Política : É O FIM?
Enviado por alexandre em 12/11/2017 22:19:41


Em Curitiba, PF desligou a Lava Jato da tomada

As ruas que roncavam a favor da Lava Jato voltaram para casa, abrindo caminho para o retrocesso

Josias de Souza

A Lava Jato tornou-se uma operação perneta em Curitiba. Durante três anos, a investigação caminhou a passos largos. Havia um perfeito sincronismo entre os movimentos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Súbito, a PF começou a puxar a perna. Chegou a mobilizar 11 delegados. Reduziu o contingente para nove. Diminuiu para quatro. Em julho, a extinção da força-tarefa da PF deu à Lava Jato uma aparência de saci-pererê. Decorridos quatro meses, a PF transfere para o Ministério público até atividades comezinhas como a análise de materiais recolhidos em batidas de busca e apreensão. Os procuradores se queixam de que a investigação segue com sobressaltos, pulando numa perna só.

A PF empurrou os inquéritos da Lava Jato no berço curitibano da operação para dentro da vala comum da Delecor, uma delegacia que cuida de todos os outros casos de corrupção. Os quatro delegados e os cerca de 40 agentes que ainda se dedicavam exclusivamente à maior operação anticorrupção da história foram cuidar de outras coisas. A mudança foi vendida como mera “decisão operacional”. Alegou-se que o volume de trabalho reduzira. As delações da Odebrecht davam outra impressão. O monturo de material recolhido em cerca de 840 batidas policiais, tudo pendente de análise, deixava a versão oficial sem nexo.

Quando questionado sobre a mudança “operacional” de Curitiba, o ministro Torquato Jardim (Justiça), superior hierárquico da PF, costuma invocar a “razão quantitativa”. Ele compara a polícia à imprensa: “Alguns jornais tinham cinco repórteres especiais em Curitiba. Quantos permaneceram? Já não há tanta notícia. A Polícia Federal também já não precisa trabalhar com tanta gente.” Torquato acrescenta: “Estão em andamento na Polícia Federal cerca 450 operações em todo Brasil. Fora as que eguardam na fila. Vai concentrar só na Lava Jato e deixar o resto prescrever? Tem que distribuir o pessoal. A mudança não atrapalhou em nada.”

Em privado, os procuradores da força-tarefa de Curitiba pintam um quadro diferente. Um deles disse ao blog: No Paraná, “o trabalho da PF na Lava Jato praticamente acabou.” A paralisia tem causas variadas. A unidade entre a Procuradoria e a PF sofreu uma fratura quando os delegados foram excluídos dos procedimentos de negociação de delações premiadas. Afora as desavenças com os procuradores, houve também cisões internas na própria PF. Tudo isso mais a redução da infantaria, a extinção da força-tarefa e um desejo irrefreável da banda hemorrágica do PMDB de estancar a sangria.

É contra esse pano de fundo que assume a direção-geral da PF o delegado Fernando Segóvia. Foi alçado ao posto com o apoio de integrantes da turma do torniquete —gente como o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-senador José Sarney. Segóvia chega sob o signo da suspeição. Suas decisões serão acompanhadas com lupa. Mas no caso de Curitiba, ainda que desejasse, o novo chefe da PF teria dificuldades para travar a investigação, pois a Lava Jato já foi desligada da tomada. E não é por falta de trabalho.

Há duas semanas, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, decidiu enviar para Curitiba o pedaço do inquérito sobre a quadrilha do PMDB que envolve suspeitos sem mandato. A Câmara congelou as investigações contra Michel Temer. Mas Fachin entendeu que os acusados que não dispõem de foro privilegiado devem ser investigados, processados e julgados na primeira instância. Assim, caíram no colo de Sergio Moro: os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves; o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o ex-assessor de Temer no Planalto Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala. A defesa de Temer tenta bloquear as investigações no Supremo.



Substituição na PF merece suspeitas

Repentina e sem razão perceptível, substituição na PF merece suspeitas

Jânio de Freitas - Folha de S.Paulo

A articulação é muito maior do que parece. Tomam-se como casos isolados, cada qual com existência e sentido próprios, a mudança na Polícia Federal, a divisão conflituosa do PSDB e as obscuridades da nova Procuradoria-Geral da República. São, no entanto, partes que se interligam em um todo de ações e expectativas ansiadas pelos políticos acusados de ilicitudes, ou passíveis de sê-lo.

Quem perguntasse por quê, afinal de contas, o pugilato no PSDB, na melhor hipótese ouviria uma referência improvisada e vaga à eleição presidencial 2018.

Mas, enrolado em acusações desmoralizantes, Aécio Neves é alheio às candidaturas à Presidência. O que lhe interessa é driblar os problemas policiais e judiciais que o ameaçam. Interesse idêntico ao que move Michel Temer e seu grupo.

O senador Tasso Jereissati pensa no reerguimento do PSDB, Aécio Neves pensa no PSDB como parte do governo que pode ser uma possibilidade de deter, ou até reverter, os processos criminais e suas eventuais consequências.

Esse é o seu entendimento com a pessoa, o político e o objetivo de Temer. E se mantém esse laço, apesar do que lhe custa, pode-se supor que tem elementos indicativos de maiores probabilidades ali do que na força política de um PSDB restaurado. A escolha de Aécio é como um depoimento sobre intenções de Temer e seu grupo.

Já por ser repentina e sem razão perceptível, a substituição do diretor da Polícia Federal merece suspeitas. Ainda mais sugestiva é a escolha feita entre políticos com problemas policiais-judiciais.

Além disso, as opiniões consideráveis sobre o escolhido, delegado Fernando Segóvia, são opostas demais. O que não chega a ser original, mas é impróprio para o cargo —dos mais fechados ao conhecimento público de sua atividade e, complemento apropriado, dos mais instrumentalizados para ações de todos os tipos e fins.

Leandro Daiello não caiu por falha funcional. Fosse por isso, a substituição não precisaria se dar sem a participação do ministro que o tinha como subordinado.

Em seguida à concordância em permanecer no cargo, a pedido do ministro Torquato Jardim, Daiello surpreendera com a desmontagem súbita da equipe policial da Lava Jato. Não os que prendem: os que investigavam. Pelo visto, não foi o bastante. E sabe-se qual pode ser o seguimento lógico daquela medida.

Se Daiello não caiu à toa, Segóvia não subiu à toa. Substituição que se dá quando Raquel Dodge, substituta do incriminador de políticos, vai completar dois meses no cargo sem, no entanto, deixar clara sua linha de ação.

Carência e coincidência mais fortes quando se sabe que decisões de Rodrigo Janot passam ou vão passar por exame da equipe montada por Dodge. O provável é haver, sim, o que deva ser revisto, com tantas medidas e tamanha voracidade acusatória da Lava Jato. Mas a revisão compete a juízes. Na própria Procuradoria-Geral da República, o exame expõe-se a propósitos mais do que técnicos. Ainda que invoque tal motivação.

E sem jamais negar atenção a Eduardo Cunha, uma observação que vale pelas anteriores. Desde preso e até suas penúltimas manifestações, em juízo ou não, ele fez acusações e insinuações gravíssimas a Michel Temer.

O juiz Sergio Moro, com sua personalíssima imparcialidade, chegou a intervir e eliminar várias perguntas de Cunha a Temer, porque "constrangeriam o presidente".

Pois bem, quando a direção da PF passa por substituição inexplicada, Aécio racha o PSDB em favor de Temer e seu grupo, e a Procuradoria-Geral da República cria mais suspense do que clareza, Eduardo Cunha eleva Temer a inocente absoluto, vítima de difamações e de uma tentativa de golpe. Só há um motivo para fazê-lo.

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