Regionais : Fernando de Noronha não tem crise nem desemprego
Enviado por alexandre em 21/12/2015 10:02:00

Fernando de Noronha não tem crise nem desemprego



A maior crise que o País atravessa nos últimos 50 anos, gerando um apagão no emprego, passa longe de Fernando de Noronha. No arquipélago, o dólar alto, que inibe as viagens internacionais, associado ao visgo do fascínio da ilha, bombam o turismo. O ano fecha com um crescimento de 26% no número de turistas que aportam na ilha, totalizando quase cem mil, aquecendo a economia e fazendo a alegria dos hoteleiros.

Dono de uma das melhores pousadas de Noronha, a Zé Maria, o empresário José Maria Sultanum tomou um susto quando perguntei quais os efeitos da crise na ilha. “Que crise? Aqui, não tem isso não”, afirmou. Pode parecer uma opinião isolada, mas não é. Proprietária de uma pousada bem menor e sem fama, a Filó, ao lado da Zé Maria, dona Filomena foi encontrada, ao raiar do dia, pintando o seu local de trabalho, porque ali mão-de-obra é rara e cara.

“Aqui, não existe desemprego”, disse dona Filó, acrescentando que tomou a iniciativa de pegar na massa, ou seja, no pincel, porque os pintores que aparecem geralmente não trabalham bem e quando se interessam cobram muito caro. Sobre a movimentação turística, foi na mesma direção de Zé Maria. “Aqui, também não tem crise. Minha pousada vive cheia”, afirmou, exibindo felicidade.

O que causa espanto em Fernando de Noronha são os preços, item mais reclamado pelos turistas. Como ali praticamente tudo é importado, com abastecimento via navios, uma água mineral custa R$ 8,00, uma cerveja R$ 16,00 e um refrigerante R$ 10. As diárias na rede hoteleira variam de R$ 400 a R$ 3,5 mil. Comida? Prepare o bolso. A ilha tem farta opção, mas com preços salgadíssimos.

“Até pizza e sanduiche aqui dão no olho da cara”, reclama o turista Samuel Oliveira de Almeida Filho, do Rio de Janeiro. Ele disse que se apaixonou por Noronha. “Eu queria morar aqui, pois tem tudo que eu gosto, como mergulho e natureza para curtir”, afirma o carioca. Já na descida em Noronha, o turista é obrigado a pagar uma taxa diária de R$ 52,00, que em janeiro subirá para R$ 60.

Só com a cobrança dessa taxa, a Administração da ilha arrecadou R$ 20 milhões este ano, segundo o administrador Luiz Eduardo Antunes, que pilota o arquipélago há dois meses. A manutenção da ilha custa caro. “Ainda temos um aporte de R$ 17 milhões do Estado”, adianta. Um dos maiores problemas de Noronha, segundo Antunes, recai no abastecimento de bens e produtos de consumo.

A ilha tem ainda um déficit habitacional que precisa ser enfrentado. Como os terrenos pertencem à União, construir uma casa em seu território é quase impossível. O administrador está penando para tirar do papel um conjunto de moradias. A população local é muito pequena, pouco mais de três mil habitantes. Por isso mesmo, o déficit habitacional é de apenas 160 unidades.

Apesar de encher os olhos dos visitantes, Fernando de Noronha não está bem cuidada como deveria. Um dos maiores desafios do administrador é calçar ou pavimentar suas ruas, especialmente as de acesso às pousadas, hoje quase 100. A maioria está esburacada, verdadeiras crateras. “Vamos fazer um programa urgente de asfalto de ruas”, adianta o administrador.

Natural do Recife com residência fixa na ilha há mais de 12 anos, Tiago Almeida trabalha na locadora Morro do Farol e também não sabe o que é crise. A locação de um bugre custa R$ 240,00 a diária e tem que ser reservado com antecedência. “Temos uma frota de nove carros e só não estamos faturando mais porque é difícil e complicado obter autorização para entrada de veículos na ilha”, diz Almeida.

Já extremamente adaptado ao dia a dia da ilha, Tiago é casado com uma ilhoa, Monica, que trabalha com uma ONG voltada para o meio ambiente. O casal tem uma renda conjunta de R$ 10 mil. “Faço em torno de R$ 8 mil e minha mulher ganha R$ 2 mil. Pode parecer uma boa grana, mas aqui na ilha tudo é muito caro”, diz Tiago.

Para ele, um dos maiores problemas está no desabastecimento. “Água mineral é um produto de luxo aqui. Quando falta, temos que tomar água desalinizada”, disse Tiago. A sensação de que o boom econômico transforma a ilha não vem apenas de quem chegou ali e se deu bem. Os ilhéus estão bem e não sabem o que é desemprego.





O garçom Roberto Oliveira da Silva, 35 anos, diz que chega a faturar em torno de R$ 3 mil por mês, tem cinco irmãos no mercado e não conhece nenhum amigo que esteja procurando emprego na ilha. “Aqui, não tem desemprego”, diz Roberto, que sai com uma frase que chama a atenção. “A maior dificuldade de Noronha é viver com muito sacrifício porque estamos num País chamado Brasil”.

Por que Noronha é o maior sonho de consumo dos brasileiros? Aqui, grande parte dos turistas é atraído pelos passeios de mergulho em torno de uma baia em que é possível ver golfinhos e até tubarões. São os mergulhos recreativos. Devido à Corrente Sul Equatorial, que empurra a água quente da África para a ilha, o mergulho a profundidades de 30 a 40 metros não exige uma roupa de mergulho. A visibilidade debaixo d'água pode chegar a até 50 metros.

Próximo à ilha existe a possibilidade de se fazer um mergulho avançado e visitar a Corveta Ipiranga, que repousa a 62 metros de profundidade, depois de ser afundada naquele ponto intencionalmente, após um acidente de navegação.

A ilha conta com três operadoras de mergulho, oferecendo diferentes níveis de qualidade de serviço. Além disso, o arquipélago conta com interessantes pontos de mergulho livre, como a piscina natural do Atalaia, o naufrágio do Porto de Santo Antônio, a laje do Boldró, dentre outros. O arquipélago possui diversificada vida marinha, sendo comum observar diversas espécies de peixes recifais, tartarugas e eventualmente tubarões e golfinhos.

Embora protegida pela designação de Parque Nacional, muito do seu ecossistema terrestre está destruído. A maior parte de vegetação original foi cortada na época em que a ilha funcionava como presídio, para tornar mais difícil que prisioneiros fugissem e se escondessem. Existe também o problema das espécies invasivas, especialmente a linhaça, originalmente introduzida com a intenção de alimentar gado.

Atualmente, a sua disseminação pelo território está fora de controle, ameaçando o que resta da vegetação original. Sem a cobertura das plantas, a ilha não retém água suficiente durante a estação seca, e a vegetação adquire um tom marrom, secando como consequência. Observa-se também a incoerência da permissão de criação de ovelhas na ilha, ao mesmo tempo em que se pede aos visitantes que preservem a Mata Atlântica insular, em recuperação.

Outra espécie invasiva é o lagarto localmente conhecido como teiú, originalmente introduzido para tentar controlar uma infestação de ratos. A ideia não funcionou, uma vez que os ratos são noturnos e o teiú diurno. Atualmente o lagarto passou a ser considerado praga em vez dos ratos.



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