Política : A HORA
Enviado por alexandre em 05/04/2018 08:36:37


Lula deve ser preso, mas potencial de seu governo solto

Ex-presidente terminou mandatos consagrado; candidatos deveriam seguir seu caminho

Fernando Canzian - Folha de S.Paulo

Sem o habeas corpus do STF, Lula não só não concorrerá à Presidência como deve ser preso. Para os candidatos que ficam, a trajetória do ex-presidente serve de exemplo pelo que fez e como chegamos ao buraco atual.

Lula terminou seus dois mandatos em 2010 consagrado. Com a mais alta aprovação (83%) da série do Datafolha e o maior crescimento do PIB (7,5%) desde o Plano Cruzado de 1986.

Cálculos da FGV com dados do IBGE revelaram que nunca o Brasil distribuiu tanto a sua renda e diminuiu a desigualdade entre ricos e pobres, o que explicaria a popularidade recorde e o maior PIB em 25 anos ao final do mandato.

Lula teve a sorte de governar sob um boom internacional das commodities, mas também bancou políticas pró pobres como o Bolsa Família (ao custo de R$ 29 bi/ano) e aumentos reais para o salário mínimo (que subiu 54% além da inflação).

Mas o maior avanço em seu governo se deu pelo esforço dos trabalhadores em um contexto macroeconômico seguro, de contas públicas relativamente arrumadas, inflação baixa e câmbio estável. Nesse ambiente, o trabalho prosperou a partir do otimismo e investimentos empresariais.

Na média da década finda em 2014, 80% da melhora na renda dos brasileiros se deu pelo trabalho. Mesmo entre os mais pobres, dependentes do Bolsa Família, o trabalho foi o que pesou mais no crescimento da renda.

O irônico é que Lula ofereceu essa estabilidade quase à força a partir de 2003, quando assumiu devendo US$ 30 bilhões ao FMI por conta de acordo fechado meses antes com o Fundo pelo governo FHC.

O acordo obrigou o Brasil a fazer um grande ajuste fiscal que colocou as contas públicas em ordem, favorecendo o ciclo virtuoso da economia.

Na média, Lula manteve o superávit nas contas públicas em 3% como proporção do PIB. Dilma 1 derrubou essa “economia”, usada para reduzir a dívida pública, para 1,7% do PIB. Já nos últimos três anos houve déficit médio de -2%.

É disso que se trata a atual crise. Foi essa troca de sinal, de superávit para déficit, que engendrou a recessão que enfrentamos a partir de 2015.

O dado fundamental é que, ao passarmos do azul para o vermelho, a dívida pública bruta do país saltou cerca de 20 pontos, atingindo 75% como proporção do PIB hoje.

É isso o que está por trás da dúvida dos empresários ("o país vai quebrar?") sobre investir ou não e criar empregos para sustentar um novo ciclo virtuoso.

Para que isso ocorra, não há hipótese de escaparmos da reforma da Previdência. O sistema atual é hoje a principal causa do déficit, travando decisões de investimento e empregos futuros.

Nesta eleição, quem promete outro ciclo de crescimento sustentável sem defender a reforma da Previdência e mais cortes de gastos mente ou está mal informado.

Prisão de Lula cria vácuo no PT a 6 meses da eleição


Capacidade do petista de transferir votos e discurso de perseguição serão testados

Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo

A formação de um placar no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o habeas corpus de Lula produz um vácuo nos planos políticos do PT a seis meses das eleições. O cronograma acelerado do julgamento do ex-presidente pode levá-lo à cadeia no momento em que ainda parece frágil a construção de um nome alternativo para substituí-lo nas urnas.

A decisão do STF deve tornar real um cenário dramático que já era projetado pelos petistas —mas muito mais cedo do que eles imaginavam. Quando elaborou a estratégia de insistir na candidatura de Lula, a sigla acreditou que contaria com o ex-presidente nas ruas para consolidar um discurso que poderia ser transferido a um apadrinhado no último minuto.

Com a posição da suprema corte, no entanto, o principal líder do PT poderá ser preso ainda sob um ambiente de indefinição no partido.

A escolha de Fernando Haddad como sucessor de Lula soa vacilante, por enquanto. Basta lembrar que o ex-governador baiano Jaques Wagner era o favorito para desempenhar o papel até que foi alvo de uma operação policial, há cinco semanas.

A saída de cena do ex-presidente é um baque porque sua capacidade de transferir votos e de sustentar o discurso de perseguição judicial ainda precisará ser testada nos longos meses que separam a possível prisão da próxima disputa eleitoral.

O terreno é incerto, pois esse período será permeado por dúvidas. Por quanto tempo haverá manifestações a favor de Lula nas ruas? A imagem do petista preso reforçará a fidelidade de seus eleitores? Ele conseguirá uma liminar para deixar a cadeia? Haddad ganhará peso eleitoral?

Ainda que o PT repita que Lula é candidato mesmo atrás das grades, aumentarão as pressões para que o partido coloque logo em marcha seu plano B. Com o ex-presidente fora do jogo tão cedo, o partido corre o risco de perder vigor e capital político, chegando enfraquecido a uma eleição que será decisiva para seu futuro.

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