O jogo de cartas marcadas do julgamento de Temer
Postado por Magno Martins
Andrei Meireles – Blog Os Divergentes
Precursor de Millor Fernandes, Pasquim, Casseta e Planeta e Sensacionalista, entre outros, o Barão de Itararé é um dos pioneiros do nosso humorismo político. Entre dezenas de excelentes máximas, ele cravou que de “onde menos se espera é que não sai nada mesmo”.
Cria-se um suspense sobre a votação nesta semana na Câmara do pedido para a abertura de processo contra Michel Temer por corrupção passiva. Pura espuma. Quem aposta em emoção quer manter a expectativa. E haja capítulo para segurar a audiência dessa novela.
No mundinho dos políticos, o buraco é mais embaixo. Fora alguns gatos pingados, quem pode atirar a primeira pedra em Michel Temer, Lula ou Aécio Neves? É um ambiente em que até Paulo Maluf se sente à vontade para dar atestados de honestidade, sem contestação.
Pesa tanto quanto essa coletiva cara de pau, o funcionamento a todo vapor do Posto Ipiranga palaciano, e o pragmatismo de presidenciáveis como Lula e Geraldo Alckmin de que nada têm a ganhar com a queda do Temer agora. É simples assim.
A conferir.
Temer recebe Aécio no Jaburu
Às vésperas de Câmara votar denúncia, Temer recebe Aécio no Jaburu
Folha de S. Paulo - Talita Fernandes
Às vésperas de a Câmara dos Deputados analisar uma denúncia da qual é alvo, o presidente Michel Temer convidou neste sábado (29) o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para um jantar no Palácio do Jaburu.
Com o gesto, Temer pretende manter o PSDB como aliado. A sigla é a segunda maior da base governista depois do PMDB.
Na próxima quarta-feira (2), o plenário da Câmara decide se autoriza que a denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Temer pode ser analisada pelo Judiciário. Para que isso ocorra, é necessário que ao menos 342 deputados votem a favor da continuidade do processo.
Os tucanos vivem um momento de forte divisão interna sobre o apoio ao Palácio do Planalto. Nomes como o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), defendem um desembarque imediato. Já parlamentares mais próximos a Aécio, e ministros tucanos querem que a sigla se mantenha fiel ao governo.
Um dos presentes disse à Folha que Aécio está "a todo vapor" na atividade política, e que deve retomar o papel de articulador na volta do recesso parlamentar, na próxima terça-feira (1º). O mineiro sempre desempenhou papel importante nas conversas entre o PSDB e o PMDB de Temer.
Além do apoio a Temer, os tucanos enfrentam uma discussão interna sobre o comando do partido. Com o retorno de Aécio às atividades parlamentares, após autorização da Justiça no fim de junho, o PSDB precisa definir a presidência da legenda.
Aécio se licenciou do cargo em maio, logo após o vazamento de uma conversa em que pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, do grupo JBS. Desde então, o partido é comandado interinamente por Tasso.
Há um debate interno sobre se Aécio deve se desligar definitivamente da presidência e quando isso deve ocorrer. Governistas querem que isso ocorra o quanto antes e defendem que Tasso permaneça no cargo. Já os apoiadores de Temer querem postergar a discussão para que a sigla possa construir consenso em torno de outro nome para comandar o partido, que seja da ala pró-governo.
PRIMEIRO ENCONTRO
Aécio ficou mais de 40 dias afastado do Congresso, por determinação da Justiça, mas foi autorizado a retomar o mandato no fim de junho, após o STF (Supremo Tribunal Federal) rever decisão anterior.
O encontro de sábado foi o primeiro entre Temer e Aécio desde a divulgação das delações do grupo J&F, em maio. Ambos são alvos de denúncias por corrupção com base nas acusações dos irmãos Batista.
Participaram ainda do jantar dois ministros tucanos: Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Bruno Araújo (Cidades), O ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) também esteve no encontro.
Um dos presentes disse à reportagem que o encontro contou com a participação das mulheres dos participantes e que os temas abordados foram "além da política".
Política brasileira: narrativa em andamento
Narrativa em andamento
O Estado de S. Paulo - Mario Vitor Rodrigue
O resultado da pesquisa CNI/Ibope, divulgado na última quinta-feira, não foi dos melhores para Michel Temer. Descontados os parcos 5% de entrevistados que avaliam o seu mandato como ótimo ou bom, 83% desaprovaram a maneira como o país está sendo conduzido e 87% disseram não confiar no presidente. Trocando em miúdos, refletiu a maciça rejeição por parte da esquerda, o tom de confronto adotado pela Globo e a mácula moral contraída após a divulgação da conversa com Joesley Batista.
Acima de tudo, serviu para dimensionar o sucesso de uma campanha em curso, capaz até mesmo de negar a gradativa recuperação da economia.
Que fique claro, se raros são os políticos agraciados com a antipatia popular sem o devido merecimento, Temer não é um deles. Muito pelo contrário, trata-se de um dos principais líderes do PMDB — legenda partícipe em toda sorte de tramóias, antigas e recentes —, ao lado de grão-mestres como Renan Calheiros, Roberto Requião e Jader Barbalho. Sem falar nos encarcerados Sérgio Cabral e Eduardo Cunha.
Contudo, foi justamente esse dote que levou o seu nome a ser referendado para ladear Dilma Rousseff no pior governo de nossa história moderna. À época, não custa lembrar, a mesma parcela da sociedade que hoje brada pela sua saída, brindava o país com um cínico e obsequioso silencio.
Ressalvas feitas, considerando natural o oportunismo político e justo o mau humor do cidadão, é incompreensível o grau de histeria e má vontade destilado por articulistas e formadores de opinião quanto aos recentes indicadores econômicos.
Não se pode, por exemplo, ignorar a interrupção da queda na produção industrial e das vendas no varejo. Tampouco é invisível a retomada do mercado de crédito, com a estabilização da inadimplência e o gradual oferecimento de novas linhas. A redução no índice de desemprego, anunciada pelo IBGE na sexta-feira; o cada vez mais baixo índice de inflação e o dólar a quase R$ 3,00, enfim, compõem um cenário, que, se não deslumbra de imediato, deveria suscitar otimismo.
Na realidade, precisamos urgentemente desenvolver uma maneira de descontaminar nossas análises do caldo político. O quanto antes, levando-se em conta o perigo de fomentar desinformação às vésperas de mais um processo eleitoral.
Posicionar-se baseado em percepções tortas da realidade, afinal, não tem sido muito proveitoso.
Haja vista 2014.
|