Regionais : Coletiva: ameaçado de impeachment, Temer se defende
Enviado por alexandre em 27/11/2016 20:35:29

Coletiva: ameaçado de impeachment, Temer se defende




Presidente Michel Temer, Presidente do Senado Federal Renan Calheiros e o Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Rodrigo Maia, durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto - 37/11/2016 (Beto Barato/PR/Divulgação)

Presidente disse que arbitrava conflito ‘administrativo’ quando foi gravado de modo ‘indigno’ por Calero e que pretende passar a gravar o seu gabinete

VEJA

O presidente Michel Temer concedeu uma entrevista coletiva neste domingo, organizada de última hora para tentar amenizar a crise que se abateu sobre o seu governo com a denúncia, feita pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, de que se envolveu pessoalmente no caso em torno do apartamento de outro de seus ex-ministros, Geddel Vieira Lima, derrubado pela suspeita de ter pressionado Calero a liberar a construção de um edifício próximo a uma área tombada de Salvador, no qual adquiriu um luxuoso apartamento.

Para reforçar a ideia de que age com lisura, Temer anunciou que pensa em passar a gravar todas as conversas realizadas no gabinete da Presidência. A crise se tornou mais grave na semana que passou pela notícia de que tramita no Congresso Nacional uma emenda parlamentar para anistiar o chamado caixa dois de campanha eleitoral, cuja aprovação foi negada tanto por Temer quanto por Renan Calheiros e Rodrigo Maia, presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, também presentes à coletiva.Temer ainda falou sobre a outra crise, a econômica, e disse que resultados animadores são esperados apenas para o segundo semestre de 2017.

“Agradeço a pergunta porque é o primeiro momento em que posso esclarecer essa questão”, disse Temer, ao ser questionado sobre a gravação que Marcelo Calero teria feito da conversa em que teria sido cobrado pelo presidente para encaminhar a questão da obra de Salvador à Advocacia Geral da União (AGU), que, segundo o ex-ministro da Cultura, daria um parecer favorável ao Iphan nacional, que, ao contrário do Iphan da Bahia, é a favor da liberação do prédio onde Geddel comprou apartamento. “Ele parece que gravou a conversa. Com toda a franqueza, acho que gravar clandestinamente é algo irrazoável. Eu diria que é indigno, de uma indignidade absoluta. Um ministro gravar o presidente da República é gravíssimo. E, se gravou, espero que logo venha a luz. Os senhores sabem que sou cuidados com as palavras”, disse.

“Eu estava arbitrando um conflito de ordem administrativa, entre dois órgãos públicos. O Iphan da Bahia tinha uma posição e o nacional, outra. Então, eu disse, mande para a AGU. Não estava patrocinando nenhum interesse privado, data vênia”, afirmou Temer, em seu linguajar de advogado.

“Estou pensando em pedir, não é uma decisão ainda, ao Gabinete de Segurança Institucional que grave todas as audiências do presidente da República”, acrescentou depois. A acusação de Calero levou a oposição a falar em um processo de impeachment de Michel Temer.

Sobre as temidas delações premiadas de executivos da construtora Odebrechet, Temer disse que não se pode ser “ingênuo” de não as recear. “Claro que fala que vai alcançar 100, 150 pessoas da classe política, claro que há uma preocupação de ordem institucional. Claro que há, não poderíamos ser ingênuos.”

Por fim, defendeu o governo dizendo que “nunca houve lua de mel” com a opinião pública e a sociedade — “nunca houve lua de mel”, disse, poético — e que é preciso conquistar esperança e depois confiança para mudar o quadro econômico. Também disse que tem conversado sobre a possibilidade de redução na taxa básica de juros. “Eu vejo que eventuais resultados se darão lá pelo segundo semestre do ano que vem.”

O conjunto da obra ameaça Temer


Os políticos não entenderam que o país mudou. Eles se matam por um apartamento de luxo?

Época - Ruth de Aquino

Não é um tríplex, mas o apartamento embargado de Ged­del Vieira Lima (que pediu demissão na sexta-feira, dia 25) já desabou em cima do presidente Michel Temer. A política tem dessas coisas, Temer, esse tipo de pressão popular. Não basta saber ajeitar o nó da gravata e falar bem o português. Num país traumatizado pela corrupção, apostar todas as suas fichas numa figura pretérita como Geddel é pedir para ser crucificado neste Black December.

O presidente não podia blindar Geddel antes mesmo de a Comissão de Ética abrir processo. As “ponderações” do ministro da Secretaria de Governo para o então ministro da Cultura Marcelo Calero tinham um peso imoral. O talento de “articulador” do baiano Geddel virou poeira, aquele pó de obra que suja até a alma. Os aliados correram para dar apoio irrestrito a um ministro acusado de tráfico de influência em benefício pessoal. O condenado arranha-céu La Vue, em Salvador, tem as digitais de amigos e parentes de Geddel desde sua concepção. Um espigão em área tombada arranhou Congresso e Planalto – por tibieza do presidente.

Parece que os políticos não entenderam que o país mudou. Eles se matam por um apartamento de luxo com “la vue” total da Baía de Todos-os-Santos? Ao dar o caso por “encerrado”, todos que apoiaram Geddel colocaram seus dedos na tomada. Foi falta de visão, uma irresponsabilidade com um momento em que o Brasil deveria focar na estabilidade econômica e na recuperação do emprego. Com amigos como Geddel, Renan Calheiros e Rodrigo Maia, nenhum presidente precisa de inimigos.

Ao assumir a Presidência há seis meses, após longo e doloroso impeachment de Dilma Rousseff, Temer disse que era “hora de tentar pacificar o país”. Agora, ao nomear Roberto Freire para a Cultura, Temer nem se referiu ao antecessor Calero. Estava amuado. O próprio Temer havia intercedido com Calero em favor de Geddel, que andava “muito irritado” com o embargo de seu apartamento. Na posse de Freire, Temer disse que vai “salvar o Brasil”, “ganhar céu azul e velocidade de cruzeiro”. Não, presidente. O céu está enfarruscado, e sua forma de menosprezar o caso Geddel é mais do mesmo. Só ajuda a inflamar as ruas.

Em setembro, Geddel havia constrangido o governo, ao declarar: “Caixa dois não é crime. Quem se beneficiou deste mecanismo no passado não pode ser punido”. Será que Temer ponderou com Geddel? Depois, a imprensa deu a lista dos salários acima do teto constitucional de R$ 33.763. Olha o Geddel ali, gente! Ele ganha R$ 51.288 por mês, acumulando dois vencimentos. Fora privilégios e benefícios.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, decidiu abrir mão de parte do salário para se adequar ao teto. Geddel nem pensou: “Os meus vencimentos estão dentro da lei. A lei é para todos”. Geddel, o grande articulador, não convenceria servidores a abrir mão de vencimentos para ajudar estados falidos. Onde vive Geddel? Nas nuvens, e faz tempo. Você lembra o vídeo Geddel vai às compras, que mostrava, a partir de um helicóptero, as fazendas adquiridas por ele de maneira antiética? As imagens são do ano 2001. Quem divulgou foi o então presidente do Senado, o também baiano Antônio Carlos Magalhães. O que mudou foi só a tecnologia. Naquele tempo, o vídeo era distribuído em fita.

“Vamos trabalhar! O Congresso nos espera”, disse um comovido Geddel com o apoio de seus pares. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, foi impiedoso com o ex-ministro Calero: “Ele enlouqueceu (...) O ministro sai atirando para desestabilizar o Brasil”. O presidente do Senado, Renan Calheiros, também saudou a blindagem de Geddel por Temer: “O bom é que isso fique para trás”. Essa dobradinha Rodrigo-Renan é o retrato do Brasil reciclável na política.

Temer ajustou posição sobre anistia três vezes


Josias de Souza

No intervalo de apenas 13 dias, Michel Temer promoveu três ajustes em suas manifestações sobre a pretensão dos congressistas de aprovar algum tipo de anistia para o crime de caixa dois. Como presidente da República, Temer tem o dever constitucional de deliberar sobre projetos aprovados no Legislativo. Pode sancioná-los ou vetá-los. Daí a relevância de saber o que pensa sobre o tema.

No início, Temer trazia sua opinião sobre a anistia na coleira, evitando soltá-la em público. Em entrevista ao programa Roda Viva, exibida pela TV Cultura em 14 de novembro, fugiu do assunto: “Esta é uma decisão do Congresso. Eu não posso interferir nisso.”

Reiterou sua posição em conversa com o blog, veiculada aqui em 16 de novembro: “Se eu dou uma opinião desde já, quando surgir a hipótese de sanção ou veto, já estou comprometido com a opinião que eu dei, sem ter uma discussão final do Congresso Nacional. Tenho uma cautela extraordinária, até um pouco exagerada em relação a isso. Quero evitar qualquer espécie de autoritarismo do tipo: ‘eu estou decidindo assim ou assado’.”

No início da semana, Temer foi consultado por seus aliados na Câmara. Privadamente, sinalizou que não teria dificuldades em sancionar um artigo perdoando os políticos que receberam verbas para suas campanhas via caixa dois, diferenciando-os daqueles que embolsaram propinas.

Súbito, Temer passou a difundir posição oposta. Autorizou seus interlocutores a espalharem que vetará qualquer tipo de anistia que lhe chegue à mesa. Simultaneamente, combinou com Renan Calherios e Rodrigo Maia, presidentes do Senado e da Câmara, um esforço para tentar matar o assunto no próprio Congresso. Assim, Temer nao precisaria passar pelo desgaste do veto.

Deve-se o posicionamento mais incisivo de Temer a um fenômeno que um de seus ministros chamou de “Efeito Geddel.” Acusado de se envolver no esforço para liberar a construção do prédio onde seu ex-coordenador político Geddel Vieria Lima tem um apartamento, Temer é malhado no noticiário e nas redes sociais.

O endurecimento da posição sobre a anistia do crime de caixa dois, outro foco de desgaste, é uma tentativa de Temer de atenuar a pancadaria que transforma a crise atual no pior momento de sua curta gestão de seis meses.

Temer :“E indigno e gravíssimo” gravar o presidente



Marcelo Calero diz que gravou conversa com presidente.
Calero diz que foi pressionado a liberar obra de apartamento de ministro.

Luciana Amaral - Do G1 em Brasília

O presidente Michel Temer afirmou neste domingo (27) que é "indigno" e "gravíssimo" um ministro gravar o presidente da República. A afirmação foi feita em referência às notícias de que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero gravou conversas com Temer e com ministros do governo sobre uma suposta interferência política em uma decisão técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão vinculado ao Ministério da Cultura.

Calero se demitiu depois de denunciar ter sido pressionado por Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, para liberar a obra de um edifício no centro histórico de Salvador no qual Geddel tem um apartamento. Calero disse que Temer também intercedeu na questão e que gravou as conversas.

"Espero que essas gravações venham a público", disse o presidente, que afirmou que é muito cuidadoso com o que fala e que a atitude de Calero foi de uma "indignidade absoluta".

O presidente disse que "não estava patrocinando nenhum interesse privado" ao "arbitrar" a divergência entre Marcelo Calero e Geddel Vieira Lima e ter sugerido ao então ministro da Cultura encaminhar o caso para a Advocacia Geral da União (AGU).

"Você verifica que eu estava administrando conflitos de natureza pública. Quando ele [Calero] falou que não queria despachar, falei para mandar para a AGU", disse.

Temer disse que ainda não tomou uma decisão, mas cogita fazer gravações oficiais das audiências na Presidência da República. "Estou pensando em pedir ao Gabinete de Segurança Institucional que grave – aí publicamente –, que grave todas as audiências do presidente da República", declarou.

Crise no governo
O pedido de demissão de Marcelo Calero no último dia 18 e as denúncias contra Geddel abriram uma crise no governo Temer. Na sexta-feira (25), Geddel pediu demissão e deixou o governo.

Temer afirmou que, se Geddel tivesse pedido demissão antes, "talvez teria sido melhor". "É claro que ganhou uma dimensão extraordinária. A demora não foi útil", disse.

O presidente da República disse também que está "examinando com muito cuidado" o perfil do novo ocupante da Secretaria de Governo, em substituição a Geddel Vieira Lima. Segundo ele, é preciso alguém com "lisura absoluta" e com facilidade para conversar com os integrantes do Congresso.

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