Arroubos afastam conservadores, estimulam oposição e ampliam dependência de Bolsonaro do centrão
Daniela Lima – Painel – Folha de S.Paulo
Os últimos arroubos de Jair Bolsonaro redefiniram os planos de diversos setores da política. O PSDB traçou uma linha no chão, afastando-se da retórica do presidente.
Dividida, a esquerda sabe que é cedo para falar em impeachment, mas tenta dar forma a um movimento anti-Bolsonaro nas ruas —o PT programa caravana em agosto
Quem não reagiu explicitamente (DEM, PP, PL e PRB) prega uma relação ultrapragmática com o Planalto, centrada no Congresso e desconectada do governo.
Dirigentes do PSDB dizem que o movimento feito pelo governador de SP, João Doria, era “inevitável” —o tucano se apartou da narrativa de Bolsonaro.
A cúpula do partido afirma que o presidente extrapolou o prazo para fazer sua curva de aprendizado.
Ou seja: acha que ele não muda e quer pintar as diferenças com cores fortes.
Ex-militantes acusados por Bolsonaro de matar Fernando Santa Cruz farão queixa-crime
Sobrevivente daquele período procura ex-colegas e advogados para apresentar causa no STF
Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo
Ex-militantes da AP (Ação Popular), organização acusada por Jair Bolsonaro de assassinar Fernando Santa Cruz, o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, vão apresentar uma queixa-crime por calúnia contra o presidente ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Um dos sobreviventes daquele período, o cientista social Anivaldo Padilha, 79, está entrando em contato com outros ex-colegas e com advogados que possam assumir a causa.
“Nestes tempos de fascismo, de destruição do inimigo, de ódio, ele [Bolsonaro], com suas mentiras, nos coloca em risco. Nos deixa vulneráveis a agressões e ataques”, afirma Padilha.
PURA MENTIRA
O cientista político, que ficou exilado em Genebra, na Suíça, nos anos de chumbo, rebate ainda a afirmação de Bolsonaro de que a organização era um grupo sanguinário. “A AP nunca esteve envolvida na luta armada”, diz.
“Mas, na época, isso não importava. Tanto que dizimaram o Partido Comunista, que era contra a luta armada”, afirma Padilha. Dirigentes da AP também foram presos, torturados, mortos ou exilados.
Nos anos em que viveu na Suíça, Anivaldo Padilha trabalhou no Conselho Mundial de Igrejas. Era ele quem recebia e arquivava documentos sobre tortura que deram origem ao projeto Brasil: Nunca Mais, com a memória do período.
E a Frente Povo Sem Medo, liderada por Guilherme Boulos, organizará um ato na próxima segunda (5) em defesa das vítimas da ditadura e da liberdade de imprensa. A concentração será no Masp. A ideia é, de lá, caminhar até o antigo DOI-Codi.