Regionais : A dor canalha chamada Trump
Enviado por alexandre em 01/02/2017 09:10:24

A dor canalha chamada Trump

* Amin Stepple

Nos Estados Unidos da América não há estelionato eleitoral. Podem existir algumas promessas de campanha cumpridas pela metade. Essas muito mais causadas pelo jogo democrático do peso e contrapeso das relações de força entre a presidência e o Congresso do que enrolation à brasileira. É o caso do governo Obama. Disse que iria fechar os cárceres de Guantánamo, mas não conseguiu. Esvaziou-os numericamente, mas ainda resta uma turma da pesada por lá. Em relação aos imigrantes, afirmou que iria legalizar a permanência de pelo menos cinco milhões que vivem na insegurança da clandestinidade. Não teve força, ficou na verve. Enquanto isso, em oito anos, à sorrelfa, Obama deportou quase três milhões. Mais do que Bush filho. Segundo o Departamento do Estado, todos fichas sujas, traficantes, bandeira 2.

Obama ameaçou derrubar o ditador sírio, Bashar Al Assad, mas ficou só na lábia e no apoio aos rebeldes, e na época o criminoso de guerra ainda não tinha o pleno apoio dos russos, como tem hoje. No balanço, Obama representou avanço em vários setores, inclusive na recuperação econômica, com a ressalva da generosidade do socorro financeiro aos banqueiros e a outros meliantes de colarinho branco e de bônus obscenos. Bem, governo é para sofrer, e não é possível fazer tudo o que se gostaria.

Sai Obama, entra Trump. Quem esperava ou desejava que a furibunda retórica de campanha do ex-apresentador de TV fosse apenas para seduzir os insatisfeitos com o modelo excludente em vigor nos Estados Unidos logo percebeu que se autoiludiu. O pacote de maldades, lançado nas duas primeiras semanas (algum assessor dele leu Maquiavel?), desmontou a credulidade dos que apostaram numa versão americana de estelionato eleitoral.

Como não há o menor sinal de recuo nas propostas discricionárias, conservadoras, misóginas, homofóbicas e até chantagistas (vide México e grandes corporações industriais) anunciadas até agora por Trump, os que acreditaram, por autoenganação, de que tudo não passaria de uma charla bem formatada para conquistar o voto, fazem agora uma nova aposta. A da reação de boa parte da sociedade americana (bem mais organizada do que as latinas) em repudiar, com força e coragem, a agenda trumpista. A expectativa primeira está nas ruas (terá fôlego? E aí, rapaziada, vai se conformar com o tsunami do refluxo?), passando depois para o judiciário e Congresso (com maioria republicana?).

De qualquer forma, não será um governo tedioso, modorrento. Para espanto dos convictos, as democracias, mesmo as mais sólidas como a americana, são capazes de criar caudilhos ou aprendizes de tirano. Portanto, virão tempos divertidos de gás pimenta. Como o mandato são de quatro anos, caso não haja um impeachment (é improvável?), todos nós, americanos do Norte e do Sul, e os outros bilhões de terráqueos, vamos conviver diariamente com essa dor canalha chamada Trump. Por falar nisso, serve como consolo um antigo e maravilhoso rock de Walter Franco, cuja letra parece oportuna para o novo show horror que está apenas começando:

“É uma dor canalha/Que te dilacera/É um grito que se espalha/ Também pudera/Não tarda nem falha/Apenas te espera/ Num campo de batalha/É um grito que se espalha/ É uma dor/ Canalha”

* Jornalista e cineasta

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