Política : EM RISCO
Enviado por alexandre em 18/04/2019 08:48:17

Discurso de ódio contra jornalistas cresce no mundo, inclusive no Brasil

O discurso do ódio contra os jornalistas se transformou em violência, o que levou a um aumento do medo em exercer a profissão no mundo. É o que mostra a edição de 2019 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, publicado nesta quinta-feira pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF). Ameaças, insultos e agressões fazem agora parte dos “riscos ocupacionais” da profissão em muitos países, incluindo o Brasil, que caiu três posições no ranking e ocupa o 105º lugar, cada vez mais próximo da zona vermelha da classificação (que indica situação difícil para profissionais de imprensa).

— Se o debate político desliza, de forma discreta ou evidente, para uma atmosfera de guerra civil, onde os jornalistas se tornam bodes expiatórios, os modelos democráticos passam a estar em grande perigo, alerta Christophe Deloire, secretário geral da RSF.

No Brasil, a eleição de Jair Bolsonaro em outubro de 2018, após uma campanha marcada por discursos de ódio, desinformação, ataques à imprensa e desprezo pelos direitos humanos, é um prenúncio de um período sombrio para a democracia e a liberdade de expressão no país, afirma o documento.

“Em um país onde dois terços da população se informam pelas redes sociais, a plataforma de mensagens WhatsApp desempenhou um papel central na campanha (…) e tomou o lugar das fontes tradicionais de informação”, afirma o relatório. “Nesse contexto tenso, os jornalistas brasileiros tornaram-se um alvo preferencial, e são regularmente atacados por grupos disseminadores de ódio, especialmente nas redes sociais”.

Na Venezuela, a situação é igualmente preocupante. Este ano, o país perdeu mais cinco posições e se aproxima perigosamente da parte mais baixa do ranking, em 148º lugar. Em 2018, a repressão se intensificou contra a imprensa e a RSF registrou um número recorde de detenções arbitrárias e casos de violência contra jornalistas praticados por forças de segurança e pelos serviços de inteligência.  

— Houve uma migração em massa de jornalistas mais jovens, explicou a jornalista Luz Mely Reyes, uma das criadoras do site Efecto Cocuyo. — Além da crise do modelo jornalístico, que é internacional, e da crise econômica interna, há perseguição e censura prévia, levando muitos profissionais a deixarem o país.

No ano passado, a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) da Venezuela ainda suspendeu o sinal de canais de rádio e televisão considerados muito críticos, e dezenas de jornalistas estrangeiros foram detidos, interrogados e deportados. A deterioração da situação levou muitos profissionais de imprensa a deixarem o país para fugir de ameaças e preservar sua integridade física.

Este ano, o continente americano registrou a maior degradação do indicador regional, um resultado que não se deve apenas ao mau desempenho no Brasil e na Venezuela, mas também em países como Nicarágua e até Estados Unidos, hoje em 48º lugar no ranking. O país, onde um clima cada vez mais hostil se instalou na esteira da postura do presidente Donald Trump frente aos meios de comunicação, perdeu três posições em 2019 e caiu na zona laranja, onde se situam nações consideradas problemáticas para o exercício do jornalismo.

O ódio aos meios de comunicação é tanto que, em Maryland, um homem abriu fogo deliberadamente na redação do diário local de Anápolis, “The Capital Gazette“, deixando cinco mortos. O assassino havia compartilhado amplamente a sua raiva do jornal nas redes sociais.

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