Mais Notícias : Problemas neurológicos já afetam 43% da população, diz novo estudo global
Enviado por alexandre em 15/03/2024 00:28:39

Prevalêncca de AVC, encefalite, demência, e outros transtornos ultrapassa impacto de doença cardiovascular quando a incapacitação e a morte são considerados juntos

Os problemas de saúde relacionados ao sistema nervoso são aqueles que mais impactam a população global, revela um levantamento inédito. Um estudo epidemiológico que mapeou a extensão de diferentes tipos de doenças e lesões em 207 países mostra que cerca de 43% do planeta (3,4 bilhões de pessas) sofre em alguma medida com transtornos neurológicos.

 

A pesquisa, publicada nesta quinta-feira na revista britânica The Lancet Neurology, foi realizada no pelo Global Burden of Disease (GMB), um consórcio internacional de cientistas que avalia o estado de saúde da humanidade periodicamente. Quando levado em conta o impacto causado em anos de vida saudável perdidos por cada indivíduo (e não apenas as mortes prematuras), os problemas neurais já superam as doenças cardiovasculares, que são a principal causa de óbitos no mundo.

 

Esta foi a primeira vez que o GBD mediu transtornos neurológicos em uma gama mais ampla, que inclui na categoria alguns problemas de desenvolvimento, congênitos ou infecções com consequências neurais. No estudo anterior, relativo a 2016, eram levados em conta 15 diferentes problemas, e cientistas reconheciam que era uma gama limitada. No estudo atual, com dados de 2021, os pesquisadores já consideram 37 problemas neurais.

 

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Entre os itens avaliados, os cinco que mais afetam ou matam as pessoas hoje no mundo são o acidente vascular cerebral (AVC), a encefalopatia neonatal, a enxaqueca, as demências (incluindo Alzheimer) e a neuropatia diabética.

 

O critério principal usado no estudo para medir o impacto dessas doenças é o dos "anos de vida ajustados para incapacitação" (DALYs, na sigla em inglês). Essa é uma medida usada por epidemiologistas para calcular quantos anos de vida ativa e com qualidade uma pessoa perde em função de doença ou lesão, seja por morte precoce ou por condições incapacitantes. O cálculo leva em conta também a idade e a expectativa de vida da pessoa.

 

Por esses critérios, o GBD estima que a prevalência de transtornos nervosos significa que, em 2021 a população global perdeu 443 milhões de anos de vida saudável. Essa era a soma dos "DALYs" perdidos por todas as pessoas afetadas.

 

O Brasil é um dos países onde a incidência de problemas neurológicos aumenta. Pelos dados de 2021, a cada 100 mil brasileiros, a prevalência de problemas nervosos rouba hoje 4.325 anos de vida saudável, e o país está em 136° lugar (indo do pior ao melhor) num total de 207 países avaliados. No mundo, a média de perda coletiva de anos de vida para essas condições é de 5.638.


— O Brasil está mais ou menos dentro do esperado para sua faixa de renda e desenvolvimento — afirma a médica e epidemiologista Alessandra Carvalho Goulart, cientista da Universidade de São Paulo que colaborou com o trabalho do GBD.

 

Para ela, o país enfrenta um desafio de saúde pública comum na América Latina na prevenção e tratamento do AVC, que lidera o impacto na lista publicada hoje. Segundo ela, não foi uma surpresa total ver o impacto dessa classe de problemas superar o de doenças cardiovasculares.

 

— O AVC sempre foi um agravo neurológico negligenciado — diz. — Uma pessoa que sobrevive a um infarto tem uma chance razoável de voltar a trabalhar. Quando uma pessoa de 40 ou 50 anos tem um AVC, se ela fica incapacitada, dependendo do grau de incapacidade motora e cognitiva, ela não volta mais ao trabalho. E se ela não tiver acesso adequado à saúde, pior ainda.


Outros itens das condições neurológicas mais impactantes listadas pelo GBD, como encefalopatia neonatal e complicações nervosas decorrentes de partos prematuros, afetam particularmente países de baixa renda.

 

Nações na faixa mais pobre do espectro mundial, incluindo a África Subsaariana, concentram 80% da carga global das doenças neurológicas, sobretudo por causa do impacto nas crianças. Goulart aponta que o Brasil também tem muito a avançar na frente de saúde da gestante e infantil para reduzir sua taxa de complicações nervosas.


Paradoxalmente, a queda na mortalidade infantil nas últimas décadas agravou a incidência de problemas neurológicos em países pobres.

 

"A melhora na sobrevida infantil levou a um aumento na incapacitação de longo prazo, enquanto o acesso limitado a serviços de tratamento e reabilitação está contribuindo para uma proporção muito maior de mortes nesses países", afirmou Tarun Dua, chefe do setor de sistema nervoso na Organização Mundial da Saúde (OMS) e uma das líderes do estudo, em comunicado.

 

Uma boa notícia trazida pelo estudo é que, quando levada em conta a idade dos indivíduos afetados por problemas, o impacto deles está diminuindo: a perda de anos saudáveis caiu 27% em média para cada faixa etária. O ponto de maior preocupação é que, com taxas de natalidade em queda, o perfil da população global está envelhecendo. Por causa disso o impacto em números absolutos dos problemas neurais cresceu 18% nos últimos 30 anos.

 

Para Goulart, uma prioridade das políticas públicas para tentar frear esse aumento é tentar controlar os fatores de risco, que passam muito por tabagismo, alimentação e atividade física. Essas variáveis mudam um pouco conforme cada condição neurológica, mas muitas vezes elas são os mesmos fatores de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas.

 

— Para o AVC, a medida mais eficaz é controle de pressão, por exemplo, e para demências é o controle da glicemia — diz a pesquisadora.

 

Um grupo de pesquisadores da Organização Panamericana de Saúde (Opas) comentou o resultado do GBD para problemas neurológicos e diz que é preciso implementar mudanças na linha de frente do atendimento, mais do que unidades de saúde especializadas.

 


 

"Serviços amplos de saúde cerebral, que abrangem prevenção, tratamento e reabilitação, devem ser melhorados e ampliados em todos os níveis de cuidados, mas especialmente ao nível dos cuidados primários", escrevarm os pesquisadores em artigo liderado por Ricardo Oliveira e Souza, chefe de saúde mental da Opas. "Os diagnósticos e medicamentos essenciais para prevenir e tratar doenças neurológicas também devem estar disponíveis e acessíveis nos cuidados primários e nos ambientes hospitalares." 

 

Fonte: O Globo

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