Admitamos que Dilma Rousseff suba a rampa do Palácio do Planalto e, no parlatório, Luiz Inácio Lula da Silva transfira, entre triste e feliz, a faixa presidencial à presidente que criou em seu laboratório político particular. Até aqui, tudo absolutamente factível porque Dilma está com um pé, talvez os dois, na rampa, segundo o novo DataFolha hoje divulgado, ao colocar 24 pontos à frente de Serra. Dificilmente, no entanto, ela terá, quando for entronizada no cargo, o seu braço direito, a estranha amiga Erenice Guerra, envolvida num emaranhado de denúncias, ela e a sua parentada, especialmente o irmão Ericélio e o filho Israel Guerra. Família unida, sem dúvida. A situação de Erenice e a suposta fábrica de lobbies (antes eram dossiês, que ela teria também participado quando servia à liderança do partido no Congresso) certamente impedirão que acompanhe a amiga Dilma. Não dá para imaginar que a hoje candidata, se eleita, entre no Palácio com o pé esquerdo, impondo Erenice. Seria um desrespeito à ética, se ainda há ética, por menor que seja, no serviço público. Seria um desrespeito ao País, aos brasileiros, aos eleitores que nela votarem, enfim, Dilma estaria convocando a oposição para combatê-la na largada, arriscando-se a começar manchando o seu mandato. Convém lembrar que já não terá, pelo menos de forma visível (seria um absurdo), o escudo protetor de Lula. A situação de Erenice até aqui, confirma o resultado do DataFolha, ainda não maculou a aceitação da candidata e dificilmente isso acontecerá, porque estamos no afunilamento da campanha. A chefe da Casa Civil está muito mal, acossada por todos os lados: pelo Ministério Público, pela opinião pública e pelas evidências que afloram. É possível que Lula a despache antes do tempo do cargo que ocupa. Caso contrário, fechará o seu segundo mandato arrastando uma mancha que fará sempre lembrar os escândalos que aconteceram durante os seus dois períodos de governo.
(Samuel Celestino
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