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Enviado por alexandre em 14/12/2017 09:04:41

O sincericídio que ajuda



Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo

Não há político mais sincero do que Romero Jucá. No ano passado, ele resumiu os motivos que levaram o PMDB a embarcar na aventura do impeachment. Enquanto colegas simulavam indignação com as pedaladas fiscais, o senador foi ao ponto: "Tem que mudar o governo pra estancar essa sangria".

Agora deve-se a Jucá o fim de outra conversa fiada. Falando mais do que devia, o líder do governo admitiu que a Reforma da Previdência não será votada neste ano. Na melhor hipótese, ficará para fevereiro. Isso até alguém lembrar que o Carnaval vai cair mais cedo em 2018...

A inconfidência do senador encerrou um teatro encenado por muitos atores, todos com pinta de canastrão. Michel Temer fingiu ter votos para mexer nas aposentadorias. Os partidos aliados fingiram estar dispostos a ajudá-lo. O mercado fingiu acreditar nas contas dos políticos.

Num dos atos mais toscos da peça, o PSDB anunciou o "fechamento de questão" a favor da reforma. Ao mesmo tempo, informou que ninguém será punido se contrariar a ordem do partido. Ou seja: cada tucano está livre para votar como quiser.

Um presidente forte já teria que suar a camisa para aprovar a proposta. É difícil convencer os outros a trabalhar mais e receber menos no futuro, especialmente se você tiver se aposentado pelo teto aos 55 anos. A tarefa ganhou ares de missão impossível depois dos grampos da JBS. Temer salvou o mandato, mas ficou sem capital político para exigir novos sacrifícios aos deputados, que já estão em campanha pela reeleição.

Nos últimos dias, o presidente ainda tentou vender ilusões. Na terça, ele marcou uma solenidade para exibir apoio dos empresários. Foi traído pelas cadeiras vazias no Palácio. À noite, o repórter Daniel Carvalho ouviu o presidente do Senado confidenciar que "não vota Previdência porra nenhuma". O sincericídio de Jucá não resolve os problemas de Temer, mas deve livrá-lo de novos vexames –pelo menos até o Natal.



Nova Previdência fica para 2019, avalia mercado


Folha de S.Paulo – Flávia Lima e Danielle Brant

Foi uma uma vitória do atraso. Assim a disposição do governo de adiar a votação da reforma da Previdência para fevereiro foi resumida pelo economista Paulo Tafner, pesquisador da Fipe.

A decisão, dizem economistas, também levantou dúvidas sobre o real poder de organização da base aliada e colocou uma pá de cal na expectativa do mercado de que algo saia do papel em 2018.

A leitura é que o peso do ano eleitoral praticamente inviabiliza a aprovação de qualquer proposta.

"No ano que vem vamos ter samba da imprevidência", diz Mônica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington.

"A partir de janeiro, tudo se resumirá a outubro e chegaremos lá aos trancos e barrancos", afirma ela.

Bolle já achava difícil emplacar a reforma após o presidente Michel Temer gastar todo o seu capital político para sobreviver no cargo, mas considera que boa parte do mercado apostava numa votação ainda neste ano. É essa frustração, diz ela, que deve se refletir nos ativos.

A notícia fez a Bolsa recuar 1,22%, para 72.914 pontos. O mercado cambial, que fecha mais cedo, não capturou a maior aversão a risco. O dólar comercial caiu 0,36%, para R$ 3,317. O à vista recuou 0,49%, para R$ 3,314.

Trapalhada governista: rebaixamento de nota do Brasil



Agência de classificação de risco pode acenar com rebaixamento de nota do Brasil

Circo de horrores - A trapalhada promovida por alguns dos principais articuladores do Congresso nesta quarta (13) serviu, ao menos, para dar ao governo e aos parlamentares uma amostra grátis da reação que devem esperar do mercado caso realmente decidam enterrar a nova Previdência. Além das oscilações da bolsa e do dólar, a Fitch, agência de classificação de risco, avisou que, nesse cenário, rebaixará a nota de crédito do Brasil, o que deve encarecer financiamentos e desestimular investimentos.

Líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) anunciou o adiamento da votação da reforma na tentativa de acalmar o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que queria votar o Orçamento do próximo ano de qualquer jeito nesta semana, o que, na prática, sacramentaria o recesso.Sem conseguir chamar sessão do Congresso para aprovar o Orçamento, Eunício foi flagrado pela Folha, na terça (12), dizendo que não “vota a Previdência porra nenhuma”.

Jucá disse a aliados ter tido aval da Casa Civil para fazer o anúncio do adiamento da votação das novas regras para a aposentadoria. O Planalto afirmou que, na reunião com ele, só se tratou sobre a votação do Orçamento.

O presidente, que estava no centro cirúrgico quando o bate-cabeça aconteceu, ficou preocupado. Henrique Meirelles (Fazenda) foi acionado para desmentir Jucá publicamente.

A crise gestada pelos articuladores do governo acabou tirando todo o impacto do anúncio do PSDB sobre o fechamento de questão a favor da reforma. (Daniela Lima - Painel - Folha de S.Paulo)

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