Esporte : Tu acredita?
Enviado por alexandre em 11/07/2011 16:23:40



Pai-de-santo descreve em livro "trabalhos" que fez para grandes clubes brasileiros
Mauricio Stycer
Em São Paulo

Quatro de dezembro de 1976, 22h. Numa suíte do Hotel Nacional, em São Conrado, no Rio, o pai-de-santo Roberto Barros, mais conhecido como Pai Guarantã, promove uma “reunião espiritual” com a presença de Vicente Matheus, presidente do Corinthians, Davi Ferreira, o Duque, técnico do time, e todos os jogadores escalados para a partida do dia seguinte, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro, contra o Fluminense, no Maracanã.

Durante o encontro, relata Pai Guarantã, o atacante Geraldão é “tomado” por uma “entidade” e pede uma garrafa de cachaça. O pai-de-santo também “incorpora” um exu e diz a Duque que o Corinthians iria ganhar a partida nos pênaltis.

Ao final da sessão, o médico do Corinthians observa que o atacante da equipe está alcoolizado. “Não se preocupe, doutor. O efeito passará e o Geraldão estará bom para o jogo de domingo”. Em seguida, o pai-de-santo vai à praia, onde acende, com a ajuda de assistentes, seis mil velas.

O jogo, como se sabe, terminou 1 a 1 e foi vencido pelo Corinthians nos pênaltis. Uma semana depois, a despeito do esforço de Pai Guarantã, a equipe paulista perdeu a final do Brasileiro para o Internacional.

O “trabalho” em favor do Corinthians é um dos muitos que Pai Guarantã, hoje com 81 anos, descreve em “Magias do Futebol” (Ícone editora, 152 págs. R$ 24), livro recém-lançado. Segundo contou ao UOL Esporte, decidiu fixar seus feitos porque se deu conta que “muita gente não sabia do ocorrido”.

“Se macumba ganhasse jogo...”

A presença de pais-de-santo no ambiente do futebol sempre alimentou especulações e fofocas. O seu efeito real é contestado numa frase famosa, atribuída a Neném Prancha, mas na realidade de autoria do jornalista e técnico João Saldanha (1917-1990): “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminava empatado”.


Capa do livro "Magias no Futebol", assinado por Pai Guarantã

Pai Guarantã sorri ao ouvir a frase de Saldanha. Em seu livro, o pai-de-santo relata, sem reservas, situações em que atuou por times sem conseguir bons resultados. Foi o caso, por exemplo, da final da Libertadores de 1974, entre São Paulo e Independiente, vencida pelos argentinos numa melhor de três.

No último jogo, em Santiago (Chile), o jogo estava 1 a 0 para o Independiente quando o São Paulo teve um pênalti a seu favor. Poy mandou Zé Carlos bater. “Senti que ele não estava bem espiritualmente”, escreve Pai Guarantã. “E gritei para o Poy deixar o Forlan bater, mas acho que ele não me ouviu e o inevitável aconteceu”. O jogo terminou 2 a 0 para os argentinos.

Como provar se esta e outras histórias contadas pelo pai-de-santo são verdadeiras? É muito difícil. Não há registros da maioria. Pai Guarantã desafia os protagonistas a desmenti-lo. “Todo mundo sabe o que fiz. Todos os jogadores sabem”, diz, por exemplo, sobre o elenco do Guarani, campeão do Brasileiro de 1978.

O pai-de-santo acompanhou a equipe de Zenon, Careca & Cia por quase todo o campeonato. Fez sempre, assegura, apenas trabalhos “positivos”, de apoio, e nunca de “magia negra”, contra os adversários. “Formava uma auto-defesa. Eu positivava o time. É um segredo meu”, diz.

Duelo de titãs: Pai Santana x Pai Guarantã

Em algumas situações, é verdade, se viu obrigado a “desmontar” trabalhos contra a equipe que protegia. Isso aconteceu, por exemplo, na semifinal de 1978, disputada contra o Vasco. “Um duelo de titãs”, escreve. De um lado, o célebre Pai Santana, vascaíno até a alma. Do outro, Pai Guarantã, trabalhando pelos bugrinos.

DUELO COM VASCAÍNO

Pai Guarantã enfrentou lendário Pai Santana em diversos clássicos místicos

Entre tantos feitos do pai-de-santo, um dos mais surpreendentes foi a “visão” que teve em 1990. Questionado, dois meses antes do final do Campeonato Paulista, sobre quem o venceria, Pai Guarantã afirma ter vaticinado que a final seria entre Bragantino e Novo Horizontino, o que de fato ocorreu.

Há, ainda, relatos de “trabalhos” de Pai Guarantã em favor do Flamengo (na final do Carioca de 1978, vencido contra o Vasco com gol de Rondineli), do Corinthians em diferentes momentos da história do time e, até, para o Atlético-PR campeão brasileiro em 2001. O pai-de-santo garante que nunca cobrou pelo trabalho, apenas aceitou doações ao seu terreiro.

“Tenho uma mão”, diz. “Não sei o que é, não sei de onde vem. Mas é meu”. Acredite se quiser.

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