Coluna Internacional : Xi Jinping comemora 'nova era' nas relações com a Ásia Central em cúpula paralela aos preparativos para o G7
Enviado por alexandre em 19/05/2023 00:48:33

Presidente chinês busca ampliar presença na região enquanto Moscou se ocupa da guerra e reduz influência em ex-repúblicas soviéticas

O presidente da China, Xi Jinping, comemorou, nesta quinta-feira, o que chamou de início de uma "nova era" nas relações entre chineses e os países da Ásia Central, ao inaugurar uma cúpula inédita com líderes de cinco ex-repúblicas soviéticas da região. O encontro ocorre ao mesmo tempo em que o G7 — que reúne as economias mais industrializadas do mundo — se prepara para dar início a uma reunião, em Hiroshima, onde o avanço da escala de poder chinesa está no centro da agenda.

 

— Estou convencido de que nosso compromisso comum fará da cúpula de amanhã (sexta-feira) um grande sucesso e dará início a uma nova era nas relações China-Ásia Central — declarou o presidente chinês, durante o banquete de boas-vindas do encontro, em Xian (região central da China), ao lado de líderes do Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.

 

Esta é a primeira cúpula deste tipo desde que foram estabelecidas relações diplomáticas entre a China e as ex-repúblicas soviéticas, em 1992. A reunião foi classificada por Pequim como de uma "importância transcendental" e foi estrategicamente programada para acontecer na antiga capital imperial de Xian, o extremo-oeste da antiga Rota da Seda. Por essa via, a China fazia, desde os tempos antigos, trocas comerciais com a Europa e o Oriente Médio.

 

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Durante séculos, os cinco países convidados estiveram ligados ao Império Russo e, posteriormente, à União Soviética e mantêm, até hoje, estreitos vínculos econômicos e diplomáticos com Moscou. Com a guerra na Ucrânia, a influência russa perdeu força e, na avaliação de especialistas, o presidente chinês busca preencher o espaço deixado por Moscou para expandir a projeção internacional e a influência da China.

 

Durante a cúpula, Xi Jinping deve fazer um discurso anunciando novas medidas de cooperação entre os seis países, de acordo a mídia estatal chinesa, que citou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores chinês. A televisão estatal exibiu com destaque as imagens das coreografias de danças tradicionais organizadas em homenagem a chegada dos líderes convidados para a cúpula.

 

O encontro em Xian ocorre em paralelo aos preparativos da reunião do G7 — que começa no sábado — onde o presidente americano Joe Biden busca unificar a resposta dos aliados ao que é classificado como “coerção econômica” chinesa.

 

A decisão de Xi Jinping de reunir cinco ex-repúblicas soviéticas sem a presença do presidente russo Vladimir Putin demonstra a posição cada vez mais consolidada de uma relação “sem limites” entre os dois aliados, unidos na missão de fazer frente aos Estados Unidos. Desde a invasão da Ucrânia, o Kremlin passou a contar com o apoio chinês tanto para enfrentar as sanções econômicas impostas pelo ocidente quanto para apoio diplomático.

 

— Os russos aceitaram em algum grau que não podem competir com a China — disse Raffaelo Pantucci, analista da S. Rajaratnam School de Estudos Internacionais de Singapura.

 

—Os dois se percebem, cada vez mais, reformulando a ordem mundial juntos — diz Pantucci.

 

Enquanto o presidente chinês tenta reorientar os negócios globais para além dos blocos ocidentais, o analista avalia que ele está criando mais estruturas centradas na China:

 

— Pequim está tentando oferecer uma alternativa à ordem mundial definida pelo ocidente após a Segunda Guerra Mundial, o que o G7 representa, de muitas formas — avalia o analista.

 

A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro do ano passado, aprofundou um embate por influência na Ásia Central, uma região rica em recursos e que já estava em uma trajetória de realinhamento com a China.

 

Desde então, os chineses têm vinculado investimentos em energia, gasodutos, usinas elétricas, estradas e ferrovias a trocas diplomáticas. Xi Jinping escolheu reaparecer no cenário global, após três anos de isolamento provocados pela Pandemia de Covid-19, em setembro, em um encontro de cúpula no Cazaquistão. Havia a expectativa, na época, de que a primeira viagem internacional do presidente chinês, após esse período, fosse para a reunião do G20, em Bali. Só este ano, serão, pelo menos, três encontros de cúpula entre autoridades chinesas e de países da Ásia Central.

 

Os Estados Unidos e a União Europeia também fizeram investidas na região. O secretário de Estado americano, Antony Blinken visitou o Cazaquistão e o Uzbequistão no início do ano e o alto representante para Política Externa da União Europeia, Josep Borrel, esteve nos dois países em novembro. No mês passado, representantes americanos e da União Europeia estiveram em uma missão conjunta ao Cazaquistão, oferecendo ajuda econômica para possíveis impactos provocados por redução de investimentos da Rússia, que é alvo de sanções comerciais.

 

As ex-repúblicas soviéticas evitaram apoiar a invasão russa da Ucrânia, para não afrontar os parceiros ocidentais, mas a economia da região continua extremamente vinculada aos vizinhos. No ano passado, Quirguistão, Uzbequistão e Turcomenistão fizeram, cada um, mais trocas comerciais com a China do que com a Rússia ou com o bloco do G7, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional. As importações chinesas da região são, na maioria, commodities, incluindo algodão, petróleo, gás, cobre, de acordo com os dados oficiais de comércio.

 

— A China sabe que a Rússia não está mais em posição de oferecer o que a Ásia Central deseja: seja prestígio internacional, cooperação econômica ou de segurança — disse Niva Yau, da Atlantic Council’s Global China Hub.

 

No entanto, Moscou ainda é um ator importante na região. Cazaquistão e Quirguistão fazem parte da União Econômica Euroasiática, a zona de livre comércio liderada pela Rússia. Os dois países, ao lado do Tajiquistão, integram o Organização do Tratado de Segurança Coletiva com Rússia, Armênia e Bielorrússia — uma aliança de defesa a qual o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, pediu ajuda para sufocar uma revolta popular violenta, em janeiro.

 

A cúpula também ocorre em um momento ligeiramente constrangedor para o presidente chinês. No mês passado, o embaixador da China na França, Lu Shaye, questionou a soberania das ex-repúblicas soviéticas, durante uma entrevista em que falava sobre a invasão russa e posterior anexação da Crimeia. Apesar de Pequim ter declarado que as falas do diplomata não refletiam a visão do governo, o embaixador não foi chamado de volta.

 

Xi Jinping também deve usar o encontro de cúpula para dar visibilidade ao projeto Belt and Road (ou Nova Rota da Seda, que visa a conectar a Ásia Oriental à Europa), que sofreu uma derrota este mês quando a Itália sinalizou que pretende sair do pacto de investimentos ainda este ano. Três nações bálticas já deixaram o que já foi chamado de 17+1 (iniciativa de aproximação entre países do leste europeu e a China), enfraquecendo outro grupo que os chineses criaram para fazer frente aos Estados Unidos.

 

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Fonte: O Globo

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