Regionais : A herança deixada por Fidel Castro na América Latina
Enviado por alexandre em 27/11/2016 20:41:29

A herança deixada por Fidel Castro na América Latina




O ex-presidente Lula com Fidel Castro e o religioso Frei Betto, em Bogotá, na Colômbia, em setembro de 2003. ALEJANDRO ERNESTO EFE

Como foi possível que o regime castrista resistisse por tanto tempo? Hoje, a pergunta ganha um sentido ainda maior

El País - Joaquín Roy,

No final do século passado, já superada a desintegração da União Soviética, ao voltar os olhos para esse canto do Caribe ocupado por Cuba, os observadores internacionais faziam uma pergunta obrigatória: como era possível que o regime castrista resistisse por tanto tempo? Hoje, com a morte de Fidel Castro aos 90 anos, a pergunta ganha um sentido ainda maior, assim como é intrigante a marca deixada na América Latina pelo sistema que Castro fundou.

Naquela época, eu fazia frequentemente essa pergunta a numerosos especialistas nos dois lados do Atlântico. David Thomas, um diplomata britânico que serviu em Havana, ofereceu a resposta na forma de um ranking das razões para a sobrevivência do castrismo. As análises procedentes da Pérfida Albion, de fato, não são confiáveis quando estão misturadas aos seus interesses particulares, mas, pelo contrário, quando o assunto não faz diferença para eles, convém prestar a devida atenção aos seus diagnósticos, pois geralmente acertam na mosca.

Sirva de exemplo a grande escola de historiadores ingleses que ofereceram obras clássicas sobre a Espanha, e os que se dedicaram a pedaços específicos da América Latina. Outro Thomas, sir Hugh, caso emblemático, é autor de livros de história até hoje insuperáveis sobre a Guerra Civil Espanhola e a história de Cuba.

O embaixador Thomas respondeu com a seguinte lista: 1) A Revolução Cubana era, originalmente, made in Cuba, e não imposta pelos tanques soviéticos; em suma, um produto nativo; 2) A personalidade do líder, irrepetível, insubstituível, sem sucedâneo no panorama histórico latino-americano; 3) O papel dos EUA (e, dentro dos EUA, o contraproducente papel do exílio) em “ajudar” a revolução ao apresentar uma política errática durante quase 40 anos àquela altura (agora, quase 60); e 4) A contribuição do subsídio soviético em apenas três décadas. Note-se, por um lado, a importância concedida à culpa da política de Washington. Por outro, observe-se que, enquanto o rastro do papel soviético desapareceu completamente e é hoje um mero acidente histórico, rejeitado por milhões de cubanos, as duas razões primitivas da sobrevivência do castrismo continuam incólumes.

A herança deixada por Fidel Castro na América Latina


Josias de Souza

O que morreu em Havana não foi o revolucionário de Sierra Maestra. Aquele Fidel Castro libertário que prevaleceu sobre Fulgencio Baptista já havia desaparecido há tempos. Está sepultado em alguma encruzilhada da história, sob uma lápide em que se lê: “Aqui jaz um anacronismo!” O que acaba de morrer em Havana foi a principal atração turística da ilha.

Deu-se em Cuba um fenômeno curioso. O pós-Fidel começara com ele vivo. Raúl Castro não esperou pela morte do irmão para iniciar um processo lento, muito lento, lentíssimo de abertura econômica. Raúl começou a se render à realidade quando as sestas de Fidel tornaram-se mais longas. Num dia em que o ex-grande-líder-da-pátria dormiu demais depois do almoço, Raúl apertou a mão de Barack Obama.

Cuba foi se entregando aos poucos, à medida que sua economia ia penetrando o caos. E Fidel, já reduzido à condição de paisagem, fingiu não perceber que sua ditadura repressiva reclamava um pouco de ar, de leite, de ovos, de carne, de papel higiênico, de liberdade, de vida…

Depois de imprimir suas digitais de líder nas páginas do século passado, Fidel morreu como uma espécie de Vesúvio. Em visita a Havana, pessoas notáveis faziam questão de tirar fotos do seu lado. Sabiam que, já meio adormecido, ele não metia mais medo.

Os visitantes eram orientados a não rir das vestes do ex-vulcão. Desde que deixara de cuspir lava, Fidel vestia malhas Adidas. Feneceu ostentando uma logomarca do capitalismo no peito. Teve um fim melancólico.

Página de impressão amigável Enviar esta história par aum amigo Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notícia