Política : VAI TER UMA 3ª VIA?
Enviado por alexandre em 20/07/2021 08:18:14

Diante do cenário atual se costura uma terceira presidencial

Por Houldine Nascimento

Diante do cenário atual, em que as pesquisas apontam real chance de disputa envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no segundo turno, os partidos mais ao centro lançam nomes na tentativa de testar potencial de voto. As eleições de 2022 ainda estão distantes, mas esse movimento vem se intensificando em legendas variadas.

É um processo ainda incipiente e bastante difuso. Desde a redemocratização, a evocada terceira via jamais conseguiu sair da teoria. No próximo ano, diversos atores políticos tentarão quebrar esse histórico. Alguns nomes surgiram nos últimos dias. Um deles é o da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que tem obtido destaque pela participação consistente na CPI da Pandemia, mesmo sem integrar o colegiado. Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) tenta viabilizar a correligionária na disputa.

Outro personagem exposto recentemente como pré-candidato é o comunicador José Luiz Datena (PSL). O presidente da sigla é o deputado federal pernambucano Luciano Bivar, que está trabalhando intensamente para que Datena vá adiante. A aposta é na sua popularidade construída há décadas no rádio e na TV, no que seria verdadeiramente um outsider. Em outras ocasiões, o apresentador ensaiou candidatar-se, mas sempre desistiu. Desta vez, está disposto.

Tanto MDB quanto PSL integram um grupo formado por nove partidos que têm dialogado de forma permanente para construir uma alternativa a Lula e Bolsonaro. Cidadania, DEM, Novo, Podemos, PSDB, PV e Solidariedade também compõem essa frente. Destes, o PSDB tradicionalmente lança presidenciáveis e hoje vivencia uma briga pública entre dois caciques: o deputado mineiro Aécio Neves e o governador paulista João Doria.

Os tucanos mais uma vez terão prévias para decidir quem será o candidato. Doria enfrenta resistência por ter um perfil considerado por seus pares como desagregador. Além disso, terá de vencer uma dura disputa interna com o governador gaúcho Eduardo Leite e, talvez, o senador cearense Tasso Jereissati.

O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, está perto de deixar o DEM e migrar para o PSD, liderado por Gilberto Kassab, que já anuncia aos quatro ventos a pré-candidatura do mineiro à Presidência. Na tentativa de evitar desgaste, Pacheco se ausentou da polêmica sessão que resultou na aprovação de projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2022, com direito a um fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões.

Outros não estão dispostos a desistir do sonho, como é o caso de Ciro Gomes (PDT), ex-ministro e ex-governador do Ceará. O pedetista tem apostado em uma forte contraposição a Lula e Bolsonaro. Com a orientação do ex-marqueteiro petista João Santana, Ciro tem feito inserções diárias nas redes sociais, com vídeos e comentários que obtêm bom alcance. Opções não faltam ao eleitor.

Como costuma dizer o titular deste Blog, pesquisas são fotografias de momento. Pelo que se desenha, a tendência é que o PT ocupe uma das vagas em eventual segundo turno. Aos que desejam impedir o retorno da sigla ao poder, resta seguir desgastando Bolsonaro. Ambos possuem intenções de voto que impressionam. Se a retirada de um deles do páreo será possível ou não, o futuro dirá. Antes, é preciso combinar com o eleitorado.

PSDB pode desistir – O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, admitiu pela primeira vez que a legenda pode abrir mão da candidatura à Presidência da República. Ao ser perguntado pelo jornal O Globo sobre o tema, o líder tucano declarou que o partido poderia fazer isso em nome de uma unidade de centro. “Ninguém pode querer um apoio sem ter disposição de apoiar. O PSDB está aberto até o último momento nas convenções de construir essa unidade no campo distante da polarização entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula”, assegurou.

Promessa de veto – O presidente Jair Bolsonaro indicou, ontem, que deve vetar o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões previsto para o próximo ano. Em entrevista à TV Brasil, o chefe do Executivo disse: “Posso adiantar para você que não será sancionada. Eu tenho que conviver em harmonia com o Legislativo. E nem tudo que eu apresento ao Legislativo é aprovado e nem tudo que o Legislativo aprova, vindo deles, eu tenho obrigação de aceitar para o lado de cá. Mas a tendência nossa é não sancionar isso daí em respeito ao trabalhador, ao contribuinte brasileiro.”


Acesso a processos – Por meio de requerimento, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), solicitou, ontem, ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), cópias dos 127 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. Alçado à condição de novo desafeto presidêncial, Ramos disse à cúpula do PL: “Não sou mais um deputado independente. Sou um deputado de oposição.” Nas redes sociais, o parlamentar voltou a rebater Bolsonaro. “O presidente é um mentiroso contumaz”, afirmou.





Tebet cresce na CPI e é nome forte como presidenciável

Por Hylda Cavalcanti

A nova figura da vez no Congresso Nacional não é integrante da base aliada do Governo, nem um nome histórico da esquerda e muito menos ligada ao Centrão. Trata-se da senadora Simone Nasser Tebet (MDB-MS), que com seu jeito discreto, mas oratória objetiva e ao mesmo tempo incisiva tem roubado a cena nas sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Com 51 anos, Simone, que é conhecida pelo preparo jurídico, sequer foi escolhida como titular desse colegiado, mas conseguiu direito a uma vaga informal como líder da bancada feminina e não perde uma única reunião. Nos últimos dias, passou a ser considerada peça fundamental para as tomadas de depoimentos e apuração das investigações pelos colegas.

Foi ela a responsável por conseguir fazer o deputado Luís Miranda (DEM-DF), que denunciou irregularidades nas negociações para compra da vacina Covaxin, pelo governo, dizer o nome do deputado que, segundo contou, foi citado pelo presidente Bolsonaro como possível envolvido no caso: o deputado Ricardo Barros (PP-PR). Isso, depois de horas seguidas com várias tentativas de outros senadores da CPI para retirar tal informação. “Não tenha medo, não se preocupe”, foi a palavra-chave que usou. “Percebi que ele já estava emocionalmente abalado”, explicou depois.

Citando sempre casos de vítimas de covid que tem observado no Mato Grosso do Sul, sua terra e entre pessoas próximas da própria família, como a antiga babá das filhas, Simone tem levado um ar de empatia e humanidade para as reuniões, mostrado aproximação com a realidade observada pelos parentes dos mais de 540 mil mortos e, até mesmo, certo instinto maternal.

Foi assim, por exemplo, no depoimento da diretora da Precisa Medicamentos Emanuela Medrades, quando lembrou que Emanuela poderia ser sua filha e pediu que colocasse “mais materialidade” nas informações que estava prestando. Depois desse alerta e de dizer que a depoente estava agindo como “a mão do gato”, usada para levar culpa por malfeitos, o depoimento passou a tomar outro rumo, mais colaborativo para com a CPI.

A senadora também tem protagonizado brigas ríspidas com bolsonaristas e seus aliados. Na quinta-feira (15), pediu ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) que silenciasse e a respeitasse, com uma reprimenda desafiadora: “o senhor não tem coragem de repetir o que me disse há pouco fora do microfone”. O colega, de fato, não repetiu o que falou – que até agora ninguém sabe o que foi.

Avaliação no MDB

Esse jeito durão e ao mesmo tempo doce já é conhecido desde 2015 quando Simone assumiu o mandato – seja no plenário, nas comissões técnicas (foi a primeira mulher a presidir a de Constituição e Justiça do Senado), durante sua participação na comissão do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 (quando atuou favorável ao afastamento da então presidente), e nos dois períodos em que topou o desafio de postular candidatura à presidência da Casa – ainda não chegou lá, mas quem sabe numa próxima?

De descendência libanesa, ela é filha do ex-senador pelo Mato Grosso do Sul Ramez Tebet. Não pensava em entrar na política no início da vida, quando cursou Direito, fez mestrado e deu aulas durante 12 anos, perfeitamente sintonizada com a carreira de jurista. Até que foi convencida por parentes e amigos a candidatar-se à prefeitura do município de Três Lagoas, onde nasceu. Administrou a cidade de 2004 a 2010, logo depois foi eleita vice-governadora do estado e, em seguida, chegou ao Senado. “As coisas aconteceram sem eu perceber e sem que buscasse isso”, chegou a comentar.

Casada com o deputado estadual Eduardo Rocha (MDB) e mãe de duas filhas, é do tipo que faz de tudo para preservar a privacidade. É difícil encontrar fotos de momentos íntimos do marido e filhas em suas redes sociais ou divulgadas pela imprensa. “Sou uma pessoa recatada, simples e muito família. Árabe tem disso”, definiu-se, numa entrevista. Considerada detalhista, costuma acordar sempre muito cedo para ler todos os projetos que vai discutir nas sessões e comissões, mesmo os que não sejam da sua relatoria.

Contradições

Se for avaliada como uma parlamentar do ponto de vista tradicional, a carreira de Simone poderia ser vista, anos atrás, como cercada de contradições. Nos dias atuais, entretanto, é difícil avaliar isso diante das tantas convergências e divergências expostas entre os parlamentares. A senadora pertence à bancada ruralista desde sempre. É autora de uma proposta que altera o Estatuto do Índio e que proíbe demarcação de terra indígena quando há conflito em áreas ocupadas.

Ao mesmo tempo, se diz com dificuldade de ser enquadrada como uma política de esquerda ou de direita (costuma dizer que possui tendências liberais ou progressistas, dependendo do assunto).

Conquistou os colegas de partidos da oposição sempre que se aliou a eles na votação de pautas pelo desenvolvimento regional ou de defesa de direitos femininos. Por outro lado, fez muitos adversários depois que resolveu apoiar o impeachment de Dilma Rousseff, anos atrás. Foi contra a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do pré-sal e rejeitou a abertura de 100% das empresas aéreas ao capital estrangeiro (esta última, pauta de um presidente emedebista que apoiou, Michel Temer).

Na última sexta-feira (16), durante divulgação do balanço dos trabalhos da CPI no primeiro semestre, o lado feminino foi taxativo: “não nos deram direito a uma cadeira lá, mas a voz feminina foi ouvida e fez diferença. Nos próximos dias estaremos analisando documentos públicos para voltar com ainda mais firmeza em agosto”.

Diretório do MDB já faz reuniões e pesquisas para tratar do tema

Diante das colocações que tem feito nos últimos meses e das repercussões sobre sua postura como parlamentar e política de abrangência nacional, a senadora Simone Tebet está sendo tida como um nome para disputar a Presidência da República pelo MDB em 2022.

No diretório nacional do partido, o assunto ainda é objeto de avaliações, mas nomes fortes na sigla defendem a pré-candidatura da senadora como a mais propícia para formar uma terceira via, de modo a quebrar a polaridade que se aguarda entre o presidente Jair Bolsnaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT) no pleito.

O tema é objeto de conversas tidas pelo atual presidente da sigla, deputado Baleia Rossi (SP) com diretórios estaduais da legenda desde o final de junho. E, também, de pesquisas que desde o dia 26 de junho já estão sendo realizadas nos estados brasileiros, junto aos filiados.

A questão, para os emedebistas, é analisar o peso que essa candidatura poderá ter para a própria legenda. Exercendo o final do seu mandato, a senadora tem grandes possibilidades de ser vitoriosa numa eleição para governadora do Mato Grosso do Sul em 2022 ou, na menor das hipóteses, ser reconduzida à vaga que ocupa hoje no Senado.

“Colocá-la na disputa maior, numa cabeça de chapa, poderá elevar o seu nome, mas é uma questão que precisa ser avaliada do ponto de vista de bons quadros com os quais a legenda precisará contar nos próximos anos, no Congresso e nos executivos estaduais”, afirmou um peemedebista que preferiu não se identificar.

Questionada sobre isso, a senadora admitiu que há uma busca dentro do MDB por uma terceira via, mas que esta não é sua “intenção nem vontade”. “Isso está sendo tratado dentro do partido sim, mas considero cedo para ser definido. Quero continuar atendendo o Mato Grosso do Sul no Senado e acho que o momento é de falarmos na pandemia e na vacina”, frisou, em tom cauteloso.

Nos bastidores, entretanto, ela tem deixado claro que vê a possibilidade como uma espécie de “missão” que venha a receber. Embora não ache que seja hora de se bater o martelo, os que a conhecem afirmam que, ao longo dos anos, Simone não tem sido dada a fugir das missões que recebe.

Crime já comprovado

Para a senadora, o crime de responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia já foi comprovado, pelos elementos identificados na primeira fase de apuração, tais como a adoção da tese da imunidade de rebanho e o atraso na compra de vacinas. “No caso da prevaricação, estamos ainda na antessala dessa discussão, mas as investigações estão caminhando. A prevaricação depende da comprovação dos crimes de corrupção”, destacou.

Primeira parlamentar a chamar de “propinoduto” as denúncias contra negociações feitas no Ministério da Saúde para a compra de vacinas contra a covid, a senadora aponta vários erros nas invoices (espécie de nota fiscal) apresentadas pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, e pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco. Após avaliação destes papeis, tem dito na CPI que foram “manipulados” e contêm “uma série de indícios de fraude”. “Não é mera narrativa”, tem ressaltado.

Também foi visto como “ousado” o gesto recente da senadora de, ao lado do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), enumerar todos os militares já apontados por possível envolvimento no curso das apurações. “Me parece aqui que havia no ministério alguns núcleos envolvendo agentes políticos e militares. As negociações nunca foram para comprar vacina e colocar no braço dos brasileiros”, afirmou.

A seu ver, Bolsonaro ficará para a história como um presidente “não só negligente, mas o pior que o Brasil já teve”.

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