BOIADA

Data 17/04/2021 01:45:05 | Tóopico: Policial

Chefe da PF no Amazonas era o alvo a ser abatido, disseram madeireiros

Alexandre Saraiva
Alexandre Saraiva foi substitu~ido no comando da PF no Amazonas (Foto: PF/Divulgação)
Por Camila Mattoso, da Folhapress

BRASÍLIA – Alexandre Saraiva, retirado do comando da Polícia Federal no Amazonas pelo atual diretor-geral Paulo Maiurino, é citado em troca de mensagens de madeireiros investigados pela corporação como o “alvo a ser abatido”. As mensagens mostram como os madeireiros almejavam o delegado fora do cargo.

Em 2 de setembro de 2019, o investigado Roberto Paulino encaminha uma foto do superintendente a um interlocutor de nome Guga. “Alvo a ser abatido”, diz ele.

“A frase indica que todas as possibilidades para remover o superintendente da Polícia Federal no Amazonas estão sobre a mesa, em outros termos, caso as vias políticas e/ou judiciais e disciplinares não surtam efeito, não está descartado o uso da violência”, diz a PF.

Outra conversa de Paulino, essa com Humberto Jacob de Barros Oliveira, também expõe o descontentamento com o delegado e a vontade de tirá-lo do posto.

No diálogo, eles falam da necessidade em pedir ajuda a uma pessoa de nome Júlio para a tarefa, ele seria representante dos madeireiros. “Tem que pedir para o Júlio tirar esse cara daqui. Urgente”, diz Paulino. “Ele vai quebrar todos”, responde Humberto.

As conversas integram o inquérito da operação Arquímedes, responsável pela apreensão de 444 contêineres com madeira ilegal.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, no domingo, 4, Saraiva criticou a atuação de Salles em favor de madeireiros alvos de outra ação da PF, a Handroanthus GLO, responsável pela maior apreensão de madeira da história do país.

O delegado disse que nunca tinha visto um ministro ser contra uma ação cujo objetivo é preservar a floresta amazônica.

Na quarta-feira, 14, ele encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma notícia crime contra o ministro e o senador Telmário Mota (Pros-RR), também pela atuação em favor dos investigados.

Um dia depois foi substituído do cargo por decisão do novo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino.

Mourão diz esperar que novo chefe da PF no AM atue como antecessor demitido

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Sede da Polícia Federal do Amazonas: mudança de comando (Foto: Patrick Motta/ATUAL)
Por Daniel Carvalho, da Folhapress

BRASÍLIA – O presidente do Conselho da Amazônia, vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta sexta-feira, 16, esperar que o novo chefe da Polícia Federal no Amazonas atue da mesma forma que Alexandre Saraiva, substituído pelo diretor-geral do órgão, Paulo Gustavo Maiurino, após atritos com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

“Saraiva é um cara sério, como a maioria dos delegados da Polícia Federal, a imensa maioria, é tudo gente séria”, disse Mourão, ao chegar à Vice-Presidência. “Espero que o próximo superintendente que vá assumir lá na Amazônia continue a empreender as mesmas ações que o Saraiva vem empreendendo”.

Mais tarde, em entrevista à rádio Gaúcha, Mourão afirmou que “quem for designado [para a vaga de Saraiva] continuará a atuar no mesmo diapasão”.

A decisão da demissão de saraiva foi revelada nesta quinta-feira, 15, pelo Painel, da Folha, e confirmada no início da noite pela assessoria de imprensa da corporação, que passou por troca recente de comando no governo Jair Bolsonaro.

A mudança ocorre em meio a um atrito entre Saraiva e Ricardo Salles por causa da maior apreensão de madeira do Brasil, como mostrou a Folha nos últimos dias.

Na noite de quarta-feira, 14, o delegado enviou uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal pedindo que o ministro fosse investigado sob suspeita de advocacia administrativa e de atrapalhar a fiscalização ambiental.

Oito líderes de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados enviaram representação ao Ministério Público Federal pedindo apuração sobre a demissão de Saraiva.

O conflito entre Alexandre Saraiva e o ministro do Meio Ambiente começou após uma visita de Salles ao local da apreensão, no Pará, para uma espécie de verificação da operação.

Saraiva criticou a atitude, dizendo ser a primeira vez que viu um titular da pasta se posicionar contra ação de preservação da floresta amazônica. “Na Polícia Federal não vai passar boiada”, disse Saraiva à Folha, usando termo utilizado por Salles em reunião ministerial do ano passado.

O delegado afirmou que tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, é produto de ação criminosa.

Há mais de dez anos ocupando cargos de superintendente na PF (Roraima, Maranhão e Amazonas, agora), Saraiva declarou que as investigadas na ação não podem nem ser chamadas de empresas. “Trata-se de uma organização criminosa”.

O ministro apontou falhas na apreensão e defende que os madeireiros tenham oportunidade de se manifestar. À Folha disse que uma “demonização” indevida do setor vai contribuir para aumentar o desmatamento ilegal.

Mourão, que já teve divergências públicas com Salles, disse que o ministro é “um camarada extremamente articulado” e que tem uma visão “economicista” do meio ambiente.

“O ministro Ricardo Salles tem uma visão um pouco diferente da minha em algumas coisas. Mas ele tem uma determinação em relação à questão da economicidade, em relação àquilo que o Brasil já fez e pode fazer ainda. Ele considera que as nações que mais poluem têm que pagar isso para a gente. Concordo neste aspecto com ele”, afirmou.

Na entrevista desta manhã, Mourão disse ainda que o governo teme o uso político da CPI da Covid no Senado, mas que o general Eduardo Pazuello, demitido do Ministério da Saúde, deve estar se preparando e assessorando Bolsonaro para que se defendam, já que o objetivo da comissão parlamentar de inquérito é apurar a conduta do governo perante a crise.

“O governo tem suas preocupações pela exploração política que pode ser dada em cima dessa discussão. Isso vai servir de palanque para muita gente”, disse o vice-presidente.

“Mas eu julgo que, principalmente o ministro da Saúde que saiu, o Eduardo Pazuello, que é muito criticado, ele deve ter se preparado e está assessorando aí o presidente Bolsonaro para apresentarem as suas razões de defesa em relação àquilo que vai ser investigado na CPI”, declarou Mourão na entrevista.

A comissão foi criada na terça-feira, 13, e deve ser instalada na próxima semana para que comece a funcionar.

Cronologia da disputa entre PF e ministro

Operação

Em dezembro de 2020, a Polícia Federal realizou uma ação na divisa do Pará com o Amazonas que culminou na maior apreensão de madeira nativa da história do Brasil. Agentes retiveram 131,1 mil m3 de toras, volume suficiente para a construção de 2.620 casas populares.

A operação começou após a apreensão de uma balsa com 3.000 m3 de madeira com documentação irregular no rio Mamuru, município de Parintins (AM), em 16 de novembro de 2020.

A madeira

O processo de transporte da madeira apreendida é complexo. Por isso, as Forças Armadas faziam a segurança do material. Entretanto, em um ofício enviado à PF no dia 19 de fevereiro, o chefe do Estado-Maior do Comando Conjunto Norte do Exército informou que os militares deixariam os locais nos quais a madeira apreendida está guardada para retornar às suas sedes.

Em resposta ao Exército, a PF ameaçou abrir inquérito contra militares que se retirassem da operação. Na época, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que as tropas iriam deixar o local no dia 6 de março. Ele afirmou ao Painel que a PF errou por ter feito um documento em que ameaçava abrir inquérito contra os militares que se retirassem do local.

Visita de ministro

Ricardo Salles (Meio Ambiente) foi na quarta-feira, 31 de março, ao Pará, onde fez uma espécie de verificação da operação. Salles aponta falhas na ação e tem dito que há elementos para achar que as empresas investigadas estão com a razão. Ele voltou uma semana depois, quando participou de um encontro com proprietários do material.

O ministro criticou a demora para a investigação ser concluída e afirmou que as informações dos empresários são “coerentes de não haver a propagada ilegalidade”.

Atrito entre PF e Salles

Em entrevista à Folha, o chefe da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, disse que é a primeira vez que vê um ministro do Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação que visa proteger a floresta amazônica.

Saraiva declarou que tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, é produto de ação criminosa. Ele afirmou também que as empresas até agora não apresentaram documentos requisitados pela PF.

Saraiva, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime em que pede investigação das condutas de Salles e do senador Telmário Mota (Pros-RR) por atrapalhar medidas de fiscalização. No documento, o policial diz que Salles dificulta fiscalização ambiental e patrocina interesses privados.

“Na Polícia Federal não vai passar boiada”, disse, usando termo utilizado por Salles em reunião ministerial do ano passado.

Troca no comando da PF

Nesta quinta-feira, 15, o Painel revelou que o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, decidiu tirar Alexandre Saraiva do cargo. Ele escolheu o delegado Leandro Almada para substituí-lo. O policial foi o número 2 da gestão de Saraiva e comandou o grupo de investigações ambientais na superintendência.





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