Política : Saiba quem são os “kids pretos”, grupo militar que teria a missão de prender Alexandre de Moraes
Enviado por alexandre em 12/02/2024 09:44:14

Quem são os kids pretos, alvos de operação da PF

9 de fevereiro de 2024

Investigação da PF aponta para atuação do grupo no ataque à Praça dos Três Poderes. Militares do grupamento de elite teriam orientado e auxiliado manifestantes a participarem ativamente de atos antidemocráticos.



Segundo o Exército, a corporação conta com cerca de 2,5 mil kids pretos em suas fileirasFoto: Divulgação/Exército

Desde que foi deflagrada a Operação Tempus Veritatis na manhã de quinta-feira (08/02), tendo como alvo uma suposta organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito, um grupo em particular passou a ganhar destaque nas investigações: os kids pretos.

Eles vieram à tona sobretudo após a notícia da prisão do coronel da reserva Marcelo Câmara, integrante do grupamento de elite do Exército que teria tido, segundo a Polícia Federal (PF), papel central na tentativa de tomada do poder após a eleição deLuiz Inácio Lula da Silva.

"Além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados kids pretos) a missão de efetuar a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado", diz a decisão do próprio Moraes que autorizou a operação.

Quem são os kids pretos?

Kids pretos é o apelido informal dado aos membros do Comando de Operações Especiais (Copesp) – também conhecido como "forças especiais" (FE) do Exército brasileiro. Esses militares, tanto da ativa quanto da reserva, são treinados para participar de missões com alto grau de risco e sigilo. O trabalho deles inclui operações de guerra irregular, cobrindo, entre outras coisas, táticas de guerrilha, terrorismo, movimentos de resistência e planejamento de fugas e evasões.

Considerados a elite de combate do Exército, os kids pretos recebem treinamento qualificado em ações de sabotagem e de incentivo à insurgência popular. Sua ação engloba ainda ataques a pontos sensíveis da infraestrutura, como torres de transmissão elétrica, pontes e aeroportos. Entre os lemas do grupo, está "qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira".

O apelido faz alusão ao gorro preto utilizado por seus membros durante as operações. Segundo o Exército, o grupo tem um efetivo de cerca de 2,5 mil militares atualmente, podendo atuar em todo o território nacional.

Essas tropas, porém, só podem ser empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de Operações Especiais.

Homens com uniforme preto, armas e beleclava preta, enfileirados
Apelido faz alusão ao gorro preto utilizado por seus membros Foto: Divulgação/Exército

De acordo com a revista Piauí, Bolsonaro tentou ingressar no grupo duas vezes, mas sem sucesso. Quando alçou ao poder, se cercou de vários dele. 

Envolvimento nos atos golpistas

Segundo apontam as investigações da PF, kids pretos teriam sido convocados para uma reunião com outros militares e auxiliares do entorno mais próximo do então presidente Jair Bolsonaro para atuar em atos antidemocráticos, fornecendo apoio e orientações aos golpistas.

Neste encontro, realizado em Brasília em 28 de novembro de 2022, ou seja, após o resultado do segundo turno das eleições, teria sido discutida a participação dos kids pretos em um golpe de Estado.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a reunião contou com participação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e ele mesmo um ex-kid preto, e do coronel Bernardo Romão, na época assistente do Comando Militar do Sul. O plano seria a tomada de poder após a eleição de Lula.

Conforme diálogos encontrados no celular de Mauro Cid, Corrêa Neto teria intermediado o convite para a reunião, selecionando apenas os militares formados no curso das FE. Isso demonstraria, segundo a PGR, um "planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado", aponta o órgão em documento enviado ao Supremo.

Quais são os principais nomes envolvidos na investigação?

Chama a atenção que, dos 22 alvos da operação, pelo menos oito sejam kids pretos, segundo fontes da investigação ouvidas pela TV Globo. Um dos mais conhecidos é Marcelo Câmara, preso na quinta-feira. Ele já esteve nos holofotes por suspeita de envolvimento na venda de presentes oficiais sob a gestão Bolsonaro e também de fraudes nos cartões de vacina da família do ex-presidente.

Além de Câmara, outros sete kids pretos foram alvo da operação: Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército; Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022; Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres; Guilherme Marques Almeida, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres; Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército; e Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército.

Kids pretos em formação em uma área aberta
Kids pretos teriam fornecido apoio e orientações aos golpistas Foto: Divulgação/Exército

Quais são outros indícios da participação dos kids pretos

Em pelo menos dois eventos golpistas em Brasília, entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, foram encontradas pistas que apontam para o envolvimento dos kids pretos.

No primeiro deles, em 12 de dezembro, ônibus, automóveis e uma viatura dos Bombeiros foram incendiados em meio a protestos contra a detenção de um líder indígena apoiador de Bolsonaro. Segundo teria revelado um integrante da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) à revista Piauí, foram detectados três kids pretos infiltrados entre os xavantes.

Já em vídeos dos ataques às sedes dos três poderes em 8 de janeiro, é possível identificar, entre os manifestantes, ações próprias de quem teve treinamento militar. Exemplos seriam a divisão da multidão em grupos, o emprego de gradis como escadas para transitar entre os níveis dos diferentes prédios da Praça dos Três Poderes e o uso de luvas de couro e de granadas tipo GL-310, utilizadas inclusive nos cursos dos kids pretos.

Saiba quem são os “kids pretos”, grupo militar que teria a missão de prender Alexandre de Moraes

A investigação da Polícia Federal (PF) que embasou a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de autorizar uma operação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados políticos colocou em evidência um grupo do exército conhecido como “kids pretos”.

Eles teriam a incumbência, supostamente, de prender Alexandre de Moraes assim que um golpe de Estado fosse instaurado no País. A operação teria surgido com base na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do antigo presidente.

“Kids pretos” é o nome dado aos militares formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis e politicamente sensíveis.

Especialistas em situações de guerra irregular, como guerrilhas e movimentos de resistência, mas também atuam em situações de paz e regularidade institucional, os “kids pretos” integram a chamada “elite” do exército.

No entanto, para que esses oficiais fizessem parte do que a PF caracterizou como um plano de golpe de Estado, Bolsonaro teria que assinar um decreto presidencial que colocaria o Brasil em estado de sítio, limitaria o Judiciário e impediria a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A investigação da PF aponta ainda que o ex-chefe do Executivo teria feito alterações na “minuta golpista” para excluir a prisão do ministro do STF Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A de Alexandre de Moraes, contudo, estaria mantida no plano e os agentes das Forças Especiais teriam a missão de prender o ministro.

Conforme a investigação da PF encaminhadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) a Alexandre de Moraes, Bernardo Romão Correia Neto, que na época atuava como assistente do comandante militar do Sul, participou ativamente na organização de um encontro que aconteceu em novembro de 2022, em Brasília. A reunião contava com a presença de alguns “kids pretos”, assistentes dos generais e “supostamente aliados na execução do golpe”.

A PF encontrou conversas entre Correa Neto e Mauro Cid no celular do antigo ajudante de ordens de Bolsonaro. Os diálogos, na visão da organização, provariam que Neto selecionou apenas militares das Forças Especiais para integrar a reunião.

“Os diálogos encontrados no celular de MAURO CID demonstram que CORREA NETO intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro”, informa um trecho do documento enviado pela PGR.

O general Estevam Theophio Gaspar de Oliveira, então comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter) e hoje na reserva, teria encontrado Bolsonaro em dezembro de 2022, após o segundo turno das eleições presidenciais.

Em mensagens trocadas com Mauro Cid, Theophio teria concordado com a operação para impor um golpe de Estado no País, desde que Bolsonaro assinasse o decreto presidencial que formalizaria a operação. Os “kids pretos” cumpririam, então, o papel de prender Alexandre de Moraes.

“Nesse sentido, além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE MORAES assim que o decreto presidencial fosse assinado”, explica a PGR.

Os “kids pretos”
Os “kids pretos”, que receberam o apelido por utilizarem gorros pretos em operações, são caracterizados como especialistas em guerra não convencional, reconhecimento especial, operações contra forças irregulares e contraterrorismo.

Eles podem passar pelos treinamentos intensivos em três lugares diferentes: Comando de Operações Especiais, em Goiânia, onde, em 2022, Mauro Cid foi nomeado para comandar o 1° Batalhão de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói, no Rio, ou podem completar a formação em Manaus (AM), na 3ª Companhia de Forças Especiais.

Segundo o Centro de Instrução de Operações Especiais, o programa existe desde 1957 e foi inspirado no curso “Ranger”, com destaque para o Batalhão de “Special Forces”, a principal unidade de infantaria leve e força de operações especiais dentro do Comando de Operações Especiais do Exército dos Estados Unidos.

O curso tem a duração máxima de 23 semanas (em média 5 meses) e ensina táticas específicas das operações especiais, como, por exemplo, na guerra irregular e em operações contra forças irregulares, “visando a consecução de objetivos políticos, econômicos, psicossociais ou militares relevantes, preponderantemente, por meio de alternativas militares não convencionais”, explicam as informações publicadas pelo Centro de Instrução de Operações Especiais (CiOpEsp).

Essas missões podem acontecer tanto em momentos de crise ou conflito quanto em momentos de paz e regularidade institucional.

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