Política : ESTOU NA COLA
Enviado por alexandre em 12/11/2017 22:14:48


Mercado já vê em Bolsonaro opção contra Lula em 2018

Folha de S.Paulo – Danielle Brant

Não é segredo para ninguém quem os economistas e os analistas de instituições financeiras —o chamado "mercado"— preferem ver na disputa presidencial do ano que vem: o ministro da Fazenda Henrique Meirelles e os tucanos Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e João Doria, prefeito da capital paulista. Mais recentemente, porém, um elemento estranho foi anexado à lista: o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

O capitão da reserva passou a angariar apoio após desbancar os preferidos do mercado nas pesquisas eleitorais e despontar como rival do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. O próprio Bolsonaro se deu conta do trunfo.

Enquanto Lula seguiu pelo interior do Brasil numa caravana sem paz ou amor pelas reformas, Bolsonaro chegou a se reunir com investidores em Nova York, apoiado pelo banqueiro Gerald Brant, da firma de investimentos Stonehaven.

O seu novo combo econômico fala de Estado mínimo, eficiente e livre da corrupção; prega a redução do juro para 2%; e até aceita privatizações —algo no mínimo esquisito para um nacionalista de carteirinha que considera um perigo o avanço global chinês.

Em 1999, em entrevista ao apresentador Jô Soares, bem ao seu estilo controverso, defendeu o fuzilamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por privatizar a Vale e a Telebrás. Agora, como pré-candidato à Presidência em 2018, até aceita avaliar modelos alternativos de privatização da Petrobras.

"Bolsonaro adotou uma atitude que precisa ser olhada com cuidado, mas que segue numa toada mais construtiva: tem sido menos polêmico", afirma Ignacio Crespo, economista da corretora Guide Investimentos.

A guinada liberal foi recente. Em março deste ano, em entrevista à Folha, disse ser "completamente contra" a reforma da Previdência, por exemplo. "É um remendo de aço numa calça podre. Está muito forte a proposta dele [do presidente Michel Temer]", afirmou. Em outubro, o tom já era de cautela. "Dá para sair, devagar, dá."

ESTRAGO MENOR

Devagar, ele vai se tornando palatável. Em agosto, a XP Investimentos, a maior corretora independente do país, fez uma pesquisa com 168 investidores institucionais e 400 assessores traçando cenários em caso de vitória dos presidenciais mais óbvios.

À época, a Bolsa brasileira estava na casa dos 65 mil pontos. Para 95% deles, a Bolsa ficaria abaixo de 60 mil pontos se Lula vencesse as eleições. Sob Bolsonaro, esse cenário era visto por 78%. Para 31%, uma vitória do petista levaria o dólar acima de R$ 4,10. No caso do deputado federal, apenas 15% desenham esse cenário. Ou seja, entre Lula e Bolsonaro, o segundo faria um estrago menor.

A própria equipe da XP estranhou o resultado. "O Bolsonaro falava em estatizar companhias, agora diz que tem que diminuir o tamanho do Estado. Ele gera imprevisibilidade", afirma Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos.

Quem tem estrada no mercado financeiro tece explicações para o fenômeno. "Pela conversa com investidores, o Lula hoje é um problema. Pode ser disruptivo. O Bolsonaro tenderia a causar um estresse menor no mercado", avalia Raphael Figueredo, sócio-analista da empresa de análise Eleven Financial.

Haveria também uma aversão ao PT. "Bolsonaro se torna mais interessante porque não seria o PT no poder. Mesmo o Lula tendo feito um primeiro governo favorável ao mercado, a percepção hoje é que ficaria mais fácil com Bolsonaro montar um ministério com figuras alinhadas à atual agenda", diz José Francisco de Lima, economista-chefe do banco Fator.

Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, o que está ocorrendo é "autoenganação" coletiva.

"A visão do Bolsonaro sobre economia é zero, ele nunca teve preocupação com isso. Mas agora ele está fazendo um discurso liberal para reduzir a resistência do establishment econômico contra ele. É uma estratégia. O liberalismo econômico não está no DNA dele", afirma.

Na avaliação de Melo, os dois pré-candidatos até teriam um ponto em comum que costuma desagradar muito o mercado financeiro: "Tanto Lula quanto Bolsonaro são intervencionistas", diz ele.

Marina e Ciro se atacam: anti-polarização Lula-Bolsonaro



Ricardo Miranda – Blog Os Divergentes

Marina Silva, da Rede, e Ciro Gomes, do PDT, parecem estar acordando para a campanha – e despertaram cheios de disposição. Não se sabe se por começarem a comer poeira na largada ou se porque a estratégia era essa mesmo – embora seja quase hilário falar em estratégia política no Brasil dos últimos dois anos. O que une os dois adversários, de perfis tão distintos, é o risco concreto de que, no andar da carruagem, fiquem de fora do segundo turno com a aparente – e momentânea – polarização das intenções de voto entre dois extremos: o ex-presidente Lula, do PT, e o deputado-capitão Jair Bolsonaro, do PSC.

Ouvida pelo blogueiro do UOL, Josias de Souza, a ex-senadora desenhou um país quase sem saída. Segundo ela, o Brasil foi do fundo do poço – supostamente referindo-se a Dilma Rousseff – para o poço sem fundo – também chamado de Michel Temer. Chegou às profundezas, avaliou, porque tomou gosto pela polarização. Lula e Bolsonaro, nesse contexto, diz ela, “acabam sendo cabos eleitorais um do outro”. De certa forma, Marina repete, em sua terceira participação consecutiva em campanha presidencial , o tom de exorcismo que virou sua marca, esconjurando os adversários como sendo movidos pela ambição pelo poder, sem “projeto de país”.

Já Ciro preferiu, nos últimos dias, golpear mais forte o seu lado do espectro político. O pré-candidato do PDT – que já disse, ao se referir a Marina, que “o Brasil precisa de testosterona” -, dessa vez chutou o pau da barraca petista. Referindo-se às alianças regionais que o ex-presidente já vem costurando de olho em 2018, em particular em recentes imagens ao lado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) durante passagem pelo Nordeste, Ciro disse que não cabe a Lula perdoar golpistas.

“Esse gesto de perdoar não toca a ele. O golpe não foi contra ele, foi contra a nação, a democracia. E ele se dá a faculdade, sendo candidato, de confraternizar com os golpistas”, fustigou Ciro, durante visita a Belo Horizonte. “Como vamos sustentar que houve um golpe de Estado no Brasil se ‘São Lula’ perdoou? Eu não perdoei”, canonizou.

Marina e Ciro têm patamares diferentes nas sondagens de intenção de voto. Na pesquisa estimulada do Ibope, a mais recente, em que os nomes dos candidatos são apresentados aos eleitores, Lula aparece com 35% contra 13% de Bolsonaro. Depois vem Marina, com 8%. Ciro aparece, atrás dos tucanos, com 3%. Na disputa presidencial de 2014, Marina quase chegou ao segundo turno, mas sua candidatura foi demolida pelo marketing da campanha de Dilma Rousseff. Ciro não chegou tão perto.

Ambos têm, porém, um problema em comum com Bolsonaro. Caso não consigam fechar alianças relevantes com outros partidos em torno de suas candidaturas, Bolsonaro, Marina e Ciro poderão largar atrás na corrida para o Planalto – pelo menos no tempo de TV, ainda um fator determinante. Uma projeção da divisão do horário eleitoral diário em 2018, feito pela Folha de S.Paulo, mostrou que, enquanto Lula teria 36 segundos, nos dois blocos – tarde e noite -. Marina ficaria reduzida a 23, Bolsonaro a 19 e Ciro a reles 10 segundos. A divisão do tempo de TV obedece a duas regras: 90% são proporcionais à bancada de deputados federais eleita pelos partidos e 10% são distribuídos igualitariamente entre os candidatos.

Se os eleitores vão atender às preces de Ciro e Marina só o futuro dirá. Ou a interferência divina – qualquer que seja a divindade, local ou global. Caso da pré-candidatura fantasma de Luciano Huck, que na prática não existe, mas vem sendo testada em pesquisas eleitorais, como fez o Ibope. A propósito, Ciro Gomes, nesta quinta, 9, aproveitou para exercitar sua conhecida verve ferina e língua afiada – o que o difere de Marina. “Tentaram lançar o prefeito de São Paulo, João Dória, já estão se decepcionando e vão tentar lançar o Huck. Logo mais, pode ser que o meu amigo Faustão possa ser considerado. A Ana Maria Braga pode ser (testada) também. Não nos esquecemos do Ratinho e do Datena, que eu admiro bastante”, ironizou. Pano rápido.

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