Política : O IMUNDO
Enviado por alexandre em 01/09/2020 09:03:51

Como a tecnologia contra a corrupção ajudou a pegar Witzel
Por José Maria Trindade*

A grande novidade que pegou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e seus secretários, prefeitos e outras seis investigações é a inteligência artificial. O ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário, montou um sistema de monitoramento em tempo real. É a corrupção sendo acompanhada ao vivo. O sistema é complexo e atualizado constantemente, ou seja, o próprio programa aprende com irregularidades detectadas. Onde entra dinheiro federal, a CGU tem competência para acompanhar. Em cada ministério, um representante especializado foi implantado para acompanhar atos suspeitos. O que comanda mesmo o sistema é o programa de gerenciamento. Foi assim que o ministro Rosário entregou de bandeja o governador, secretários, vice-governador (agora em exercício) e presidente da Assembleia no Rio. O caminho do dinheiro foi de tal forma traçado que toda a malha do roubo no estado já estava desenhada. A casa caiu!

Alertas são disparados quando atos estranhos acontecem. Primeiro, as compras e volumes. Se a compra é maior do que o estado ou município demanda, o sinal é aceso. O fornecedor, se não é tradicional ou está em endereço inexistente: aviso na tela. Preços acima dos praticados pelo mercado e repetição de compras com mesmos fornecedores e concorrentes, demora no prazo de entrega ou a falta da confirmação da entrega, tudo gera o alarme. No caso do Rio de Janeiro, alertas foram para os mesmos grupos dominando os contratos e ligações entre eles. Aí entra o técnico humano que faz a apuração detalhada e já entrega para o Ministério Público e polícia dados precisos com indicações certas de “irregularidades”, que preferimos aqui chamar de roubo de dinheiro público, sem eufemismo.

Foi assim que as operações realizadas já tinham destino certo e pegaram os figurões com a mão na massa. Os processos antigos eram feitos muito tempo depois que o governante deixava o cargo. Agora não, as ações estão sendo imediatas, sem tempo para os ladrões de recursos suados colhidos de trabalhadores gastarem. Fica mais fácil: sem tempo para gastar o dinheiro ou apagar as provas, os agentes podem trabalhar com mais segurança e seguindo as marcas atuais e não pegadas antigas. Não é novidade o trabalho de esquentamento de dinheiro, chamado juridicamente de “branqueamento de capital”. O escritório de advogado se transformou no doleiro legal para entrada de produto de roubo. A OAB tem que decidir sobre isso, o advogado não está acima da lei ou do bem e do mal. Dinheiro roubado é sempre dinheiro roubado, menos para o advogado que não é obrigado a justificar a entrada de altas somas. Casos semelhantes já acabaram na cadeia. Duda Mendonça e João Santana foram presos por receberem dinheiro público roubado, em caixa dois e com recibo, dos investigados do Mensalão e da Lava Jato. É a mesma trajetória do dinheiro que vai para os escritórios dos advogados dos bandidos endinheirados. Todos eles.

Houve um tempo em que nós recebíamos relatos sobre corrupção e era a base para matérias importantes com denúncias graves. Depois, o tempo das gravações telefônicas. As fitas cassete reinavam e eram preciosidades nas mãos de jornalistas. A situação evoluiu para os CDs e depois imagens. Durante a CPI dos Correios pudemos ver a imagem deprimente da corrupção. Maurício Marinho, então diretor dos Correios indicado pelo PTB, recebia o bolo de dinheiro e guardava rapidamente a corrupção. Naquele momento, avaliei que no futuro veríamos corrupção ao vivo. Hoje já estamos chegando lá. A CGU acompanha em tempo real os indícios de corrupção e pode apostar, já estamos chegando ao momento de assistir uma live com roubo de dinheiro público exibido pela internet. Uma certeza de que carrego é a de que ela não será extinta, nunca.

*Repórter e comentarista de política



Witzel se diz inocente e acusa ex-secretário de se 'infiltrar' para corrupção


Guilherme Venaglia, da CNN, em São Paulo

O governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou, em entrevista exclusiva à CNN no início da noite desta segunda-feira (31), que é inocente das acusações que levaram ao seu afastamento do posto, determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Witzel alegou que "nenhum contrato" da Secretaria Estadual da Saúde passou por ele nem pela Procuradoria do Estado e que o responsável pelos desvios na área da saúde era o ex-secretário Edmar Santos.

Em delação premiada, Edmar acusou Witzel de envolvimento com o caso.

"Alguém que já era diretor do hospital Pedro Ernesto e infelizmente se demonstrou ao longo dessas investigações, como o grande operador de um esquema de corrupção na área da saúde", afirmou o governador afastado em referência ao ex-secretário. 

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"Ele já vem operando dessa forma com empresas desde 2016. Lamentável que tenha se infiltrado no nosso governo para poder continuar praticando seus atos ilícitos", completa, em entrevista aos âncoras Daniel Adjuto, Daniela Lima e Carol Nogueira e aos colunistas Leandro Resende e Renata Agostini.

Wilson Witzel definiu o suposto esquema de corrupção como "esse lamaçal que o Edmar trouxe para o meu governo".

A respeito da sua relação com o ex-secretário, Witzel afirmou que a nomeação de Edmar Santos foi "uma escolha técnica" e que não sabia da existência de um esquema de corrupção na pasta até a eclosão das investigações durante a pandemia do novo coronavírus.

Uma das afirmações dos investigadores é a de que o governador afastado do Rio teria recebido recursos de propina por meio de contratos com o escritório da sua esposa, a advogada Helena Witzel. "Isso tudo será demonstrado, pela defesa dela, que, na verdade, se trata de trabalho efetivo. Existe serviço prestado", disse o governador à CNN.

Witzel afirma que a sua esposa não sabia que empresas para as quais prestava serviços jurídicos seriam ligadas ao empresário Mário Peixoto, suspeito de pagar propinas para obter benefícios junto ao governo do estado. "Tanto que, assim que ela soube, ela rescindiu o contrato", afirma o governador afastado.


Em delação, ex-secretário de saúde do Rio detalha divisão da propina no governo


Iuri Corsini*, da CNN, no Rio de Janeiro
01 de setembro de 2020 às 08:25 | Atualizado 01 de setembro de 2020 às 08:53
Ex-secretário de Saúde do RJ afirmou que Witzel recebia 20% dos valores ilícitos

Em delação ao MPF, Edmar Santos afirmou que o governador Wilson Witzel recebia 20% da propina arrecadada em contratos da Saúde

Foto: Tomaz Silva -

Embora o governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), tenha negado o recebimento de qualquer valor ilícito em seu governo, em delação aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF), o ex-secretário de saúde, Edmar Santos, revelou como era o esquema da divisão de propinas no alto escalão do Governo. 

O conteúdo da delação de Edmar está descrito em 433 páginas do relatório do MPF da operação Tris in Idem, deflagrada na sexta-feira (28).

De acordo com o MPF, “os valores obtidos de forma ilícita na Saúde iam para um caixa único da organização criminosa. O pagamento de propina ao primeiro escalão do governo e a operadores se dividia na seguinte proporção: “30% para o então secretário de Saúde, Edmar Santos, 20% para [Wilson] Witzel, 20% para o próprio Pastor Everaldo, 15% para Edson Torres, e 15% para Victor Hugo Barroso”. 

Segundo o que relatou o ex-secretário aos procuradores, apesar do percentual menor em relação à Edmar, “Witzel recebia pagamentos advindos de esquemas ilegais de todas as pastas do Estado”.

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Com base nos dados levantados pelo MPF, se contabilizarmos apenas os valores ilícitos da Saúde, Witzel teria recebido em um ano R$ 20 milhões em propina. Em entrevista à CNN na segunda-feira (31), Witzel negou as acusações e se referiu a Edmar como "ridículo" e “doente mental”.

Em delação, o ex-secretário também afirmou que os pagamentos de propinas aconteciam em todas as pastas e não apenas na secretaria de saúde e que pelo menos dois secretários de governo recebiam mesadas fixas.

Os procuradores afirmam que, para se ter uma ideia do tamanho da organização criminosa supostamente encabeçada por Wilson Witzel, “levando-se em conta apenas o esquema criminoso montado para a contratação de Organizações Sociais (OS) na área de Saúde, o grupo pretendia angariar, de forma ilícita, cerca de R$ 400 milhões durante os quatro anos do mandato de Witzel”.

De acordo com o que consta na denúncia do MPF, as contratações das OS na Saúde movimentam anualmente cerca de R$ 2 bilhões (ou R$ 8 bilhões em quatro anos de mandato).

Os procuradores destacam que a maioria dos administradores das OSs contratadas são mencionados por Edmar Santos, em sua delação, como integrantes do esquema criminoso de desvio de verbas na pasta. Ainda de acordo com o MPF, o grupo tinha como método cobrar 5% de propina de todos os contratos firmados na área da Saúde.

(*sob supervisão de Maria Mazzei)

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