Trânsito Legal : Por que somos tão selvagens no trânsito?
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Enviado por alexandre em 08/01/2014 11:32:29 |
Por que a selvageria toma conta do trânsito? Ilustrações: Japs Há decadas atrás, os horários de pico no trânsito eram definidos por uma palavra inglesa que significa pressa e agitação: rush. Com o passar dos anos, o tempo gasto em deslocamentos em grandes cidades aumentou muito. Em São Paulo, por exemplo, motoristas perdem cerca de 2 horas e 40 minutos diários dirigindo num ritmo de tartaruga. É um teste de paciência que poucos tiram de letra e com bom humor: as pessoas estão cada vez mais desumanas no trânsito - e é difícil fugir dessa realidade. O incrível é que esse comportamento foi anunciado há tempos. Em 1950, quando o Brasil somava 426 mil veículos (hoje somente a capital paulista conta 7 milhões), a Walt Disney Company lançou o curta-metragem Motor Mania que mostrava como o boapraça Pateta se transformava em um "monstrorista" ao girar da ignição de seu carro (para assistir ao filme, digite "Pateta no Trânsito", no YouTube). Motoristas na defensiva A eficiência da fiscalização e punição dos infratores também influenciam no comportamento dos motoristas ao volante. Se na Suíça, por exemplo, condutores param diante da faixa de pedestre, mesmo que vazias, em países megapopulosos como a Índia a situação é completamente inversa. Em Nova Délhi, a quinta cidade com o trânsito mais desgastante do mundo (seguida por São Paulo), dirigir significa dividir espaço com pedestres, bicicletas, vacas, cachorros, elefantes e cavalos. No livro Por Que Dirigimos Assim?, o jornalista norte-americano Tom Vanderbilt cita uma explicação do ex-líder de policiamento de trânsito de Nova Délhi sobre o caos nas ruas: "A presença de uma vaca (animal sagrado para a cultura hindu) em uma área urbana congestionada não representa um perigo (...), também força o motorista a desacelerar". Talvez o respeiro por estes animais explique a falta de agressividade vista nas pistas do país. Aqui no Brasil, a situação não é bem essa. Muitas vezes, uma discussão mais acalorada entre condutores termina em violência. Por que isso acontece? Em cidades estressantes como São Paulo, muitos motoristas saem de casa já prontos para atacar e se defender. Selva no asfalto O resultado é um só: falta de educação e mau comportamento nas vias. Motoristas que fecham cruzamentos, que jogam farol alto no carro da frente porque ele está devagar, que aceleram tão logo o semáforo abre forçando a barra para o pedestre atravessar correndo. Não dá mais para cada pessoa achar que está sozinha na rua. Também não podemos fechar os olhos para realidades tão simples como o espaço que os ciclistas vêm conquistando. Eles existem e passar com o carro por cima deles não é solução. O problema é que, dentro de seus carros, os motoristas não se encaram como iguais. O trânsito é um ambiente em que as pessoas não somente demonstram sua irritação com um congestionamento, mas também se aproveitam (inconscientemente) para descarregar suas frustrações. Existe saída? Mas não podemos simplesmente aceitar essa situação. Fiscalizar e punir motoristas infratores não é suficiente. Não é a lei que ensina às pessoas valores de cordialidade e de respeito aos outros. É com a família que aprendemos a ser educados, e nosso comportamento como motoristas é um espelho da forma como nossos pais dirigem. No livro Fé em Deus e Pé na Tábua, o sociólogo Roberto DaMatta aponta o individualismo sobre rodas como um grande problema do trânsito. "Trata-se de ensinar que o sujeito ao lado existe como cidadão. Que ele, por ser desconhecido, não pode ser tratado como um inferior ou um débil mental". A mensagem de DaMatta é que devemos olhar ao redor e observar. Segundo Leon James, professor de psicologia da Universidade do Havaí, a condução colaborativa é uma boa medida para melhorar o convívio nas ruas. Para o professor, mudar o comportamento no trânsito depende de três passos. Primeiro, o motorista precisa reconhecer sua atitude ao volante e se dispôr a tornar-se um cidadão melhor; depois, precisa perceber seus sentimentos agressivos na direção; e, por último, modificar essas emoções ao dirigir. Quem sabe a princípio pareça meio boboca dar passagem ou não ultrapassar o carro que está mais lento, mas, com o tempo, vai que a gentileza pega de vez. Pode até parecer uma ideia zen demais, mas certamente é uma das saídas para o caos no trânsito. Para saber mais · Fé em Deus e Pé na Tábua, Roberto DaMatta, Rocco · Por Que Dirigimos Assim?, Tom Vanderbilt, Campus/Elsevier · Apocalipse Motorizado, Ned Ludd (org.), Conrad |
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Trânsito Legal : Respeite a faixa
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Enviado por alexandre em 28/12/2013 01:40:00 |
Cristina Baddini Do Diário do Grande ABC O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que o desrespeito à faixa de pedestres é infração gravíssima, punível com multa de R$ 191,54 e 7 pontos na carteira. No desenho do asfalto em que se alternam listras claras e escuras, como pele de zebra, conhecido universalmente como faixa de pedestres, concentra-se um desafio aos pedestres no que diz respeito à integridade física e à vida, mas também a algo mais – é um desafio civilizacional. A faixa de pedestres na qual se encontra o x da questão, é a faixa desacompanhada de semáforo. Aquela amparada por um semáforo conta com um aliado dotado do maior dos instrumentos educativos – a punição. Passou no sinal fechado, é multa. Muitas vezes, nem precisa estar presente o guarda; a multa é disparada por radar. Faixa de pedestres amparada por semáforo, por essa razão, é em geral respeitada. É a faixa sem semáforo que no Brasil costuma ser ampla e irrestritamente desrespeitada. Pela boa regra internacional, basta o pedestre pôr o pé na faixa, e o motorista é obrigado a dar-lhe passagem. Pôs o pé ali, o pedestre garante imunidade. Entre fevereiro e abril, a CET-SP realizou pesquisa desenvolvida em duas etapas. Diante de uma faixa sem semáforo, um pesquisador observava o comportamento do motorista. Outro, a poucos metros adiante, entrevistava o mesmo motorista, perguntando-lhe se costumava respeitar as faixas. Noventa por cento dos motoristas não pararam na faixa, mas, na entrevista, 76% disseram que costumam respeitá-la. Como explicar a discrepância? Estariam mentindo? A distração e a ignorância soam como apostas mais consistentes – distração porque já nem mais reparam naquele sinal no chão, mero adorno, desprovido de poder de coação; e ignorância porque, para muitos, aquela seria apenas a marcação do lugar em que preferencialmente os pedestres deveriam atravessar a rua, desde que não haja carros passando. Campanhas É necessário que as campanhas deem destaque à educação do motorista respeitando o pedestre. Ora, são os carros que agridem e matam. São eles a parte forte do confronto. No dia em que forem educados, a educação do pedestre virá por gravidade. O tratamento deveria ser no mínimo equitativo, e de preferência mais intenso para o lado do motorista. A campanha deve acenar com futuras punições. Campanha para valer seria a que fixasse um prazo a partir do qual a ação educativa daria lugar à aplicação de multas. Foi o que ocorreu em Brasília, a única capital brasileira em que a população aprendeu a respeitar a faixa de pedestres. Não há educação que não acene com a punição ao infrator. Campanhas para valer exigem a prévia revisão geral da localização das travessias. Nem sempre a faixa deve ficar exatamente na esquina; muitas vezes, ela seria mais eficaz se colocada mais para o meio do quarteirão. Bom é o exemplo de Brasília. Tantos casos de atropelamento se acumularam na cidade que, em 1996, o jornal Correio Braziliense iniciou uma campanha contra os desmandos dos motoristas. As notícias de atropelamentos passaram a ser publicadas na primeira página. Na mesma edição, vinham editoriais e comentários. A alturas tantas, o jornal convocou uma passeata, à qual compareceram de 25 mil a 30 mil pessoas. O governo da cidade demorou, mas acabou aderindo à causa. Primeiro, cobriu as vias expressas com radares, para coibir os excessos de velocidade. Em seguida, em janeiro de 1997, iniciou campanha para o respeito à faixa de pedestres. Note-se que as faixas, em Brasília, são em grande parte sem semáforo, para não atravancar o tráfego nas numerosas vias expressas. A campanha consistiu em anúncios nos meios de comunicação e na ação de guardas que orientavam os motoristas. Mas desde o início estes foram avisados de que, a partir de abril, seriam aplicadas multas. Milagre! O motorista brasiliense aprendeu que, ao avistar um pedestre com um único pé na faixa, no simples gesto de iniciar a travessia, deve parar. Justamente de Brasília, de onde vêm tantas más notícias, veio a excelente nova de que o brasileiro não difere geneticamente do suíço. Como o outro, está equipado para decodificar o significado de uma faixa zebrada e atender ao que ela reclama. Esse é apenas o resultado lógico de uma campanha conduzida com competência. Catorze anos passados, em Brasília continua-se a dar a mesma atenção à faixa de pedestres. Em 2010, registraram-se apenas sete mortes por atropelamento em todo o Distrito Federal. Nos últimos 14 anos, 77. Para garantir o bom comportamento, o braço repressor segue em alerta. No ano passado, foram aplicadas 3.512 multas por desrespeito à faixa. Outro efeito, mais inesperado, da reengenharia operada na cabeça do motorista brasiliense, é que ele passou a sentir orgulho ao parar na faixa. Pelo menos nesse aspecto, sentiu-se equiparado a um cidadão de Genebra ou de Estocolmo. |
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Trânsito Legal : Álcool ao volante: o mundo a caminho da tolerância zero
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Enviado por alexandre em 24/11/2013 01:49:02 |
 A perigosa combinação entre bebidas alcoólicas e direção é a causa de acidentes não só aqui no Brasil, como no mundo todo. Políticas e normas regulamentadoras têm sido criadas com o objetivo de reduzir o número de mortos e feridos nas estradas, além de conscientizar e educar a população quanto a seu papel para o trânsito seguro. Segundo o Relatório Mundial Sobre a Situação da Segurança Rodoviária 2013 (Global Status Report On Road Safety 2013 – em inglês), divulgado pela Organização Mundial da Saúde, desde 2008 a aplicação de leis mais severas para motoristas alcoolizados ganharam força em 89 países, o que abrange 66% da população mundial (cerca 4,55 bilhões de pessoas). Estes países definiram o limite de álcool no sangue (Blood Alcohol Concentration – BAC) de 0.05g/dl ou menor. Outro dado importante – e alarmante: 34 países não possuem qualquer tipo de legislação para motoristas alcoolizados. A tolerância com quem dirige após ingerir bebida alcoólica realmente está cada dia menor. E este é um problema que tem sido discutido a nível internacional. Se no Brasil contamos com a Lei Seca, em outros países há leis e punições bem semelhantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, há diferenças nas leis entre os estados, mas em todos, o motorista é punido ao ser pego dirigindo alcoolizado. O condutor pode ser multado e até ir para a cadeia. Já na Espanha, motoristas com taxa de 1,2 grama ou mais de álcool por litro de sangue perde o direito de dirigir por até quatro anos e pode ser preso. Na Inglaterra, quem se recusa a soprar o bafômetro paga multa de mil libras e perde a habilitação por até três anos. De acordo com o Ministério da Saúde, 21% dos acidentes estão relacionados ao consumo de álcool. O Brasil ainda precisa melhorar muito. Portanto, vamos todos respeitar a Lei Seca, valorizar a vida e contribuir para a redução do número de acidentes. |
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Trânsito Legal : Uma Vacina Contra os Males do Trânsito
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Enviado por alexandre em 24/11/2013 01:45:27 |
Se você demorar oito minutos para ler este artigo, pode ter certeza de que, ao terminar, mais um brasileiro terá perdido a vida em razão de um acidente de trânsito. Este ano, segundo as projeções do Observatório Nacional de Segurança Viária sobre os dados informados pelo consórcio de empresas que administra o seguro obrigatório para veículos, Seguradora Líder DPVAT, aproximadamente 60 mil pessoas morrerão nas ruas, avenidas e rodovias do país, vitimas de acidentes de trânsito. São mortes estúpidas e doloridas, mas não são trágicas, como se costuma dizer. Tragédia é o que não se pode evitar, o resultado de uma catástrofe que se abate sobre determinada população e contra a qual não há como se precaver, por desinformação, falta de recursos ou mera incapacidade. Foi trágico, por exemplo, o tsunami no Japão, em 2011, que matou 11 mil pessoas – um desastre natural que teria de se repetir cinco vezes em um ano para chegar perto da dimensão do que ocorre no trânsito brasileiro. Acidentes de trânsito podem ser apropriadamente comparados com doenças e epidemias, mais do que com calamidades. Suas causas são diagnosticáveis. Suas circunstâncias podem ser estudadas. E sua ocorrência pode ser reduzida com uma série de medidas profiláticas. A dengue faz 1 300 vítimas fatais ao ano no país, e mataria muito mais se não houvesse uma mobilização nacional contra ela. Governos investem no combate ao mosquito e chamam a população a colaborar destruindo focos de proliferação. A conscientização chega ao ponto em que a maioria dos cidadãos sabe dos riscos, boa parte teme as consequências de conviver com eles e muitos contribuem tomando atitudes práticas para sua redução. A imprensa, por seu lado, trata com ênfase o problema sempre que as partes deixam de cumprir seu papel. Não se chega à erradicação da doença, mas há certeza de que a inação produziria um quadro muito pior. Outra praga, a gripe H1N1, corretamente tratada quase como uma questão de segurança nacional, controlada nos limites em que está, demoraria 527 anos para ceifar a mesma quantidade de vidas perdidas por atitudes de condutores, pedestres imprudentes e autoridades relapsas. As ações positivas e com resultado contra o inimigo quase invisível das epidemias, surpreendentemente, não se repetem no enfrentamento do gigantesco e onipresente problema da segurança viária. Houve enorme progresso nos últimos anos em vários aspectos relacionados ao tema, mas eles pouco se traduzem na redução das mórbidas estatísticas. Motociclistas, quase unanimemente, usam capacetes nas grandes cidades. Os veículos ganharam novos dispositivos de segurança. Gasta-se algum dinheiro com sinalização de trânsito e recuperação de rodovias. Algumas estradas adotaram padrões mundiais de qualidade. Campanhas são realizadas para educar pedestres e condutores. As ciclovias começam a tornar-se uma realidade em algumas cidades. Mas o número de mortos continua crescendo. Há quem veja razões econômicas para o fenômeno. A classe C chegou ao mercado de carros novos, que bate recorde sobre recorde, e a D sustenta o de usados, quase sempre com manutenção inadequada. Mas a responsabilidade desse processo na produção de acidentes fatais tem de ser delimitada ao seu real e pequeno papel – e também combatida com a efetiva fiscalização e retirada de circulação dos veículos imprestáveis, para os quais, aliás, nem existem depósitos que venham a dar conta de tamanha frota sucateada que circula em nossas cidades. Por outro lado, conformar-se com mais acidentes apenas porque há mais veículos em circulação equivale a admitir absoluta incompetência na gestão do problema – como se fosse natural, por exemplo, aceitar que mais gente deve morrer de fome na medida em que aumenta a quantidade de habitantes do planeta. O fato é que não há desculpas para se abarrotar leitos hospitalares, centros de fisioterapia, filas de aposentados por invalidez e cemitérios em razão de um processo socialmente suicida estabelecido no trânsito. Existe informação sobre como e por que ocorrem os acidentes. Há tecnologia para reduzir os pontos críticos do sistema viário. Não faltam órgãos oficiais encarregados desse assunto nem gente competente em muitos deles. Verbas de divulgação não parecem ser o problema de prefeituras, estados e União, onipresentes na publicidade para, como se diz, “prestar contas à sociedade” sobre os feitos das autoridades de plantão. Cidadãos que já perderam familiares ou estiveram eles próprios envolvidos em situações de perigo ao volante ou diante de um veículo também há milhares, milhões, de algum modo, prontos a ajudar como vozes de liderança numa luta coordenada e efetiva contra essa verdadeira doença. O Observatório Nacional de Segurança Viária nasceu com a proposta de ser um elo entre todas essas partes, um ponto equidistante de todos os atores, que capta e realiza estudos, encontra propostas e sugere parcerias para encaminhá-las, contribui para a descoberta de soluções viáveis e orientadas numa única direção: a de poupar vidas com a ampliação da cidadania e da urbanidade. O OSNV quer ajudar a encontrar a vacina contra os males do trânsito. José Aurélio Ramalho Diretor Presidente Observatório Nacional de Segurança Viária |
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Trânsito Legal : Respeite a faixa
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Enviado por alexandre em 12/10/2013 00:26:12 |
O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que o desrespeito à faixa de pedestres é infração gravíssima, punível com multa de R$ 191,54 e 7 pontos na carteira. No desenho do asfalto em que se alternam listras claras e escuras, como pele de zebra, conhecido universalmente como faixa de pedestres, concentra-se um desafio aos pedestres no que diz respeito à integridade física e à vida, mas também a algo mais – é um desafio civilizacional. A faixa de pedestres na qual se encontra o x da questão, é a faixa desacompanhada de semáforo. Aquela amparada por um semáforo conta com um aliado dotado do maior dos instrumentos educativos – a punição. Passou no sinal fechado, é multa. Muitas vezes, nem precisa estar presente o guarda; a multa é disparada por radar. Faixa de pedestres amparada por semáforo, por essa razão, é em geral respeitada. É a faixa sem semáforo que no Brasil costuma ser ampla e irrestritamente desrespeitada. Pela boa regra internacional, basta o pedestre pôr o pé na faixa, e o motorista é obrigado a dar-lhe passagem. Pôs o pé ali, o pedestre garante imunidade. Entre fevereiro e abril, a CET-SP realizou pesquisa desenvolvida em duas etapas. Diante de uma faixa sem semáforo, um pesquisador observava o comportamento do motorista. Outro, a poucos metros adiante, entrevistava o mesmo motorista, perguntando-lhe se costumava respeitar as faixas. Noventa por cento dos motoristas não pararam na faixa, mas, na entrevista, 76% disseram que costumam respeitá-la. Como explicar a discrepância? Estariam mentindo? A distração e a ignorância soam como apostas mais consistentes – distração porque já nem mais reparam naquele sinal no chão, mero adorno, desprovido de poder de coação; e ignorância porque, para muitos, aquela seria apenas a marcação do lugar em que preferencialmente os pedestres deveriam atravessar a rua, desde que não haja carros passando. Campanhas É necessário que as campanhas deem destaque à educação do motorista respeitando o pedestre. Ora, são os carros que agridem e matam. São eles a parte forte do confronto. No dia em que forem educados, a educação do pedestre virá por gravidade. O tratamento deveria ser no mínimo equitativo, e de preferência mais intenso para o lado do motorista. A campanha deve acenar com futuras punições. Campanha para valer seria a que fixasse um prazo a partir do qual a ação educativa daria lugar à aplicação de multas. Foi o que ocorreu em Brasília, a única capital brasileira em que a população aprendeu a respeitar a faixa de pedestres. Não há educação que não acene com a punição ao infrator. Campanhas para valer exigem a prévia revisão geral da localização das travessias. Nem sempre a faixa deve ficar exatamente na esquina; muitas vezes, ela seria mais eficaz se colocada mais para o meio do quarteirão. Bom é o exemplo de Brasília. Tantos casos de atropelamento se acumularam na cidade que, em 1996, o jornal Correio Braziliense iniciou uma campanha contra os desmandos dos motoristas. As notícias de atropelamentos passaram a ser publicadas na primeira página. Na mesma edição, vinham editoriais e comentários. A alturas tantas, o jornal convocou uma passeata, à qual compareceram de 25 mil a 30 mil pessoas. O governo da cidade demorou, mas acabou aderindo à causa. Primeiro, cobriu as vias expressas com radares, para coibir os excessos de velocidade. Em seguida, em janeiro de 1997, iniciou campanha para o respeito à faixa de pedestres. Note-se que as faixas, em Brasília, são em grande parte sem semáforo, para não atravancar o tráfego nas numerosas vias expressas. A campanha consistiu em anúncios nos meios de comunicação e na ação de guardas que orientavam os motoristas. Mas desde o início estes foram avisados de que, a partir de abril, seriam aplicadas multas. Milagre! O motorista brasiliense aprendeu que, ao avistar um pedestre com um único pé na faixa, no simples gesto de iniciar a travessia, deve parar. Justamente de Brasília, de onde vêm tantas más notícias, veio a excelente nova de que o brasileiro não difere geneticamente do suíço. Como o outro, está equipado para decodificar o significado de uma faixa zebrada e atender ao que ela reclama. Esse é apenas o resultado lógico de uma campanha conduzida com competência. Catorze anos passados, em Brasília continua-se a dar a mesma atenção à faixa de pedestres. Em 2010, registraram-se apenas sete mortes por atropelamento em todo o Distrito Federal. Nos últimos 14 anos, 77. Para garantir o bom comportamento, o braço repressor segue em alerta. No ano passado, foram aplicadas 3.512 multas por desrespeito à faixa. Outro efeito, mais inesperado, da reengenharia operada na cabeça do motorista brasiliense, é que ele passou a sentir orgulho ao parar na faixa. Pelo menos nesse aspecto, sentiu-se equiparado a um cidadão de Genebra ou de Estocolmo. |
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