Masking: o que é a camuflagem do autismo e como atrapalha diagnóstico Foto: Reprodução Psicólogo e psiquiatra falam das dificuldades que pessoas com autismo leve têm para disfarçar socialmente os sinais do transtorno Pessoas com neurodivergências de grau leve muitas vezes vivem desconfortos e condições incômodas sem nem perceber para tentar disfarçar socialmente os sinais de suas condições. Pessoas com autismo leve são algumas das atingidas por este mecanismo de defesa conhecido como masking ou mascaramento. Neste Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2/4), especialistas alertam para o sacrifício pessoal e silencioso feito por pessoas neurodivergentes para se passarem por típicas e como pode ser um processo inconsciente e acabar levando a sofrimentos evitáveis. O processo de mascaramento é um disfarce para compensar e camuflar sinais do espectro autista para que isso não fique tão evidente e a pessoa seja mais aceita socialmente. Como começa muito cedo, é difícil que a pessoa não-típica perceba a batalha interior que a leva a se sentir tão solitária e deslocada dos demais. Interpretar outra personalidade é algo que cansa. Veja também  Entenda o que é o transtorno do espectro autista Bactérias que causam meningite voltam a se disseminar nos EUA, que registra pior ano em quase uma década Uma das vozes contra a camuflagem é o psicólogo e influencer americano Devon Price, autor de Autismo Sem Máscara, livro que acaba de ser lançado no Brasil pelo nVersos. Ele também é autista. A obra mostra como a máscara é socialmente construída desde que as pessoas com o transtorno nascem e que é difícil nadar contra a corrente para aceitar a própria neurodivergência.     Esta estratégia de camuflagem, porém, é tão presente que faz com que muitas pessoas só descubram suas neurodivergências na idade adulta. É o caso de celebridades como a atriz Letícia Sabatella e da cantora Sia. O psiquiatra André Valverde também passou por esse processo de aceitação ao se perceber como um homem autista aos 42 anos.Assim como Valverde, Price foi diagnosticado com autismo apenas na idade adulta. Ao relatar a própria experiência, ele faz um paralelo entre o masking e os anos em que se manteve “no armário” sem revelar ser um homem trans e gay.      ( Fotos: Reprodução) Sua aceitação como membro da comunidade LGBTQIAPN+ foi internamente construída à base de reflexão e resistência, o que também acontece com o autismo. “Eu sustentei uma série de personalidades falsas e escudos protetores que mantinham as pessoas à distância. Eu só conseguia deixar o escudo de lado quando estava sozinho, mas, mesmo na minha solidão, me sentia infeliz e confuso”, conta. Para Valverde, interromper o processo de masking é parar uma demanda muito alta de energia psíquica que pode levar ao sofrimento. “Não precisar fazer masking poupa a pessoa também de ter que se recarregar depois de encontros sociais. Às vezes um happy hour na sexta-feira significa um final de semana recompondo as baterias. Economizar isso é algo profundamente libertador”, afirma. Fonte: R7 Foto: Reprodução Segundo OMS, uma em 100 crianças tem Transtorno do Espectro Autista O autismo afeta uma em cada 100 crianças em todo o mundo, informa a Organização Mundial de Saúde (OMS) no Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, comemorado nesta terça-feira, 2. A data foi criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de difundir informações sobre essa condição do neurodesenvolvimento humano e reduzir o preconceito que cercam as pessoas afetadas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA é caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social, podendo envolver outras questões como comportamentos repetitivos, interesses restritos, problemas em lidar com estímulos sensoriais excessivos (som alto, cheiro forte, multidões), dificuldade de aprendizagem e adoção de rotinas muito específicas. “O autismo hoje é compreendido como espectro de manifestação fenotípica bastante heterogênea, ou seja, existem várias manifestações diferentes do autismo. E essas manifestações ocorrem também com sinais mais ou menos evidentes em algumas pessoas”, afirma o neuropsicólogo Mayck Hartwig Veja também  Lambeijos: especialistas explicam se beijar o pet faz mal para a saúde Bactérias que causam meningite voltam a se disseminar nos EUA, que registra pior ano em quase uma década O TEA pode se manifestar em três níveis, que são definidos pelo grau de suporte que a pessoa necessita: nível 1 (suporte leve), nível 2 (suporte moderado) e nível 3 (suporte elevado).Coautora do livro Mentes Únicas e especialista em Distúrbios do Desenvolvimento, Luciana Brites afirma que o 2 de abril é importante para informar a população sobre o autismo. “É um transtorno que tem impacto muito grande porque afeta principalmente a cognição social, os pilares da linguagem. Esse espectro tem diversas nuances que compõem o quadro. E é um quadro heterogêneo. De um lado você tem autistas com altas habilidades e outros com deficiência intelectual. Alguns com hiperatividade e outros mais calmos”, afirma Luciana. Segundo ela, é importante ter um diagnóstico precoce, já que os primeiros sinais do TEA podem aparecer no segundo ano de vida. “Quando conseguimos fazer a detecção antes dos três anos, a gente consegue, muitas vezes, mudar a realidade dessa criança, desse adolescente, desse adulto. As políticas públicas de educação e saúde precisam ser muito bem sustentadas para que se possa consiga avançar no desenvolvimento dessas crianças, que vão virar adolescentes e adultos”. .jpg) Foto: Reprodução No Brasil, existe uma Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, conhecida como Lei Berenice Piana, criada em 2012, que garante aos autistas o diagnóstico precoce, tratamento, terapias e medicamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além do acesso à educação, proteção social e trabalho.Além disso, a política nacional considera o autista pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. Em 2020, outra legislação, a Lei Romeo Mion, cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), que pode ser emitida gratuitamente por estados e municípios. A Ciptea é uma resposta à impossibilidade de identificar o autismo visualmente, facilitando a ele o acesso a atendimentos prioritários e a serviços a que tem direito, como estacionar em uma vaga para pessoas com deficiência.A pessoa com TEA tem direito a receber um salário mínimo (R$ 1.412) por mês, por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), caso seja incapaz de se manter sozinha e a renda per capita da família for inferior a um quarto do salário mínimo, ou seja, R$ 353. Fonte: Agência Brasil LEIA MAIS |