Bolsonaro: e o palanque para responder aos ataques?
Não ir aos debates
Daniela Lima – Painel – Folha de S.Paulo
Sem réplica nem tréplica - Ao repensar a ida de Jair Bolsonaro (PSL) a sabatinas e debates, a campanha do presidenciável acabou animando rivais que formulam estratégias para o horário eleitoral. O capitão reformado do Exército terá apenas oito segundos de propaganda na TV, mais 11 inserções. Se decidir faltar aos confrontos televisivos, explicam especialistas, corre o risco de desaparecer da telinha no momento em que a artilharia de adversários como Geraldo Alckmin (PSDB) vai começar a circular.
Alckmin é dono do maior tempo de propaganda eleitoral entre todos os presidenciáveis e é consenso que uma parte de seu arsenal de 437 inserções será usado para lançar dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro de comandar o país ou de se contrapor ao PT no segundo turno.
O tucano não deve ser o único a alvejar o capitão reformado. Henrique Meirelles já fez peças criticando o discurso radical de Bolsonaro. Se não for a debates, o deputado corre o risco de ficar sem palanque para se defender em rede nacional. O horário eleitoral começa na sexta (31).
Bolsonaro se beneficia de voto útil anti-PT
É o que diz diretor do Datafolha
Mário Paulino vê "oportunidade" para Alckmin na TV
Blogo do Kennedy
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz que o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, está sendo beneficiado por um “voto útil praticado já no primeiro turno”. Segundo Paulino, isso acontece porque, “neste momento, [Bolsonaro] aparenta ser o candidato com mais condições de derrotar o Lula”.
Paulino, no entanto, avalia ser “precipitado” considerar que o segundo turno se dará entre Bolsonaro e o candidato do PT, Lula ou Fernando Haddad. “É uma eleição que permite muitas alterações em pouco espaço de tempo”, afirma, em entrevista ao “Jornal da CBN – 2ª Edição”.
A última pesquisa Datafolha, no cenário que mede votação espontânea, mostrou crescimento de 10 pontos percentuais de Lula e de 3 pontos de Bolsonaro na comparação com o levantamento de junho. Segundo Paulino, nesta fase da eleição, os eleitorados do PT e do PSL alimentam um ao outro.
O crescimento de Lula se deu, acredita Paulino, a partir do registro da candidatura, quando parcela dos eleitores lulistas voltou a pensar na possibilidade de votar no ex-presidente. Esse fortalecimento do ex-presidente também teria levado uma fatia de eleitores anti-PT a optar por Bolsonaro. “Cada vez mais vamos ter eleitores praticando o voto útil já no primeiro turno.”
Paulino considera que o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, terá “oportunidade importante” com a propaganda na TV e no rádio para tentar crescer nas pesquisas. Ele diz que essa oportunidade deve ser bem usada, sob risco de ter efeito contrário.
Ele considera que é “uma visão otimista” do PT achar que Haddad já teria garantido pelo menos 20% dos votos. Lembra que, quando o Datafolha testou transferência de Lula, o ex-prefeito ficava no patamar dos 15%. Uma vitória do PT sem Lula na cabeça de chapa não dependeria só do apoio do ex-presidente, cuja capacidade de transferência de votos seria de cerca de 30%, de acordo com o Datafolha.
“Não depende só do apoio do Lula. Como aconteceu com a Dilma em 2010, é preciso que o próprio candidato se mostre capaz de fazer o que eles [eleitores] esperam que o Lula faria se fosse candidato”, avalia Paulino, ao comentar a possibilidade de que Haddad seja o postulante do PT em 7 de outubro, hipótese mais provável hoje.
Paulino afirma que a delação da JBS em maio de 2017 teve impacto para melhorar a avaliação do PT e de Lula perante os eleitores. Ele considera aquele um “momento importante na política brasileira, em que Aécio [Neves, senador do PSDB] sofreu as acusações [de corrupção feitas na delação de Joesley Batista]”.
Diz Paulino: “Grande parte [do eleitorado] percebeu que aquelas acusações muito centradas no PT não eram apenas responsabilidade do PT, mas também de outros partidos. (…) Foi muito emblemático. A partir do momento em que todos estão envolvidos, aqueles [eleitores] que passaram pelo governo Lula e identificaram melhoras naquele período, e que relacionam isso diretamente à atuação do Lula, passam a ter esperança de que ele possa repetir aquilo”.
Já o fenômeno Bolsonaro se explica, afirma o diretor-geral do Datafolha, “pelo clima de insegurança que a população brasileira passa”. Ele acredita que o candidato do PSL se fortalece com suas propostas na área de segurança pública.
Paulino lembra que Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) já tiveram em eleições passadas um percentual de intenção de voto competitivo. No entanto, vê como obstáculo na atual corrida o pouco tempo de propaganda na TV e no rádio que ambos os candidatos possuem.
Segundo ele, cerca de 60% dos eleitores dão mais peso às informações vindas da TV. Uma fatia de aproxidamente 30% considera mais relevante os dados mostrados nas redes sociais.
Mas Paulino pondera que, nestas eleições, “estamos prestando atenção e aprendendo” a mensurar “o poder das redes sociais para impulsionar ou preservar candidatos na posição em que estão”. O diretor-geral do Datafolha declara que “três ou quatro candidatos devem disputar acirradamente as duas vagas no segundo turno”.
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