FHC afirma que “não há razão para o impeachment de Bolsonaro”

Data 21/04/2021 22:57:00 | Tóopico: Regionais


Ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso voltou a dizer que não acredita que existam motivos suficientes para o impeachment do presidente Jair Bolsonaro

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Fernando Henrique Cardoso

Sputnik

Em entrevista à Sputnik, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso discutiu os principais assuntos da atual crise política, econômica e sanitária no Brasil, incluindo questões como impeachment, política internacional e as eleições presidenciais de 2022.

Atualmente, o maior país da América Latina convive com um quadro de colapso hospitalar e sanitário em meio ao pior momento da pandemia da COVID-19, enquanto o número de vítimas fatais se aproxima rapidamente de 400 mil.

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A crise sanitária tem sido o principal ponto de críticas contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que minimizou o impacto da doença ao longo da pandemia e enfrentou prefeitos e governadores que tentaram aplicar medidas de restrições sociais para conter o avanço da doença. Atualmente, Bolsonaro vive o momento mais impopular de seu governo.

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Apesar de sustentar críticas contra a atuação de Bolsonaro na pandemia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que governou o Brasil entre 1995 e 2003, e seguiu como uma figura política influente no país, afirma que o impeachment não é o melhor caminho para solucionar a crise brasileira.

Eu já participei de impeachment – já assisti mais de um e participei de um. É uma questão complicada, porque quando o governo para de funcionar e o povo vai para a rua, aí tem impeachment. Não é o caso atual, nós estamos longe disso, a meu ver. E espero que o governo tenha capacidade de evitar que se chegue ao impeachment. Se for necessário, mais um, mas é lamentável, eu não acho que seja o caminho para resolver os nossos problemas […]. Não há razão para o impeachment“, disse FHC em entrevista à Sputnik.

Atualmente mais de 100 pedidos de impeachment se acumulam no Congresso Nacional contra Bolsonaro. Entre as razões para não levar o processo adiante, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em diversas ocasiões que não havia condições políticas para que o impeachment fosse bem-sucedido. Já Arthur Lira (PP-AL), o atual líder da Câmara, apoiado por Bolsonaro, chegou a falar em “remédios amargos” contra o Planalto, mas também não demostra que levará o processo adiante.

Apesar da negativa sobre a abertura do impeachment, segundo o ex-presidente FHC, porém, não é possível dizer que não há crime de responsabilidade para motivar o impedimento, “porque pode ser que apareça”. O ex-mandatário também reforçou que o afastamento de um presidente só acontece com a movimentação da sociedade e lembrou que o processo é “traumático”.

Sem clamor das ruas o impeachment é golpe e eu não sou favorável a golpe. Acho que é melhor ter eleição“, afirmou.

Nesse contexto, FHC afastou a possibilidade de um golpe durante o atual governo, o que voltou à baila em março deste ano, quando os comandantes das Forças Armadas renunciaram diante de pressões de Bolsonaro. Segundo o ex-presidente Bolsonaro “nunca teve muito amor pela democracia“, mas as instituições e o povo não permitiriam uma aventura golpista.

‘Cultura de desordem’ contribuiu com a pandemia no Brasil, diz ex-presidente

Apesar de criticar a forma como o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) está lidando com a pandemia no Brasil, FHC citou outros motivos que levaram o país à tragédia, como os problemas sociais brasileiros que dificultam políticas de isolamento, a força do novo coronavírus, o clima e a cultura do país.

Não é fácil um país tropical tomar conta da população. A população vai para a rua, vai para a praia, vai para a praça pública. E aqui houve um pouco de leniência do governo, que no começo não sabia que a doença era tão grave assim“, disse o ex-presidente, que também citou que o Brasil tem uma “cultura de desordem”.

FHC acredita que o presidente Bolsonaro deveria dar exemplo para a população em relação ao comportamento na pandemia. Ao longo da crise no Brasil, o presidente participou de diversas aglomerações e foi negligente com o uso de máscaras em público, além de apoiar abertamente o uso de medicamentos que não funcionam contra a COVID-19, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.

Quem é presidente deveria ter uma atitude mais circunspecta sobre o que está acontecendo. Nesse sentido, você pode dizer que [o governo] tem alguma responsabilidade, mas a COVID-19 é um vírus, o novo coronavírus, um bichinho que ninguém vê, e ataca“, afirmou.

Um dos principais entraves para a aplicação de medidas rígidas de restrições sociais durante a crise sanitária tem sido o discurso de prejuízo para a economia. Em diversas oportunidades, por exemplo, o presidente Bolsonaro enfatizou que a quarentena prejudica a economia. Para Fernando Henrique Cardoso, esse argumento é falacioso.

Não se sabe quanto tempo vai durar isso, quanto dura, e isso tem efeito econômico negativo. E as pessoas ficam hesitando entre o econômico e a saúde. Não pode, tem que cuidar da saúde em primeiro lugar, porque senão do que adianta ter a economia fluida se a saúde não existe?”, disse.

O Sistema Único de Saúde (SUS) também foi elogiado pelo ex-presidente, que afirmou que o sistema poderia ser melhor empregado no combate à pandemia e disse que usa há muitos anos o SUS porque “o sistema é bom”.

Eleições de 2022, Lula e busca de uma ‘terceira via’

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a direita brasileira deve uma autocrítica ao país pelo apoio à eleição do atual presidente, incluindo seu partido, o PSDB. À Sputnik, FHC foi enfático ao afirmar que jamais votaria em Bolsonaro e, apesar de contrariado, disse que votaria em seu ex-adversário, o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em uma eventual eleição, em outubro de 2022.

Eu não vou votar nunca no Bolsonaro porque ele é de extrema-direita […], não está no meu horizonte. Prefiro alguém mais ligado ao PSDB. Se não tiver, entre Lula e Bolsonaro, posso considerar a hipótese de Lula. Eu quero isso? Não quero isso. Eu vou ajudar para que aconteça? Não. Vamos tentar uma terceira solução“, afirmou.

Uma “terceira via” para as eleições presidenciais no Brasil ainda não está consolidada. Mesmo com os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disputando uma possível vaga como presidenciáveis em seu partido, FHC não descartou a possibilidade de que o candidato da centro-direita seja o apresentador de televisão Luciano Huck.

Qualquer um deles tem que ser candidato nacional, sair da fronteira do seu estado e conquistar o país. Ou sair da televisão e ganhar a condição de líder político. Há tempo para isso, não muito, mas ainda há tempo. Eu, pelo menos, vou me resguardar até ver quem é que realmente tem a possibilidade“, disse.

Apesar de torcer pelo fortalecimento de uma terceira via, FHC ressaltou que o ex-presidente Lula “respeitava as instituições” e é um político moderado. O ex-presidente disse ainda que não vê a possibilidade de Lula desistir da candidatura em 2022 e lamentou que o petista tenha mantido uma narrativa de “perseguição jurídica”.

Lula é muito competente politicamente, ele vai tentar dizer ‘veja, eu já fui absolvido’. Ele não foi absolvido, o processo foi anulado por uma questão formal, uma questão substantiva“, apontou o ex-presidente.

Brasil deve buscar relação próxima com Rússia e China

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também comentou em entrevista à Sputnik que está preocupado com o isolamento brasileiro no plano internacional durante o governo Jair Bolsonaro.

A política externa do Brasil tem uma certa tradição. Qual é a tradição? É de cooperação, não de inimizade. E estamos perdendo espaço em uma coisa que é muito importante no mundo, que é o meio ambiente, que é um tema importante”, afirmou o ex-presidente, que também ressaltou que o Brasil sempre valorizou a paz em sua política externa.

A política ambiental tem sido um campo de conflito durante o atual governo brasileiro, acusado de reduzir a fiscalização em meio ao crescimento do desmatamento e de incêndios ilegais nas florestas do país. O tema se tornou um problema diplomático e motivo de pressão de líderes de outros países, como o presidente francês, Emmanuel Macron, e mais recentemente o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

O que temos de importante no mundo é porque nós fomos capazes de formular uma política de proteção do meio ambiente e de defendê-la. Como é que você vai jogar fora isso? É realmente criminoso, não pode“, lamentou FHC, que apontou a possibilidade de que Biden amplie ainda mais a pressão sobre Bolsonaro.

Ainda sobre a política internacional, FHC criticou o alinhamento de Bolsonaro ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e afirmou que a relação brasileira com a Rússia e a China deve ser a mais próxima possível. O ex-presidente brasileiro também apontou que a relação de Brasília com os países vizinhos latino-americanos deve ser de amizade e cooperação, ao contrário da política praticada pelo atual governo.

Quanto mais próximo melhor [de Rússia e China]. Quem compra nossos produtos? A China. Isso é um interesse, nós precisamos disso. Eu fui à China várias vezes, você vai à China e a China é outra. A Rússia começa a ser outra, eu tenho família na Rússia, por acaso […]. Enfim, acho importante se relacionar bem com todos os países“, afirmou o ex-presidente brasileiro.


Redação Pragmatismo
Após apoio de Bolsonaro, farmácias venderam 52 milhões de comprimidos do “kit covid”

Pico de vendas de hidroxicloroquina e azitromicina foi em março deste ano, pior mês em mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Empresas que lucram com a venda do “kit-covid” são aliadas do presidente

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Pazuello e Bolsonaro em live semanal

Bianca Muniz e Bruno Fonseca, APública

Farmácias brasileiras venderam mais de 52 milhões de comprimidos de quatro medicamentos do chamado “kit covid” em um ano de pandemia: sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida. Segundo levantamento exclusivo da Agência Pública, foram vendidos mais de 6,6 milhões de frascos e caixas desses quatro remédios de março de 2020 a março de 2021.

Os números representam apenas as vendas desses medicamentos em farmácias privadas, isto é, não incluem o que foi aplicado em hospitais ou dispensado em postos do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o levantamento da Pública, dentre os quatro medicamentos, o que teve mais comprimidos vendidos foi a hidroxicloroquina — que o presidente Bolsonaro anunciou tomar quando foi diagnosticado com covid-19. Foram mais de 32 milhões de comprimidos vendidos desde março de 2020, um total de 1,3 milhão de caixas.

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(Fonte: Anvisa / Venda de medicamentos controlados e antimicrobianos industrializados)

Desde o fim de março de 2020, a hidroxicloroquina entrou para a lista de medicamentos sujeitos a controle especial, junto à cloroquina, por decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi essa mudança na classificação que permitiu contabilizar a venda de hidroxicloroquina nessa base de substâncias.

A própria Anvisa reconheceu que a inclusão dos medicamentos na categoria tinha o objetivo de “coibir a compra indiscriminada de medicamentos” devido à pandemia, embora já tivesse alertado à época que “não existam estudos conclusivos sobre o uso desses fármacos para o tratamento da covid-19”. A bula da hidroxicloroquina prevê que ela seja utilizada para tratar malária ou certas doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide.

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Em segundo lugar nas vendas, a azitromicina, um antibiótico, teve mais de 13 milhões de comprimidos vendidos em farmácias brasileiras no mesmo período — mais de 3 milhões de caixas. Diferentemente da hidroxicloroquina, a azitromicina já estava no grupo de medicamentos sob controle especial ao menos desde 2010, quando a Anvisa definiu regra para controle de antibióticos.

A venda da azitromicina nas farmácias brasileiras passou de uma média de 711 mil comprimidos por mês em 2019 para 1 milhão ao mês durante a pandemia. O uso previsto da azitromicina em bula é para o tratamento de doenças como bronquite, pneumonia, sinusite e faringite.

Tanto a hidroxicloroquina quanto a azitromicina tiveram o seu pico de vendas em março de 2021, mês com mais mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Março foi também o mês com mais óbitos registrados na história do país, segundo cartórios de registro civil.

Já a ivermectina e a nitazoxanida, dois vermífugos, não estiveram na categoria de medicamentos de controle especial durante toda a pandemia — ou seja, os dados registram apenas uma parte da venda desses medicamentos nas farmácias brasileiras. A nitazoxanida entrou para o grupo de controle especial em abril e a ivermectina em julho.

Em seguida, em agosto, o presidente Bolsonaro afirmou nas suas redes sociais que a Anvisa iria facilitar o acesso à hidroxicloroquina e ivermectina e que a população poderia comprar os medicamentos “com uma receita simples”. Em setembro, a ivermectina e a nitazoxanida foram excluídas da classificação da Anvisa de controle especial, permitindo o reaproveitamento da receita e a compra de mais remédios sem a necessidade de uma nova prescrição.

Nesse período em que os dois medicamentos estiveram sob controle especial, o pico de vendas da ivermectina ocorreu em agosto de 2020. Já o da nitazoxanida ocorreu em julho.

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(Fonte: Anvisa / Venda de medicamentos controlados e antimicrobianos industrializados)

Procurada pela Pública, a Anvisa respondeu que “não é possível emitir considerações sobre nenhum dado ou informação específica” em relação aos dados de venda dos medicamentos apurados pela reportagem.

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Goiás é onde mais se vendeu “kit covid” proporcionalmente

Foi o estado de Goiás onde foram vendidas mais caixas dos quatro medicamentos do kit covid em relação ao tamanho da população. É lá também onde mais se vendeu caixas de azitromicina proporcionalmente. Já o Distrito Federal foi onde mais foram vendidas hidroxicloroquina e ivermectina em relação à população, e o Amapá onde as vendas de nitazoxanida foram maiores proporcionalmente.

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Por sua vez, São Paulo ocupa o topo entre os estados onde mais foram vendidos os quatro medicamentos do kit covid em número absoluto — cerca de 1,5 milhão de caixas, mais de um quinto do total vendido em farmácias brasileiras na pandemia.

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(Fonte: Anvisa / Venda de medicamentos controlados e antimicrobianos industrializados)

Não há dúvida que o uso off-label (fora da finalidade da bula) é o responsável pelas grandes vendas desses e de outros medicamentos do ‘kit covid’, que muitas vezes são colocados em lugares estratégicos nos balcões das farmácias para chamar a atenção dos clientes”, afirma o pesquisador do Instituto de Física de São Carlos da USP e especialista em química medicinal, Adriano Andricopulo.

O aumento das vendas está associado à expectativa das pessoas, que infelizmente ainda é grande, de obter os possíveis benefícios terapêuticos e se protegerem contra a doença. Mas, esses medicamentos simplesmente não funcionam: o ‘kit’ não serve pra nada”, diz.

O uso de medicamentos do “kit covid” foi defendido e incentivado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro para o “tratamento precoce” da covid-19, apesar de ser desaconselhado ou refutado por órgãos de saúde e pesquisa nacionais e internacionais. Segundo protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de março de 2021, a hidroxicloroquina não é recomendada para pacientes com covid-19 independentemente do quadro de gravidade da doença; e a ivermectina é desaconselhada, exceto em pesquisas clínicas.

No Brasil, diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmaram que não há medicamentos para prevenir ou tratar precocemente a doença; a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda o tratamento e a Associação Médica Brasileira (AMB) publicou que os quatro medicamentos do kit não possuem eficácia científica comprovada e deveriam ser banidos do tratamento da covid-19. O Conselho Federal de Medicina, contudo, diz não apoiar nem condenar o tratamento precoce e defende que médicos podem definir o melhor tratamento para os pacientes.

Registros de efeitos adversos de medicamentos do “kit covid” aumentaram na pandemia

Com milhões de comprimidos vendidos, os registros de efeitos adversos causados pela administração de medicamentos do kit têm aumentado no Brasil. Desde abril do ano passado, a Anvisa recebeu 456 notificações de efeitos adversos sobre o uso dos quatro medicamentos do “kit covid” medicamentos. A quantidade é dez vezes mais que no mesmo período anterior, de abril de 2019 a abril de 2020.

Das notificações durante a pandemia, 173 foram graves. Os efeitos relatados mais comuns são sintomas cardiovasculares — como distúrbios no ritmo dos batimentos cardíacos —, dano hepático, diarreia e náuseas.

Segundo a pesquisadora em farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ana Paula Herrmann, todo medicamento tem efeitos adversos, embora muitas vezes os benefícios para a sua indicação superam os riscos. De acordo com ela, isso não ocorre com o kit covid. “O problema é que na ausência de benefícios, tudo o que sobra são os riscos. E aí não há nada que justifique o uso, porque os riscos podem, muitas vezes, serem imprevisíveis”.

Herrmann comenta que efeitos adversos como arritmia e lesão renal causados pela associação de hidroxicloroquina e azitromicina são esperados, mas outros são desconhecidos porque até então estes medicamentos estavam restritos a um certo grupo de pacientes, e não eram utilizados por uma grande parte da população.

Quem são as empresas que vendem o “kit covid” no Brasil

No Brasil, 23 empresas detêm o registro dos quatro medicamentos do “kit covid” que foram vendidos nas farmácias: sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida.

Dentre elas, a EMS, do Grupo NC, é a única a produzir os quatro medicamentos que a  reportagem apurou. O presidente do grupo, Carlos Sanchez, é apontado como um dos 30 bilionários do país no levantamento da Revista Forbes e, segundo reportagem, esteve presente no jantar em que Bolsonaro se reuniu com empresários, no dia 7 de abril, em São Paulo. A EMS conseguiu a aprovação da Anvisa para conduzir um estudo clínico com a hidroxicloroquina em pacientes com covid-19. Além da EMS, o Grupo NC também detém a Germed, que produz sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina e nitazoxanida.

Procurada pela reportagem, a EMS afirmou que “orienta que os medicamentos ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina e nitazoxanida sejam utilizados conforme as indicações das respectivas bulas, sob prescrição médica” e que “esses profissionais são os únicos habilitados a prescrever o uso adequado destes medicamentos, seguindo os protocolos de medicina”. Já a Germed respondeu que “orienta que azitromicina, ivermectina e nitazoxanida sejam utilizados conforme as indicações nas respectivas bulas e sempre sob prescrição médica”.

De acordo com reportagem do Globo, Renato Spallicci, presidente da Apsen, que produz o Reuquinol (forma comercial da hidroxicloroquina), foi recebido no Ministério da Saúde antes do governo publicar o protocolo que orientou o uso do medicamento em casos leves de covid-19.

Procurada pela reportagem, a Apsen afirmou que “produz o sulfato de hidroxicloroquina no Brasil há 18 anos, com foco no tratamento de pacientes crônicos com lúpus e artrite reumatoide e recomenda sua utilização apenas nas indicações previstas em bula, que são aprovadas pela Anvisa”. A empresa reforçou que “não há aprovação de nenhum órgão regulador da saúde, nem da OMS, para sua utilização no tratamento da COVID-19”.

A Sanofi Medley é a única empresa estrangeira autorizada a comercializar a hidroxicloroquina no país. A farmacêutica francesa tem como acionista o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que defendeu o medicamento no combate ao coronavírus. Em nota para a reportagem, a empresa disse que “hoje, os medicamentos à base de hidroxicloroquina da Sanofi (Plaquinol) são oficialmente registrados em mais de 60 países para uso em algumas doenças dermatológicas e reumatológicas, assim como para malária e lúpus, em alguns países como o Brasil. Atualmente, as indicações aprovadas de Plaquinol não incluem o tratamento ou prevenção de covid-19 em nenhum lugar do mundo”.

Empresas que detêm registro dos medicamentos do “kit covid” apurados pela reportagem

Abbott Laboratórios do Brasil
Aché Laboratórios Farmacêuticos
Althaia Indústria Farmacêutica
Antibióticos do Brasil
Apsen Farmacêutica
Beker Produtos Fármaco Hospitalares
Brainfarma Indústria Química e Farmacêutica
Cosmed Industria de Cosmeticos e Medicamentos
Ems / Ems Sigma Pharma
Eurofarma Laboratórios
Farmoquímica
Galderma Brasil
Germed Farmaceutica
Laboratório Teuto Brasileiro
Legrand Pharma Indústria Farmacêutica
Momenta Farmacêutica
Nova Quimica Farmacêutica
Prati Donaduzzi & Cia
Sandoz do Brasil Indústria Farmacêutica
Sanofi Medley Farmacêutica
Supera Farma Laboratórios
UCI Farma Indústria Farmacêutica
Vitamedic Indústria Farmacêutica

Metodologia:

Foram exportados os dados públicos referentes à venda de medicamentos industrializados controlados e antimicrobianos de janeiro de 2018 a março de 2021. O período considerado para as análises referentes à pandemia foi de março de 2020 a março de 2021.

Filtramos as vendas de medicamentos com os princípios ativos azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e sulfato de hidroxicloroquina.

Limpamos as bases e calculamos a quantidade de comprimidos por embalagem (dos medicamentos vendidos nessa forma farmacêutica).

Foram consultados os dados de notificações de farmacovigilância entre 1 de abril de 2019 e 1 de abril de 2021 no painel da Anvisa. Filtramos os medicamentos com os princípios ativos azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e hidroxicloroquina/sulfato de hidroxicloroquina.




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