocupante do Palácio do Planalto encarna e a volta do modelo político e econômico petista também responsável pela profunda crise que enfrentamos. 

Basta de insensatez. Os brasileiros esperam de seu governante soluções para a pandemia, que beira 600 mil mortos; para o desemprego, que vitima 14 milhões de pessoas; para a inflação, que beira os dois dígitos; para a paralisia econômica; para a desigualdade; para a crise hídrica e para o descalabro fiscal. Um presidente que saiba enfrentar a desestruturação social e econômica ao invés de buscar enfrentar a própria lei. 

A democracia brasileira permitiu que milhares fossem às ruas no dia de ontem defender suas ideias. Mas também defendemos os milhões que ficaram em casa e querem um Brasil que possa superar a crise."

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