Política : A IMAGEM
Enviado por alexandre em 28/12/2018 09:49:16

De isopor na cabeça a prancha de bodyboarding, imagens reforçam recados políticos


Com camiseta, boné ou boina militar, ex-presidentes e futuro governante mandam recados Foto: Arquivo O Globo

Há poucos dias, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, apareceu em fotos lavando e estendendo roupas no varal. Sua mulher, a futura primeira-dama Michelle , surgiu com uma camisa com a frase “Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema”, dita pela juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, ao interrogar o ex-presidente Lula.

A foto de Bolsonaro e a camisa de Michelle não passam despercebidas por um motivo: embora pareçam ações banais, são cheias de significado e efeito político. Ao longo da história, dezenas de políticos usaram imagens e mensagens em roupas para passar recados a seus simpatizantes – e também aos inimigos. Uma estratégia, segundo especialistas, que só tende a crescer em tempos de exposição exacerbada nas redes sociais.

— Se vivemos em uma época performática, de memes e imagens, tudo que é feito nesse sentido tende a repercutir. Inclusive no campo da vida pública, de políticos e formadores de opinião. A política acontece hoje muito nessa dependência. É quase uma reatualização da frase famosa do Chacrinha: “Quem não comunica, se trumbica”, diz o cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A exploração de imagens e mensagens indiretas em roupas não é exatamente nova na política. Mas tem crescido nos últimos tempos. O historiador Wagner Pinheiro Pereira lembra que, em junho, a primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, surpreendeu ao comparecer a um evento público usando um casaco com a frase “Eu realmente não me importo, e você?”. Tudo em meio á discussão sobre a entrada de imigrantes naquele país.

– São casos que mostram a transformação ocorrida pelo fenômeno da estatização da política, já muito em voga desde os anos 1920 e 1930 no cenário mundial, acompanhando notadamente os casos de tendência fascista. Só que agora, no século 21, esse fenômeno evoluiu, diz Pereira, também professor de História e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O psicanalista Jorge Forbes afirma que assistimos à emergência da “comunicação por imagens” em substituição a “comunicação simbólica”, praticada por estadistas do passado que discursavam eloquentemente para as massas, como Winston Churchill e Abraham Lincoln.

– A comunicação simbólica, aquela dos discursos de Churchill, era uma chamado à razão. A comunicação por imagens apela ao sensível e a identificação das pessoas com o político, disse Forbes.

– Ao aparecer lavando roupa, indo ao banco ou discursando diante de uma prancha de bodyboarding, Bolsonaro quer dizer que ele e o leitor são iguais, só tem funções de diferentes. Ele quer dizer que também é um trabalhador comum e que o trabalhador é também um pouco presidente. Isso estabelece um vínculo solidário.

A comunicação por imagens, segundo Forbes, caracteriza-se pela quebra da relação de hierarquia, distância e verticalidade em que se baseava a comunicação simbólica. Essa nova característica foi potencializada pelas novas tecnologias, que permitiram aos políticos se comunicar com os eleitores sem a mediação de canais tradicionais, como a imprensa.

– O político atual tem que saber falar com imagens. E todos eles sabem: Bolsonaro, Lula, Macron, Trump.

Muitos recorrem até às próprias roupas com sua comunicação imagética. Pereira lembra as camisetas surgiram no vestuário e na indústria da moda com caráter anticonvencional e vocação transgressora, principalmente a partir dos anos 1950, já com algumas raízes no cenário político, dando em seguida voz às necessidades de protesto das pessoas. No Brasil, surgiu de forma importante nos anos 1980, no cenário de redemocratização brasileira, com uma série de camisas estampadas na campanha pelas “Diretas Já” e contra a repressão do regime militar.

– Mas só nos anos 1990, com o candidato e depois presidente Fernando Collor, que vimos esse uso ampliado. Seja na questão das cores, exploradas por ele no verde e amarelo, e nas mensagens políticas em camisas (a mais famosa com a estampa “O tempo é o senhor da razão”, que ele usou para se dizer inocente). A primeira-dama Roseane Collor também usava essas camisas. São buscas de se aproximar às massas sem mediação de partidos ou instituições – explica o historiador. Com informações do Jornal O Globo.

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