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Enviado por alexandre em 30/03/2011 09:15:38



Alencar, um brasileiro

Durante 13 anos, José Alencar travou uma luta obstinada contra o câncer. "Não tenho medo da morte", disse certa vez. E não tinha mesmo. Passou por 17 cirurgias sem que ninguém nunca o tivesse visto perder o bom humor. O Brasil acompanhou comovido essa batalha que chegou ao fim às 14h41 de ontem quando o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, informou que ele havia morrido. Em Portugal, ao saber da notícia, a presidente Dilma e Lula caíram em prantos. Imediatamente, decidiram interromper a viagem e voltar ao Brasil. Empresário bem-sucedido, Alencar tinha 79 anos. Ele escreveu o nome na história política brasileira ao aceitar ser vice de Lula para quebrar resistências da elite econômica do país ao ex-metalúrgico. O corpo chega às 9h15 de hoje a Brasília para ser velado com honras de chefe de Estado no Palácio do Planalto. Amanhã, segue para funeral em Belo Horizonte.

Emocionados, Dilma e Lula antecipam a volta

A morte de José Alencar pegou de surpresa a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estavam em Portugal cumprindo agenda oficial. Os dois receberam a notícia do falecimento em um telefonema do médico de Alencar, Raul Cutait. Eles estavam juntos no momento da ligação e também conversaram com Josué, filho do ex-vice-presidente. Com a informação, o retorno da comitiva, previsto para amanhã, foi antecipado para hoje, depois de uma homenagem que Lula receberá na Universidade de Coimbra. Eles retornam ao país no mesmo voo e chegam a Brasília no fim da tarde para acompanhar o velório no Palácio do Planalto.

O vice que assumiu o poder por mais tempo

O ex-vice-presidente José Alencar exerceu o posto máximo do Executivo brasileiro durante 398 dias entre 2003 e 2010. O levantamento se refere ao tempo em que Luiz Inácio Lula da Silva estava no exterior, segundo dados do Palácio do Planalto. Desde a redemocratização, foi o vice que mais tempo assumiu o poder no Brasil.

No 1º mandato de Lula, Alencar assumiu o cargo em 61 ocasiões. No 2º, o maior número de viagens internacionais de Lula fez com que o vice assumisse o exercício do cargo 76 vezes.

O mineiro ocupou o cargo mesmo durante períodos em que esteve internado. O artigo 80 da Constituição prevê que, "em caso de impedimento do presidente e do vice-presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal". Mas, mesmo internado, ele nunca se declarou impedido.

Dupla de Silvas virou sinônimo de popularidade

Nas eleições de 1989, o industrial mineiro José Alencar Gomes da Silva entrou na cabine eleitoral disposto a cravar o número 13 e eleger presidente o ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva. Diante da urna, contudo, recuou e anulou o voto. "Tive medo", admitiu. Treze anos depois, emprestaria o nome e o prestígio acumulado no mundo do capital para compor a chapa vitoriosa de Lula e do Partido dos Trabalhadores.

Cortejo fúnebre percorrerá ruas de Brasília

O corpo de José Alencar será velado no Palácio do Planalto com honras de chefe de Estado, conforme acertado por telefone entre a presidente Dilma Rousseff, o presidente em exercício, Michel Temer, e o empresário Josué Gomes da Silva, filho de Alencar. Trata-se de uma homenagem especial. O último político velado no Planalto foi o presidente eleito e não empossado Tancredo Neves, em 1985.Alencar assumiu a Presidência por mais de um ano, durante as viagens do ex-presidente Lula ao exterior. O caixão de Alencar subirá a rampa do Planalto e será recebido pelo presidente em exercício, ministros de Estado e os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso.

Crítico contumaz dos juros, dizia que Lula nunca o ouviu

Gabinete da Vice-Presidência, setembro de 2005. O então vice-presidente José Alencar Gomes da Silva, com lágrimas nos olhos, faz um desabafo a dois repórteres da Folha: "Eles não me ouvem, eles não me ouvem".
Era uma queixa sobretudo ao PT, mas também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à equipe econômica, responsáveis, dizia ele, por "juros escorchantes" praticados pelo Banco Central. A entrevista nem havia começado, e Alencar já falava de seu então assunto predileto, os juros, num tom emotivo bem conhecido na sua intimidade, mas bem diferente do estilo pragmático, determinado e perfeccionista que ostentava publicamente. Foi essa garra que o transformou de menino pobre e sem estudos num dos mais bem-sucedidos empresários brasileiros e em vice-presidente do primeiro operário a comandar o país.

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