Delações da Odebrecht: disparos nos dois lados
Nota da empresa e fala de investigadores indicam dano multipartidário
Blog do Kennedy
As delações premiadas de Marcelo Odebrecht e dos demais membros da maior empreiteira do país tendem a ser amplas e não seletivas. Há, pelo menos, dois indicadores nesse sentido.
O primeiro é a nota divulgada ontem pela Odebrecht. O principal trecho: “Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato –que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país– seguimos acreditando no Brasil”.
Ao falar de “um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país”, há uma sinalização clara de que a empresa deverá fazer revelações que alcançarão diversas legendas.
O segundo fator a sugerir delações amplas é a entrevista coletiva desta terça dada pelos investigadores em Curitiba a respeito da 26ª fase da Operação Lava Jato, a Xepa. Todos os que falaram apontaram para um ambicioso esquema de pagamento de propina. O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima transmitiu o recado principal.
De acordo com ele, a Lava Jato irá além das falcatruas na Petrobras. Investigará mais do que um partido. E já teria material apreendido na Xepa sobre eventuais crimes da Odebrecht em contratos com o governo federal e governos estaduais. Precisava dizer mais?
Dificilmente a força-tarefa da Lava Jato, que vive um momento de contestação de parcela da sociedade civil e do meio jurídico, ficará contente em limitar o potencial de revelações que a Odebrecht pode produzir.
No curto prazo, isso é péssima notícia para Dilma, sobretudo porque há evidências de pagamentos ilegais ao marqueteiro João Santana no ano da reeleição da presidente e nos primeiros meses do segundo mandato. Mas o PMDB e o PSDB também deverão ver caciques importantes em apuros.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido até que as colaborações sejam homologadas e produzam efeitos sobre os investigados com e sem foro privilegiado. Mas é lógico esperar que essas delações tirem de cena boa parte da classe política brasileira.
Aliados de Dilma: delação de Odebrecht é bomba atômica
Postado por Magno Martins
Folha de .Paulo - Daniela Lima
Integrantes do Palácio do Planalto e aliados do governo comentavam a portas fechadas desde o fim da semana passada que havia o risco de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que carrega seu nome, fechar um acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato. Se confirmado, diziam, a colaboração seria "uma bomba atômica".
A disposição dos executivos da empreiteira e do próprio Marcelo de fecharem o acordo foi oficializada nesta terça-feira (22). Na nota em que noticiou publicamente sua decisão, a Odebrecht tratou sua oferta como uma "colaboração definitiva".
O potencial das revelações que podem ser feitas pelos executivos da empreiteira preocupa o Planalto e reforça o discurso que vem sendo feito a dirigentes de partidos aliados: o de que a lava Jato montou um cerco não só "ao PT, mas a todos os partidos que ajudam o governo".
Segundo a narrativa de aliados de Dilma, seria preciso compreender que "nem a oposição" sairá ilesa dos avanços da operação. Em conversas privadas, integrantes do governo têm dito que siglas como o PMDB cometerão um erro se acreditarem que o impeachment da petista colocará um freio à crise. |