O tema da redação do Enem 2015 é "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Ele foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) minutos após o fechamento dos portões do segundo e último dia de provas, na tarde deste domingo (25). Especialistas ouvidas pelo G1 afirmaram que o tema é pertinente e atual, e disseram que, ao contrário de algumas edições anteriores, neste ano só há um tipo de posicionamento em relação ao tema: contrário à violência. "No ano em que o Enem propôs movimento migratório, ele dividiu os candidatos. Alguns foram mais a favor, outros acharam que ia ter falta de emprego no Brasil. No ano passado, com o tema da publicidade infantil, os candidatos também ficaram um pouco divididos.
Por um lado, a publicidade ajuda a aquecer a economia, estimula o consumo, gera empregos. E tem o outro lado, o do estímulo ao consumo desenfreado, de não contribuir para a formação de cidadãos conscientes", afirmou ao G1 a professora Maria Aparecida Custódio, do laboratório de redação do Curso e Colégio Objetivo. "Agora, defender a violência de qualquer pessoa é se colocar na contramão dos direitos humanos, e do próprio edital do Enem. Qualquer proposta que venha a fazer tem que contemplar os direitos humanos. Qualquer violência física, verbal ou psicológica é indefensável." A especialista em educação Andrea Ramal, elogiou o tema.
"Eu acho que é um tema muito pertinente. Houve uma pequena pista ontem na prova de ciência humanas com aquela citação de Simone de Beauvoir, que já trazia a questão da mulher. É um tema atual, extremamente relevante para os jovens discutirem, ainda mais considerando que os índices de violência contra a mulher realmente pertinente no Brasil", afirmou ela ao G1. "A gente pode comparar o Enem a um fórum de debates sobre direitos e deveres dos cidadãos. É como se o Enem convocasse 7 milhões de estudantes para discutirem uma questão, e uma questão social pertinente como a violência da mulher. Acredito que foi uma escolha muito feliz do tema porque ainda não conseguimos vencer essa chaga tão horrorosa. A aplicação da lei ainda não se efetivou", explicou Cida.
Segundo ela, os estudantes do colégio participaram de um simulado sobre o mesmo tema, que abordou a aprovação da lei do feminicídio, no primeiro semestre deste ano. "Se trata de uma questão social, uma prioridade nas questões sociais, e também um tema no qual os alunos estão bastante acostumados. Muitos dos candidatos que estão fazendo a prova nesse momento já se depararam com a violência em algum momento, seja em casa, ou com algum vizinho ou conhecido.
Abordagem do tema passa pela Lei Maria da Penha: Segundo Andrea Ramal, para que uma redação do Enem 2015 tenha uma nota alta, é obrigatório citar a Lei Maria da Penha no texto. "A não ser que a lei já seja um dos textos motivadores, precisa ser citada. Tem que falar da relevância dessa lei, se vem sendo cumprida ou não, e por que, e que outras ações para além da lei o Brasil pode tomar para resolver essa situação, porque só com a Lei Maria da Penha não resolveu." Sobre a proposta de ação, Andrea disse que, de acordo com o tema deste ano, não será possível se sair bem sugerindo medidas muito genéricas, como, por exemplo, sugerir uma lei que combata a violência contra a mulher. "Acredito que nesse caso ele vai chover no molhado. A lei já existe. Provavelmente uma proposta interessante seria sugerir mais educação desde cedo sobre o assunto, uma discussão mais aberta nas mídias sobre o tema", disse ela. "A lei tem suas limitações, seja pelo cumprimento, seja porque as pessoas ficam receosas de denunciar." A professora Cida, do Objetivo, afirmou que, além das pistas incluídas na coletânea de textos na prova, estudantes podem discutir diversos assuntos que configuram as causas da persistência da violência contra a mulher no Brasil. Alguns deles são a falta de discussão sobre a igualdade de gênero nas escolas, que fazem com que as crianças não entendam que suas mães têm o direito de serem protegidas, e acabem reproduzindo comportamentos violentos; a falta de rigorosidade do poder público para aplicar medidas protetivas em casos de mulheres que registram boletins de ocorrência contra seus parceiros, a falta de delegacias da mulher em número suficiente no país, e a permanência da sociedade patriarcal no Brasil, que traz a "questão de encarar a mulher como sexo frágil, indo na contramão das conquistas que a mulher têm tido".
Relembre todos os temas das redações do Enem
1998: Viver e aprender 1999: Cidadania e participação social 2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional 2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito? 2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita? 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo 2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação 2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira 2006: O poder de transformação da leitura 2007: O desafio de se conviver com as diferenças 2008: Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivo financeiros a proprietários que deixarem de desmatar; ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar 2009: O indivíduo frente à ética nacional 2010: O trabalho na construção da dignidade humana 2011: Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado 2012: Movimento imigratório para o Brasil no século 21 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
Tema causa polêmica na web: A escolha do tema da redação do Enem 2015 gerou debates e polêmica no Twitter. Houve aqueles que defendessem a abordagem escolhida pelo Ministério da Educação (MEC) e outros que fizeram críticas. A prova de redação tem caráter dissertativo-argumentativo e os estudantes precisam escrever sobre o tema com base em textos de motivação apresentados na hora da prova. Até a publicação desta reportagem, o Inep ainda não tinha divulgado o teor destes textos. Segundo o Inep, "na prova de redação são avaliados aspectos relacionados às competências que devem ter sido desenvolvidas durante os anos de escolaridade. Os participantes devem defender uma tese – uma opinião – a respeito do tema proposto, apoiada em argumentos consistentes, estruturados de forma coerente e coesa, de modo a formar uma unidade textual".
Programa ao vivo: Após o fim das provas, os estúdios do G1 em São Paulo e em Pernambuco darão início a um programa em vídeo ao vivo com professores do Projeto Educação e estudantes que fizeram o Enem. Eles comentarão os níveis de dificuldade de cada uma das provas, o tema da redação e os pontos mais polêmicos que caíram no Enem. Candidatos que fizeram a prova poderão participar do programa enviando perguntas e comentários pela página da cobertura completa do Enem no G1.
Resolução das questões: O G1 trará ainda a resolução das 90 questões de domingo preparadas pelos professores do Cursinho da Poli (veja a correção das provas de sábado). O gabarito oficial do Enem será divulgado pelo MEC até quarta-feira (28).
Abstenção e eliminações: No primeiro dia de provas, realizado neste sábado (24), o índice de abstenção foi de 25,31% e 364 candidatos foram eliminados, segundo balanço parcial divulgado pelo Ministério da Educação.
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