Política : RANZINZA
Enviado por alexandre em 15/11/2019 19:54:09

Lula não quer ceder espaço na esquerda

Lula em reunião da executiva do PT, em Salvador | Ricardo Stuckert/PT
Lula não larga o osso

 

O Globo - Por Bernardo Mello Franco 

Lula não larga o osso. Seis dias depois de deixar a cadeia, o ex-presidente deixou claro que não está disposto a ceder espaço na esquerda. “O PT não nasceu para ser um partido de apoio”, justificou.

Em Salvador, Lula comparou o PT à locomotiva de um trem. “Sabe quem polariza? Quem disputa o título”, disse. Ele lembrou que a sigla polarizou todas as corridas presidenciais desde o fim da ditadura. “E vai polarizar em 2022”, acrescentou.

Empolgado, o ex-presidente antecipou os planos para a próxima eleição. Indicou que prefere lançar um novo poste a apoiar alguém de outro partido. “Posso subir a rampa em 2022 levando o Haddad, levando o Rui, levando outros companheiros”, disse.

Em seguida, ele ironizou as queixas de Ciro Gomes, que saiu injuriado da disputa de 2018. Na visão do pedetista, o PT deveria ter desistido de lançar candidato para apoiá-lo. Lula provocou: “Ele acha que o Bahia vai amolecer para o Vitória?”.

O discurso de ontem frustrou quem esperava alguma mudança na cabeça do ex-presidente. Aos 74 anos, ele continua decido a não ceder nenhum milímetro a possíveis concorrentes. Quem não pedir sua bênção será tratado como adversário.

O lulocentrismo barra o surgimento de novos líderes no campo progressista. A esquerda brasileira orbita em torno do ex-presidente desde 1989. Quem tenta emitir luz própria, como Eduardo Campos e Marina Silva, acaba varrido para fora do jogo.

No fim de outubro, dirigentes de PDT, PSB, PV e Rede começaram a articular uma frente alternativa ao petismo. A ideia é juntar forças nas eleições municipais de 2020. Se funcionar, as quatro legendas voltariam a se unir na corrida presidencial.

No discurso de ontem, Lula afirmou que “não existe no mundo nenhum partido similar ao PT”. Em outra passagem, ele se recusou a reconhecer os erros do partido. “Quem quiser que o PT faça autocrítica, faça a crítica você”, provocou.

A plateia vibrou com a tirada. Bolsonaro também deve ter gostado.



Chile vai fazer plebiscito sobre nova Constituição

Nova Carta era uma das principais demandas dos manifestantes que protestam há quatro semanas.

Foto: IVAN ALVARADO / REUTERS

O Globo - Por André Duchiade e agências internacionais

 

Congressistas do Chile concluíram um acordo que vai dar início ao processo para criar uma nova Constituição, uma das principais demandas das manifestações que há semanas dominam as ruas do país. O acerto só foi obtido após uma autêntica maratona de negociações entre representantes de todas as siglas do Parlamento.

O principal ponto é um plebiscito, que será realizado em abril e terá algumas opções, começando pela pergunta principal: se a população quer ou não mudar a Carta Magna, adotada em 1980, durante a ditadura de Augusto Pinochet. Depois, o eleitor, caso concorde com a mudança, decidiria quem formará a Constituinte, se uma convenção, mista, com 50% de atuais congressistas e 50% de novos integrantes, ou se através de uma Assembleia Constituinte exclusiva a ser eleita. Ao fim do processo constituinte, a nova Constituição será submetida a um novo plebiscito.

A atual carta recebeu dezenas de emendas desde que foi adotada, em 1980, porém, na visão de muitos chilenos, ela não trata de maneira ampla sobre o papel do estado em temas como a eduação, saúde e previdência — esse um ponto de severas críticas na sociedade local.

Inicialmente o presidente Sebastián Piñera era contrário a uma reforma constitucional, chegando a barrar uma iniciativa nessa linha apresentada pela ex-presidente Michelle Bachelet. O plano incluía a inviolabilidade dos direitos humanos, o estabelecimento do direito à saúde e à educação, e a igualdade salarial para homens e mulheres. Contudo, após o acirramento dos protestos, Piñera cedeu, aceitando a ideia de uma nova carta, porém ainda contrário a uma Assembleia Constituinte. Para seus opositores, a participação popular mais ampla daria legitimidade ao novo texto.

Uma nova Constituição, segundo Sthephanie Alenda, da Universidade Andrés Bello, é “imprescindível” para reduzir as tensões no país. Ao longo dos protestos, ela diz, se instaurou um consenso na população de que o país precisa de uma nova Carta. Pesquisas mostram que mais de 80% da população apoiam a mudança constitucional.

— Não penso que a mudança será mecânica ou automática, mas um acordo deve ter efeito de diminuir os protestos — disse ela ao GLOBO, destacando contudo que a violência segue “outra lógica”, contra o Estado e que esta é imprevisível.

Segundo Gabriel Negretto, cientista político da Universidade Católica, uma nova Constituição é fundamental para apaziguar as ruas, mas mesmo assim há demandas imediatas que não irão esperar o processo constituinte, que, segundo ele, deve demorar entre 6 meses e um ano.

— Oferecer o caminho de uma nova Constituição em parte deve servir para distender um pouco os ânimos, aplacar um pouco os ânimos.  Mas há exigências que se acumulam e que não vão esperar. Sem serem excludentes da resposta constitucional, são mais imediatas — ele afirma.

Entre estas demandas imediatas citadas pelo pesquisador estão violações de direitos humanos por parte das forças da ordem e uma agenda de reformas sociais.

Em caso de Assembleia Constituinte, diz o pesquisador, o momento é muito favorável à esquerda, que está dividida. Embora a Coalizão de Partidos pela Democracia (Concertación), de Michelle Bachelet, não viva um momento particularmente favorável, ela deve crescer. Quem deve obter resultados particularmente favoráveis, segundo o analista, é a Frente Ampla, fundada em 2017 e que surpreendeu na eleição presidencial daquele ano, quando obteve 20% dos votos.

O acordo em que X % dos deputados constituintes vêm do voto popular e X são oriundos do atual Congresso, neste sentido, foi o caminho encontrado por Piñera para manter sua força representativa.

— Há muitos partidos que querem uma Assembleia Constituinte totalmente eleita [do zero] porque é claro que o partido do governo irá perder a eleição. O governo é reativo a uma Assembleia Constituinte totalmente eleito porque está em situação política muito desfavorável.

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