Mais um voto de confiança As manifestações pró-Bolsonaro, ontem, nos principais centros do País, superaram as expectativas dos organizadores e do próprio Governo. O sucesso reforçou uma dupla leitura: quem trocou o descanso do domingo em casa pelo ato verde e amarelo nas ruas deu mais um voto de confiança a um Governo repleto de tropeços administrativos e deslizes políticos ao mesmo tempo evitou que Bolsonaro passasse pelo vexame de atrair uns gatos pingados, o que o fragilizaria muito mais. No poder, é muito arriscado convocar o povo para protestos. Abalado pelo impeachment, Collor pediu para a população ir às ruas de verde e amarelo. O tiro saiu pela culatra: os brasileiros foram de preto. São casos diferentes, mas com uma semelhança: ambos queriam dar demonstração de força ao Congresso. Bolsonaro deu, mas nem seus líderes estão confiantes de que, depois de ontem, as relações com o parlamento melhorem. Defesa de Moro – No Recife, a Avenida Boa Viagem ficou estampada com as cores da bandeira do Brasil de um canto a outro. Os organizadores calcularam em 65 mil manifestantes. A Polícia Militar não se arriscou a fazer estatísticas. Houve faixas condenando o Centrão, os partidos de esquerda e um grande coro em favor do ministro da Justiça, Sérgio Moro, alvo de derrotas na Câmara.
Postado por Magno Martins às 05:56 Atos em defesa do governo tendem a dificultar ainda mais a relação com o Congresso Folha de S.Paulo – EDITORIAL Com apenas cinco meses de governo, contam-se manifestações de rua contra e a favor de Jair Bolsonaro (PSL) e sua agenda. As últimas, neste domingo (26), transcorreram sem maiores incidentes violentos e pregações antidemocráticas, mas ainda assim reforçam o clima precoce de exaltação. A esta altura, pouco seria possível esperar de uma administração além do anúncio dos primeiros planos e do início de um diálogo com o eleitorado em geral e o Congresso em particular. Dá-se o contrário, entretanto. O presidente incita o conflito político, como mais uma vez ficou claro com suas declarações em redes sociais, por meio das quais, sem dúvida, associou seu prestígio aos atos de diversas cidades. Nesse aspecto, o saldo da passeata governista ficou entre neutro e negativo. Não houve fiasco de público, notadamente na capital paulista. Mas a presença expressiva de cidadãos nas ruas a exercer seu direito de expressão —como houve até em apoio a Dilma Rousseff, nos estertores do governo petista— nem de longe representa declaração de respaldo popular inconteste. Trata-se antes de evidência da divisão nacional e da discórdia até entre movimentos que apoiaram a eleição do presidente. Houve críticas ou insultos mesmo entre parlamentares governistas. Bolsonaro, pois, ficou um tanto mais isolado também à direita do espectro político. A manifestação, de resto, tende a prejudicar ainda mais a relação com o Legislativo. Nos protestos de pautas variadas ouviram-se críticas insistentes aos partidos do famigerado centrão e ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que dá apoio às mais importantes reformas econômicas propostas ou pretendidas por Bolsonaro. O chefe do Executivo prefere o ambiente de campanha eleitoral. Promove a política plebiscitária, a pressão de ruas e rede sociais em detrimento da mediação institucional e da negociação parlamentar —que chama de velha política. Escreveu neste domingo, em tom messiânico, que os manifestantes teriam “o firme propósito de dar recado àqueles que teimam, com velhas práticas, [em] não deixar que esse povo se liberte”. Nota-se que o mandatário e seu entorno mais extremista ainda alimentam a ambição de “quebrar o sistema”, uma ideia nebulosa que cria instabilidade política e receio de ameaças às instituições. Bolsonaro não conseguiu demonstração ampla e inequívoca de apoio, mas estimulou o espírito de facção no país e o clima de mal-estar que obstrui o Congresso. No mínimo, contribui para reforçar os motivos do impasse político e acentuar a incerteza econômica com conflagração ideológica. Nada disso se parece com governar um país complexo e plural.
Além de exaltar os atos nas redes sociais, Bolsonaro enviou mensagens pelo WhatsApp a ministros enaltecendo as manifestações. Em uma delas, abaixo de foto de uma senhora idosa, escreveu: “Vamos discutir governabilidade como adultos?”. Aliados do presidente interpretaram a mensagem como um pedido para que o Congresso seja “maduro” como os que foram às ruas defender a reforma da Previdência, pauta que divide bastante o eleitorado. (Painel – FSP)
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