Política : VACINA POR OURO
Enviado por alexandre em 15/04/2021 08:32:51

Associação Ianomâmi denuncia a troca de vacinas por ouro entre funcionários públicos e garimpeiros


A Hutukara Associação Yanomami, uma das maiores associações indígenas no Brasil, divulgou uma denúncia na terça-feira (13) contra servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). A informação, inicialmente dada pelo UOL, foi confirmada pela CNN. Segundo a nota, funcionários da secretaria supostamente estão vacinando garimpeiros contra a Covid-19 em troca de ouro extraído de forma ilegal. Um ofício foi enviado ao Ministério da Saúde e ao Ministério Público Federal no dia 8, informando que 26 mil doses da vacina, destinadas aos indígenas, foram desviadas.

O documento, destinado também ao secretário especial de Saúde Indíngena, Robson Santos da Silva, é assinado pelo vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa. De acordo com a solicitação, é afirmado que pelo menos dois funcionários seriam responsáveis pelos desvios dessas vacinas destinadas ao Dsei-Y (Distrito Sanitário Especial Indígena-Yanomami).

"É inadmissível que, em meio à insistente piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Indígena Yanomami e em plena pandemia da COVID-19, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenha seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que trabalham no garimpo ilegal", diz o ofício. 

 Kopenawa ainda lamentou o caso e ratificou os dados. "Essas informações são verdadeiras, passadas pelas lideranças desses locais. Nessas regiões é bem comum a troca de materiais por ouro, como remédios, e infelizmente, às vezes esses profissionais acabam se deixando levar”, colocou Dario Kopenawa.

Notícias falsas

Outro problema enfrentado pelos indígenas ianomâmis é a disseminação de notícias falsas e a não adesão dessas populações na campanha contra a Covid-19. Cerca de nove aldeias próximas aos garimpos estariam recusando a imunização por conta das “fake news”.

Segundo dados da associação, entre os 37 polos-base de saúde do território ianomâmi, apenas dois cumpriram a meta de 100% da população imunizada, e outros oito estavam com 0%, “apesar de terem recebido as doses”. Entre os 12.253 indígenas do Dsei-Y, aptos a receberam a vacina, apenas 69,7% receberam a primeira dose e 43% a segunda. 

“'Vocês, Yanomami, não podem tomar essas vacinas, porque o governo quer matar vocês’, é o que os garimpeiros estão espalhando e, por isso, os nossos parentes estão recusando as vacinas. Já as comunidades que não estão próximas ao garimpo, estão tomando”, afirmou Dario.

A Terra Yanomami é a maior em extensão do país, abrigando mais de 24 mil indígenas da etnia, de acordo com o Ministério da Saúde. O território fica na divisa entre os estados do Amazonas e de Roraima, na fronteira com a Venezuela, em uma área de 106mil km². 

 Segundo o último levantamento divulgado pelo Sesai, pelo menos, 13 indígenas ianomâmis morreram em decorrência de Covid-19 e sendo 1.499 casos confirmados da doença foram confirmados, com a maior parte registrada no estado de Roraima. Porém, de acordo com a dados da Rede Pró-YY (Pró-Yanomami e Ye’kwana) indicam que, até o último dia 05 de março seriam 21 mortes indígenas teriam morrido em decorrência da Covid-19.

O que diz o Ministério da Saúde

Por meio de nota divulgada após a divulgação do caso pela imprensa, a Sesai informou que “sempre manteve diálogo aberto com todas as etnias e se mantém empenhada em solucionar os problemas apresentados para prestar um melhor atendimento à população indígena.”

Além disso, a Sesai teria se reunido com lideranças indígenas, com a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami e com representantes do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI), no último dia 5 de abril, quando tomaram conhecimento do caso. 

“O Distrito está averiguando internamente onde ocorreu o fato e quais profissionais estariam envolvidos. Em caso de confirmação da suspeita, o DSEI Yanomami tomará medidas administrativas, como desligamento dos funcionários, e apresentará uma denúncia formal ao Ministério Público Federal para ação penal cabível”, diz a nota.  

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