Regionais : Lula perdeu o controle sobre seu futuro eleitoral
Enviado por alexandre em 28/08/2016 12:17:56

Lula perdeu o controle sobre seu futuro eleitoral



Josias de Souza

Lula prevê que viverá dias turbulentos. Indiciado pela Polícia Federal sob a acusação de receber R$ 2,4 milhões em “vantagens ilícitas” da empreiteira OAS, ele dá de barato que será denunciado pela força-tarefa da Lava Jato. De passagem por Brasília, nesta sexta-feira, disse a um amigo não ter dúvidas de que o juiz Sérgio Moro acatará a denúncia, convertendo-o em réu. Em conversa com o blog, o amigo de Lula resumiu assim o drama que o atormenta: “Ele está deixando de ser dono do seu destino político, a situação foge do seu controle.”

Após reunir-se com Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, Lula conversou com um grupo de senadores petistas no hangar em que tomaria o jatinho de volta para São Paulo. Foram encontrá-lo, Jorge Viana (AC), Humberto Costa (PE), Paulo Rocha (PA) e José Pimentel (CE). Na definição de um dos congressistas, a notícia sobre o indiciamento deixou Lula “baqueado”. Ele estranhou que a divulgação tenha ocorrido às vésperas da deposição de Dilma. Exergou na novidade uma motivação política. Irritou-se com a inclusão de sua mulher, Marisa Letícia, no rol de indiciados.

As críticas de Lula à ação da Polícia Federal ecoaram uma nota divulgada por seus advogados. Nela, os doutores Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira repudiaram as acusações do delegado federal Márcio Adriano Anselmo, responsável pelo inquérito sobre o tríplex do Guarujá. Eles repisaram o argumento segundo o qual o imóvel não pertence a Lula, mas à própria OAS. Anotaram que o relatório do delegado tem “caráter e conotação políticos”. Apelidaram-no de “peça de ficção.”

A guerra retórica que Lula e seus defensores declararam à Polícia Federal está crivada de ironias. O morubixaba do PT sempre se vangloriou da autonomia que a polícia adquiriu durante o seu governo. Em dezembro de 2014, discursando numa homenagem ao ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que havia morrido, Lula enalteceu a transformação que o amigo produzira no Departamento de Polícia Federal.

Sob o comando de Thomaz Bastos, “a ação da Polícia Federal alcançou indistintamente ministros e ex-ministros, prefeitos e deputados de diversos partidos, inclusive dos que apoiavam o governo”, dircursou Lula. Nessa época, ele trazia os lábios grudados no trombone: “O braço da lei, por meio da polícia judiciária, passou a alcançar os ricos e poderosos.” Alvejado, Lula parece lamentar que a PF tenha ampliado seu raio de ação para o nível presidencial.

Correm na ‘República de Curitiba’ pelo menos mais dois inquéritos contra o pajé do PT. Um deles, já em estágio avançado, envolve o sítio de Atibaia, usado por Lula e reformado por um consórcio informal que incluiu uma empresa do companheiro-pecuarista José Carlos Bumlai a Odebrecht e a OAS. É contra esse pano de fundo que o amigo de Lula disse que ele “está deixando de ser dono do seu destino político.” Ele continua insinuando que, se o perturbarem muito, disputará novamente o Planalto. O problema é que seus direitos políticos passaram a depender da Justiça.

Se Lula for condenado em segunda instância, ficará inelegível por oito anos. Ou seja: o controle sobre o futuro eleitoral da única liderança nacional do PT foi transferido para a mesa de Sérgio Moro e para o Tribunal Regional Federal da 4a. Região, que julga em segundo grau os recursos movidos contra sentenças do juiz da Lava Jato.


A pobre estreia de Temer no G20



Clovis Rossi – Folha de S.Paulo

Se se tornar o presidente efetivo até lá, Michel Temer fará sua apresentação à sociedade internacional durante a cúpula do G20 nos próximos dias 4 e 5, em Hangzhou (China).

Será tudo menos uma estreia apoteótica. Primeiro porque Temer carece do brilho que só o banho das urnas confere a governantes recém-empossados.

Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, apresentou-se ao mundo (no caso dele, no Fórum de Davos, em 2003) e foi um sucesso de público e de crítica, um tanto por sua vitória eleitoral e muito por sua história de vida, realmente cinematográfica. Temer, ao contrário, tem uma biografia convencional.

Segundo fator: o Brasil de Temer está tendo o pior desempenho econômico entre todos os países do G20. Até a Rússia, a pior da classe no G20 anterior, passou o Brasil.

Os simpatizantes do novo governo podem dizer que a culpa não é dele, mas de Dilma Rousseff. Não deixa de ser verdade, mas para o resto do mundo é difícil entender como o companheiro de chapa de uma pessoa não é corresponsável pelas políticas adotadas.

Afinal, não se conhece uma única palavrinha de Temer contra o que Dilma fazia. Até fez questão de ser o candidato a vice em 2014, quando já operavam as políticas que acabaram levando ao desastre.

Mais complicado ainda é o fato de que os anúncios de Temer até agora vão na contramão do pensamento predominante hoje no G20.

O clubão das grandes economias comprometeu-se, na cúpula de 2013, a adotar políticas que levassem o mundo a crescer, até 2018, 2,1 pontos percentuais acima do que o Fundo Monetário Internacional previa naquele ano.

Como a previsão era de crescimento de 2,9%, tem-se, portanto, que, em 2018, o mundo deveria estar crescendo fabulosos 5%.

É uma meta que, a esta altura, parece inalcançável. Tanto que na mais recente reunião dos ministros de Economia do G20 anunciou-se, pela enésima vez, a disposição de "usar todas as ferramentas políticas, individual e coletivamente", para alcançar um crescimento forte.

Até o Fundo Monetário Internacional, outrora guardião inflexível da ortodoxia, especificou uma das ferramentas necessárias: mais gasto público. O Brasil de Temer, além de estar contribuindo para arruinar a meta de crescer 5% em 2018, parece exclusivamente preocupado com o acerto das contas públicas, no pressuposto de que, uma vez alcançado este, o crescimento virá inexoravelmente.

Para o meu gosto, é mais fé do que ciência. De todo modo, a ênfase na agenda do novo governo não é o crescimento, ao contrário do que destacam, ao menos retoricamente, seus pares do G20.

De todo modo, o governo brasileiro festeja o fato de que a China, a anfitriã, incluiu "reformas estruturais" entre os temas para facilitar o crescimento. Essa expressão acaba sendo uma muleta retórica que países (ou o mundo em geral) usam quando o crescimento é medíocre, como ocorre atualmente.

O governo Temer também usa a muleta retórica, o que, em tese, significa que está em sintonia com o G20. É pouco para uma estreia que tem tudo para ser opaca.

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