Lava Jato não acaba nesta quarta
Para cada jogada na direção do acordão, haverá outra para dificultá-lo
Vinicius Mota – Folha de S.Paulo
Costurar uma solução que sepulte a perspectiva de punição, ou dilate seus prazos, tem sido um desejo permanente de oligarcas da política desde a eclosão da Lava Jato. O acordão jamais foi consumado, mas seu espectro voltou a rondar o debate das questões nacionais.
Desta vez a conspiração dos fatos parece ter reunido os elementos diabólicos suficientes para o acerto. Jogar areia na engrenagem lavajatista interessa a todos os partidos tradicionais. Deixou de ser possível isolar o dano, para que produza estragos apenas no campo do adversário.
No caso JBS, um procurador-geral no mínimo açodado produziu um erro colossal e abriu flanco aos críticos. O ministro Gilmar Mendes, que há menos de dois anos votou com discurso inflamado pela constitucionalidade da prisão após condenação em segunda instância, mudou de ideia.
Juízes da corte suprema desafiam o entendimento do plenário e permitem a apenados em segundo grau recorrer em liberdade. O habeas corpus do ex-presidente Lula será o arremate da reação?
A esta altura, já deveríamos ter aprendido uma lição básica do Brasil pós mensalão: nenhuma força coordena esses processos. A decisão majoritária do Supremo no caso Lula da Silva, mesmo que seja pelo relaxamento da prisão, não terá o poder de decretar o fim da Lava Jato.
O HC do ex-presidente é ação específica e não vale para casos semelhantes. Ainda que seis ministros, na hipótese da concessão da medida, passem a estendê-la a condenados em condições parecidas, os outros cinco não estão obrigados a fazer o mesmo e provavelmente não o farão.
A Lava Jato é a resultante da interação entre atores autônomos —delegados, procuradores e juízes— num ambiente de forte repulsa da sociedade à corrupção. Para cada lance no sentido do acordão, corresponde outro na contramão. É um jogo longo, que não termina nesta quarta.
Para produtor da série da Lava Jato, filme extrapolou
Ele critica o momento em que o personagem inspirado em Lula verbaliza frase dita por Romero Jucá
Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo
A série “O Mecanismo”, da Netflix, "extrapolou na criatividade”. A opinião não é de um petista, mas sim de Tomislav Blazic, produtor de “Polícia Federal: A Lei é Para Todos”, filme inspirado na Lava Jato que também causou polêmica quando entrou em cartaz nos cinemas.
Ele critica em especial o momento em que o personagem atribuído ao ex-presidente Lula diz que é preciso “estancar a sangria” do combate à corrupção. A frase, na verdade, foi dita pelo senador Romero Jucá (MDB-RR), que articulou para a derrubada do PT do poder.
“Colocar na série o caso do Banestado [de corrupção nos anos 1990] é também querer prejudicar só o PT. Não é baseado em uma história real”, segue o produtor.
Blazic está em fase de produção da continuação do longa. Ele já fez novas entrevistas com juízes, procuradores e policiais e afirma que todos os partidos serão impactados. “O PT é corrupto como os demais partidos. No próximo filme será um salve-se quem puder”, diz.
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