Análise Atritos, sutis ou explícitos, seguem dando o tom da relação entre Bolsonaro e Moro Foto: Jorge William / Agência O Globo O Globo - Por Miguel Caballero Os discursos começaram a semana afinados para diminuir a temperatura da crise, mas as atitudes mostram que os atritos, sutis ou explícitos, seguem dando o tom da relação entre Jair Bolsonaro e Sergio Moro. Primeiro foi o ministro, na segunda-feira, no humorístico “Pânico”, a declarar “encerrada” a possibilidade de ver amputada sua pasta da Justiça e Segurança Pública depois que Bolsonaro disse que a chance é zero, “no momento”, de separar as duas áreas. Ontem o próprio Bolsonaro fez sua parte no armistício diante dos microfones, avaliando que nem ele nem o auxiliar “morderam a isca” de alimentar uma mútua desconfiança. Nem sempre as palavras correspondem aos atos. Horas antes da fala de Bolsonaro, a Advocacia-Geral da União (AGU) defendeu em três ações, no Supremo Tribunal Federal (STF), a lei que institui o juiz de garantias. Esta foi uma das recentes contendas entre Moro e Bolsonaro. Contrário à lei, o ministro da Justiça não teve voz para determinar a posição do governo, algo já exposto quando o presidente sancionou a legislação. Se, na ocasião dos juiz de garantias, Moro foi explícito ao manifestar contrariedade, ontem seu gesto foi levemente mais sutil. E veio através de seu perfil no Instagram, uma novidade que incomodou o entorno do presidente, pelo que foi considerado um excesso de exposição pública do ministro. A foto de ontem registrava uma “visita institucional” à 7ª Vara Federal do Rio, onde o juiz Marcelo Bretas preside as investigações em primeira instância do braço fluminense da Lava-Jato. Moro se fez acompanhar do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, pivô de outro conflito entre presidente e ministro. Em agosto, Bolsonaro sugeriu que poderia trocar o diretor da PF sem consultar Moro, uma medida que ainda é popular entre alguns aliados. Na simbologia política, a imagem valeu mais que as palavras apaziguadoras, e Moro deixou o recado de fortalecer Valeixo. Vinculá-lo à Lava-Jato encarece o custo político de uma eventual demissão pelo presidente.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub é advertido por Comissão de Ética por comentário sobre Lula e Dilma Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Estadão Conteúdo A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu ontem, por unanimidade, punir o ministro da Educação, Abraham Weintraub, com uma advertência. Em reunião fechada, o colegiado recomenda que Weintraub se “atente aos padrões éticos em vigor” segundo voto do relator ao qual a reportagem teve aceso. O ministro virou alvo da comissão em setembro, quando, a pedido dos deputados Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Paulo Pimenta (PT-RS), foi aberto um procedimento para apurar se houve desvio de conduta por publicações de Weintraub contra os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do PT. O processo na comissão questionava críticas feitas aos ex-presidentes do PT após o episódio do militar flagrado com 39 quilos de cocaína em avião da Força Aérea Brasileira (FAB) – que fazia parte da comitiva de apoio ao presidente Jair Bolsonaro em junho. O ministro também relacionou Lula e Dilma às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Tranquilizo os "guerreiros" do PT e de seus acepipes (sic): o responsável pelos 39 kg de cocaína NADA tem a ver com o Governo Bolsonaro. Ele irá para a cadeia e ninguém de nosso lado defenderá o criminoso. Vocês continuam com a exclusividade de serem amigos de traficantes como as FARC”, afirmava Weintraub em uma das publicações. “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”, escreveu ele em outra postagem à época. Relator do caso, o conselheiro Erick Vidigal escreveu em seu voto que não é esperado de um ministro da Educação o “papel” de uma autoridade “impulsiva, destemperada, que ofende quem quer que critique”. Vidigal também criticou uso do “cargo público” para “ampliar a divisão existente atualmente na sociedade brasileira, incitar o ódio, a agressividade, a desarmonia”. As punições impostas pela Comissão de Ética têm caráter administrativo, como advertência e censura ética. Dependendo da gravidade, é possível sugerir a demissão do cargo. As recomendações, porém, não precisam ser acatadas pelo governo. Em sua defesa, Weintraub apontou “audácia e a falta de vergonha dos subscritores da denúncia”, referindo-se aos deputados do PT. O ministro disse ainda que caberia “uma série de qualificações ainda mais contundentes” aos ex-presidentes, como “bandido, criminoso, presidiário e marginal, dentre outros (a Lula), e à outra (Dilma), críticas ainda mais mordazes do que ser chamada meramente de ‘uma droga’, por meio indireto”. “Quem comete crime pode tranquilamente ser chamado de ‘uma droga’, afinal, o crime é algo que merece supremo repúdio legal e social, ao passo que a referida expressão remete a um sentimento de desaprovação muito mais suave”, escreveu a defesa de Weintraub. O ministro pediu ainda o arquivamento do caso e suspeição do relator. O conselheiro Erick Vidigal era funcionário da Secretaria-Geral da Presidência, mas pediu demissão no dia anterior a abertura de processo contra Weintraub, após mais de três anos no governo. Apesar disso, ele possui mandato no colegiado até 2021. À época especulou-se que Arthur Weintraub, irmão do ministro e assessor do presidente Bolsonaro, poderia assumir uma vaga na Comissão de Ética. Outros casos Segundo apurou o Estadão/Broadcast, há intenção de abrir outros dois procedimentos contra Abraham Weintraub, como por chamar o presidente da França, Emmanuel Macron, de calhorda oportunista e sem caráter; em outro caso, por ele ter dito, também nas redes sociais, que “petista só enriquece roubando”. Os pedidos de apuração, no entanto, ainda não foram deliberados.
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