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Coluna Você Sabia? : Entenda como é o enfrentamento do trabalho análogo à escravidão no Brasil e no mundo
Enviado por alexandre em 07/03/2023 00:33:03

A persistência da prática da escravidão moderna no Brasil está relacionada à história de quatro séculos de escravagismo que vigorou no país, mas também às mudanças nas leis relacionadas ao Trabalho, sobretudo as da terceirização (Lei 13.429/2017) e a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17), ambas aprovadas durante o governo Michel Temer, que assumiu o comando do país depois de um golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016.

 

Há poucos dias, o resgate de 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão que atuavam na safra da uva na Serra Gaúcha, no município de Bento Gonçalves (RS), desencadeou um intenso debate nacional sobre o tema. Os agricultores foram aliciados na Bahia e, após a fuga de dois deles, foi feita uma denúncia às autoridades gaúchas que deflagrou uma operação conjunta da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no dia 22 de fevereiro.


O caso que envolve vinícolas famosas, como a Salton, a Aurora e a cooperativa Garibaldi, infelizmente não é isolado. A Revista Fórum entrevistou o auditor-fiscal do Trabalho Renato Bignami, que atua em diversas áreas relacionadas com a promoção dos direitos fundamentais no trabalho desde 1996. "Todas essas situações vêm se repetindo em várias partes com uma frequência inquietante", atestou.

 

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Números da escravidão moderna no Brasil e no mundo


Bignami observa que um dos principais indicadores do sistema nacional de combate ao trabalho escravo é a quantidade de trabalhadores e trabalhadoras resgatados desde que a política foi criada, em 1995, que chega a 60.251. Os números estão disponíveis no Radar da SIT e mostram que, em 2022, foram 2.575 trabalhadores resgatados.

 

No mundo, os dados mais recentes são de um relatório (em inglês) divulgado em setembro de 2022 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que aponta que, em 2021, 49,6 milhões de pessoas viviam em situação de escravidão moderna (Isso significa que 1 em cada 150 pessoas vivendo no mundo). Desse total, 28 milhões de pessoas realizavam trabalhos forçados e 22 milhões estavam presas em casamentos forçados.

 

O documento da OIT mostra ainda que, em 2021, 10 milhões de pessoas a mais estavam em situação de escravidão moderna em comparação com as estimativas globais de 2016. Das 27,6 milhões de pessoas em trabalho forçado, 17,3 milhões são exploradas no setor privado; 6,3 milhões eram vítimas da exploração sexual comercial forçada e 3,9 milhões do trabalho forçado imposto pelo Estado.


De acordo com a entidade que integra o sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), a escravidão moderna atinge praticamente todas as áreas da economia privada. Os cinco setores responsáveis pela maior parcela do trabalho forçado são: serviços (excluindo trabalho doméstico), manufatura, construção, agricultura (excluindo pesca) e trabalho doméstico.

 

Bignami atuou como especialista em segurança e saúde no Trabalho junto ao Escritório Regional da OIT para América Latina e Caribe e já ocupou diversos cargos de direção e coordenação dentro do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho. Fundador e coordenador do Programa Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do Estado de São Paulo, junto à Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo, ele explicou que, a despeito dos avanços da sociedade internacional no combate à escravidão contemporânea, essa prática persiste.

 

Ele comenta que o capitalismo contemporâneo, com processos produtivos acelerados, acaba por negligenciar a classe trabalhadora em detrimento do lucro. A forma de organização das cadeias produtivas dispersa os locais de trabalho, o que dificulta a aplicação das leis trabalhistas.

 

O auditor lista ainda os baixos investimentos em educação de trabalhadores e trabalhadoras e a fartura de mão de obra com pouca qualificação como elementos que facilitam a prática da escravidão moderna. "A pandemia só piorou esse quadro, por toda a devastação que ela causou", pontuou. (leia a entrevista completa ao final desta matéria).

 

Bolsonaro atuou em favor da escravidão moderna


Não bastasse a Lei da Terceirização e a Reforma Trabalhista de Temer, a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, em janeiro de 2019, piorou ainda mais a situação. Na avaliação de Bignami, ao longo dos últimos quatro anos os mecanismos de enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão funcionaram "de maneira muito precária e baseada na resistência, inclusive pessoal, de diversos atores que participam dessa rede".

 

Um dos desafios do governo Lula, aponta o auditor-fiscal, será reconstruir esse arcabouço de proteção à classe trabalhadora. "Há, certamente, um trabalho de reconstrução importante a ser feito pelo atual governo, no sentido de revitalizar o combate ao trabalho escravo, refletir sobre os últimos 28 anos de combate ao trabalho escravo, aprender com os erros e acertos, e alterar aquilo que precisa ser mudado para garantir o avanço das políticas públicas de referência, as quais me parece que estão um pouco estagnadas já há alguns anos, sem qualquer aporte relevante que possa fazer a diferença no combate ao trabalho escravo", comentou.

 

CONGRESSO NACIONAL TRATA DO TEMA 

 

Foto: Reprodução


Com a repercussão do caso de trabalho análogo à escravidão na Serra Gaúcha, o Legislativo recebeu pelo menos três novos projetos para coibir a prática criminosa. No Senado, Augusta Brito (PT-CE) apresentou o PL 789/2023. A proposta quer que editais de licitações públicas estabeleçam percentual mínimo de contratação de trabalhadores resgatados de situação análoga à escravidão.

 

Na Câmara, o deputado Felipe Becari (União-SP) apresentou dois projetos. O PL 777/2023 propõe a expropriação das propriedades rurais e urbanas em que forem encontrados trabalhadores em tais condições. Essa proposta preenche a lacuna da regulamentação para a Emenda Constitucional nº 81, que também prevê a possibilidade de expropriação dos imóveis flagrados com trabalhadores análogos à escravidão. Já o PL 778/2023 proíbe a concessão de empréstimos ou financiamentos com recursos públicos ou subsidiados pelo poder público para empregadores que cometem tais práticas.

 

Há outros projetos que tratam do combate à escravidão moderna no Legislativo, mas tramitam de forma lenta que, em alguns casos, chega a 20 anos. Como o PL 2668/2003, do ex-deputado Paulo Marinho (PSDB-MA), que propôs alterar o Código Penal para agravar as penas para os responsáveis pela prática criminosa.

 

Existem também os projetos que querem enfraquecer os mecanismos de combate à escravidão moderna. Como o PL 3842/12, do ex-deputado Moreira Mendes (PSD-RO), já falecido, que pretende alterar a definição do que é considerado trabalho escravo.

 

Foto: Reprodução

 

De acordo com a legislação em vigor, estabelecida no Código Penal, é considerada condição análoga à de escravo submeter o trabalhador e trabalhadora a “trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador”.

 

O ex-deputado propôs retirar da lei os termos “jornada exaustiva” e “condições degradantes de trabalho” sob a justificativa de que são expressões subjetivas e não deixam claro quais as condutas que se enquadram nessa classificação. O PL aguarda apreciação do Plenário, caso a presidência o coloque na pauta.

 

 Há uma verdadeira enxurrada de situações de trabalho análogo à escravidão nos últimos dias, deflagrada pelo caso das vinícolas em Bento Gonçalves (RS).

 

A QUE VOCÊ ATRIBUI ESSE FENÔMENO ?

 

Renato Bignami - O caso das vinícolas em Bento Gonçalves choca pela quantidade de trabalhadores envolvidos – pouco mais de 200 pessoas - , pela gravidade da violência perpetrada contra esses trabalhadores – há narrativas de ameaças diversas, maus tratos, dívidas, engano e toda uma miríade de situações que claramente reúnem os principais indicadores de tráfico de pessoas e redução de trabalhador à condição análoga à de escravo, e, também, pela surpresa de alcançar algumas das vinícolas mais tradicionais do país que não deveriam, em hipótese alguma, estar relacionadas com toda essa violência no trabalho. Todas essas situações vêm se repetindo em várias partes com uma frequência inquietante.

 

Foto: Reprodução

A aceleração dos processos produtivos atuais que negligencia as necessidades da pessoa do trabalhador em benefício da acumulação material, a intensa fragmentação produtiva que dispersa os regimes de responsabilidade pela proteção do trabalho e reduz a capacidade de governança das empresas sobre os diversos e fragmentados locais de trabalho, o aumento da concorrência entre as empresas que as faz buscarem reduzir custos a qualquer custo, os baixos investimentos em educação do trabalhador e a fartura de mão de obra com pouca qualificação, assim como o baixo grau de vigilância das empresas que conformam determinada cadeia de fornecimento em relação às condições de trabalho umas das outras, vêm ocasionando situações de violência e precariedade no ambiente de trabalho que acabam configurando tráfico de pessoas e redução do trabalhador à condição análoga à de escravo. A pandemia só piorou esse quadro, por toda a devastação que ela causou.

 

Também podemos atribuir o fenômeno ao avanço das telecomunicações e à liberdade de imprensa. Hoje várias pessoas têm acesso a um celular com câmeras de boa resolução. Não é difícil fotografar ou mesmo filmar situações de abuso de direitos, enviar o material para os órgãos responsáveis e cobrar uma posição em relação à denúncia. Por sua vez, a imprensa livre, transparente, é capaz de mostrar para a sociedade a dimensão dos problemas que podem derivar das relações entre capital e trabalho. Dessa forma, pode haver um estoque de trabalho escravo ainda não desvelado e em virtude do cidadão comum estar melhor aparelhado hoje em dia, tanto com tecnologia quanto com conhecimentos e sensibilidade para o tema, para apresentar as denúncias e movimentar o sistema nacional de combate ao trabalho escravo.

 

Renato Bignami - O combate à escravidão contemporânea se dá em várias frentes. A sociedade internacional construiu, no decorrer dos últimos 200 anos, um sistema antiescravagista bastante sólido, que conta com diversos tratados internacionais, mecanismos de denúncia, processamento e julgamento dos casos, pesquisa e desenvolvimento de projetos de enfrentamento à escravidão contemporânea, cooperação internacional entre diversas agências tanto do sistema ONU, a exemplo da OIT, grande referência no tema, quanto OEA de proteção aos direitos humanos e os Estados membros, além, é claro, do ativismo de várias organizações da sociedade civil organizada que, seguramente, representam um dos pilares de sustentação dessa atuação global de combate à escravidão contemporânea.

 

Renato Bignami - O Brasil é signatário dos principais tratados de direitos humanos e, em particular, daqueles que buscaram pôr fim ao tráfico de pessoas e à escravização de seres humanos. Dessa forma, ao aderir ao sistema internacional de combate ao trabalho escravo o Brasil assumiu diversos compromissos que impactam tanto nas políticas públicas internas relacionadas com o tema quanto às estratégias de atuação internacional do nosso país. Em relação a esse último aspecto, os temas são tão amplos e diversos que, em última análise, envolvem até mesmo questões relacionadas com o comércio exterior, tais como a abordagem do dumping social e prevenção à concorrência desleal que pode ocorrer em virtude da busca incessante por custos reduzidos que podem implicar, em muitos casos, violações graves de direitos fundamentais no trabalho.

 

Renato Bignami - De maneira muito precária e baseada na resistência, inclusive pessoal, de diversos atores que participam dessa rede. Infelizmente, o governo anterior não foi marcado pelo apoio às questões sociais e amparo ao trabalhador. Dessa forma, foram várias imprecisões de gestão que em muitos momentos puseram em risco a rede de enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão. Desde a desmobilização de diversos colegiados relacionados com o tema, passando pela falta de investimento no sistema nacional de combate ao trabalho escravo e tentativas sérias de desestabilizar por completo esse mesmo sistema inclusive pela alteração na definição de condição análoga à de escravo, como se mudando o nome das coisas conseguisse alterar seu conteúdo, algo até mesmo equivocado de se pensar.

 

Assim, me parece que há, certamente, um trabalho de reconstrução importante a ser feito pelo atual governo, no sentido de revitalizar o combate ao trabalho escravo, refletir sobre os últimos 28 anos de combate ao trabalho escravo, aprender com os erros e acertos, e alterar aquilo que precisa ser mudado para garantir o avanço das políticas públicas de referência, as quais me parece que estão um pouco estagnadas já há alguns anos, sem qualquer aporte relevante que possa fazer a diferença no combate ao trabalho escravo.

 

Renato Bignami - A rigor, nenhum setor econômico está inteiramente livre dos riscos de ocorrência de condições análogasàs de escravo. No entanto, historicamente, alguns setores se destacaram em atividades rurais como a pecuária, a cana de açúcar, as culturas extrativistas em geral (carnaúba, fumo, cacau, sisal, café, carvão vegetal, atividades de reflorestamento etc.), e também urbanas, tais como a indústria da moda, a construção civil, a hotelaria/restaurantes, e, recentemente, o trabalho doméstico, que vem sendo desvelado como um setor particularmente vulnerável a casos graves de violações de direitos fundamentais do trabalhador com vários registros de resgates de trabalhadoras de residências em que vinham sendo maltratadas e sonegadas nos seus direitos mais básicos e elementares.

 

É importante ressaltar, entretanto, que nem toda situação de descumprimento da legislação trabalhista pode ser considerada como de submissão de trabalhador à condição análoga à de escravo, já que, apesar de constatarmos muita precariedade no mercado de trabalho atual, as situações extremas, de violações agudas de direitos fundamentais, são, felizmente, residuais no cômputo geral das múltiplas atividades de vigilância e controle realizadas pelo Sistema Federal de Inspeção do Trabalho.

 

Renato Bignami - Atualmente, um dos principais indicadores do sistema nacional de combate ao trabalho escravo é a quantidade de trabalhadores resgatados desde que a política foi criada. Nesse contexto, correntemente, temos 60.251 trabalhadores resgatados de condições análogas às de escravo desde que a política foi criada, segundo o Radar da SIT. Em 2022 foram 2.575 trabalhadores resgatados.

 

Renato Bignami - O cidadão comum pode colaborar evitando consumir produtos que tenham sido elaborados de forma duvidosa, por empresas que não respeitem os direitos de seus trabalhadores e que não sejam transparentes quanto à sua cadeia de fornecimento, abrindo-a e divulgando quais são seus fornecedores diretos e indiretos. Além disso, o consumo consciente pode também implicar uma dose de ativismo e o próprio cidadão denunciar aqueles que insistem em não adotar a letra da lei como padrão de gestão de sua mão de obra, reduzindo trabalhadores à condição análoga à de escravo. Para aqueles que souberem de casos e quiserem denunciar, o melhor meio é o sistema Ipê, gestionado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego. Para tanto, deixo o endereço web do Sistema Ipê, para registro e tratamento das denúncias.

 

Renato Bignami - No Brasil, criou-se, a partir de 1995, ano em que o país reconheceu a existência da prática de trabalho escravo em território nacional, um sistema nacional de combate ao trabalho escravo. Esse sistema está baseado em alguns pilares: arcabouço jurídico de proteção contra a escravização de trabalhadores e responsabilizações diversas (cível, trabalhista, penal, administrativa etc.) dos perpetradores das violações de direitos fundamentais, estrutura de Estado para o enfrentamento baseada nos grupos móveis de combate ao trabalho escravo, e proteção à vítima, realizada, primariamente, por meio dos resgates dos trabalhadores submetidos a condições análogas às de escravo.

 

Certamente, ao ser consolidado no início dos anos 2000, tratava-se de um sistema robusto e suficiente para fazer frente às questões iniciais derivadas da ocorrência de trabalho escravo em um mercado de trabalho complexo como o nosso. No entanto, é imperioso se reconhecer que há anos não há avanços no combate ao trabalho escravo no Brasil, e por diversas razões.

 

Inicialmente, é importante registrar que esse sistema passou por diversas revisões e tentativas de enfraquecimento, realizadas a partir de 2016, as quais chegaram a colocar em risco uma estrutura de Estado fundamental para a promoção de trabalho digno e a proteção do Estado Democrático de Direito. Assim, boa parte da estagnação atual em que se encontra o sistema nacional de combate ao trabalho escravo pode ser atribuída a esses ataques contra a dignidade do trabalho.

 

Em segundo lugar, há ainda uma cultura bastante substancial no âmbito da inspeção do trabalho de se atribuir responsabilidade pela submissão de trabalhador a trabalho escravo apenas ao seu empregador primário, quando, em realidade, sabemos da complexidade crescente tanto das estruturas produtivas quanto dos próprios ambientes de trabalho, fatores que demandam uma reflexão constante dos atores que fazem parte do sistema nacional de combate ao trabalho escravo para, a partir dessa reflexão, buscar ferramentas e mecanismos mais modernos e adequados de enfrentamento ao tema. Nesse contexto, toma vulto o debate sobre a proteção dos direitos humanos no âmbito empresarial, o qual ainda é bastante incipiente em nosso país, mas que precisa, urgentemente, ser abordado de forma responsável, correta e equilibrada.

 

Em terceiro lugar, é imperioso reconhecer que pouco se fez no país, inclusive, se formos analisar sob o prisma do arco histórico de 28 anos em que se vem realizando a execução de políticas públicas direcionadas para o combate ao trabalho escravo, para prevenir os casos, evitar que aconteçam, além de não conseguirmos construir um sistema sólido o suficiente de apoio às vítimas, no sentido de acolhê-las, formá-las e reinseri-las corretamente no mercado de trabalho.

 

Sempre bom recordar a lição de um dos maiores abolicionistas contemporâneos, o inglês Kevin Bales, que afirma que resgatar não é apenas retirar o trabalhador do ambiente de trabalho em que estava a sofrer violências, mas, sim, aportar plena cidadania a essa vítima, e isso demanda tempo e investimento na pessoa do trabalhador. Nesse sentido, cobram especial relevância as políticas públicas de emprego, tanto ativas quanto passivas, em que o Estado busca intervir no mercado de trabalho com vistas a não permitir a geração de postos de trabalho de baixa qualidade que possam gerar déficits substanciais de trabalho decente.

 

Assim, é fundamental que se reconheça a necessidade de se migrar de uma abordagem individualizada, focada apenas no empregador direto responsabilizado pelas condições análogas às de escravo, para um enfoque holístico, baseado na intervenção por inteiro na cadeia produtiva e não apenas no empregador direto das vítimas de trabalho escravo.

 

Essa já é uma agenda tardia que não pode mais esperar. Da mesma forma, é importante que o Brasil busque ratificar e pôr em prática algumas normas internacionais que facilitam essa guinada, tais como o Protocolo da OIT sobre o Trabalho forçado, de 2014, a Convenção da OIT número 190, sobre violência e assédio no trabalho, e a Convenção da OIT número 187, sobre o marco promocional da segurança e saúde no trabalho, matéria agora reconhecida como direito fundamental, pela OIT.

 

Por fim, é importante lembrar que apesar desses anos todos de combate ao trabalho escravo no Brasil, ainda há situações de perversidade nas relações de trabalho que merecem atenção redobrada, um olhar qualificado e a intervenção do Estado. Esse resíduo de caldo de cultura colonial precisa ser enfrentado e superado com diálogo tripartite, inteligência, paciência, correi??ão, estratégia, proporcionalidade das medidas estatais e adequação das ferramentas de enfrentamento.

 

Pela sua imensa capacidade de liderança e diálogo, o governo atual encontra-se em uma situação única em que pode, a partir da reconstrução e aprimoramento do sistema nacional de combate ao trabalho escravo, ser reconhecido como aquele que finalmente botou freio na exploração do trabalho escravo no país e contribuiu para construir um sistema robusto, moderno e internacionalmente reconhecido como padrão de excelência enquanto resposta estatal às violações aos direitos humanos cometidas no âmbito das cadeias de fornecimento.

 

Renato Bignami é Auditor-Fiscal do Trabalho desde 1996, atuando em diversas áreas relacionadas com a promoção dos direitos fundamentais no trabalho. Formado em direito e mestre em direito do trabalho pela Universidade de São Paulo, doutor em direito do trabalho e previdenciário pela Universidade Complutense de Madri, é também autor de diversos artigos e estudos sobre direito do trabalho, trabalho decente e direitos fundamentais no trabalho.

 

Professor de direito do trabalho, atuou também como Especialista em Segurança e Saúde no Trabalho junto ao Escritório Regional da OIT para América Latina e Caribe. Ocupou diversos cargos de direção e coordenação dentro do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho. Foi fundador e coordenador do Programa Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do Estado de São Paulo, junto à Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo.

 

Nesse contexto, coordenou diversas auditorias em cadeias produtivas de vários setores da economia que resultaram na liberação de milhares de trabalhadores de condições análogas às de escravo, na responsabilização de todos que contribuíram para que as violações de direitos fundamentais ocorressem e na mobilização de diversas organizações para a criação de espaços de diálogo contínuo e avanço da política em direção à erradicação do trabalho escravo de nosso país.

 

Fonte: Revista Fórum

 

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Coluna Você Sabia? : Falar dormindo: o que é e por que acontece?
Enviado por alexandre em 06/03/2023 01:10:00

Falar dormindo, também conhecido como sonilóquio, é uma condição em que uma pessoa fala enquanto dorme. Geralmente, a pessoa não tem consciência do que está dizendo e muitas vezes não consegue se lembrar do que falou quando acorda. A frequência e a intensidade do sonilóquio podem variar de pessoa para pessoa e alguns indivíduos podem falar em voz alta, enquanto outros apenas murmuram.

 

O sonilóquio é mais comum em crianças, mas também pode afetar adultos. Estima-se que cerca de 5% da população adulta fale dormindo regularmente. Embora a causa exata dessa condição não seja conhecida, os especialistas acreditam que pode estar relacionada a diferentes fatores, como estresse, fadiga, ansiedade e até mesmo alguns medicamentos.

 

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POR QUE O SONILÓQUIO OCORRE?

 

Uma teoria é que o falar dormindo pode estar ligado à consolidação da memória. Durante o sono, o cérebro revisita experiências para armazenar as importantes na memória de longo prazo. Uma revisão de 2018, publicada na revista Sleep Medicine Reviews, sugeriu que falar dormindo poderia às vezes ser uma reprodução verbal das memórias que o cérebro está revisitando naquele momento.

 

Como o falar dormindo é mais comum em crianças do que em adultos, o comportamento também pode estar relacionado ao desenvolvimento do cérebro durante a infância. Além disso, ele é mais comum em pessoas que estão dormindo mal ou sofrem de distúrbios como apneia do sono - condição na qual as pessoas experimentam interrupções na respiração ou respiração superficial durante o sono. Pessoas com apneia têm maior probabilidade de experimentar outros comportamentos anormais enquanto dormem, como falar dormindo e andar dormindo.

 

FALAR DORMINDO PODE INDICAR OUTROS PROBLEMAS?

 

falar dormindo pode indicar baixa qualidade do sono. (Fonte: Pexels)

 

Independentemente do motivo, falar dormindo é algo que geralmente não causa danos à saúde da pessoa. No entanto, se o sonilóquio estiver acompanhado de outros sintomas, como ronco alto, pausas respiratórias durante o sono ou insônia, pode ser necessário procurar um médico para avaliar a condição.

 

Em casos raros, o falar dormindo pode indicar um distúrbio do sono mais grave, como o transtorno comportamental do sono REM, onde a paralisia muscular durante o sono não funciona corretamente, levando a comportamentos violentos como gritar, berrar, socar e agitar os braços.

 

COMO PARAR DE FALAR DURANTE O SONO?

 

Um toque na pessoa que fala enquanto dorme geralmente é suficiente para o comportamento ser interrompido. (Fonte: Pexels)

Fotos: Reprodução

 

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Tratar a apneia do sono, se essa for a causa do comportamento, pode ser útil. Além disso, evitar privar-se de descanso e tentar manter uma rotina de sono saudável é essencial, já que esse comportamento pode ocorrer mais frequentemente em pessoas que não dormem o suficiente ou que têm um sono interrompido. Se você dividir a cama com alguém que fala dormindo, pode ser útil simplesmente dar um pequeno toque na pessoa para interromper o comportamento.

 

Fonte: Mega Curioso

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Coluna Você Sabia? : Como você está? é a frase mais inútil em conversas, dizem cientistas
Enviado por alexandre em 03/03/2023 00:38:11

"Como você está?" Estas são as três palavras mais inúteis no mundo da comunicação. Quem pergunta pode realmente não querer saber a resposta; quem responde, às vezes não diz a verdade. E, segundo pesquisadores da Universidade de Harvard, a intenção pode ser inútil para uma conversa.

 

Em uma série de experimentos, a equipe de pesquisa analisou mais de 300 conversas online, em 2017, e descobriu que aqueles que receberam perguntas de acompanhamento mais significativas (conhecidas como perguntas que não são “como vai você?” ou “o que você faz?”), ganharam no bate-papo uma outra pessoa muito mais agradável.

 

“Quando as pessoas são instruídas a fazer mais perguntas, elas são percebidas como mais receptivas, uma construção interpessoal que captura a escuta, a compreensão, a validação e o cuidado”, escreveram.

 

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Mais do que isso, eles descobriram que existem algumas formas de se tornar a pessoa carismática e interessante sem usar o "como vai você".

 

Isso, segundo eles, depende da pergunta com a qual você começa uma conversa e, então, você pode se concentrar no fluxo de perguntas de acompanhamento.

 

DICAS PARA INICIAR UMA CONVERSA


Vá além das perguntas habituais: esqueça aquele papo furado sobre tempo ou resultado do jogo de domingo; tente ir além desses tópicos clichês para coisas que são mais importantes e pessoais para você;


Observe o ambiente: fique atento ao ambiente que você está; objetos, monumentos ou até estilo de roupa da pessoa pode ser um tópico para iniciar a conversa;

 

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Fale sobre novidades: comece uma conversa contando algo que aprendeu, ou que adotou um pet; comente sobre um restaurante e bons momentos. 

 

Fonte: Terra

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Coluna Você Sabia? : O batalhão composto por mulheres negras na segunda guerra mundial
Enviado por alexandre em 01/03/2023 10:32:13

Em meio à Segunda Guerra Mundial, um grupo de mulheres negras americanas assumiu uma tarefa vital para o sucesso dos esforços de guerra: organizar e entregar cartas de familiares para os soldados no front.

 

Esse grupo era o 6888º Batalhão Central de Diretório Postal, composto por mais de 800 mulheres afro-americanas, que deixaram um legado que vai além da guerra.

 

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FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO BATALHÃO

 

Batalhão de mulheres negras conseguiu entregar mais de 17 milhões de cartas. (Fonte: Wikipédia)

 

O 6888º Batalhão Central de Diretório Postal foi formado em 1944, em Fort Oglethorpe, Georgia, nos Estados Unidos. Era composto por cerca de 855 mulheres, a maioria afro-americanas, recrutadas para a Women’s Army Corps (WAC) do Exército dos Estados Unidos. Essas mulheres receberam treinamento especializado em comunicações e classificação de correio, sendo enviadas para Birmingham, Inglaterra, em fevereiro de 1945.

 

Quando chegaram à Europa, as mulheres do 6888º Batalhão encontraram 7.500 sacos de correspondências acumulados em um armazém. A tarefa parecia impossível, mas em pouco tempo, elas desenvolveram um sistema eficiente de triagem e classificação, que permitiu que todas as cartas fossem entregues aos destinatários corretos.

 

A missão do 6888º Batalhão Central de Diretório Postal durou seis meses, durante os quais as mulheres classificaram mais de 17 milhões de cartas. Elas garantiram que os soldados recebessem notícias de seus entes queridos, mesmo em meio a uma guerra sangrenta. Seu trabalho relembrava aos soldados na linha de frente que eles tinham um elo vital com seus familiares e com o país.

 

RECONHECIMENTO TARDIO

 

Apesar de sua importância, 6888º batalhão não recebeu as honrarias que merecia. (Fonte: Wikipédia)

Fotos: Reprodução

 

Apesar da contribuição, ao retornarem aos Estados Unidos, em 1946, as mulheres do 6888º foram recebidas com desdém e desrespeito, como se não tivessem feito nada. Enquanto os veteranos brancos eram homenageados, os negros eram negligenciados e esquecidos. A honraria da Medalha de Ouro do Congresso só foi concedida à unidade em 2006, 60 anos depois de seu trabalho vital no front de guerra.

 

Felizmente, o legado dessas mulheres está sendo cada vez mais reconhecido. Em 2018, um monumento foi erguido em homenagem ao batalhão no Parque do Monumento ao Buffalo Soldier em Fort Leavenworth, Kansas. A homenagem apresenta um busto de bronze da tenente-coronel Charity Adams e o nome de todas as mulheres que serviram no batalhão. Além disso, em breve, nós poderemos ver nas telas a história dessas mulheres incríveis, graças a um filme da Netflix dirigido por Tyler Perry e estrelado por Kerry Washington e Oprah Winfrey.

 


 

A história das mulheres do 6888º batalhão é um testemunho da luta dos negros na época da Segunda Guerra Mundial e do racismo sistêmico que eles enfrentaram em casa e no exterior. Sua história é um lembrete poderoso da importância do serviço das mulheres na guerra e da necessidade de reconhecer e valorizar suas contribuições.

 

Fonte: Mega Curioso

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Coluna Você Sabia? : Tortura animal: prato com peixe é feito com o animal frito vivo
Enviado por alexandre em 28/02/2023 10:34:57

Os físicos e boa parte das pessoas estão familiarizadas com o conceito do Gato de Schrödinger. Basicamente, é um gato que pode ser descrito como estando vivo e morto simultaneamente.

 

Algo parecido e bem mais terrível acontece com um prato preparado com o peixe yin-yang, que é servido em um estado entre a vida e a morte do animal. Mas como assim?

 

Para início de conversa, o peixe yin-yang já é controverso por si só e não é destinado a ninguém que seja sensível à dor e a crueldade praticada contra os animais. Esse polêmico prato é preparado cozinhando ou fritando o corpo do peixe, mas deixando sua cabeça viva e animada.
Em resumo, a forma ideal de comer o yin-yang é enquanto seus olhos e boca ainda estão se movimentando no prato.

 

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A CRIAÇÃO

 

O yin-yang é uma criação que data dos anos 2000. O prato foi inventado por um proprietário de um restaurante situado na cidade de Chiayi, Taiwan. Normalmente, é feito com uma carpa.

 

Para preparar o yin-yang, a primeira coisa a se fazer é retirar as escamas do animal que, claro, ainda está vivo. Após isso, sua cabeça é envolvida em uma proteção com gelo. O objetivo aqui é resguardar a cabeça do peixe enquanto seu corpo é mergulhado em uma panela com óleo quente por alguns minutos. Depois, é só desembrulhar e montar em um prato grande com molho, ervas e especiarias.

 

Os chefs especialistas em preparar o yin-yang garantem que o peixe só aparenta estar vivo no prato. Ou seja, os reflexos que vemos de olhos e boca se mexendo não passam de espasmos nervosos. Contudo, os vídeos sobre esse polêmico prato causaram indignação ao viralizarem na internet. Aliás, tamanha foi a pressão do público que ele acabou por ser proibido em Taiwan. Por outro lado, a iguaria continua disponível em várias partes do mundo, especialmente na China.

 

Uma observação interessante é que o yin-yang está longe de ser prato universal nos países asiáticos. Ao que parece, muitos chefs preferiram deixá-lo de fora dos menus por considerarem algo insalubre e causador de sofrimento ao peixe.

 

Fora isso, é importante lembrar que já temos uma série de estudos científicos sobre a dor sentida por animais cozidos ou fritos ainda vivos. Pelo bem da verdade, existe um movimento mundial visando evitar esse tipo de prática em restaurantes de todo o mundo.

 

 


 

Por outro lado, comer um peixe que parece estar vivo pode ser algo considerado condenável por muitos de nós. Contudo, se pensarmos bem, as tradições ocidentais também tem seus próprios problemas, como as touradas que torturam e sacrificam os animais e a prática da caça pelo simples prazer de matar um animal.

 

Fonte: Mega Curioso

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