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Enviado por alexandre em 01/06/2015 09:24:14

A tática de gritar pega ladrão

Clovis Rossi - Folha de S.Paulo

Joseph Blatter, o "capo di tutti capi" da Fifa, recorreu a uma velhíssima tática para desviar a atenção do escândalo em que chafurda a entidade que preside.

É o truque barato do batedor de carteira que, depois de praticado o ato, grita "pega ladrão".

Refiro-me, como é óbvio, à teoria conspiratória que Blatter usou para dizer que a operação –iniciativa norte-americana que levou à cadeia dirigentes da Fifa– seria uma revanche pelo fato de os EUA terem perdido a Copa de 2022 para o Qatar.

Que Blatter use tal tática cínica, entende-se: alguém aí poderia esperar uma confissão de culpa?

O que impressiona é que muita gente boa e muitos cultores de um antinorte-americanismo primitivo e boçalóide adiram à tática.

Nem é original. Dirigentes do PT também atribuíram o escândalo da Petrobras ao apetite das multinacionais pelo petróleo brasileiro.

Desprezaram o essencial: existe corrupção na Petrobras, conforme confissão de ex-diretores, alguns dos quais estão até devolvendo dinheiro. Se fosse dinheiro legítimo, devolveriam?

No caso da Fifa, é igual. O essencial está na corrupção, devidamente demonstrada pelo fato de que um dos réus confessos, J. Hawilla, está igualmente devolvendo dinheiro.

O essencial está no texto de Rafael Reis para esta Folha no domingo (31):

"Mais de 20% dos dirigentes que fizeram parte do Comitê Executivo, principal instância da Fifa, nos últimos cinco anos foi afastado ou renunciou ao cargo em meio a episódios de corrupção".

Durante pelo menos cinco anos, portanto, um de cada cinco dos principais auxiliares de Blatter envolveu-se em trambiques e ele nada percebeu.

Desculpou-se, agora, dizendo que não dá para controlar todo o mundo o tempo todo –confissão indireta de que alguém andava batendo carteira em nome da entidade máxima do futebol.

Incapaz de ver os trambiques, aliás sucessivamente denunciados pela mídia mundial, Blatter é, no entanto, capaz de ver a conspiração norte-americana para se vingar da perda do Mundial 2022. Que ridículo.

Se é para cair de vez no ridículo, sugiro a leitura da coluna de sábado (30) do excelente John Carlin (já colaborou com a Folha) para "El País" da Espanha.

Carlin levanta, com fina ironia, outras possíveis conspirações para explicar a ação contra a Fifa.

Uma delas poderia ser dos judeus, vítimas habituais de teorias conspiratórias. Os palestinos haviam pedido à Fifa que suspendessem Israel das atividades futebolísticas internacionais, sob a acusação (de resto correta) de que o país dificulta ou impede a movimentação de atletas palestinos.

Que tal então promover a prisão de dirigentes da Fifa para implodir o congresso que decidiria sobre o pleito palestino? (Não decidiu, de fato; criou uma comissão de investigação).

Ou então culpar os próprios palestinos, interessados em derrubar Blatter em favor do príncipe jordaniano, que, por ser árabe, favoreceria a causa palestina?

Deixemos de palhaçada e chamemos as coisas pelo nome: não é revanchismo, é corrupção mesmo.


Projeto pode vetar repasses a políticos

Da Folha de S.Paulo – Ranier Bragon

Redigido em poucas horas e aprovado sob críticas, o projeto de emenda à Constituição gestado para garantir que as empresas possam continuar financiando as campanhas políticas já sofre questionamento na Justiça e, se entrar em vigor com o texto atual, pode ter efeito diverso do que querem os deputados. A medida foi aprovada pelo plenário da Câmara na quarta-feira (27), menos de 24 horas depois de proposta semelhante ter sido rejeitada pelo mesmo plenário. A reprovação da terça (26) a uma redação patrocinada pelo PMDB que permitia a partidos e candidatos receberem doações privadas.

Pegos de surpresa pelo resultado, integrantes da cúpula da Câmara, liderados pelo presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), montaram uma operação para virar votos e levar o tema novamente a votação, no dia seguinte. O empresariado é hoje o principal responsável pelo financiamento privado das campanhas, que também recebem recursos públicos.

Cunha recorreu a uma manobra para votar a proposta pela segunda vez. Ele rompeu acordo de que o tema seria analisado apenas uma vez e argumentou que a nova votação seria em cima do texto original do relator, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Acusado de promover "golpe", Cunha fechou novo acordo para votar então um texto assinado pelo deputado Celso Russomanno (PRB-SP).

A nova proposta, escrita às pressas na quarta, era a mesma de Maia, que permitia às empresas e às pessoas físicas doar apenas para os partidos políticos, vedando de forma implícita a contribuição direta aos candidatos.

Para diferenciá-la, foi incluído o parágrafo: "É permitido aos candidatos receber doações de recursos financeiros ou de bens estimáveis em dinheiro de pessoas físicas".

O problema é que os partidos são pessoas jurídicas, o que leva integrantes da área técnica da Câmara, advogados que atuam na área eleitoral, ministros e ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral ouvidos pela Folha a levantar a possibilidade de que, aprovado definitivamente esse texto, os candidatos não possam receber o dinheiro doado aos partidos. A proposta ainda precisa passar por uma segunda votação na Câmara, quando o parágrafo pode ser facilmente suprimido, como já avaliam nos bastidores defensores da medida.

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