Política : FOGO AMIGO
Enviado por alexandre em 25/04/2019 08:50:00

Bolsonaro atiça o filho contra o seu vice general Mourão diz, partidos
Daniela Lima - Painel - Folha de S.Paulo

A constatação de que o tiroteio sobre o vice Hamilton Mourão não vai cessar preocupa dirigentes de siglas que tentam se aproximar do Planalto.

Comandantes desses partidos dizem já não ter dúvidas de que os ataques de Carlos são não só avalizados como estimulados por Jair Bolsonaro.

Eles avaliam que o presidente embarcou em teoria conspiratória e dá, em privado, razão à ofensiva protagonizada pelo filho. O desfecho da nova crise produzida pelo governo, afirmam, é imprevisível.

A guerra aberta contra o vice reacendeu críticas de dirigentes políticos ao presidente. Bolsonaro voltou a ser chamado de “despreparado”, e a esse adjetivo somaram-se outros, como “inconsequente”.



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Estado de S.Paulo

O fogo amigo continua alto no Palácio do Planalto. Embora o presidente Jair Bolsonaro peça mais sintonia e menos ruído na equipe, nos bastidores ele também critica o vice Hamilton Mourão. Pouco antes de a nova ofensiva contra Mourão vir à tona, o próprio presidente fez reparos à atuação do general, durante um voo de Brasília para o Rio, em conversa com senadores e um deputado. A impressão de passageiros daquela comitiva foi a de que, para Bolsonaro, Mourão se movimenta como uma espécie de presidente paralelo, mais interessado em holofotes.

A viagem ocorreu no último dia 11, após a cerimônia para comemorar cem dias de governo. O Estadão ouviu três parlamentares que estavam no voo e, sob a condição de anonimato, todos confirmaram o incômodo do presidente com o vice. Naquele dia, Bolsonaro foi ao Rio para assistir a uma palestra do pastor John Hagee e participar de um almoço do Conselho de Ministros Evangélicos do Brasil.

Descontraído, acima das nuvens, Bolsonaro apresentou ali vários problemas com o vice que, nove dias depois, apareceram nas redes sociais do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Ele não gostou, por exemplo, de Mourão ter aceitado fazer palestra no Wilson Center, nos EUA, no dia 9, após receber um convite dizendo que os primeiros cem dias do governo foram marcados por uma “paralisia política”. A convocação também elogiava o vice, tratado como “uma voz de razão e moderação, capaz de orientar a direção em assuntos nacionais e internacionais”.

No “voo da queimação”, como ficou conhecida aquela viagem entre os passageiros, Bolsonaro lembrou que havia convidado o general em cima da hora para ser seu vice, no ano passado, porque tinha certeza de que o então presidente do PSL, Gustavo Bebianno, queria a vaga. A convicção vinha do fato de que todo político chamado na campanha para fazer dobradinha com ele era “fuzilado” no outro dia pelos jornais. Bolsonaro concluiu, então, que Bebianno detonava todos os candidatos a vice e agia como um “traidor” para ocupar o posto.

Nomeado ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Bebianno foi demitido em fevereiro, após uma queda de braço justamente com Carlos, o filho “zero dois”, que hoje direciona sua artilharia contra Mourão. Os ataques foram puxados pelo escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, que no sábado publicou um vídeo com ruidosas críticas aos militares. Ao se referir à ala fardada do governo, Olavo disse que “cabelo pintado e voz empostada” são a heranças das escolas dirigidas por “milicos”. O vídeo chegou a ser postado no canal de Bolsonaro no YouTube, mas depois foi apagado. Irônico, o vice respondeu que Olavo “deve se limitar à função que desempenha bem, a de astrólogo”.

União

No bate-papo durante a viagem de pouco mais de uma hora ao Rio, após deixar a cerimônia na qual Mourão estava a seu lado, Bolsonaro disse ter certeza de que muitos no governo agem para afastá-lo de seus filhos. Assegurou, no entanto, que ninguém conseguirá separá-lo de Carlos, do deputado Eduardo (PSL-SP) e do senador Flávio (PSL-RJ). Em entrevista ao Estado, nesta quarta-feira, Eduardo afirmou que Mourão tem causado ruído no Planalto por causa de suas declarações polêmicas. 

Na prática, Olavo de Carvalho e os filhos de Bolsonaro avaliam que o vice está em campanha e quer o lugar dele. No Twitter, nesta quarta-feira, Carlos voltou a dirigir farpas a Mourão. “Vice contraria ministros e agenda que elegeu Bolsonaro presidente”, escreveu ele. Antes, o vereador já havia considerado “estranhíssimo” o alinhamento do vice com “políticos que detestam o presidente”, citando a defesa que Mourão fez do ex-deputado Jean Wyllys.

“Esse tipo de comunicação por redes sociais não contribui em nada”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos que estavam no voo com Bolsonaro. “O governo tem muito dever de casa a fazer para ficar administrando esse tipo de confronto.” Além de Sóstenes, participaram da comitiva o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), os senadores Marcos Rogério (DEM-RO), Zequinha Marinho (PSC-PA) e Vanderlan Cardoso (PP-GO), o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e Pastor Everaldo, que comanda o PSC. O pastor se sentou ao lado de Bolsonaro no avião. 

Mourão disse a interlocutores que considera “absurda e descabida” a desconfiança sobre ele. “Estou aqui para ajudar. Não sou desleal”, reagiu o vice, negando que suas ações tenham no horizonte a disputa para as eleições de 2022. “Isso não existe. Não vou me candidatar. Há muito envenenamento nessa história.”

O Planalto não quis comentar as críticas feitas por Bolsonaro na viagem do dia 11 ao Rio. Na tentativa de mostrar que não há atrito entre os dois, o presidente convidou Mourão para descer com ele, nesta quarta-feira, 24, a rampa interna da sede do governo e pôs a mão em seu ombro. “Estamos juntos”, disse.

Generais próximos de Bolsonaro tentam pôr panos quentes na crise, mas, a portas fechadas, admitem que Carlos está “incontrolável”.



Olavo diz que Bolsonaro o transformou em boi de piranha

O escritor Olavo de Carvalho publicou uma reclamação contra o presidente da República nesta tarde de quarta, 24, em rede social. Ele agradeceu, em tom irônico, “a chance que o senhor me deu de ser o seu boi-de-piranha”, em referência ao primeiro posicionamento de Jair Bolsonaro, por meio de nota, contra os ataques do polemista que mora na Virgínia (EUA) ao vice Hamilton Mourão e aos militares do governo. No manifestação, o presidente afirmara que as declarações de Olavo “não contribuem” para o “projeto de governo”.

Na postagem de hoje, sem fazer menção direta à nota, Olavo acrescenta que o presidente deixa nas suas costas “pelo menos metade das pancadas que lhe eram dirigidas e em seguida sendo acusado de ter o comportamento divisionista que de fato é o do seu querido vice-presidente”.  (Estadão)

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