Regionais : O Planalto amarelou
Enviado por alexandre em 16/03/2015 01:58:06

O Planalto amarelou 

São Paulo, palco, ontem, da maior manifestação de rua contra o Governo Dilma, surpreendeu o País com uma multidão vestida de amarelo e verde, de cara pintada e faixas pedindo o impeachment da presidente. O clima de revolta contra a roubalheira e a multidão entusiasmada derrubam o discurso da fraca oposição, de que o momento não comporta o afastamento de Dilma.

O Governo subestimou a capacidade de mobilização das pessoas pelas redes sociais. Mais de 1 milhão de almas vivas não sairiam às ruas sob o chamariz de algum partido ou o do conjunto da oposição. O ato foi soberano da sociedade e lembrou muito o que aconteceu no País em junho de 2013.

Lembrou, igualmente, a campanha das diretas, em 1984, cujo diferencial eram os grandes comícios em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e outras capitais, com políticos respeitados nos palanques, como Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas, Tancredo Neves, Mário Covas, Brizola, Arraes e Lula, este muito mais como líder sindical.

O serviço secreto de Dilma já havia avisado que a população estava disposta a ir às ruas, tanto que, por ordem expressa da presidente, nenhum ministro saiu de Brasília no fim de semana. Muitas capitais atraíram menos gente do que esperava. Isso, entretanto, pouco importa.

O termômetro para medir a temperatura política do ato foi São Paulo, maior centro urbano do País, coração da economia, referência para a mídia internacional, que destacou em chamadas online o verdadeiro arrastão que ocorreu na capital paulista. Acuado, o Governo, através das suas eminências pardas que consolam Dilma, interpretou a manifestação como algo exclusivo da classe média, um terceiro turno, sem presença de povo.

O Planalto se preocupou em monitorar o perfil dos manifestantes, para encampar a tese de que o movimento é socialmente segmentado, mobilizando muito pouco os mais pobres. Se o grito das ruas pode levar ao impeachment isso ainda leva um caminho muito grande, mas o fato é que o Governo vai reagir.

Dilma deve mudar rapidamente sua agenda, saindo da defensiva e buscando adotar medidas que atendam às necessidades da população, que se sentiu traída com as medidas de arrocho, incluindo o aumento de juros, da energia e dos combustíveis. É possível que apresente de imediato um pacote anticorrupção.

Uma promessa de campanha, aliás, até hoje esquecida. Isto, por sinal, é uma crítica feita pela própria equipe de Governo, de que o Palácio do Planalto ficou preso à agenda do ajuste e não teve celeridade para gerar concretamente notícias positivas.

PESQUISA– Na transmissão ao vivo dos atos ontem, as televisões chamavam a atenção para São Paulo, aduzindo que estavam nas ruas 1 milhão de pessoas. Mas o Instituto Datafolha fez uma projeção, através de uma pesquisa inédita, apontando que o número real supera a casa dos 200 mil manifestantes, número contestado pela Polícia Militar, que fez a estimativa se aproximando da faixa de 1 milhão.

Abril vem ai – O ato do Recife foi um dos mais fracos do País, reunindo pouco mais de oito mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Mas os grupos organizadores já planejam novas manifestações para abril e junho. Até lá, dependendo do ambiente que o País passará a viver depois da ida da população às ruas, o tom pode ser diferente.

Reação imediata – Coube ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, manifestar a reação do Governo a voz rouca das ruas. No início da noite, ainda impactado pelo sucesso dos atos contra Dilma em todo o País, principalmente São Paulo, anunciou um pacote de medidas de combate à corrupção. Falou em reforma política e no fim do financiamento de campanhas por empresários.

Mais panelaços – Enquanto o ministro da Justiça recebia jornalistas e falava ao vivo na televisão em várias áreas de Brasília, que colocou 45 mil pessoas nas ruas, o que se ouvia era o barulho de panelas com o grito “Fora, Dilma” e Fora, PT”. Os panelaços começaram no País depois do pronunciamento da presidente em rede nacional de TV, no Dia Internacional da Mulher.

Em cima do muro – Há quem diga que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) cometeu um erro estratégico ao não ir às ruas na primeira manifestação da população contra o Governo Dilma. Temendo politizar o ato, o ex-candidato do Planalto acompanhou de casa. “Se fosse Lula na condição de Aécio, ou seja, na oposição, com certeza teria ido à manifestação”, avalia um marqueteiro.


Perguntar não ofende: E agora, depois que o povo botou a cara nas ruas?

Paulinho foi hostilizado por manifestantes em SP

O deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) foi hostilizado pelos manifestantes que acompanhavam um dos caminhões da Força Sindical no protesto deste domingo (15), em São Paulo.

Paulinho tentou usar o protesto para angariar apoio popular a um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas evitou falar, após sofrer vaias e xingamentos.

 "Desisti. Pra você ver como esse governo acabou com tudo, até com a classe política", disse.

Paulinho falou com senador Aécio Neves (PSDB-MG) por volta das 13h30. Eles estavam surpresos com o resultado das manifestações e marcaram reuniões dos partidos de oposição para estudar se há, juridicamente, possibilidade para um pedido de impeachment oficial.


Datafolha contesta Globo: 210 mil na Paulista

 O protesto contra o governo Dilma Rousseff levou 210 mil pessoas para a avenida Paulista, neste domingo (15), segundo o Datafolha. O número se refere à quantidade de pessoas diferentes que, em algum momento do dia, foram à manifestação, e contesta os dados divulgados amplamente pela Globo, baseada na Polícia Militar de São Paulo, que divulgou público estimado em 1 milhão de pessoas.

No horário de pico deste domingo, às 16h, o Datafolha registrou 188 mil pessoas na Paulista. No auge das manifestações de junho de 2013, por exemplo, houve 110 mil manifestantes. Atos não políticos já registraram números maiores, contudo: a Marcha para Jesus levou 335 mil pessoas às ruas em 2012, enquanto a Parada Gay do mesmo ano atraiu 270 mil.

Segundo a PM, sua medição usa "recursos de mapas e georreferenciamento, baseadas nas imagens aéreas colhidas por um dos helicópteros Águias, determinando a extensão principal da manifestação, bem como, a ocupação das ruas adjacentes adotando como parâmetro de cálculo, naquele momento, de 5 pessoas por metro quadrado". (Do portal SP247)


Aécio pede ao povo para não se dispersar

Da Folha Online – Gabriela Guerreiro

Vestido com a camisa da seleção brasileira de futebol, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) postou um vídeo em sua página no Facebook neste domingo (15) para comemorar as manifestações políticas que ocorrem em diversas capitais do país. Aécio disse que o 15 de março vai ficar lembrado como o "dia da democracia" no Brasil e pede que a população não se "disperse".

"Esse 15 de março vai ficar lembrado para sempre como o Dia da Democracia. O dia em que os brasileiros se vestiram de verde e amarelo e foram para as ruas se reencontrar com as suas virtudes, seus valores, e também com os seus sonhos", afirmou.

Aécio disse que optou por não comparecer aos atos políticos para deixar "muito claro quem é o grande protagonista" das manifestações: o povo brasileiro. "O povo cansado de tantos desmandos, cansado de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado. Por isso, não vamos nos dispersar", conclama o tucano.

Mais cedo, Aécio apareceu na janela de seu apartamento, no Rio de Janeiro, vestido com a camisa da seleção brasileira de futebol –a mesma usada pelo tucano no vídeo. Apesar de apoiar as manifestações, o presidente do PSDB optou por não comparecer pessoalmente ao ato realizado no Rio porque considera que sua presença poderia representar um "terceiro turno" das eleições de outubro.

Apesar de o tucano não estar presente aos protestos, diversos membros do PSDB e de partidos da oposição participam dos atos políticos deste domingo. Os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) Ronaldo Caiado (DEM-GO) e os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), José Aníbal (PSDB-SP) e Marcus Pestana (PSDB-MG) postaram fotos nas redes sociais de sua participação nas manifestações.


PT se assusta, e ministros chamam de 3º turno

Da Folha Online - Natuza Nery

Ainda não há uma avaliação fechada sobre osprotestos deste domingo (15), mas ministros de Dilma Rousseff e petistas fazem considerações diferentes em relação às manifestações, sobretudo em São Paulo, espécie de epicentro dos atos contra Dilma Rousseff.

Para um ministro do PT ouvido pela Folha, o tom é de terceiro turno das eleições. Em condição de anonimato, esse ministro afirmou que não há "povão" na Avenida Paulista, e sim a classe média que votou no tucano Aécio Neves (PSDB-MG).

O governo esperava uma adesão nacional de até 300 mil pessoas, mas projeções da Polícia Militar fazem uma conta maior.

"A PM está inflando os números", disse esse ministro, pedindo para não ser identificado.

Já um outro importante petista, sem assento na Esplanada, faz análise diferente: mesmo que a PM esteja superestimando a contabilidade de manifestantes em SP, as imagens deixam claro que os protestos estão "bombando".

Para esse petista, a multidão não é homogênea. Há grupos de "extrema direita, classe média insatisfeita, lunáticos, e setores que reivindicaram mudança nos atos de junho de 2013".

"Diferentemente de 2013, os protestos de hoje estão materializados nela (Dilma Rousseff). O pronunciamento de domingo, no qual pediu paciência aos brasileiros, o que foi um erro, não foi capaz de desmobilizar essa adesão toda. É um massacre", disse.

Por ora, a única semelhança nas avaliações internas é a percepção de que somente uma forte ofensiva do governo será capaz de reverter esse mau humor e, assim, evitar um quadro irreversível na baixa popularidade presidencial.

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