Regionais : Viaturas policiais viram cadeia no Rio Grande do Sul
Enviado por alexandre em 30/04/2019 08:57:36


Presos são algemados em veículos policiais por falta de vaga em presídios.

No estacionamento em frente ao Palácio da Polícia, em Porto Alegre, carros estacionados se somam com viaturas que não estão só de passagem. Há mais de uma semana presos estão detidos nos veículos policiais por falta de vagas nos presídios do Rio Grande do Sul.

Nas viaturas, de modelo Renault Duster, que têm capacidade para cinco pessoas, os presos são algemados no volante, nas portas e dentro do camburão. Dormindo sentado nas poltronas ou na parte traseira do veículo, sem poder tomar banho, os dias que estão detidos ali variam para cada deles e a cada dia mais vai aumentando. Segundo a Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários), até a última quinta-feira (25/4), o déficit de vagas nos presídios do estado é de 13 mil.

A guarda é feita por brigadianos (policiais militares, no RS), que não estão autorizados a falar com a reportagem e muito menos dar permissão para qualquer contato com os detidos. Ao passar de um lado de uma viatura mais afastada, um preso fala de dentro da gaiola:

— Tu é da TV? Tem como ligar ‘pra’ minha irmã trazer um casaco? O número é [ele fala o telefone].

É outono e, mesmo com os dias alcançando temperaturas de até 28 graus, as noites gaúchas começam a ficar frias, chegando até 18 graus.

Um policial percebe a tentativa do preso e diz para eu sair de perto: “se der bola, ele passa a tarde todo falando contigo aí”. Outra policial chega e diz para eu me afastar, pois “o preso está sob custódia do Estado e não pode falar com ninguém”.

Em outro espaço do estacionamento, a mãe de um dos detidos tenta falar com o filho, mas também é barrada pelos policiais. “É uma situação muito difícil. Meu filho está aqui há três dias, mas sei que vai ficar muito mais porque não tem vaga. Trouxe um moletom e umas meias, porque de noite é frio, mas não deixaram eu entregar. Não ‘tô’ pedindo para ele não pagar pelo o que ele fez, só quero que ele seja tratado com o mínimo de dignidade’, contou a mãe, que preferiu não divulgar o nome.

O problema soma ainda questões de saúde, pois entre eles há pessoas com tuberculose. Elisângela, irmã de um dos presos, contou à reportagem que o irmão estava fazendo tratamento para tuberculose antes de ser detido, porém não pode continuar por ter sido preso.

Isolado no camburão, Marcos* tosse bastante. Faltando menos de um ano para ser solto, ele estava no regime semiaberto e trabalhava com a irmã em um negócio próprio de funilaria quando ultrapassou o perímetro permitido pela Justiça para fazer uma entrega, conforme relatou Elisângela. “A minha mãe falou com os policiais que ele ‘tava’ fazendo tratamento de tuberculose e que precisava continuar. A situação da saúde dele é grave, temos medo dele morrer assim só porque não pode continuar o tratamento. Não é só ele que ‘tá’ nessa situação, eles ‘tão’ sendo tratados que nem bichos. É desumano demais”.

A situação não é exclusividade da capital gaúcha. Na sexta-feira (26), até às 16h, o DPA-RS (Departamento de Polícia Metropolitana) registrava 70 pessoas presas em viaturas e 71 em delegacias em todo o estado. Com informações do jornal El País.

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