Mais Notícias : Cidade alagoana teve dois resultados e final por 3 votos
Enviado por alexandre em 24/10/2016 09:03:19

Cidade alagoana teve dois resultados e final por 3 votos
Postado por Magno Martins

JUNQUEIRO (AL) – Localizado a 118 km de Maceió, na região centro-sul de Alagoas, intermediária entre a Zona da Mata e o Agreste, Junqueiro é uma oligarquia da família Pereira, que nas eleições deste ano se uniu à rival Tavares, que não veio abaixo no pleito de 2 de outubro passado por muito pouco. Motivados por um falso alarme, de que o candidato da oposição, Leandro Silva (PPS), havia vencido a incompreensível união entre os Pereira e Tavares, que se odiavam, os eleitores que apostaram na mudança chegaram a comemorar a vitória por uma diferença de 19 votos.

O sabor de impor uma derrota histórica à velha oligarquia durou apenas 40 minutos, tempo que a justiça eleitoral confirmou que o eleito seria Carlos Augusto Almeida (PMDB), fiel e legítimo representante do clã Pereira, por apenas três votos. Ninguém entendeu, até porque os advogados que estavam na central de apuração fiscalizando pela coligação da oposição informaram a Leandro que já estavam de posse do documento em que o juiz eleitoral autorizava o uso das ruas para comemoração.

A explicação para dois resultados, entretanto, até hoje não foi digerida nem compreendida por metade do eleitorado. Oficialmente, a bronca está associada ao procedimento da urna eletrônica. Para uma urna eletrônica estar apta a receber os votos dos eleitores é preciso imprimir a zerésima, documento que comprova que a urna não possui nenhum voto registrado para nenhum dos candidatos. Com a zerésima emitida, a urna pode ser utilizada normalmente.

“O que nos informaram é que a última urna apurada havia ficado sem a zerésima”, diz o jovem comerciante Leandro Silva, de apenas 28 anos, que rompeu com o prefeito Fernando Pereira (DEM), de quem foi secretário de Segurança Pública, para se transformar, ao longo de uma campanha que começou desacreditada, num tremendo azarão. Simpático, comunicativo e bem-sucedido nos seus negócios, sendo dono de um posto de gasolina, onde, muitas vezes, faz questão de abastecer os veículos da clientela, Leandro só não conseguiu, porém, o que parecia mais fácil: unir a sua família.

Dois tios – Valmir e Marcos, e um primo, Kiko - foram eleitos vereadores pela coligação adversária. Do tronco familiar, ganhou apenas o apoio da irmã Lila Silva, vereadora mais votada do município, com 979 votos. Mas, pela ordem de votação, Kiko, Marcos e Valmir, se tivessem feito opção em nome da unidade familiar, certamente teriam levado Leandro ao trono, com chances de dar uma surra histórica, porque a soma de suas votações totaliza 2.117 votos.

Na contagem final, Carlos Augusto, o prefeito eleito, teve 6.964 votos e Leandro Silva, 6.961. Correndo por fora, o candidato do PMN, Onaldo Tavares, que se rebelou contra a união com os Pereira, obteve 140 votos, apenas 1% do total apurado. Em 56 seções, 300 eleitores votaram em branco e 839 eleitores anularam seus votos. “Meus tios não quiseram romper com o prefeito e eu não forcei a barra, até porque na nossa largada poucos acreditavam que eu tivesse chances”, diz Leandro.

“Meu sobrinho fez uma campanha muito competente, caiu na graça do povo, mas não tinha como apoiá-lo. Confesso que foi a pior eleição que enfrentei na vida, vendo um parente tão próximo com chances de ser prefeito e não poder ajudar”, disse o vereador José Valmir, eleito pela quarta vez seguida pelo PMDB com 645 votos. Dono de um restaurante na cidade, ele confessa que foi objeto de chacota, chamado de Judas. “A questão familiar aqui é muito forte. Meu coração partiu, mas Leandro compreendeu minha situação”, avalia.

Politicamente, Leandro não enfrentou apenas familiares já testados e aprovados nas urnas. Com apenas 28 mil habitantes e 18 mil eleitores, Junqueiro atraiu forças poderosas para o palanque do prefeito vitorioso graças à fama dos Pereira, há 50 anos no poder. Além do governador Renan Filho (PMDB), subiram no palanque e foram presenças constantes na campanha o senador Benedito de Lira (PP), filho da terra, o senador Fernando Collor (PTB), vem votado na região, o deputado federal Artur Lira (PP) e a deputada estadual Jô Pereira (DEM), irmão do atual prefeito.

“Como não houve disputas nas cidades vizinhas de Campo Alegre e Teotônio Vilela, as forças adversárias atraíram todos esses grupos para impedir minha vitória na marra”, diz Leandro, que apostou no discurso da mudança, da modernidade e do não político. “Eu fui secretário de segurança do município e conseguimos reduzir a violência”, acrescenta. Na justiça, ele vai tentar anular o resultado da eleição.

O processo, no entanto, não se dará em cima do que ocorreu em relação a não leitura das zerésimas das urnas eletrônicas, mas ao que classifica de abuso do poder econômico. “Temos documentos, como vídeos e fotos, de caçambas do PAC entregando areia para eleitores, o que motivou, inclusive, um flagrante nosso levando a promotora para presenciar”, disse. Segundo ele, já ao longo desta semana testemunhas começam a ser ouvidas no processo.


Página de impressão amigável Enviar esta história par aum amigo Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notícia