Jaraguá (GO), cidade que faz parte dos bolsões de desigualdade no Brasil. Foto: Reprodução.
Enquanto o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo, os municípios brasileiros recebem cada vez mais recursos do governo federal. Esse cenário de desigualdade chama a atenção, onde a renda média de grande parte da população é inferior a R$ 497 mensais, levando cerca de 62,9 milhões de brasileiros a viverem renda média abaixo da linha da pobreza.
Em todo o país, 796 municípios desfrutam de uma renda média acima de R$ 1.024 mensais, refletindo investimentos concentrados no passado que impulsionaram o desenvolvimento em determinadas áreas. A situação reflete a realidade de um país que, mesmo com tanto dinheiro, ainda é um dos mais desiguais do mundo.
Apesar do aumento das transferências federais para municípios, que atingiram o recorde de R$ 322 bilhões em 2020, muitos ainda enfrentam carências significativas, como falta de saneamento básico e pavimentação de ruas. O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, destaca que, frequentemente, investimentos governamentais geram desigualdade, beneficiando famílias ricas, e argumenta que o foco deve ser a qualidade da educação e seu gerenciamento.
Segundo Loyola, “Muita gente no Brasil acredita que, pondo o governo para investir, isso vai reduzir a desigualdade. Ledo engano. Muitas vezes, os investimentos acabam gerando desigualdade e beneficiando famílias ricas. Por exemplo: o governo pega um dinheiro que poderia aplicar em escola e constrói aeroporto”.
Um exemplo notável é Jaraguá (GO), que, embora tenha apenas 45 mil habitantes, recebeu R$ 73,15 milhões em 2020 do governo federal, equivalente a R$ 1.618 por habitante, mais do que a capital Goiânia (R$ 738) no mesmo período. Apesar dos números, a cidade faz parte dos bolsões de desigualdade do Brasil. A renda média da população da cidade é de R$ 392,61, valor abaixo da linha da pobreza. Na lista dos 5.570 municípios brasileiros, ocupa o 2.871º lugar.
Toda a arrecadação do município, incluindo recursos próprios e transferências do governo estadual, somou R$ 116,4 milhões. 61% dessa quantia foi usada no pagamento da folha de pessoal e o restante foi gasto com o funcionamento das escolas, dos postos de saúde e investimentos.
A desigualdade persiste até mesmo em municípios mais ricos, como Anápolis (GO), onde, apesar dos investimentos em indústrias e projetos de desenvolvimento, quase 32% da população vive com uma renda mensal de até meio salário mínimo. A desigualdade também afeta o acesso a serviços básicos, como saúde e educação, mesmo em áreas prósperas.
O que dizem os especialistas
“O governo pega um dinheiro que poderia aplicar em escola e constrói aeroporto.” – Economista Gustavo Loyola. Foto: Davidson Luna/Reprodução
Especialistas apontam a necessidade de uma reforma tributária que alivie a carga sobre os mais pobres. Segundo Loyola, para enfrentar a desigualdade é direcione investimentos na qualidade da educação, no desenvolvimento das pessoas e no gerenciamento do ensino. “O grande problema não foi atacado”, observou.
O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Macelo Neri, aponta a reforma tributária como um caminho. “O Bolsa Família teve uma contribuição na redução da desigualdade, mas o efeito deletério dos impostos sobre o consumo foi tão forte quanto a transferência de renda. Tudo que o Bolsa Família fez os impostos desfizeram”, disse ele.
No traçado da ferrovia Norte-Sul, o desenvolvimento se concentrou nas capitais e poucas cidades, como Anápolis (GO), Rio Verde (GO) e Porto Nacional (TO), com rendas médias próximas ou até superiores a R$ 1 mil por mês. Fora desse eixo, municípios como Jaraguá continuam pobres. O prefeito de Jaraguá, Paulo Vitor Avelar (União), justifica que o custo dos servidores e dos materiais aumentou, deixando o município sem dinheiro sobrando.
Em 2020, o Brasil aparecia como o terceiro mais desigual entre 50 países pesquisados, segundo pesquisa do Banco Mundial. Enquanto o país busca superar essa posição, a desigualdade persiste como um desafio fundamental a ser superado.
Morre menina indígena de 15 anos estuprada no Amapá
Maria Clara Batista era indígena Karipuna, e faleceu de infecção pulmonar por ingerir lama. Fpoto: Reprodução.
A adolescente indígena karipuna, Maria Clara Batista, de apenas 15 anos, que foi vítima de um crime brutal envolvendo violência sexual no Amapá, faleceu neste domingo (17), após lutar pela vida em um hospital de Caiena, na Guiana Francesa, para onde foi transferida após agravamento de seu estado de saúde. A tragédia ocorreu na cidade de Oiapoque, no Amapá, na última quarta-feira (13), quando a indígena foi vítima de violência sexual e quase afogada na lama de uma área pantanosa.
O falecimento da jovem chocou a comunidade local e levanta questões sobre a segurança das populações indígenas no Brasil.
A notícia da morte de Maria Clara foi divulgada pelo Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque (CCPIO), que expressou solidariedade à família da jovem e pediu por justiça diante do crime bárbaro que ela enfrentou.
Polícia interceptou e prendeu o acusado, que estava em uma embarcação pesqueira em direção ao estado do Pará. Foto: Reprodução.
A polícia Civil e Militar atuaram rapidamente no caso e, após a análise das câmeras de segurança, prenderam em flagrante Cláudio Roberto da Silva Ferreira, de 43 anos, acusado de estupro e tentativa de homicídio. O delegado Charles Corrêa informou que a prisão ocorreu após interceptar a embarcação em que o acusado tentava fugir em direção ao estado do Pará.
Além do crime recente, Cláudio Roberto é apontado como autor de um estupro ocorrido no ano passado e também enfrenta acusações de furto. O estado de saúde de Maria Clara piorou devido a uma infecção pulmonar, causada pela ingestão de lama durante o ataque, levando-a a ser intubada ainda em Oiapoque e, posteriormente, transferida para Caiena.
A tragédia reforça a urgência de medidas para proteger as comunidades indígenas e enfrentar a violência contra jovens vulneráveis no Brasil.